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A integração da língua e da cultura no processo de

tradução
Klondy Lúcia de Oliveira Agra∗

Índice caminho à resolução de problemas inerentes


ao sentido na tradução, conduzindo-os a
1 Introdução 1 traduções interculturais.
2 Língua, cultura e tradução 2
3 Tradução: equivalências e valores cul- Palavras-chave: tradução, sentido, cul-
turais 6 tura, língua.
4 Outros fatores importantes ao pro-
cesso de tradução 10
5 A tradução pós-colonial 12 1 Introdução
6 Conclusão 14 Por entender que a Língua e a Cultura
7 Referências 16 são fatores dominantes que fazem da tradu-
ção uma atividade intelectual tão indispen-
Resumo sável quanto complicada e que a apropria-
ção de uma língua estrangeira é uma expe-
Os profissionais da tradução têm em suas riência muito densa e profunda, pois pressu-
mãos a responsabilidade de transportar a põe a apropriação de sentidos, acredita-se e
diversas culturas textos de autores variados, propõe-se através deste artigo que estudan-
com sentidos construídos dentro de um con- tes de Letras e profissionais da tradução pas-
texto determinado, em definidos cenários, sem a desvendar a questão da significação na
com o cuidado de, ao traduzir a língua, não tradução através de teorias que conduzam a
mudar seus sentidos. Este artigo tem como tradução intercultural. Tal crença e proposta
objetivo discutir esta atividade e levar o baseiam-se no fato de que a tradução não está
tradutor e estudantes de Letras e áreas afins ligada à significação como a encontramos no
a observarem que é através da integração dicionário, ou seja, a associação do signifi-
da Língua e da Cultura, que se esclarece o cado ao objeto do mundo ao qual a palavra
problema da significação e encontra-se o se refere ou a descrição das propriedades do

Mestra em Lingüística pela Universidade Fede- seu referente, mas sim, aos sentidos cultural-
ral de Rondônia – UNIR. Pesquisadora do NEC – mente construídos, ao subjetivo, a visão de
UNIR. Professora e Coordenadora do Núcleo de Pós- mundo de cada indivíduo.
graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade Intera-
Para alguns teóricos, tais como Hawkes
mericana de Porto Velho – UNIRON.
2 Klondy Lúcia de Oliveira Agra

(1977) e Bassnett (1991), a análise da tra- para a leitura do cenário a ser traduzido.
dução é um processo que, apesar de ter um Pois, ao entender o sentido construído cul-
núcleo centrado na atividade lingüística, per- turalmente, esse tradutor estará compreen-
tence mais apropriadamente à Semiótica, a dendo significados especializados num de-
ciência que estuda ou estrutura o sistema dos terminado grupo social e, com o estudo pro-
sinais, seus processos e suas funções. fundo e simultâneo da língua e da cultura,
Neste artigo, vê-se a Lingüística1 como é que evitará conclusões ambíguas e obterá
parte da Semiótica2 e acredita-se que é com bom nível de compreensão.
a compreensão da construção dos sentidos3
e com o estudo da Semântica, subdivisão
2 Língua, cultura e tradução
da Lingüística que desenvolve seus estudos
através da manifestação desses sentidos, que A linguagem é um código simbólico através
problemas extralingüísticos na tradução se- do qual mensagens são transmitidas e enten-
rão resolvidos. Tal crença tem como base a didas, informações são decodificadas e clas-
concepção de que uma língua natural é um sificadas e eventos são anunciados e interpre-
sistema de representação do mundo e de seus tados, e a Cultura é o conjunto de ações: ma-
eventos e, para que ela possa dar conta disso, neira de vestir-se, escolha de alimentos e mo-
usa sinais cujos sentidos são especializados dos de comê-los, enfim, todos os modos, há-
em um contexto, sendo que esse contexto bitos, pensamentos e crenças. Todas as ma-
só tem sentido especializado em um cenário neiras de atuar que formam os costumes, o
que revela uma cultura. contexto, o cenário. Assim como a lingua-
Desse modo, ao fazer um trabalho de tra- gem, a cultura é um código simbólico atra-
dução, o tradutor deve caminhar pelas duas vés do qual mensagens são transmitidas e in-
faces: a face da língua e a face da cul- terpretadas. Entretanto, mais do que um có-
tura. Caminho facilitado pela Semântica digo, a cultura é um cenário de composições
que traz, através do seu estudo, instrumen- e de orientações para o mundo embalado em
tos que facilitarão a “correta” compreensão símbolos e formas simbólicas. Por tudo isso,
1
ao pensar em fazer um trabalho de tradução,
Concorda-se geralmente em reconhecer que o es-
tatuto da lingüística como estudo científico da lingua- o tradutor não deve levar em conta, somente
gem é assegurado pela publicação em 1916 do Curso a transcodificação da palavra, a equivalência
de Lingüística Geral de Ferdinand Saussure. A partir de significado, mas sim, deve levar em conta
dessa data todo estudo lingüístico será definido como os sentidos do autor, o contexto, o cenário a
surgido “antes” ou “depois” de Saussure. Cf. In: Du-
ser traduzido. Sem agir assim, este profissio-
bois et. al, 1993: 389
2
A Lingüística, que faz parte da Semiótica, estuda nal estará saltando a conclusões sobre senti-
a principal modalidade dos sistemas sígnicos, a das dos e significados do autor, fazendo interpre-
línguas naturais. Cf. In Lopes:1997:17. tações errôneas, de acordo com seus próprios
3
Utiliza-se nesta pesquisa a unidade de sentido valores, ou seja, de acordo com seus próprios
(Sinn) de Frege (1892) e seus fundamentos. In: On
sentidos, seus pontos de vista.
Sense and Meaning. Cf. In Adams and Searle,
1985:623. Nesse artigo, Gottlob Frege, filósofo ale- A cultura de um povo, forma o seu mundo.
mão, discute sobre o sentido e o referente (Sinn - Be- Estes mundos variam no estilo de constru-
deutung). ção, em sua operação e manutenção, nas

