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Páscoa,

a vida
que brota
da
Esperança.

SUBSÍDIOS PARA LIDERANÇA nº 4


Igreja Metodista – I Região Eclesiástica

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ÍNDICE

- Página 1 – Estudo Bíblico a partir do AT:

Páscoa, Uma celebração que ressuscita a libertação


da escravidão - por Tércio Machado Siqueira

- Página 7 - Estudo Bíblico a partir do Novo Testamento.

Páscoa – Sua celebração no tempo de Jesus - por


Bispo Paulo de Oliveira Lockmann

- Página 16 – Sugestão nº 1 para liturgia pascal

Páscoa, libertação – Tempo de esperança.

- Página 19 – Sugestão nº 2 para liturgia pascal

Na ressurreição, o encontro do outro.

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ESTUDO BÍBLICO A PARTIR DO
ANTIGO TESTAMENTO

PÁSCOA, UMA CELEBRAÇÃO QUE RESSUSCITA

A LIBERTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Tércio Machado Siqueira

Nenhuma das festas bíblicas se equipara em importância e significado a


da Páscoa, que é lembrança e memória de um fato fundamental para a
manutenção da vida do povo bíblico. Na festa o povo era levado a lembrar do
que Deus fez por eles quando estavam no Egito. Portanto, lembrar era o
mesmo que injetar vida no povo. Por outro lado, esquecer os atos salvadores
de Deus era o princípio da morte. Assim, a Páscoa representa a garantia da
vida, da paz, da esperança, da vitória dos fracos sobre os maus. A vitória do
projeto de Deus.

I – O ritual da Páscoa
(Êxodo 12:1-28; Deuteronômio 16:1-8)

Estes textos mostram que durante a celebração da Páscoa, os membros


da comunidade israelita dramatizavam os tristes acontecimentos no Egito,
quando seus antepassados serviam a Faraó. Como escravos. Estes textos
eram destinados à catequese das novas gerações de israelitas. Isso quer dizer
que eles eram parte um ritual religioso que tinha a finalidade de transmitir a fé à
juventude israelita, agora vivendo em Canaã, que estava sujeito a cair no
domínio de outro poder político. Essa nova geração precisava conservar a sua
fidelidade ao Deus que a salvou da escravidão Mas, afinal, o que aconteceu
realmente no Egito? Alguns textos bíblicos são muito importantes para iluminar
aquela situação.

A. A vida dos hebreus (israelitas) no Egito

1. Êxodo 1: 11-15

Ao ler este texto, percebe-se que algo desagradável ocorria com o


povo hebreu: vida dura em razão dos trabalhos forçados (v. 11); opressão por
parte do governo egípcio (v. 12); jovens escravos eram assassinados (v. 16).
Tudo isso fazia com que a vida dos hebreus fosse bastante amarga (vv. 13-14).

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O sistema social em vigor no Egito determinava que o povo do campo deveria
sustentar, através de tributos (grãos, animais e trabalho), toda a burocracia e
projetos “faraônicos”. O povo não era escravo no sentido de ser propriedade
do governo ou de pessoas ricas. O livro de Êxodo diz que o Faraó exigia dos
hebreus serviços obrigatórios.

2. Êxodo 3: 7-9

Este texto trata o chamado de Moisés para resgatar o povo


daquela situação tão desagradável. O movimento dos escravos israelitas pela
liberdade ganha o favor de Deus. Aqui, a missão de Moisés tem sua razão de
ser no grito de dor do povo, pela miséria que lhe gerava angústia (v. 7). Veja
só! O chamado de Moisés estava em função do clamor do aflito (vv. 7, 9, 17)
do povo, e não de outro motivo qualquer.

3. Êxodo 5: 8-23

Ante a tentativa do povo hebreu, de melhorar sua condição de


vida e ter um período para o seu descanso (Êxodo 5:1-9), Faraó reage com
mais rigor com os trabalhadores, usando uma tática muito usada pelos
governos opressores, mas condenada pela Bíblia. Faraó procura desprestigiar
o povo hebreu chamando-o de “preguiçoso” (vv. 8 e 17). Ao mesmo tempo, o
governo egípcio aplica a disciplina do “mau patrão”, exigindo dos escravos
maior produção de tijolos (v. 19). Por fim, faraó tenta a tática de humilhar os
líderes hebreus, açoitando-os diante do povo (v. 14). Com isso, ele
desmoralizava os chefes da rebelião. Por tudo isso, é que o povo se sentia
maltratado (v. 23), pois além de pesado (v. 9) e violento, Faraó procurava
cortar todas as possibilidades de uma ação organizada contra o sistema de
governo.

