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MA間 - O ELEMENTO INVISÍVEL E ESSENCIAL DA CULTURA

JAPONESA
MA間 - THE INVISIBLE AND ESSENTIAL ELEMENT OF JAPANESE CULTURE

MA 間 - EL ELEMENTO INVISIBLE Y ESENCIAL DE LA CULTURA JAPONESA

EIXO TEMÁTICO: INTERCÂMBIOS CULTURAIS, INTERLOCUÇÕES E REDES.

COSTA, Vitor
Arquiteto e Urbanista; mestrando, UNICAMP
vitorgahina@gmail.com

URANO FRAJNDLICH, Rafael


Doutor em Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP
rafaurano@gmail.com
RESUMO

A produção a seguir busca trabalhar com o conceito japonês MA間, intrínseco a cultura nipônica o
mesmo dialoga com grande parte da arquitetura produzida no pais e por arquitetos japoneses, alem de
fazer parte do coVdiano, religião e diversos materiais criados no Japão. Comumente entendido como um
modus operandi, em muitos casos o conceito é uVlizado mesmo que não seja a intenção do agente, isso
ocorre dialogando com a interpretação de que o conceito é algo intrínseco a quem nasce e cresce no
Japão, dessa forma sendo algo inteligível por aqueles que convivem com o elemento há muito tempo, ou
por aqueles que tem sensibilidade apurada para conseguir compreende-lo. A uVlização do MA間 esta
extremamente ligado ao seu contexto, em grande parte dos momentos se baseando nas experiências e
relações humanas, sendo elas grandes determinadores de como os espaços são construídos. A parVr da
analise sobre a uVlização do conceito, procura-se invesVgar como ele influencia na arquitetura passada e
presente, e como as pessoas se relacionam com os espaços onde o MA間 esta presente.
PALAVRAS-CHAVE: Japão. MA間. ArVgo. Cultura. Arquitetura. Relações. CoVdiano. Religião.

ABSTRACT

The following producVon seeks to work with the Japanese concept MA 間, intrinsic to japanese culture,
its dialogues with much of the architecture produced in the country and the way that the Japanese
architects works, in addiVon to being part of everyday life, religion and various things created in Japan.
Commonly understood as a modus operandi, in many cases the concept is used even if it is not the
agent's intenVon, this occurs in dialogue with the interpretaVon that the concept is something intrinsic
to those born and raised in Japan, thus being something intelligible to those who they have lived with
the element for a long Vme, or for those who have a keen sensiVvity to understand it. The use of MA 間
is extremely linked to its context, in large part of the moments based on human experiences and
relaVonships, which are great determinants of how spaces are built. From the analysis on the use of the
concept, we seek to invesVgate how it influences past and present architecture, and how people relate
to the spaces where MA 間 is present.
KEYWORDS: Japan. MA間. ArVcle. Culture. Architecture. RelaVons. Daily. Religion.

RESUMEN

La produción que sigue, busca trabajar con el concepto japones MA, intrinseco a la cultura niponica, lo
mismo dialoga con gran parte de la arquitectura produzida en el país y por arquitectos japoneses,
además de ser parte de la vida coVdiana, religión y varios materiais creados en Japón. Comumente
entendido como un modus operandi, en muchos casos el concepto se usa incluso que no sea la
intención del agente, eso ocurre en dialogo con la interpretación de que el concepto es algo intrínseco a
quien nasce y cresce en Japón, por lo que es algo inteligíble para quienes han vivido con el elemento
durante mucho Vempo, o para aquellos que Venen gran sensibilidad para compreendelo. La uVlización
del MA esta extremamente vinculado a su contexto, en gran parte de los momentos basados en
experiências y relaciones humanas, sendo ellas grandes determinantes de cómo se construyen los
espacios. A parVr del análisis sobre el uso del concepto, busca invesVgar cómo el influye en la
arquitectura pasada y presente, y cómo las personas si relacionan con los espacios donde MA esta
presente.
PALABRAS CLAVES: Japón. MA間. Ardculo. Cultur. Arquitectura. Relaciones. Todos los días (convivencia).
Religión.