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entidades que os preenchem, decoram e tre a duas que resulta a continuação da


obstruem-os. Variam também em categorias energia-vital. Assim, da mesma forma
e classes que estes mundos permitem serem que o cirurgião, operando o coração, não
classificados. A base de qualquer código cul- pode negligenciar o corpo que o envolve,
tural é um sistema ideológico através do qual o tradutor que trata o texto em isolamento
o mundo é definido, descrito e entendido. da cultura, esta com seu texto em perigo5 .
Neste artigo, acreditamos que a concepção (In: Bassnett, 1991: 14) [Minha tradu-
da natureza, da realidade, de seu funciona- ção]
mento e constituição que um povo adota in-
terfere em sua vida cotidiana porque molda Observa-se, então que uma língua é algo
sua orientação de valor, o seu código de cos- social, histórico, determinado por condições
tumes e suas estruturas classificatórias. específicas de uma sociedade e de uma cul-
Os sentidos que levam ao significado reve- tura e assim, entende-se que, no processo de
lado por uma cultura são construídos social- tradução, o tradutor deve levar em conta os
mente e, para a compreensão da construção fatores culturais e lembrar que a palavra só
de sentido, seja na interpretação de contex- tem sentido em um contexto que se especia-
tos e cenários formados por pessoas e cos- liza neste determinado cenário.
tumes da nossa própria cultura, ou de con- Do ponto de vista da prática de tradução,
textos e cenários de culturas e línguas diver- a cultura é, num sentido mais lato, o lugar
sas, torna-se necessário, inicialmente, acla- do conhecimento intersubjetivo que permite
rar o que entendemos por língua e cultura e a atualizar, cada vez com mais eficácia, uma
relação entre uma e outra. Porquanto, sabe- relação de equivalência interlíngual. A cul-
se que no panorama da tradução os dois con- tura permite intuir, reconhecer, experimentar
ceitos convivem lado a lado, mas tanto um ou investigar os hábitos lingüísticos e extra-
quanto outro, conduzem a uma visão uni- lingüísticos, as idiossincrasias e os mecanis-
lateral do todo, como afirma Witherspoon mos inconscientes que podem estar por de-
(1980:2) com clareza: “Se observarmos a trás da produção e recepção do texto de par-
cultura do ponto de vista lingüístico, obte- tida e do texto de chegada. Este lugar de
mos uma perspectiva unilateral da cultura; operacionalidade é componente insubstituí-
se observarmos a língua do ponto de vista vel da competência do tradutor.
cultural, obtemos uma visão unilateral da Num sentido mais restrito, a cultura
língua4′′ .[Minha tradução] aparece-nos também como um contexto que
Susan Bassnett (1991) reafirma este ponto permite, face à plurissignificação e à conota-
de vista e esclarece: ção, selecionar alternativas translatórias nos
5
Language, then, is the heart within the body of
A língua, então, é o coração dentro do culture, and it is the interaction between the two re-
corpo da cultura, e é da interação en- sults in the continuation of life-energy. In the same
4
way that the surgeon, operating on the heart, cannot
If we look at culture from a linguistic point of neglect the body that surrounds it, so the translator
view, we get a one-sided view of culture. If we look at treats the txt in isolation from the culture at his pe-
language from a cultural point of view, we get a one- ril.(In: Bassnett 1991:14)
sided view of language. (In: Witherspoon, 1980:2)

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casos em que o contexto lingüístico e o con- Segundo Susan Bassnett (1991), Roman
texto situacional nada podem fazer, especi- Jakobson distingue em seu artigo “On Lin-
almente ao nível das conotações e do efeito, guistic Aspects of Translation” três tipos de
onde constantemente se atualizam horizon- tradução7 :
tes de expectativa ideológica, lógica, emoci-
onal e textual. (1) Tradução Intralíngual ou reformulada
Em ambos os casos, do ponto de vista da (uma interpretação de sinais verbais por
prática da tradução, a cultura manifesta-se meio de outros sinais na mesma língua).
sempre como espaço de interculturalidade e (2) Tradução Interlíngual ou tradução
intersubjectividade, como espaço de busca adequada (uma interpretação de sinais
do outro, da alteridade perdida ou recalcada. verbais por meio de alguma outra língua).
Esta idéia também já vem de um tratado de (3) Tradução Intersemiótica ou transmu-
Umberto Eco sobre semiótica, onde se diz tação (uma interpretação de sinais ver-
“[...] que a cultura, como um todo, é um bais por meio de significados de sinais
fenômeno de significação e comunicação e não verbais).
que humanidade e sociedade só existem a
partir do momento em que se estabelecem Sobre o assunto a autora conclui:8
relações de significação e processos de co- 7
(1) Intralingual translation or rewording (an in-
municação” (Eco,1975: 36). É verdade que terpretation of verbal signs by means of other signs
estas relações e estes processos não se esgo- in the same language). (2)Interlingual translation or
translation proper (an interpretation of verbal signs
tam na língua, mas na tradução passam sem-
by means of some other language). (3)Intersemio-
pre por ela. tic translation or transmutation (an interpretation of
Quando falamos de cultura em tradução verbal signs by means of signs of nonverbal sign sys-
estamos falando de relações de significação tems).(In Susan Bassnett, 1991: 14)
8
e processos de comunicação que envolvem Having established these three types, of which
(2) translation proper describes the process of trans-
duas línguas, e às vezes mais, como no caso fer from SL to TL. Jakobson describes goes on imme-
das citações em língua terceira, dos emprés- diately to pint to central problem in all types: that
timos e dos estrangeirismos. Cada uma com while messages may serve as adequate interpretati-
as suas peculiaridades e hábitos diversifica- ons of code units or messages, there is ordinarily
dos, cada uma contemplando variantes pes- no full equivalence through translation. Even appa-
rent synonymy does not yield equivalence, and Ja-
soais, grupais ou regionais e, às vezes, nacio- kobson shows how intralingual translation often to re-
nais. Cada uma com inúmeros componentes sort to a combination of code units in order to fully
da descrição lingüística a ter em conta, to- interpret the meaning of single unit. Hence a dicti-
das significantes. Cada componente potenci- onary of so-called synonyms may give perfect as a
almente caracterizada pela plurissignificação synonym for ideal or vehicle as a synonym for con-
veyance but in neither case can there be said to be
ou pela extensão do significado6 . complete equivalence, since each unit contains within
6
A maioria dos dicionários não apresenta a signi- itself a set of non-transferable associations and conno-
ficação da palavra, mas dá uma descrição das propri- tations. Because complete equivalence (in the sense
edades do seu referente, o que se pode chamar com of synonymy or sameness) cannot take place in any
mais precisão de extensão do significado. Cf. Ferra- of his categories. (In Susan Bassnett, 1991: 15)
rezi Júnior, 2003:69.