Resumindo: a luta dos hebreus era pela busca de liberdade e


obtenção da vida em Canaã. Deus ouviu o clamor do povo e ajudou na busca
de liberdade.

B. A vida dos hebreus (israelitas) em Canaã


(Deuteronômio 6: 10-25; Deuteronômio 8:7-13)

A celebração pela saída do Egito fez com que o povo sonhasse com
uma vida abundante e feliz na Terra Prometida. Os textos acima citados
prevêem uma realidade que ele sonhava ter em Canaã: cidades grandes e
boas, casas cheias de tudo de bom, poços abertos, vinhas e olivais (Dt 6:10);
terra para plantar e tirar o sustento para a vida (vv. 23 e 24); vida numa terra
sob a justiça de Deus (v. 25). Numa demonstração clara da importância da
terra para a vida do povo, o capítulo 8 de Deuteronômio continua a mostrar o
anseio de quem viveu cativo e, agora, busca a vida plena: na terra prometida, a

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terra é boa e cheia de ribeiros (v. 7); terra de trigo, vinhas, cevadas, figueiras,
romãzeiras, oliveiras, azeite e de mel (v.8); terra do pão sem escassez e terra
de ferro e de cobre (v. 9); terra onde o povo come e fica saciado (v. 10); terra
onde quem manda é Deus (v. 11); terra de casas boas (v. 2) e terra onde se
multiplicarão bois e ovelhas (v. 13)

Entretanto, nem toda essa expectativa se concretizou após a chegada a


Canaã. Muitos fatores concorreram para isso, porém a razão maior estava na
presença de outro inimigo que procurava exercitar seu domínio tirano sobre o
povo libertado da escravidão egípcia. O que fazer, então? A ordem era lembrar
daquilo que Deus fez pelo povo cativo no Egito (Dt 8:14-20; Dt 11:18-21). Aqui
se percebe que a memória israelita acerca dos atos salvadores de Deus não
era vitória triunfalista de um passado distante, mas uma lembrança voltada
para a luta e compromisso com as ameaças de outros “faraós” do presente.

Resumindo: Agora, em Canaã, os israelitas enfrentavam outra luta. O


difícil relacionamento com os donos da terra (cananeus) criou inúmeras
impossibilidades para a obtenção dos elementos básicos, tais como a terra,
moradia, alimento e liberdade para o culto.

II – O porquê da Páscoa

Depois de analisarmos os textos relatam o motivo da celebração da


Páscoa, resta enumerar alguns pontos conclusivos:

1. O relato da Páscoa é uma das muitas histórias que eram contadas


para animar o povo em tempos difíceis. Era uma festa revitalizadora da força
da comunidade ante o perigo e a crise.

2. Havia muitas histórias que o povo contava para tirar delas lições
exemplares: a história da criação, a história de José, a história de Elias, etc..
Entretanto, a história da Páscoa era mais importante de todas elas. O relato do
êxodo do passou a ser memorizado, e anualmente comemorado em cada
família israelita.

3. A Páscoa era única festa pastoril do calendário israelita. As demais


eram festas de origem agrícola que acompanhavam o ciclo na natureza. A
Páscoa era a que se relacionava a um fato histórico.

4. A celebração da Páscoa aconteceria nas casas. Somente muito depois


é que a festa foi para o templo. Originalmente o celebrante era o chefe da
família.

5. Certamente a celebração nasceu num misto de alegria pela salvação e


a ameaça de um novo cativeiro. A celebração ajudava o povo a não esquecer o
passado, a não perder a identidade de fé e a consciência de sua de sua missão

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como povo. Ao mesmo tempo, ela servia de combustível para impulsionar na
caminhada pela liberdade e vida plena.

6. A festa da Páscoa é animadora e orientadora da luta e interesses do


povo na busca de ser fiel a Deus; no esforço para a observância do projeto de
Deus; na luta pela posse da terra e acesso aos meios de produção. Portanto, a
festa da Páscoa não é neutra.

7. A celebração da Páscoa dramatiza a história e revela o rosto de Deus.


Javé é um Deus diferente, porque ouve o clamor dos que sofrem e os tira do
sofrimento. Resgatar o sentimento da Páscoa, hoje, é trabalhar pelo bem-estar,
saúde, alegria das pessoas; é salvar os famintos de sede e fome de justiça e
da graça de Deus.