Limiaridade: processos e práVcas em Arquitetura e Urbanismo


INTRODUÇÃO

A arquitetura japonesa pode ser representado por inúmeras caracterísVcas, como a uVlização de
madeira, a obra ser elevada do chão, a leveza nas cores e ambientes, grande uVlização de divisórias
móveis, uVlização de shoji1, uVlização da razão do dimensionamento baseado no tatame, entre outros.
Porem alem do aspecto fisico e material a noção de espaço e de como construir um ambiente para ser
vivenciado por pessoas, a cultura e história do pais também é importante, com o MA間 procurasse
entender alguns aspectos que nem sempre são tangíveis ou compreensíveis, mas que estão presentes e
contribuem para a construção daquela obra.

O conceito MA間 inerente a cultura e arquitetura nipônica pode ser encontrado em diversos espaços
que auxiliam na caracterização do mesmo, apesar de muitas vezes frágil visualmente e inteligivelmente,
o conceito é abordado em dezenas de casos, para transformar a arquitetura concebida através da
sociedade com a espacialidade ali posta.

A ideia do MA間 é conhecida há séculos, ele fala sobre a ausência de algo ou a existência do vazio,
uVlizando os Kanjis (⾨) e (⽇) a palavra MA (間) comumente interpretada como; vazio, intervalo,
espaço, tempo, pausa e outros, esta enraizada na cultura nipônica de diversas maneiras, o conceito que
atualmente é uVlizado como modus operandi proeminente do coVdiano e da cultura japonesa, na
arquitetura esta amplamente ligado a relação estabelecida entre a obra e o visitante, alem de ele
trabalhar com a dualidade de dois pensamentos, a ideia de possibilita, e de ação2.

A origem do MA間 fala sobre o espaço vazio, demarcado inicialmente por quatro pilares, espaço que
traz ligação com a conexão espiritual e traduzido para a construção de espaços como a razão de
dimensionamentos do tatame (shiai-jô), vemos o MA間 exisVndo na sociedade japonesa desde sua
origem, contudo o modus operandi como o conhecemos começou a ser de fato compreendido apenas
no século XII. No Japão, vemos sua ampla difusão em práVcas e culturas populares e também no
budismo e xintoismo, sendo eles um dos pilares deste movimento. Mais uVlizado enquanto
entendimento de tempo-espaço, aberto a diversas interpretações, também pode ser lido como intervalo
ou vazio, mas também como uma pausa, sendo, assim, um elemento de possibilidade, que se traduz
como um local onde todas as coisas podem exisVr ou não, também uVlizado como uma maneira de
trazer harmonia entre a existência do estáVco (espaço) e do dinâmico (tempo)3.

Podemos interpretar e compreender o MA間 quando ele passa a ser existente, quando ele se torna uma
ação, uma ação do espaço e tempo que resiste a ser algo passível de ser nomeado mas que possui uma
necessidade de ser algo, contudo não sempre ele tem visibilidade, o que não significa que ele não esta
presente. Seguindo um dos pensamentos estabelecidos pelos japoneses, que pontuam que o MA間 não
sempre é reconhecível, mas ainda consVtui o modo de pensar dos japoneses mesmo não sendo algo
verbalizavel. Por trabalhar com a não existência, ele não é passível de ser definido seguindo
pensamentos ocidentais, sendo um conhecimento adquirido no passar da herança cultural entre
gerações no oriente, como um senso fortemente ligado a um povo, ele não se permite ser definido,
exisVndo apenas por um breve momento entre a não ação e a ação, onde buscamos .