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Tendo estabelecido estes três tipos, dos Vê-se então que, um dos grandes proble-
quais (2) tradução adequada descreve o pro- mas do processo de tradução advém do sen-
cesso de transferência de SL9 até TL10 . Ja- tido culturalmente construído pelo autor do
kobson vai imediatamente ao ponto central texto. Construção do sentido que leva ao
do problema em todos os tipos: enquanto fenômeno da plurissignificação, isto é, a ca-
mensagens podem servir como interpreta- racterística de uma mesma unidade (palavra
ções adequadas das unidades de código ou ou expressão) poder ter mais que um signifi-
mensagens, não existe ordinariamente ne- cado, por vezes mesmo significados contra-
nhuma equivalência completa à tradução. ditórios ou antagônicos. Fato que leva-nos à
Até a aparente sinonímia não produz equi- imediata percepção ao folhearmos um dicio-
valência, e Jakobson mostra como a tradu- nário, cujas entradas, por vezes de páginas,
ção intralíngual freqüentemente tem de op- apresentam as várias alternativas de signifi-
tar pela combinação de unidades de um có- cado (ou extensões do significado). Ora nos
digo para interpretar completamente o signi- casos de plurissignificação, a seleção do sig-
ficado de uma única unidade. Conseqüen- nificado faz-se através do contexto.
temente um dicionário dos chamados sinô- Pode-se dizer, então, que um tradutor que
nimos pode dar perfeito como sinônimo de não se envolve com a cultura terá dificulda-
ideal ou veículo como sinônimo de trans- des em desempenhar o seu papel. Como ob-
porte mas em nenhum destes casos, pode- servamos em Umberto Eco (1975: 75):
mos dizer que haja equivalência completa,
A cultura não é só o primeiro passo para
desde que cada unidade contém em seu in-
se ser humano, isto é, para se poder valo-
terior um conjunto de associações e cono-
rizar a humanidade, como também, en-
tações intransferíveis. A equivalência com-
quanto exercício de intersubjectividade,
pleta (no sentido de sinonímia ou igualdade)
o primeiro passo para a aprendizagem da
não acontece em nenhuma das categorias.
democracia, isto é para dar voz ao outro,
(In Susan Bassnett, 1991: 15) [Minha tradu-
mesmo quando ela não ressoa a nossa.
ção]
Para se ser universal ou inclusivo, isto é,
Assim, quando se procura a equivalên-
para não excluir, só falta exercitar a em-
cia, passa-se a ler a cultura, no sentido
patia, que é a capacidade de se pôr no lu-
restrito, como estratégia de desambiguação,
gar do outro, constantemente11 .
com vista à construção dos sentidos e atuali-
zação do significado e obtém-se a certeza de Chega-se assim, a assertiva de que é com
que uma tradução só terá sucesso, como foi o envolvimento do tradutor com a cultura de
dito anteriormente, com o necessário conhe- 11
The culture is not alone the first step for if human
cimento da língua pelo autor e com seu en- being, that is, to can valorize the humanity, as well
volvimento cultural, tanto com a cultura do as, while intersubjectividade exercise, the first step for
autor quanto com a cultura de sua audiência. the learning of the democracy, that is to give voice to
another, even when she does not resound ours. To
9
SL Source Language. (Língua pesquisada do whether be universal or inclusive, that is, to do not
texto original) exclude, alone fault exercise the empathy, which is
10
TL Target Language. (Língua do público alvo) the capacity of if put in place of another, constantly.
(In: Eco, 1975: 75)

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partida e de chegada que está em jogo a sua inclusive com os choques que o texto origi-
competência. A definição de cultura, adi- nal conseguiu produzir em seus leitores.
antada anteriormente, traduz-se como a to- Os tradutores e teóricos de tradução sem-
talidade das formas espirituais / intelectuais pre foram conscientes sobre o trabalho de
(ciência, arte, ética religião, educação, lín- tradução. As diversas teorias lidas e revisa-
gua), sociais (política, sociedade) e materi- das no decorrer deste estudo dizem que a boa
ais (técnica, economia) que são veículo de tradução é aquela que leva em conta o ritmo,
manifestação da vida humana, e assim, po- as conotações e os dispositivos retóricos usa-
demos enumerar, sem dúvida, os campos do dos no texto original. E todas são unânimes
saber que, no espaço e no tempo, o tradu- em reconhecer que o tradutor deve levar em
tor tem de estar preparado para acionar. Por- conta a cultura de origem e a cultura a quem
quanto, tendo consciência da pouca utilidade ele dirige a tradução. Somente com o conhe-
dos dicionários bilíngües para o trabalho de cimento das culturas envolvidas no trabalho
tradução, é certo que, para a construção de de tradução é que o tradutor se habilitará a
sentidos em seu trabalho é necessário que o ser mais sensível, reconhecendo o valor ar-
tradutor use diferentes modos que o levem tístico do texto original e selecionando equi-
a significações da cultura do outro. Com valentes funcionais na tradução.
este objetivo, seria interessante que o tradu- A equivalência é o núcleo de uma tra-
tor procurasse por leituras constantes e varia- dução. Porém, também, ocupa papel con-
das sobre a cultura do autor; por experiência troverso na pesquisa de tradução. Catford
vivida na cultura a ser traduzida, direta ou in- (1965) define a tradução como a substituição
diretamente; pela intuição; pela memória de de material textual em uma língua por mate-
informações adquiridas; contanto com a ca- rial de equivalência textual em outra língua.
pacidade de adaptação aos modelos dos ou- Ele assegura que o problema central da prá-
tros pelo princípio da semelhança, com a ca- tica de tradução é o de achar equivalências.
pacidade de investigação e sem dúvida, com Enquanto discutindo a natureza de tradu-
a vigilância e o desenvolvimento da própria zir, Eugene Nida (1969) assinala que traduzir
capacidade crítica. consiste em reproduzir na língua receptora
o equivalente natural mais íntimo da mensa-
gem na língua original, primeiro em termos
3 Tradução: equivalências e
de significar e segundo em termos de estilo.
valores culturais Ele enfatiza que o tradutor deve se esforçar
É fato concreto que a tradução contribui com para utilizar a equivalência em lugar da iden-
a comunicação cultural entre interlocutores tidade.
de línguas diferentes. No entanto, nenhum Peter Newmark (1981) apresenta as no-
texto é mera comunicação de informações ções de tradução semântica e tradução comu-
e a tradução de texto pode fracassar se so- nicativa e oferece princípios para textos de
mente visar à reprodução de informações do diferentes tipos e níveis que provam ser mais
texto original. É importante que a tradução adaptáveis que as noções da equivalência di-
aspire produzir o mesmo interesse no leitor, nâmica de Nida (1969). Reciprocamente, in-
vestigamos para nossa pesquisa ambas as te-

