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O verdadeiro silêncio tem tudo a ver com o nosso estado de consciência.

Penso que
todos nós estamos acostumados com aquilo que eu chamo de silêncio fabricado, que é
um tipo de silêncio morto. Se você já participou de grupos de meditação, provavelmente
você já experimentou o silêncio fabricado. É o tipo de silêncio que vem da manipulação da
mente. É um silêncio falso, porque é fabricado, controlado. O verdadeiro silêncio não tem
nada a ver com qualquer tipo de controle ou manipulação do seu eu ou da sua
experiência.
O verdadeiro silêncio é a verdadeira natureza da pessoa. Dizer “Eu estou silencioso” é
algo, na verdade, bastante ridículo. Se você olhar bem, a questão não é estar silencioso;
a questão é ser o silêncio.
Conceitualmente pode parecer que existe uma pequena diferença entre a experiência de
dizer “Eu estou silencioso” e a experiência de dizer “Eu sou o silêncio”. Mas, na verdade,
essa é a diferença entre o apego e a liberdade, entre o céu e o inferno. Pare de pensar no
silêncio como ausência de barulho – barulho mental, barulho emocional, barulho externo
ao redor. Enquanto você enxergar o silêncio como algo objetivo, algo que não está em
você, mas que talvez pode chegar até você como uma experiência emocional, você
estará perseguindo a projeção da sua própria ideia. Procurar o silêncio é como guiar uma
lancha num lago em alta velocidade em busca de um lugar calmo e sereno onde tudo é
silencioso, e lá vai você – vrum-vrum-vrum! – guiando a lancha no lago em alta
velocidade, com uma ansiedade crescente de que você nunca vai chegar lá. Não importa
quanto tempo você ficar no lago dirigindo a lancha, você jamais irá encontrar esse
silêncio. Na verdade, o que você tem que fazer é desacelerar e desligar o motor, aí então
você estará lá. Lá é muito calmo, muito quieto. Quando você começa a ser receptivo e
sensível, você começa a voltar ao seu estado natural, que é a quietude. Ser receptivo é
desacelerar. É um estado natural de quietude.
(...)
A única maneira de adentrar o silêncio é a do próprio silêncio. Você não consegue
adentrar o silêncio, possuindo alguma coisa; você só consegue, não possuindo coisa
alguma. Você não pode ser alguém; você só pode ser ninguém. Então, a entrada é fácil.
Mas esse nada, na verdade, é o preço mais alto que a gente sempre paga. Esse nada é
o nosso bem mais sagrado. Ao silêncio nós daremos as nossas ideias, as nossas
crenças, o nosso coração, o nosso corpo, a nossa mente e a nossa alma. A última coisa
que nós daremos será o nada. Nós mantemos a nossa não existência, porque o nada é o
nosso bem mais sagrado, e em algum lugar no nosso íntimo sabemos disso. Só o nada
adentra o silêncio; essa é a única coisa que o penetra. O resto daquilo que somos apenas
bate na porta inexistente. No momento que você quer algo do silêncio, você é novamente
retirado do silêncio.
(...)
O silêncio só se revela a si mesmo. Só quando entramos como nada e permanecemos
como nada é que o silêncio revela o seu segredo. O segredo é ele mesmo. É por isso que
eu digo que todas as palavras, todos os livros, todos os ensinamentos e todos os
professores só podem conduzir você até a porta, e talvez provocá-lo a entrar. Uma vez lá,
você começa a sentir a presença do silêncio de forma muito poderosa. Quando isso
acontece, alguma coisa surge espontaneamente e quer adentrar a porta sem ser alguém.
Esse é o sagrado convite. É do lado de dentro que você descobre que o silêncio é o
último e derradeiro professor, e o último e derradeiro ensinamento. É o único professor
que não falará com você. O silêncio é o único professor e ensinamento que nos mantém
em nossa humanidade de joelhos o tempo todo.
O silêncio é o melhor professor e melhor porque nele existe a interminável acolhida para
que façamos aquilo que o nosso coração humano realmente deseja, que é estar sempre
com os nossos joelhos no chão, estar sempre nesse tipo de devoção à Verdade. O
silêncio é o único ensinamento e o único professor que está lá o tempo todo. Ele esta lá a
cada minuto que você desperta, a cada minuto que você vive, a cada minuto que você
respira.
Adyashanti

"Há silêncio entre duas notas; há silêncio entre dois pensamentos, entre dois movimentos;
há o silêncio entre duas guerras; há silêncio entre marido e mulher antes que comecem a
brigar.
Não estamos falando dessa qualidade de silêncio, porque eles são temporários,
desaparecem. Estamos falando de um silêncio que não é produzido pelo pensamento,
que não é cultivável, que só chega quando você tiver compreendido todo o movimento da
existência.
Nisso há silêncio, não há pergunta e resposta, não há desafio. Não há busca, tudo
terminou. Nesse silêncio há um grande sentido de espaço e beleza e um extraordinário
sentido de energia.
Então chega aquilo que é eternamente, intemporalmente sagrado, que não é o produto da
civilização, o produto do pensamento. É esse o movimento integral da meditação."
Krishnamurti

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