Para criar uma tradução aproximada para compreendermosr o MA間 seguindo a lógica ocidental, o
caminho ideal a ser uVlizado é trabalhar com a semióVca, assim sendo capaz de trazer o conceito

1 Muito utilizado em janelas de casas tradicionais japonesas, o shoji é uma estrutura de madeira coberta por um papel translúcido.

2 OKANO, Michiko. MA Entre-Espaço da Arte e Comunicação no Japão. Editora Annablume, São Paulo: 2012, pp. 5-11.

3 Ibid., pp. 15-16.

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abstrato para a existência. Se tornando o signo de algo ele se torna semioVcamente descriminável,
funcionando como algo autorreferenciavel para os nipônicos, ou seja sem necessidade de explicações
lógicas, contudo seguindo o pensamento do semanVsta Charles S. Pierce, que entende que todo signo,
por essência já é uma reinterpretação de outro signo, feito em um processo relacional signo-objeto-
interpretante, provocando transformações sequenciais de signo em signo, dessa forma trazendo para a
possibilidade da tradução4.

Na arquitetura o vemos em grande parte dos casos em uma informação percepdvel principalmente
sobre a estéVca, o tornando mais deliciado de ser traduzido, toda informação estéVca tende a ser menos
exata havendo então uma dificuldade na explicação e na interpretação. Vemos nesse âmbito a influencia
do passado, ele sendo importante por conta da praVca de reinterpretação e reuVlização de conceitos e
estéVcas já existente, onde os modos de fazer e a reuVlização de padrões fazem parte da lógica oriental
de tempo cíclico. Contudo também influenciando na disposição dos espaços, no vazios criados e
também em como a obra dialoga com o contexto onde esta inserida.

Um dos mais importantes ganhos com a uVlização da estéVca que busca o MA間, é a relação
estabelecida entre a obra arquitetônica e o visitante. As intersecções de senVdos presentes, que vão da
necessidade de aliar o visual ao táVl, o olfato à audição construindo sistemas ligados, criam convite para
o estabelecimento de comunicação e leitura dos espaços, sendo necessário então a presença da ação
humana para criar a existência de experiencias pensadas pelos arquitetos.

A consciência do Ma (fazer lugar) — que combina as dualidades objeto/


espaço, tempo/espaço, mundo objeVvo-externo/mundo subjeVvo-interno —
era a base da sua arquitetura tradicional. Em alguns exemplos, surgiu de
uma consciência cada vez mais profunda, O Grande Vazio, experimentada
através da estéVca. (NITSCHKE, 1996).

O senso de lugar japonês, em conexão com a forma fixa, estava ligado desde
os primeiros tempos com o pilar ou coluna, nunca com a parede (pelo
menos, não no período tradicional). (NITSCHKE, 1996).

DiscuVdo dentro do próprio pais, o MA間 foi pela primeira vez amplamente discuVdo no ocidente na
exposição internacional organizada por Isozaki Arata sobre o tema em 1978, realizada em Paris foi um
marco para o Japão, trazendo para o ocidente alem da visão de espaço vazio oriental, a exposição
também foi capaz de traduzir uma cultura tradicional e anVga para a contemporaneidade, fazendo dessa
forma a exposição se conectar de forma mais concisa com aqueles que a visitarem, dessa forma foi um
momento de suma importância para a divulgação do MA間 para o ocidente, e de pensamentos da
cultura japonesa.

A exposição Ma: Espace-Temps du Japon, realizada em Paris no ano de 1978 organizada pelo referido
arquiteto trouxe uma nova visão sobre o MA間 e sobre o Japão; repercuVndo em todo o Ocidente, a
exposição foi construída para trabalhar com alguns senVdos de quem a visitava — visual, audiVvo e táVl.
ConsVtuída por objetos como fotografias, instalações, teatro, dança, objetos convencionais, objetos do
coVdiano, corpos imaginários, projeções de filmes e vídeos, a exposição era construída para que o
público ali presente Vvesse a possibilidade de compreender a estéVca nipônica de formas disVntas,
gerando dessa forma interpretações e reações no público (Figura 1).