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orias, os contra argumentos e a equivalência dade imaginária funcionar mais eficazmente


dinâmica. Roman Jakobson assinala que a na unidade temática. Todos estes pontos
equivalência é o problema central da língua e contribuindo para o significado total do tra-
o pivô principal da preocupação lingüística. balho.
Similar a Nida (1964), ele também discute Segundo teóricos da tradução, os traduto-
que desde que nenhuma das duas línguas seja res devem pensar nas traduções como nego-
idêntica, os significados dados a símbolos ciações. Pois, a tradução lida com o outro. É
correspondentes também não o são, a entrada antropológico, é transgressão da essência in-
como tais símbolos são organizados em fra- variável do original. Cada tradução, então, é
ses ou orações também não o é, assim, não popularmente concebida como a construção
há razão para que haja correspondência ab- e reconstrução de sentidos para a leitura do
soluta entre as línguas. Além disso, Mona significado.
Baker (1992) sugere que tradutores adotem o Quanto a esta negociação no trabalho de
termo “equivalência” por conveniência, ape- tradução Hawkes (1977) diz:
nas porque a maioria de tradutores está acos- O primeiro passo para um exame no
tumada a isto, em lugar de qualquer condição processo de tradução deve ser aceitar
teórica. Ela conclui que “equivalência” pode que embora o núcleo central da tradução
normalmente ser obtida até certo ponto, e é esteja na atividade lingüística, pertence
então sempre relativa. Em resumo, pode-se mais corretamente à semiótica, a ciência
dizer que “equivalência” sempre tem a no- que estuda sistemas de sinais ou estrutu-
ção de relativo. Porém, é o objetivo maior ras, processos e funções de sinais12 . (In
que todo tradutor deve se esforçar para reali- Susan Bassnett, 1991:13) [Minha tradu-
zar. É seguro afirmar, então que, a noção de ção]
equivalência é aspecto importante no estudo
da teoria de tradução e em trabalhos práticos São várias as teorias e autores que tratam
de tradução. sobre tradução. Assim, observam-se tam-
A reprodução do estilo original também bém, teorias da tradução utilizadas no estudo
tem sido a preocupação de teoristas de tra- de línguas diversas. E nota-se que, a preva-
dução. E encontramos opiniões quase unâ- lência nas abordagens apresentadas na Ale-
nimes que afirmam que os tradutores deve- manha (particularmente Hönig e Kussmaul,
riam ser sensíveis para o valor estilístico do 1982; Reiss e Vermeer, 1984; Holz-Mäntäri,
original, ou em outras palavras ser armado 198413 ); é a orientação seguida nesta pes-
com estilos literários. Os valores temáticos e quisa, em direção ao cultural mais do que a
estilísticos de uma obra são gerados por for- orientação para a transferência lingüística.
mas lingüísticas, valores que demonstram a 12
The first step towards an examination of the pro-
visão do autor, seu tom e sua atitude. Valo- cesses of translation must be to accept that although
res que encarnam o entrosar ou a inconstân- translation has a central core of linguistic activity, it
cia de pontos de vista (por exemplo: as mu- belongs most properly to semiotics, the science that
studies sign systems or structures, sign processes and
danças de registro) e que, adicionam a força sign functions. ( In Bassnett, 1991: 13)
afetiva ou emotiva da mensagem. Força que 13
ver também a coleção de ensaios de Snell-
contribui para a caracterização e faz a reali- Hornby, 1986a .

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8 Klondy Lúcia de Oliveira Agra

Tais abordagens vêem a tradução não e não de tipo. Vermeer descreve o seu con-
como um processo de transcodificação, mas ceito de tradução da seguinte forma:
como um ato de comunicação, fato tam-
bém levado em conta no decorrer da aná- Tradução não é transcodificação de pala-
lise feita neste trabalho. Tais abordagens vras ou sentenças de uma língua para ou-
são todas orientadas em direção da função tra, mas uma complexa forma de ação,
do texto-alvo (tradução prospectiva) mais do por meio da qual informações são ge-
que em direção das prescrições do texto- radas em um texto (material da língua-
fonte (tradução retrospectiva). Assim sendo, fonte) em uma nova situação e sob con-
procurou-se neste estudo, ver o texto tal dições funcionais, culturais e lingüísti-
como estas abordagens o vêem, ou seja, cas modificadas, preservando-se os as-
como uma parte integrante do mundo e não pectos formais os mais próximos possí-
como um espécime isolado de língua. veis. (Vermeer, 1986:33).
A contribuição principal para a aborda-
gem descrita acima foi feita por Hans J. Ver- Todavia a característica mais marcante da
meer, cuja Skopostheorie, baseada na fun- abordagem de Vermeer é a função do texto-
ção do texto traduzido (GK. Scopos = obje- alvo, que pode muito bem diferir da função
tivo, alvo), é apresentada em Reiss e Vermeer original do texto-fonte. Nesse contexto, Ver-
(1984). meer introduziu dois termos: Funktionskons-
Vermeer, por muitos anos, fez oposição tanz (função constante, não-modificada) e
veemente à visão que considera a tradução Funktionsveränderung (função modificada,
como meramente uma questão de língua: por meio da qual o texto é adaptado para
para ele tradução é primordialmente uma corresponder a necessidades específicas na
transferência transcultural14 , e em sua visão cultura-alvo). Essa abordagem implica algo
o tradutor deve ser bi-cultural, senão multi- muito importante, que foi amplamente ig-
cultural, o que naturalmente envolve o domí- norado tanto pela abordagem tradicional
nio de várias línguas, já que língua é parte in- quanto pela abordagem lingüística de tradu-
trínseca da cultura. Vermeer considera a tra- ção: a tradução per se não existe, tampouco
dução, essencialmente, como uma forma de a ‘tradução perfeita’. Uma tradução é di-
ação, “Sondersorte von Handeln” (1986:36). retamente dependente da sua função pres-
Em outras palavras, a tradução pode ser des- crita, que deve ser claramente definida desde
crita como um “evento transcultural”15 . Isto o começo. Para Vermeer, a tradução é sem-
se aplica tanto para pares cujas línguas são pre relativa à situação dada, e, por isso, sua
próximas culturalmente (como o inglês e o abordagem é essencialmente dinâmica. Ele
alemão) bem como para pares cujas línguas mesmo a descreve da seguinte forma:
têm conexões culturais mais distantes (como
o finlandês e o chinês): a diferença é de grau Como não podemos dizer que um dado
texto é um texto pragmático, um pedaço
14
ver Vermeer, 1986. de propaganda, mas que apenas pretende
15
cf. Snell-Hornby, 1987.
ser um, é entendido, traduzido ou inter-
pretado enquanto tal, temos de escolher

