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SAID, Edward. A Questão da Palestina. SP: UNESP, 2012. Cap.

1: “A Questão da
Palestina”.
Autor
Edward Wadie Said nasceu em 1935, em Jerusalém enquanto a localidade estava
sob mandato britânico. Sua vida dividiu-se em viver entre Egito, Estados Unidos e por fim
na França. Mudou-se para os EUA na década de 1950 e lá estudou nas Universidades de
Princeton e Harvard, posteriormente ingressou como docente na Universidade de
Columbia. Por ter tido essa formação fora da influência árabe o autor não se identificou
como tal durante muito tempo. Após ter publicado seus livros, Orientalismo: o Oriente
como invenção do Ocidente e Cultura e Imperialismo, que se tornaram grandes sucessos,
Said se envolve com a causa palestina e como parte do seu ativismo publica o livro assunto
desta síntese, A Questão da Palestina, em 1979. Sua morte acontece em 2003, vítima de
câncer, mas com certeza deixou um grande legado como escritor e humanista.
Tema
No presente capítulo o autor pretende tratar como seu tema a “questão palestina”
dividindo em quatro tópicos respectivamente: A Palestina e os palestinos, A Palestina e o
Ocidente libera, A questão de representação e Direitos palestinos. No tópico um o autor
aborda a explicação pela escolha de “questão” para se referir a este tema complexo e muito
visitado. Além disso, sua pretensão é tratar a Palestina como uma área ocupada por povos
árabes a séculos e explicar que povo é esse tão esquecido e sempre colocado como
inexistente. No subsequente tópico, mostra a relação entre os sionistas e os discursos
ocidentais, para então explicar quais foram às práticas feitas na palestina e com os árabes
que ali viviam, baseando em missão civilizatória, imperialismo britânico e visões semitas e
antissemitas. No terceiro, Said discorre em como os sionistas afirmando-se no discurso vão
anular a representação e a fala dos árabes-palestinos, dando exemplo da pouca presença
deles no meio acadêmico e nas mídias estadunidenses (os Estados Unidos sempre foram
apoiadores dos judeus na Palestina). Por fim, ele expõe dos direitos dos palestinos como
refugiados e a questão internacional que se deu desde 1948.
Objetivo
Neste ensaio político o autor tem como objetivo “[...] escrever um livro que
apresentasse ao leitor ocidental uma posição amplamente representativa dos palestinos,
algo, certamente, nem muito conhecido, nem muito valorizado até este momento [...]”1.
Como Said coloca ao longo do primeiro capítulo, há uma ausência de produções
acadêmicas que deem voz aos palestinos, e a sua identificação e aceitação como um
palestino faz com que ele se envolva como ativista nessa questão para atrair o olhar do
Ocidente para está causa que é tratada com tanta desigualdade e cheia de afirmações e
negações.
Argumento
Mesmo sendo um ensaio Said utiliza-se de diversos exemplos para fundamentar sua
opinião, como: discursos de políticos, acadêmicos, intelectuais e organizações. A linha
cronológica que usa para fazer essa análise é do final do século XIX até a década de 1970,
exceto quando usa datas mais antigas para contar a história da Palestina. Dentro do capítulo
e dos subcapítulos ele inicia sua escrita explicando os significados do termo “questão” e
como todos eles se enquadram na sua proposta didática. Dentro dessa colocação inicial é
possível perceber alguns argumentos importantes que são transcorridos ao longo do
capítulo, tais como: a rivalidade entre Israel e Palestina e suas negações e afirmações; a
superioridade que os sionistas se colocam, mas baseando sua legitimidade nos discursos
europeus e imperialistas do final e virada dos séculos XIX e XX; a dualidade entre semitas
e antissemitas; o uso do discurso orientalista por parte dos sionistas; como a representação
do árabe-palestino foi anulada pelos sionistas e por quem os apoiava.
A Palestina existiu muito antes de 1948, quando com o fim da Segunda Guerra o
desejo de criar um país para os judeus se concretizou na retirada forçada de milhares de
árabes de suas terras para ceder lugares a esses recém-chegados. A Palestina já aparecia em
relatos desde o século VIII, tanto do lado árabe como no relato de viajantes. Contudo,
sempre foi negado a eles esse direito pela terra, por não se enquadrarem no mundo moderno
e desenvolvido, eles são associados ao atraso. Enquanto que o novo estado, Israel
representava sempre o lado positivo por trazer a essa região todo o desenvolvimento que ela
merecia para se juntar as grandes nações.
A Declaração de Balfour de 1918 é utilizada por Said para exemplificar como os
britânicos fizeram determinações sobre uma área não europeia e consequentemente
desrespeitaram o povo que já estava ali entregando esta região a outro grupo. Sendo assim,

1
SAID, Edward. A Questão Palestina. São Paulo: Unesp, 2012. XLVII p.
apoiados pelo imperialismo britânico os judeus que acreditavam na Palestina como a terra
certa para concretizar o seu projeto sionista moderno e apropriaram-se, por um objetivo
comum, do imperialismo britânico que serviu para fortalecer este projeto no Ocidente.
De fato, o Ocidente em sua maioria sempre teve uma imagem ruim do árabe,
associando eles a bárbaros, retrógrados, não civilizados e afins. O autor explica que essa
falsa imagem tem fundamento no orientalismo que associava o árabe ao oriental e, portanto
menos humano que o europeu. Dentro desse discurso também há a hegemonia de raça e a
superioridade de um povo sobre o outro, todos atrelados às teorias cientificistas da época.
Toda essa teoria é coloca em prática quando o projeto sionista é apoiado e visto como o
progresso, a democracia, o liberalismo econômico e a liberdade e quem não o apoiasse era
automaticamente visto como um antissemita e favorecer então ao atraso, ao comunismo, a
um déspota e ao islã. Toda essa cultura foi fortemente amplificada pelos Estados Unidos e
por suas mídias, e em nenhum momento a opinião árabe sobre tudo foi levada em conta.
Por fim, chegasse ao argumento da representação no qual Israel coloca-se no direito de
falar sobre e pelo os palestinos não dando o direito a eles de fala. O autor cita a
Organização de Libertação da Palestina que é reconhecida por diversos estados, mas é
negligenciada pelos Estados Unidos.

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