O objeVvo principal da exposição foi ressaltar a compreensão original e pura do MA間 como signo de
espaço-tempo. “[…]o tempo e o espaço são absolutos, homogêneos e infinitos no Ocidente enquanto no

4PLAZA, Julio. Sobre Tradução inter-semiótica. 1984. 303 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Comunicação, Pontifice Universidade Católica
de São Paulo, São Paulo, 1985.

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Figura 1: Capa do catálogo da exposição de 1978. Fonte: Musée
des Arts DécoraVfs (1978, p. 1).

Japão, são moventes, criando uma relação entre si, em permanente estado de interdependência,
emaranhados de maneira indissolúvel[…]”( ARATA, Isozaki, 2018). Com a exposição, o arquiteto procurou
relacionar o conceito nipônico com a cultura, o coVdiano e a história do país. Para isso, escolheu
apresentar os itens da exposição inicialmente seguindo 7 temas com suas respecVvas representações:
Himorogi (神籬) e Yami (闇) (mitologia/sagrado), Suki (好き) e Sabi (侘寂) (estéVca), Michiyuki (道⾏き)
(vida coVdiana), Hashi (橋) (espaço/ponte), Utsuroi (移ろい) (tempo). Posteriormente, com a mudança
da exposição para Nova York, foram adicionados dois novos temas, eles sendo o Utsushimi (写し身) e
Susabi (進 ぶ) (corpo).5

Passando pelos 7 temas apresentados, a exposição dialogou de inúmeros modos com campos ardsVcos,
procurando encontrar nos temas modos de trazer para um entendimento mais simples o que é o MA間
e a cultura nipônica.

Himorogi (神籬); sendo o altar para a chegada do Kami (神), é uma estrutura não permanente pois ele
pode ser montado e desmontado aonde for necessário para o acontecimento de uma cerimônia,
estabelecendo um noção de local e de construção de significado e importância. Ligado a questão de
espaço-tempo, a não durabilidade do altar pode ser interpretada como um releitura da natureza, algo
fluido e não perpétuo. O himorogi (神籬) acontece quando não existe um santuário completo na
localidade, como ele é considerado sagrado, a escolha do local assim como a construção do altar tem um
moVvo e um modo correto de ser feito.

Yami (闇); ato de esconder ou do ser oculto, usualmente interpretado como a contraparVda do
significado sagrado do himorogi (神籬) ele pode ser apresentado como o mundo inferior, mas também
como a ausência de algo ou a escuridão, sendo ele a ausência de luz ou mesmo a falta de conhecimento.

5 OKANO, Michiko. MA: Entre-Espaço da Arte e Comunicação no Japão. Annablume, São Paulo. 2012, pp. 40 -55.

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Na arquitetura ocidental comumente inundamos os espaços com luz para que o todo possa ser visto e
experienciado, contudo na arquitetura oriental temos a uVlização da escuridão como algo importante
para o espaço, os efeitos das sombras, a percepção da variedade de cenas que pode ser criado com a
incidência dinâmica da luz. Um grande exemplo da uVlização do yami (闇) são as fachadas tradicionais
japonesas, onde elas são esculpidas e trabalhadas de modo que a incidência da luz cria sombras, o que
gera então a verdadeira fachada, que trabalha com informações parciais de como é a estéVca daquele
objeto arquitetônico.

Suki (好き); revela um pouco de como foi a evolução dos espaços internos de construções japonesas,
antes entendido como um espaço envolto por quatro pilares e paredes não fixas, com a crescente
existência das casas de chá japonesas o elemento, acaba sendo reinterpretado para conciliar as
necessidades de uma casa de chá, com o tradicional modo de dispor os espaços. Muitas vezes usado
como sinônimo de elegância, o suki (好き) pode ser entendido como um recinto envolto por quatro
elementos fixos, podendo ser desde mobiliários até paredes, construindo seu próprio entorno, o recinto
criado ali é organizado seguindo uma disposição de elementos essenciais para o funcionamento daquele
espaço.