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A integração da língua e da cultura no processo de tradução 9

uma maneira mais dinâmica de organi- mum. Mas, segundo o autor, tanto a fala co-
zar as palavras e dizer que a decisão de- mum como a tradução podem ser pesquisa-
pende do objetivo da tradução. (Reiss e das com base no processo ou com base no
Vermeer, 1984:29) produto. Pensando no processo da tradução,
segundo Klein, estamos diante de duas ques-
Uma abordagem de tradução bastante se- tões: como entendemos o texto e como ex-
melhante, mas com um viés mais lingüístico, pressamos em outra língua um conteúdo pré-
é apresentada no interessante livro Strategie determinado?
der Übersetzung, escrito por Hans G. Hönig No entanto, na maioria das teorias,
e Paul Kussmaul (1982). O ponto de partida pesquisa-se o produto, ou seja, o texto tra-
de Hönig e Kussmaul é a concepção de texto duzido e a sua relação com o texto origi-
como o que chamam de “a parte verbalizada nal. Segundo Paulo Ronai (1987) a fideli-
de uma sócio-cultura” (1982:58): dade alcança-se muito menos pela tradução
literal do que por uma substituição contínua.
[...]o texto se sustenta em uma dada si- A arte do tradutor consiste justamente em sa-
tuação e é condicionado pela sua expe- ber verter e quando deve procurar equivalên-
riência sócio-cultural. A tradução, en- cias.
tão, é dependente da sua função como Na prática, teóricos não só consideram
um texto ‘implantado’ em uma cultura- equivalência como o padrão para avaliarem
alvo. O critério básico para atingir a qua- traduções em dimensões de macro, mas tam-
lidade de uma tradução é chamado de bém como equilíbrio na transferência de di-
“grau necessário de diferenciação”, que ferentes tipos de textos e de diferentes ní-
representa “o ponto de intersecção entre veis de elementos lingüísticos. Neste estudo,
a função do texto-alvo e os determinantes consideramos a equivalência como a diretriz
sócio-culturais” (de Hönig e Kussmaul na tradução, acreditando firmemente no que
1982:53). Sapir e Whorf acreditaram16 : “Nenhuma lín-
gua pode existir a menos que esteja num con-
Para Koller (1992:148), a tradução é um texto cultural; e nenhuma cultura pode exis-
procedimento altamente complexo envol- tir sem que tenha em seu núcleo, a estrutura
vendo as mais diversas condições e fato- da língua natural” (In Bassnett, 1991:14).
res lingüísticos, comunicativos, culturais etc. [Minha tradução]
Klein (1992:106) diz que o que torna espe- Vê-se então que, apenas a equivalência
cial a tradução é o fato de o tradutor, ao con- de significados não são critérios satisfatórios
trário do falante comum, não ter a liberdade para a correta tradução e que o tradutor de
de colocar em palavras o que ele pensa, mas significados não vai além de uma tradução
sim o que ele diz é pré-determinado em for- literal da língua. O “verdadeiro” tradutor é
mas de palavras e orações, só que em ou- aquele que leva em conta os sentidos, sua
tra língua. O tradutor precisa extrair-lhes
16
mais do que o significado, o sentido. Unem- No language can exist unless it is steeped in the
context of culture; and no culture can exist which
se aqui os processos de compreensão e pro-
does not have at its center, the structure of natural lan-
dução, algo que não acontece na fala co- guage. (In: Bassnett-McGuire, 1991:14)

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criação, a cultura, faz o papel de ponte en- sua posição de locutor por índices específi-
tre línguas e universos diferentes. Ou seja, o cos, dá relevo ao papel do sujeito falante no
tradutor não deve ter a concepção de signi- processo da enunciação e procura mostrar
ficante como sendo apenas a palavra. Deve como acontece a inscrição desse sujeito nos
lembrar em seus trabalhos de tradução que enunciados que ele emite”. Ao falar em po-
a língua natural não é significativa e repre- sição do locutor, Benveniste levanta a ques-
sentativa a partir da palavra, não é estrutu- tão da relação que se estabelece entre o locu-
rada a partir palavra, nem estudável a partir tor, seu enunciado e o mundo. E lembrando
dela. Deve convencer-se da pouca importân- esta relação, que sempre está presente nos
cia da significação da palavra. E que, não faz processos translatórios, remete-se ao estudo
sentido fazer uma tradução da palavra pen- feito por Raccah (2002) denominado A Se-
sando estar traduzindo um texto que envolve mântica dos Pontos de Vista, no qual o autor
conhecimentos, cenários, cultura. propõe e defende uma aproximação das re-
Considera-se muito importante a capaci- lações entre a pragmática, a semântica e a
dade do tradutor de reconhecer que o refe- cognição, aproximação que segundo ele, é a
rente da palavra faz parte da realidade obje- mais adequada para uma teoria científica das
tiva do mundo. Que qualquer que seja a pala- línguas e, em particular, aos fenômenos da
vra, antes de ter uma significação, passa pelo construção dos sentidos, que é o objeto desta
sentido – e talvez pela representação e chega pesquisa.
ou não ao referente, conhecido como signifi- Pierre-Yves Raccah faz digressões sobre o
cado. E que, no que tange aos sentidos das que se pode ver e como se pode ver as coi-
palavras, há interferências externas muito ní- sas, fazendo-nos reafirmar a teoria de que o
tidas (fatores culturais) que exigem tradutor sentido de um enunciado não é percebido,
especial cuidado na realização do seu traba- é construído, ou seja, a interpretação se dá
lho. com o conhecimento do contexto e do ce-
nário, como já explicitamos anteriormente.
Raccah17 exemplifica sua teoria e conclui:
4 Outros fatores importantes ao
processo de tradução [...] cada enunciado, por mais que uti-
lize as mesmas palavras, evoca pontos de
A tradução sendo um processo que envolve
vista que pertencem a cultura de uma co-
fatores culturais, envolve uma série de fa-
munidade lingüística, ou melhor da co-
tores que podem facilitar ou mascarar a lei-
munidade lingüística a que pertence o fa-
tura do cenário pelo tradutor, influindo na in-
lante. Assim, vê-se indiretamente o pa-
terpretação da obra trabalhada e, partindo-se
do fato que a significação da palavra é uma 17
[...] cada enunciación, por las palabras mismas
questão que envolve a construção do sentido, que utiliza, evoca puntos de vista que pertenecen a la
cultura de una comunidad lingüística y respecto a los
chega-se a Benveniste (1996) e a questão so-
cuales el hablante tiene la facultad de pronunciarse.
bre a relação que envolve o locutor, a enun- Asimismo, hemos visto indirectamente el papel de las
ciação e o interlocutor: “o locutor se apro- representaciones colectivas en la construcción de una
pria do aparelho formal da língua e enuncia realidad que constituye el objeto del discurso.(In Le-
tras de Hoje, 129, 2002:69)