Questões para pensar:


a) O que há de semelhante entre a Páscoa bíblica e a nossa
comemoração hoje?

b) Que sentido tem a Páscoa para nós, hoje?

6
ESTUDO BÍBLICO A PARTIR DO
NOVO TESTAMENTO

A PÁSCOA – SUA CELEBRAÇÃO NO


TEMPO DE JESUS
Bispo Paulo Lockmann

Veremos agora o referencial em que se constrói a tradição pascal no


Novo Testamento, assim como as linhas diretas que nos vem do Antigo
Testamento. “...Eis o Cordeiro de Deus...”. Esta saudação, que é introdutória,
mas também didática e intencional, mostra o esquema pascal presente em
João desde o início do evangelho. Uma das teses do evangelista é exatamente
esta: Jesus é o Cordeiro da Páscoa. Vemos assim a importância que o tema
pascal tem na história da redação dos evangelhos. A celebração. A celebração
judaica da Páscoa e a teologia nela implícita, vão servir de pano de fundo à
formação do Querigma Pascal da Igreja. A razão pela qual o Querigma
(pregação, anúncio) primitivo da Igreja está profundamente centralizado na
Páscoa, é porque, tanto a tradição bíblica como nos escritos rabínicos da
época de Jesus, é na Páscoa onde ocorrem os eventos importantes da história
de Israel. Enquanto Ezequias celebrava a Páscoa com Isaías e o povo, o anjo
do Senhor destruía os exércitos de Senequeribe (2Rs 19:35-37), Is 37:36-38 e
2Cr 30); na Páscoa que Ester e os judeus jejuaram, Hamã, o inimigo dos
judeus, caiu em desgraça diante do rei Assuero (Ester 4:14 a 5:6); o levante de
Matatias, o Macabeu, também ocorre em função da proibição de celebrar a
Páscoa, por ordem de Antíoco IV. Segundo os escritos da Apocalíptica
Judaica, era na Páscoa que o juízo de Javé cairia sobre Edom e as nações
pagãs da terra, e que o livramento de Israel aconteceria.

Por tais razões, na época de Jesus, na Páscoa, a Guarda Romana era


dobrada, tendo em vista que muitos levantes de cunho messiânico ocorreram
durante esta festa nacional. Nesta época vários escritos rabínicos sublinhavam
ser na Páscoa o espaço de manifestação do Messias. Por esta razão que até
nos dias de hoje, entre judeus praticantes, reserva-se um lugar à mesa pascal,
para Elias, o profeta precursor, inclusive um cálice é servido a ele com vinho, e
a certa altura da celebração, justamente quando o terceiro cálice ou o cálice da
bênção é bebido, a porta é aberta, com o fim de permitir a entrada de Elias, ao
mesmo tempo são lidas passagens apropriadas e que predizem a destruição
das nações pagãs (Sl 79:6; Sl 69:24-25). O Banquete Pascal é também o
paradigma (modelo, padrão) da reunião final dos justos no Reino de Deus (Mc
14:25, Lc 15:24).

Na época de Jesus, devido à opressão estrangeira, cada Páscoa era


aguardada com grande expectativa, pois nela poderia manifestar-se o Messias

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Libertador de Israel. Na escola rabínica de Hilel, avô de Gamaliel, mestre de
Paulo e contemporâneo de Jesus, afirmava-se que o Messias deveria vir entre
14 e 15 de Nisan, por ocasião do sacrifício do Cordeiro Pascal, inclusive fatos
extra-ordinários deveriam marcar este momento. Nos escritos de Qunrâm é
durante esta celebração que deveria ocorrer à vinda do Mestre da Justiça. Em
plena guerra diz: “...enquanto lutam os filhos da luz, os sacerdotes celebram o
sacrifício do Cordeiro de Deus por todo o resto santo de Israel, pois será o dia
da vitória do Senhor”.