Sabi (侘寂); a simplicidade e a passagem de tempo, esse elemento busca dialogar com a ideia do não
planejado, como pontos em uma construção que fogem da normalidade ou a decorrência do tempo
sobre um objeto, a assimetria de algo e também os processos naturais pelo qual os objetos passam. O
momento em que o corpo é deixado pelo seu espírito, é possível entender o sabi (侘寂) sendo o
momento que algo volta a ser dominado pela natureza e o tempo, agindo para a mudança do mesmo, a
perda de cores, surgimento de paVnas e perda de elementos, são processos normais e que são aceitos
através do entendimento de devolução da matéria para a natureza. Uma ligação interessante que pode
ser feita, é com as teorias e pensamentos de restauro e patrimônios desenvolvida pelo teórico inglês
John Ruskin.

Michiyuki (道⾏き); ligada a noção de caminho e tempo, ele esta fortemente conectado a construção da
cidade coVdiana dos japoneses, sendo um dos elementos mais comuns ao ser associado a criação de
caminhos a serem percorridos. O michiyuki (道⾏き) pode ser associado a uma porta que no momento
que foi construída foi pensada para ter um significado ou função, um caminho estabelecido entre dois
pontos, onde o percurso é considerada uma jornada para um desVno, e até mesmo um espaço onde o
transitar entre ambientes são determinados pelas posições de aberturas, paredes e elementos moveis.
Sendo um dos elementos mais encontrado no coVdiano ele também é menosprezado por sua aparente
simplicidade.

Hashi (橋); significando principalmente a ligação entre dois lugares, mundos ou objetos, o hashi (橋) tem
seu entendimento ligado a um ponto, que tem o dever de conectar duas extremidades, contudo a
palavra também pode significar a ligação do mundo fisico com o espiritual, o entre e fora de espaços ou
objetos com a função de conexão. Um dos elementos de ligação mais comuns no coVdiano japonês são
as varandas tradicionais, chamadas de engawa (縁側), elas conectam o interno da residência com o
externo, o externo sendo um elementos da residência como um jardim, ou mesmo a natureza que
circunda o local. Fazendo menção ao vazio, podemos trazer para a ideia do ação e não ação, onde o MA
間 é passível de entendimento quando vemos uma ponte como um elemento de conexão e através de
um espaço anteriormente vazio.

Utsuroi (移ろい); o momento da passagem de um estado para outro, comumente ligado ao Kami (神)
ele é o momento onde um espaço vazio é ocupado por uma divindade, se tornando um dos elementos
essenciais das cerimônias do xintoísmo e budistas assim como o himorogi (神籬). No coVdiano o utsuroi
(移ろい) esta refleVdo na incorporação de elementos nos espaços internos, a uVlização de biombos,

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telas, divisórias moveis e outros, estão fortemente ligadas a noção de preenchimento de espaço,
contudo sempre obedecendo o entendimento que o vazio deve ser mutável, dessa forma uVlizando
objetos não fixos, isso se deve pela a importância da natureza para os orientais, assim como ela o espaço
preenchido deve permiVr a transformação e a passagem de um estado para outro.

Utsushimi (写し身); projeção de algo ainda não existente no espaço •sico, remete a interação humana
com o entorno onde suas edificações são construídas. Ligada a interação humana e as marcas que são
deixadas, é o elemento mais próximo ao que podemos entender como a história de um local, o
preenchimento de um vazio através da ação humana.

Susabi (進 ぶ); ensinamento, o ulVmo elemento trazido por Isozaki remete ao ato de aprender e de
adquirir conhecimento, através de brincadeiras, musicas e danças faz ligação com a ludicidade, fazendo
conexão com a ideia de sinais e padrões, os alinhamentos de sinais que permitem a interpretação dos
demais elementos apresentados.