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A integração da língua e da cultura no processo de tradução 11

pel das representações coletivas na cons- Segundo Sapir (1927), inúmeras ativi-
trução de uma realidade que constitui o dades nas interações humanas operam de
objeto do discurso. acordo com um código elaborado e secreto
Assim, em vez de se pretender descre- que não está escrito em parte alguma, co-
ver o significado como núcleo lógico de nhecido de ninguém, porém compreendido
um sentido subjetivo, convém considerar por todos. Entende-se que Sapir esteja aí se
o significado como instrução (objetiva) referindo a cultura encoberta ou implícita19
para a construção do sentido (subjetivo). . Cuja significação, de acordo com Epstein
(In Raccah, 2002:69) [Minha tradução] (1993), recobre aqueles segmentos da cul-
tura que não são explicitados pelos seus por-
Assim, compreende-se que o tradutor, ao
tadores, mas que devem ser reconstituídos
ler a obra a ser traduzida, deve levar em conta
pelo analista. Segmentos da cultura reche-
também pontos de vista do autor para a cor-
ados de fatores que influem na leitura e com-
reta leitura e interpretação do seu texto, com
preensão de dados, fatores tais como: dife-
a teoria de Raccah18 , ainda observa-se o se-
renças culturais geradoras de preconceitos,
guinte pensamento:
sentidos colonialistas e outros que se não fo-
Desta maneira, vê-se o falante como um rem investigados e descobertos pelo tradu-
manipulador que, utilizando sua língua tor, este profissional incorrerá em equívocos
como ferramenta, empurra (ou tenta em- e pontos de vista enganosos.
purrar) o ouvinte a construir um sentido Para tais esclarecimentos, aconselha-se
subjetivo, que o próprio falante só pode ao tradutor procurar esclarecimentos atra-
vislumbrar, mais ou menos, em função vés de bibliografia específica, tais como
do seu conhecimento da subjetividade do Foucault,1980; Guha,1982; Sapir, 1927;
ouvinte. (In Raccah, 2002:70) [Minha Sharma, 2000; Spivak,1985; Parry, 1987;
tradução] Fanon, 1952, entre outros que tratam sobre
o discurso colonizador. A partir daí, ob-
Portanto, cabe ao tradutor, observar, vi- servar a presença de tal discurso na obra.
sando o sucesso do seu trabalho, a relação Pois, entende-se que o processo de colo-
do dizer do autor e as condições de produ- nização começa primordialmente através da
ção desse dizer, com isto volta-se a afirma- linguagem e que este controle - quer atra-
tiva anterior, de que para que a tradução te- vés do apagamento das línguas nativas, quer
nha sucesso, o tradutor deve envolver com a pelo estabelecimento da linguagem colonial
cultura de partida e de chegada, para que tra- como "padrão"pelo qual se medem possibi-
duza sentidos de cultura a cultura e não dê lidades de ascensão pessoal e profissional
interpretações errôneas. - permanece sendo o mais poderoso instru-
18
De esta manera, se ve al hablante como un ma- mento de controle cultural. Já que, a lingua-
nipulador, quien, utilizando su lengua como herrami- gem fornece os termos pelos quais o mundo
enta, empuja (o intenta empujar) al oyente a construir
19
un sentido subjetivo, que el hablante mismo sólo pu- Covert or implicit culture, conceito introduzido
ede vislumbrar más o menos, en función de su cono- na primeira metade do nosso século por antropólogos
cimiento de la subjetividad del oyente. (In Letras de norte-americanos, entre os quais C. Kluckhohn e R.
Hoje, 129, 2002:70) Clinton.

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12 Klondy Lúcia de Oliveira Agra

passa a ser conhecido; sistemas de valores, Na observação da obra original, o tradutor