Na Palestina do século I, todo israelita em condições, e que não


estivesse distante de Jerusalém mais de 15 milhas, deveria ir obrigatoriamente
a Jerusalém. O Templo transformara-se desde a reforma deuteronômista o
centro da Páscoa, que, contudo não se limitava a ele. Não apenas os Israelitas
próximos de Jerusalém compareciam a festa, mas de toda Diáspora judaica
vinham pessoas para a festa. Para se calcular o número de participantes, com
base na informação de Flávio Josefo, o historiador, segundo o qual, Cestius
tendo feito um recenseamento a fim de convencer Nero da importância de
Jerusalém, dá o número de cordeiros sacrificados, por ocasião de uma festa
pascal, que seriam 256.500, e que, admitindo-se 10 pessoas para cada um,
daria uma população de 2.700.200. Sem dúvida tal população na ocasião da
festa da páscoa, fazia com que grande parte acampasse fora dos muros da
cidade. Com isso o comércio todo tomava grande impulso nesta época,
inclusive no Templo (Mt 21:12-13; Jo 2:13-17). Isto se tal número mencionado
fosse real, o que nos parece bastante imprevisível.

Os que se alojavam dentro dos muros eram gratuitamente hospedados


e, em troca, deixavam aos seus hospedeiros, as peles dos carneiros pascais e
os vasos de que se utilizavam nos serviços sagrados.

Os preparativos iniciavam-se até um mês antes. Rituais de purificação e


outros arranjos preliminares eram feitos segundo os ensinos dos Rabis. No
sábado anterior à festa, o Grande Sábado, deveriam fazer orações e ritos
especiais, tudo com vistas à festa. No dia 10 de Nisan o cordeiro do sacrifício
era escolhido.

Na semana da festa pascal todas as vinte e quatro turmas de sacerdotes


ministravam no Templo e repartiam entre si o que lhes tocava dos sacrifícios e
dos pães da proposição durante a festa.

Logo pela manhã do dia 14 começava a Páscoa. Na Galiléia nenhuma


outra obra era feita durante todo aquele dia; na Judéia o trabalho continuava
até o meio dia, sendo de notar, contudo, que embora nenhuma nova obra
devesse ser começada, a que estivesse adiantada podia ser concluída. Só em
Jerusalém podia-se sacrificar e comer o cordeiro pascal. Outra proibição era a
de comer coisas fermentadas. O fermento era todo jogado fora até, no máximo,
às 12 horas do dia 14 de Nisan. O cordeiro pascal deveria ser comido por no
máximo 20 e no mínimo 10 pessoas. O grupo que participou da ceia com Jesus
era composto dele e dos 12, seguindo de perto a tradição. Além do cordeiro,
compunha a refeição pascal: vinho, pão, verduras, ervas amargas, marmelada
e frutas, tudo com vários condimentos.

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O banquete da páscoa transcorria da seguinte maneira: começava com
o erguer do primeiro cálice, pelo chefe da família ou grupo, que pronunciava a
seguinte fórmula de ação de graças “louvado sejas tu, Javé, nosso Deus, Rei
do Mundo, que criaste o fruto da videira”. A seguir tomava-se a entrada da
refeição: verduras e ervas amargas, junto com uma sopa simples. Enquanto
não se servia o banquete principal, o segundo cálice era servido aos
participantes. Depois então o líder dava início a liturgia da páscoa propriamente
dita. Uma criança ou outro participante perguntava: ”Por que estamos
celebrando esta refeição?”. O chefe da casa respondia com o relato da saída
do Egito. O texto usado mais freqüentemente era (Dt 26:5-11), acompanhado
de devida interpretação. Ênfase especial era posta no cordeiro pascal, que
lembrava a misericórdia de Javé, e também nas ervas amargas, que lembrava
o sentido amargo da escravidão sob jugo do Faraó e, enfatizava-se ainda os
pães ázimos (ou asmos), os quais lembravam à rápida libertação do Egito.
Depois desta liturgia vinha então o banquete.

A ÚLTIMA CEIA NO QUADRO DA TRADIÇÃO PASCAL

No Cristianismo primitivo, a tradição referente à última ceia que Jesus


fez com seus discípulos foi conservada e transmitida no quadro litúrgico da
comunidade. Foi Paulo o primeiro a redigir esta tradição em resposta aos
problemas surgidos em Corinto. Paulo começa a citação com palavras
análogas às de Jesus, e as enquadra no kerigma da morte e ressurreição de
Jesus. Diz ele: “Porque eu recebi do Senhor o que também entreguei-vos”. Ele
quer sublinhar com os dois verbos receber/transmitir (ou entregar), os mesmos
termos do início de 1ª Coríntios 15. Com estes termos, os escribas hebreus
costumavam conotar o ato de receber e transmitir uma tradição que passa de
uma geração a outra: “Moisés recebeu a Lei no Sinai e transmitiu a Josué, e
Josué aos anciãos, os anciãos aos profetas, e os profetas aos representantes
da grande sinagoga” (Mishná Abot I).