De forma a criar signo para o MA間, a exposição foi um momento impar para a cultura niponica, que
pode ser apresentada de forma clara, porem sem perder os traços principais da cultura tradicional.
Através dos elementos apresentados é possível compreender melhor como muitos arquitetos japoneses
buscam pensar e criar suas obras, dialogando com um ou mais elementos expostos por Isozaki, é
possível entender como a arquitetura contemporânea é construída no Japão, respeitando e recriando
elementos tradicionais.

Ligada muita a religião o Japão vê sua historia ser intrínseca a existência de algumas religiões, elas sendo
Budismo, Xintoísmo, Confucionismo e Taoismo, sendo as duas primeiras tendo maior abrangência nos
tempos atuais. As crenças sendo reflexo das épocas, podendo criar compreensão de como elas foram
importantes para o modo como o pais se desenvolveu, de forma que alguns elementos da cultura
nipônica surgiram ou sofreram grande influencia, o MA間 sendo um deles.

O budismo sendo uma das religiões mais ligadas a cultura japonesa, nela são encontrados elementos do
MA間 que nos auxilia no entendimento do conceito e de como ele interage no coVdiano da população.
Como mencionado em alguns dos temas expostos por Isozaki em 1978, como Yami, Himorogi e Utsuroi,
sendo alguns exemplos, mas também é possível encontrar grade parte dos demais temas se analisarmos
como um templo budista é disposto. Assim deixando claro como a religião uVlizou do modus operandi
MA間 como uma das bases para a criação dos santuários e de como os visitantes vivenciam os espaços
(Figura 2).

LEGENDA:

1 - Centro Cultural e TurisVco


de Asakusa. Edificio do
arquiteto Kengo Kuma

2 - Portão Kaminari-mon (雷ー


モン)

3 - Caminho até o pagode/


templo Sandô (参道)

4 - Fonte de água corrente


Temizu-sha (⼿⽔舎)

5 - Pagode/Templo do
santuario Senso-Ji

Figura 2: Indicação do santuário Senso-jI na cidade Tokyo. Fonte: Apple Mapas. Numerações próprias. (2020).
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O templo Senso-Ji é um óVmo representante de como o MA間 é uVlizado em um santuário Budista,
alem de vermos nele grande parte dos elementos elencados por Isozaki na exposição de 1978, ele
também possui atualmente ligação com um edi•cio contemporâneo. O santuário encontrado an cidade
Tokyo e no bairro de Asakusa (浅草) se encontra dentro do perímetro urbano da cidade, dessa forma
algumas obras do entorno acabam por dialogar com a existência do mesmo, e um grande exemplo é o
Centro Cultura e de Turismo da cidade, edi•cio projetado pelo arquiteto Kengo Kuma. Se posicionando
de fronte ao portão Kaminari-mon (雷ーモン) do santuário, o edi•cio projetado pelo arquiteto assim
como o santuário também uVliza de alguns elementos que fazem uso do MA間.

O templo Budista é construindo obedecendo alguns elementos, a existência de um portão nomeado


com o sufixo mon (モン) demarcando o começo do santuário, o caminho entre a entrada e o templo
chamado de Sandô (参道), Temizu-sha (⼿⽔舎) uma fonte de agua corrente para a limpeza de membros
e boca, e por fim temos a existência do pagode/templo. Alem dos elementos essenciais também
podemos ter a existência de jardins, estatuas e outros edi•cios com alguns usos e que compõe o
santuário. Para a compreensão do MA間 no local podemos atribuir na leitura dos espaços as
caracterísVcas e temas abordados por Isozaki.