conceitos, e mesmo noções aparentemente deve levar em conta essa dinâmica da cultura
simples sobre as coisas e fatos do dia-a-dia que misturou o olhar do autor estrangeiro em
se tornam a base do sistema sobre o qual os uma cultura miscigenada diante de um con-
vários discursos coloniais como o social, o fronto com um novo modelo, muitas vezes
político, o econômico e o cultural são cons- imposto, mesclado de elementos do passado
truídos. Entendendo-se, então que por tratar- e dos apelos do momento, igual à cultura
se do envolvimento de línguas diferentes no descrita em Marxismo e Literatura de Ray-
trabalho de tradução, muitas vezes, do co- mond Williams (1986). Autor que denomi-
lonizador e do colonizado, acredita-se que nou essa situação cultural como hegemônica
tais estudos são imprescindíveis na execução (a que pressiona pela mudança), residual (a
deste processo. que busca dados no passado, na tradição) e
Em Michel Foucault (1980) emergente (a que resulta da tensão), que fun-
Power/Knowledge: Selected Interviews cionam como um moto-contínuo nas estrutu-
and Other Writings, vê-se sobre a idéia ras sociais.
que estrangeiros têm em relação à cultura O tradutor, como o autor, deve adentrar, os
colonizada. E o que este autor chama de recônditos do grupo social de partida, ten-
"conhecimento subjugado", ou seja, "todo tando vasculhar seus porões e sótãos, onde
um conjunto de conhecimentos que foram estão as reservas, ou simplesmente entrar no
desqualificados como inadequados ou que se poderia chamar de “cozinha”, onde se
insuficientemente elaborados: conhecimen- misturam e processam os ingredientes, trans-
tos ingênuos, colocados em uma posição pondo os obstáculos culturais encontrados.
inferior na hierarquia dos conhecimentos, Transposição só possível com a reconstrução
abaixo do nível exigido pela cognição e pela dos sentidos deste autor na cultura alvo de
cientificidade” (Foucault, 1980). sua pesquisa.
Cabendo, assim, ao tradutor a leitura da Com esta diretriz de trabalho, o tradutor
obra original, registrando conceitos ou “vi- deve procurar na análise da obra pela trans-
sões de mundo” diferenciadas, carregadas de formação dos papéis e dos significados que
preconceitos20 . Palavras, expressões ou cog- compõe a história da obra analisada, mas
nomes que traduzam conceitos a serviço do para decifrá-los e localizá-los, necessita do
colonizador. Muitas delas criadas pela pró- auxílio de outras áreas do conhecimento que
pria comunidade descrita na obra, a partir de ofereçam suporte teórico para tal interpreta-
idéias ou concepções que lhes foram perio- ção e análise. Suporte oferecido pelas teorias
dicamente passadas de variadas formas dife- da tradução pós-colonial.
rentes. Muitas vezes pelo próprio coloniza-
dor, pelos antepassados, pela escola etc.
5 A tradução pós-colonial
20
O conceito de “preconceito” aqui adotado é sob
a perspectiva de Agnes Heller.Para ela: “devemos nos Como se observa em todos os passos deste
aproximar da compreensão dos preconceitos partindo artigo, esta análise tem por objetivo apon-
da esfera da cotidianidade”. Ver: Agnes Heller, O tar caminhos à tradução intercultural. Para
cotidiano e história, 1985, p. 43. que essa tradução ocorra, como já observa-

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A integração da língua e da cultura no processo de tradução 13

mos, o tradutor deve fazer uma correta pes- processo de transferência através de li-
quisa levando em conta a cultura do autor e a mites lingüísticos e culturais. A tradu-
cultura de recepção, evitando repetir ou per- ção não é uma atividade inocente, trans-
petuar o discurso colonizador. Buscando e parente, mas está altamente carregada de
evitando os seguintes itens: vínculos entre significados em todos seus estágios; é
centro e margens de domínio intelectual; os raro, se alguma vez, envolve relação de
apagamentos na tradução praticados por sen- igualdade entre textos, autores ou siste-
tidos coloniais às sociedades pós-coloniais, mas. (In Bassnett e Trivedi, 1999:2) [Mi-
por traduções e relações de força entre a lín- nha tradução]
guas e outros indícios do discurso coloni-
zador; sempre se orientando por farta pes- O tradutor deve ter consciência e respon-
quisa bibliográfica dirigida a este fim. Exa- sabilidade no seu trabalho com a importân-
minando, sempre que possível, as relações cia do entrecruzamento da pesquisa lingüís-
entre língua e poder através dos limites cul- tica e dos aspectos culturais que envolvem
turais, procurando revelar o papel vital da o trabalho de tradução. No entanto, quando
tradução em redefinir os significados cultu- falamos de tradução pós-colonial, é interes-
rais e identidade étnica. sante que fique claro a não inocência da ati-
A tradução, conforme Susan Bassnett e vidade translatória e da possibilidade do au-
Harish Trivedi21 (1999), não acontece em tor estrangeiro ao traduzir uma cultura, ler e
um vacuum, mas em um continuum; e assim entender a cultura a ser descrita como uma
complementam: cultura inferior.
Segundo Bassnett e Trivedi (1999), Octa-
[...] não é um ato isolado, é parte de vio Paz22 clama que a tradução é a principal
um processo contínuo de transferência maneira que nós temos de entender o mundo
intercultural. Além disso, a tradução é em que nós vivemos. Diz ele:
uma atividade altamente manipulatória
O mundo é apresentado para nós como
que envolve todos os tipos de fases neste
um montão crescente de textos, cada um
21
It is not an isolated at, it is part of an ongoing pro- ligeiramente diferente do qual o antece-
cess of intercultural transfer. Moreover, translation is deu: tradução de traduções de traduções.
a highly manipulative activity that involves all kinds
Cada texto é único, ainda que ao mesmo
of stages in that process of transfer across linguistic
and cultural boundaries. Translation is not a innocent, 22
Octavio Paz claims that translation is the princi-
transparent activity but is highly charged with signifi- pal means we have of understanding the world we live
cance at every stage; it rarely, if ever, involves a relati- in. The world, he says , is presented to us a growing
onship of equality between texts, authors or systems. heap of texts, each slightly different from the one that
The essay topics include: links between centre and came before it: translation of translations of trans-
margins in the intellectual domain; shifts in transla- lations. Each text is unique, yet at same, yet at the
tion and power relations among languages; Brazilian same time it is the translation of another text. No text
cannibalistic theories of literary transfer. Examining can be completely original because language itself, in
the relationships between language and power across its very essence, is already a translation - first from
cultural boundaries, this collection reveals the vital the nonverbal world, and then, because each sign and
role of translation in redefine the meanings of cultural each phrase is a translation of another sign, another
and ethnic identity. (In Bassnett e Trivedi, 1999:2) phrase. (In Bassnett e Trivedi, 1999:3)