Com o elementos utsuroi (移ろい) vemos o MA間 dialogando com as existência das divindades da
religião, no templo Senso-Ji a divindade é a deusa da misericórdia Kannon (漢⾳). Nesse caso o utsuroi
existe tanto com a ligação com a divindade como também a uVlização de elementos que compõe o
espaço •sico do pagode/templo. Nesse caso não temos a existência do Himorogi (神籬) pois como
temos um templo fixo, não existe a necessidade da construção de um altar provisório para a chegada da
divindade.

Hashi (橋) é encontrado nos templos sendo um dos elementos mais recorrentes e importantes, ele
acontece junto ao Sandô (参道), sendo o caminho que liga a entrada do santuário até o pagode/templo,
sendo uma jornada proposital, ela se estabelecendo como um momento de reflexão e de concentração,
a criação do longo caminho tem como objeVvo dar tempo e espaço para aqueles que visitam o santuário
poderem se desconectar do mundo •sico, estando pronto para a momento de proximidade com uma
divindade. Hashi (橋) também simboliza a conexão entre dois mundo entre um desejo e sua realização,
de forma que a jornada dentro do pagode/templo pode também ser interpretada como uma segunda
uVlização do tema.

Michiyuki (道⾏き) e Suki (好き) são elementos que dialogam principalmente com os espaços •sicos do
santuário, desde o ingresso através do portão Kaminari-mon (雷ーモン), que esta ligada a permissão, ao
início de uma jornada ou mesmo a criação de caminhos a serem percorridos, até a construção do
pagode/templo •sico cercado de paredes, símbolos e objetos. Os dois temas falam sobre o significado
da construção humana com o objeVvo de aVngir a espiritualidade, e aliado com os demais temas, temos
a construção do espaço da conexão do •sico com o espiritual.

Sabi (侘寂) e utsushimi (写し身), no contexto com que estamos trabalhando, esse elemento pode ser
encontrado na relação com o entorno, como o mesmo esta dentro de uma grande metrópole ele acaba
por ser afligido por diversas mudanças que o afetam. Também vemos dentro do próprio santuário, como
o acontecimento de pequenas lojas e vendas no percurso denominado sandô (参道), ou mesmo as
mudanças geradas pela natureza e lago que compõe os espaços.

Utsuroi (移ろい) no momento que o visitante deixa o temizu-sha (⼿⽔舎) e entra dentro do pagode/
templo, ele esta em contado com o mundo espiritual, nesse momento e espaço é quando se esta mais
conectado com a divindade podendo dessa forma fazer orações e pedidos. Como descrito sobre o tema

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a construção do espaço •sico onde isso ocorre faz parte e se transforma no momento onde o objeVvo da
jornada através do Sandô (参道) é concluído.

Yami (闇) é um dos elementos que conseguimos encontrar mais traços nas construções, desde os
portões de entrada do santuário, as esculturas, fontes e o próprio pagode/templo, traduzindo o tema
para a noção de importância de luz e sombra. O esconder e mostrar informações esta extremamente
envolvido também em como é interpretado o mundo espiritual da religião, por esse moVvo temos a
imponência do portão kaminari-mon (雷ーモン) e a força imposta pela dimensão e detalhes esculpidos
no pagode/templo. Com todos os elementos que são postos ali, é percepdvel a mudança que ocorre na
arquitetura no período noturno, quando a iluminação posta transforma as paredes, telhados e pilares
esculturais em desenhos que brincam e criam formas e mensagens através da luz e sombra.

Susabi (進 ぶ) fala sobre o crescimento de cada um, a construção de conhecimento, sendo fortemente
ligado a toda a construção do santuário, com seu momento de jornada, de purificação e de contato com
as divindades, o susabi (進 ぶ) aparece nesse momento como uma conclusão de tudo o que foi
vivenciado no espaço (Figura. 3).

Figura 3: Santuário Senso-jI na cidade Tokyo. Fonte: FotosWikis. (2017).