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14 Klondy Lúcia de Oliveira Agra

tempo seja a tradução de outro texto. Ne- ranjana24 (1992:2) vai além e sugere que a
nhum texto pode ser completamente ori- tradução atua de ambas as formas: “dentro
ginal, porque em sua própria língua, na das relações assimétricas do poder que ope-
sua essência, já é uma tradução - primei- ram sob o colonialismo”.
ramente é a tradução do mundo não ver- Deste modo, volta-se à revisão teórica de
bal, e então, porque cada sinal e cada Bassnett e Trivedi (1999) que apresentam ar-
frase é a tradução de outro sinal, de ou- tigos de vários autores esclarecendo cami-
tra frase. (Paz 1992:154 - In Bassnett e nhos à tradução pós-colonial25 e comentam
Trivedi, 1999:3) [Minha tradução] sobre o desenvolvimento de importantes mo-
vimentos culturais contra a presença da men-
Portanto, o profissional da tradução deve talidade colonialista na literatura26 .
levar em conta que a tradução não é uma Esses trabalhos, se conhecidos e anali-
atividade marginal, e sim,uma atividade es- sados, trazem ao autor maior conscientiza-
sencial, primária e nunca uma atividade ino- ção sobre os recursos utilizados pelo escri-
cente. Pois é nela e através dela que um tor estrangeiro para sutilmente retratar ce-
ponto de vista é descrito e divulgado, fa- nários com valores baseados na suposta su-
zendo jus ou não a cultura descrita; carre- premacia do colonizador. Valores que as
gando ou não preconceitos. traduções pós-coloniais buscam descoloni-
zar, mostrando suas culturas e sociedades,
6 Conclusão livrando-as deste “falso olhar colonizador”.
Destarte, ao executar a tradução, o tradu-
Para fazer-se uma análise investigativa sobre tor conhecedor de novos rumos da tradução
a construção de sentido, tanto na obra ori- procura por uma tradução que não seja ape-
ginal como na tradução, o tradutor deve le- nas uma cópia fiel do original, mas uma tra-
var em conta a relação escritor, leitor e tra- dução que quebre a noção da tradução co-
dutor. Para entender a construção do sentido lonial como uma cópia empobrecida. Em
e a ênfase que o sentido da à obra, é neces- busca deste objetivo, leva-se em conta a tra-
sário que o profissional da tradução pense e dução como ferramenta descolonizadora e as
reconheça, também, a importância da histó- seguintes considerações de Bassnett e Tri-
ria da tradução e sobre como tal atividade foi vedi (1999)27 :
usada no início do período da colonização. 24
Within the asymmetrical relations of power that
Como exemplificação, recorremos à teoria a operate under colonialism. (In Tejaswini Niranjana,
fim de rever que o processo da tradução e o 1992:2)
colonialismo fizeram seu trajeto pela história 25
Incluído: Manifesto Antropófago de Oswald de
lado a lado. Andrade, 1920.
26
Para Eric Cheyfitz23 (1991:104) a tradução Na literatura brasileira tem-se como exemplo
Antropofagia. Para uma visão mais específica da
foi o ato central da colonização e do imperi- relação da Antropofagia com a tradução, veja Vi-
alismo europeu na América. Tejaswini Ni- eira,1997.
27
23 1. So how were the colonies, emerging from
The central act of European colonization and im- colonialism, to deal with that dilemma? How might
perialism in America. (In Eric Cheyfitz,1991:104) they find a way to assert themselves and their own

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A integração da língua e da cultura no processo de tradução 15

Então como as colônias que emergem e aprendizagem, sempre levando em conta


do colonialismo, lidam com tal dilema? fatores que influem na leitura e na interpre-
Como eles poderiam achar caminho para tação do cenário. Buscando por fatores que
afirmar a eles mesmos a sua própria cul- influem no julgamento e posições na hierar-
tura, rejeitar o apelativo da “cópia” ou quia literária que envolve o colonizador e o
“tradução” sem que ao mesmo tempo re- colonizado, observando pontos na obra ori-
jeitem todos os valores vindos da Eu- ginal e na tradução, a fim de, com conheci-
ropa? (In: Susan Bassnett e Harish Tri- mento de causa, possa apontar pontos obscu-
vedi, 1999: 4) [Minha tradução] ros ou enganosos na leitura e interpretação
do cenário pelo autor e, procurando o entre
Questões respondidas por Bassnett e Tri- espaço28 , fazendo o que podemos chamar de
vedi ao citarem Haroldo Campo: “varredura”, para uma correta análise.
Sobre o entre espaço na tradução, Homi
Tradução, diz o grande tradutor brasileiro Bhabha29 observa:
Haroldo Campos, pode ser comparada à
transfusão de sangue, onde a ênfase está Nós devíamos lembrar que é o ‘entre’ -
na saúde e nutrição do tradutor. Isto é, a o fio cortante da lâmina da tradução e
tradução deve ficar o mais distante pos- renegociação - o entre espaço - é o que
sível da noção de fidelidade para com o leva o fardo do significado da cultura. É
original, do tradutor como empregado do o que faz possível começar a enfrentar
texto fonte. Tradução, de acordo com histórias antinacionalistas sobre os po-
Campos, é diálogo, o tradutor é um lei- vos. E, é através da exploração deste ter-
tor poderoso e livre agente como escri- ceiro espaço que podemos iludir a polí-
tor. (In: Susan Bassnett e Harish Trivedi, tica de polaridade e emergir como os ou-
1999: 5) [Minha tradução] tros em nós mesmos.(Bhabha, 1994:38-
9) [Minha tradução]
Conclui-se, portanto que, o tradutor, como
um profissional consciente, esta em cons- Com esta análise confirma-se que só com
tante leitura e análise de novas metodologias o envolvimento do tradutor, procurando ver a
culture, to reject the appellative of ‘copy’ or trans-
tradução como um processo que envolve não
lation’ without at the same time rejecting everything só a língua, mas também a cultura, sistemas
that might be of value that came Europe? (In: Susan políticos e a história, é que se dará a tradução
Bassnett e Harish Trivedi, 1999: 4) 2. Translation, intercultural.
says the great Brazilian translator Haroldo Campos,
28
whose work is discussed in detail by Else Vieira in In-betwenness.
29
her chapter in this book, may be likened to a blood We should remember that it is the ’inter’ - the
transfusion, where the emphasis is on the health and cutting edge of translation and renegotiation, the in
nourishment of the translator. This is a far cry from - between space - that carries the burden of meaning
the notion of faithfulness to an original, of the trans- of culture. It makes it possible to begin envisaging
lator as servant of the source text. Translation, ac- national anti-nationalist histories of ’people’. And by
cording to de Campos, is a dialogue; the translator is exploring this Third Space, we may elude the politics
an-powerful reader and a free agent as a writer. (In: of polarity and emerge as the others of our selves. (In
Susan Bassnett e Harish Trivedi, 1999: 5) Bhabha, 1994:38-9)

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