Como mencionado o santuário esta localizado dentro de um grande bairro de Tokyo, logo em frente ao
portão kaminari-mon (雷ーモン) temos a construção do arquiteto Japonês Kengo Kuma. O centro
cultural e de turismo de Asakusa foi construído na década de 2010 e estatele algumas relações com o
santuário e com o entorno. “[…]My buildings are always part of the place, part of the locaVon.
[…]” (KUMA, Kengo, 2017).

O edi•cio construído cria uma releitura de casas tradicionais japonesas trabalha e com alguns elementos
que alem criar algo imponente, também dialoga com alguns temas da •sicalidade do MA間. Temos a
uVlização de elementos naturais como brises, estruturas e mobiliários de madeira, que em alguns casos
dialogam com a noção de luz e sombra. Os vazios internos que são criados no centro cultura, eles sendo
verVcalmente em alguns casos ou mesmo horizontais, que permitem maior interação humana com o
edi•cio e também com seu entorno.

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Com a escolha de deixar grande parte do edi•cio translúcido, a uVlização de assimetrias tanto
internamente como externamente e o uso de vidros, o arquiteto cria um edi•cio que possibilita a
existência da passagem de tempo, e o não planejado, onde elementos naturais o afetam, tornando uma
obra que é influenciada pelos processos naturais. Através desses elementos também possibilita a criação
de caminhos e passagens, chegando até os terraços criados que em sua grande maioria se abrem para
um vista privilegiada do santuário Senso-Ji. Se estabelecendo como um elemento de conexão entre o
interno e o externo, o terraço é como um momento de ação do MA間, um ponto que conecta duas
extremidades, um hashi (橋) (Figura 4).

Com a uVlização de todos esses temas descritos, é entendido como um santuário budista e um edi•cio
contemporâneo tem o poder de representar a •sicalidade do MA間, pois com a junção de dezenas de
elementos, o mesmo é posto em foco para que sua essência possa auxiliar na construção e na
experimentação do espaço ali criado. Contudo o MA間 transpassa a noção de •sicalidade, e para
aVngirmos esse outro lado as pessoas são o caminho, sendo ele um modus operandi da cultura nipônica,
o modo como se escolhe vivenciar algo, interagir com um objeto ou com outras pessoas traz a tona a
ideia da ação e não ação e também a interligação de passado e presente, do existente e não existente,
transformando o vazio e a energia Ki (氣) no que podemos traduzir como MA間.

Figura 4: Terraço do edimcio do arquiteto Kengo Kuma, com marcação do santuário Senso-Ji. Fonte: Takeshi Yamagishi. (2012).

REFERÊNCIAS
COUTINHO, Walkyria Tsutsumi Ferreira. O conceito Ma na conformação de espaços em Tadao Ando.
Dissertação. (Mestre em Arquitetura e Urbanismo) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
2015.

HAYAKAWA, Monta. Harunobu no Edo, Edo no Haru. (Edo de Harunobu, primavera de Edo). Tokyo:
Bungei Shunjû, 2002.

HAYASHI, Kazutoshi. Nihon bunkaron josetsu (Introdução à teoria da cultura japonesa). Tokyo:
Aoyamasho, 1998.

Limiaridade: processos e práVcas em Arquitetura e Urbanismo


IIJIMA, Yoichi. Toward japaneseness. The Japan Architect, Tokyo, v. 18, n. 2, p.28-33. summer 1995.
Special ediVon Kisho Kurokawa.

INOUE, Mitsuo. O espaço da arquitetura japonesa. Título Original: Nihon kenchiku no kukan. Tokyo:
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NITSCHKE, Gunter. Ma: the Japanese sense of place: in old and new architechture and planning.
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OKANO, Michiko. MA: Entre-Espaço da Arte e Comunicação no Japão. Annablume, São Paulo. 2012

PLAZA, Júlio. Sobre tradução inter-semióVca. 1984. 303 f. Dissertação. (Mestrado em Comunicação e
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Limiaridade: processos e práVcas em Arquitetura e Urbanismo

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