Em Paulo a matriz da tradição é o próprio Senhor, por ocasião da última


ceia com os discípulos. Nas frases da celebração da ceia ressoa para Paulo e
a comunidade cristã primitiva a voz do Senhor, ou seja, sua palavra viva.

Também os evangelistas pressupõem tal tradição da última ceia, nas


inserem-na no contexto mais vasto da história da paixão.

Após o texto de Paulo quero sublinhar apenas o de Marcos, (Mc 14:22-


24), por ser certamente o seguinte em antiguidade.

Vemos que o texto de Marcos coincide em muitas coisas com o de


Paulo. As diferenças estão nas palavras “e atribuem-lhes” acrescentadas por
Marcos. Além disto, Marcos não diz “deu graças”, mas “abençoou”, “pronunciou
a oração de bênção (ou de louvor) (enlouguesas)”, era este o modo usual, no
judaísmo, de referir-se à oração da mesa, enquanto que “deu graças”
(encharistesas – donde a designação posterior de eucaristia dada à Ceia do
Senhor) é uma alocução alternativa judaica ou um neologismo cristão.

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Jeremias menciona ainda o caráter de Aliança Pascal que Marcos dá à sua
narrativa, através do pão e do vinho. Além disto, ele defende a origem semítica
do relato de Marcos, onde nos quatro versículos ele aponta 24 semitismos
(Veja o opúsculo de J. Jeremias sobre a Eucaristia publicada pelas Edições
Paulinas).

Finalmente, o relato de Marcos tornou-se referencial para os


evangelistas Mateus e Lucas. Sem dúvida a tradição sinótica viu a última ceia
na perspectiva de uma refeição pascal, haja vista o envio dos discípulos antes
para prepará-las (Marcos 14-12). Esta preparação visava que o lugar da
celebração fosse revistado a fundo para livrá-lo de todo resto de pão
fermentado. Mas também tendo em vista que a celebração devia ser celebrada
dentro dos muros da cidade, tinham de preparar o lugar. Lucas possivelmente
teria usado outra fonte dada a amplitude de seu relato.

Em face destas intenções dos textos de Paulo (e também de Marcos)


vemos que eles a interpretou através dos símbolos desta última ceia, o
acontecimento da morte e ressurreição. Por isto que Paulo diz “todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes o cálice anunciais a morte do Senhor, até
que ele venha” (1Co 11:26).

Deste modo a Ceia para o cristão é uma refeição salvífica, pois entende
o anúncio da morte como uma proclamação de salvação, ou libertação
conforme era a refeição pascal israelita. Semelhantemente esta ceia litúrgica, é
um memorial, vide e o que é dito no relato de Paulo (1Co 11:24) “Em Memória
de Mim”. Lembra-se de alguém significa, na linguagem bíblica, ser-lhe gracioso
(cf. Lc 23:42; Sl 74:2) a não ser que sejam lembradas as faltas, em cujo caso
as conseqüências são terríveis (Sl 25:7). Concluindo, “Em Memória de Mim”
em (1Co 11:24 e Lc 22:19), deve significar que a comunidade reunida para o
partir do pão roga a Deus que “ lembre seu Messias”, como na antiga Pesah.
Esta memória era antes de tudo, memória do sacrifício do “Cordeiro de Deus”
oferecido uma vez para sempre; a páscoa cristã; que tira os pecados do
mundo.

PAIXÃO E RESSURREIÇÃO NO CENTRO DA TRADIÇÃO


PASCAL DA IGREJA

Os relatos das obras e palavras de Jesus assim como sua paixão e


morte, sofreram inevitavelmente a influência da fé. A comunidade mais antiga
de Jerusalém, em breves fórmulas, exprimia a fé comum de que a Paixão do
Messias se realizou pelos nossos pecados, “segundo as escrituras”, diz Paulo
(1Co 15: 4).

A morte e paixão de Cristo é a chave para a compreensão não só de


alguns textos como do “Servo Sofredor”, mas de toda a escritura. Sendo Cristo
a chave para a compreensão do Antigo Testamento, no entendimento do
cristianismo primitivo. É natural então que os relatos de sua paixão e morte e

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ressurreição sejam usadas “testimonias”, as coleções de textos do Antigo
Testamento.

A narração da Paixão – uma crônica antiga – na quais as primitivas


comunidades cristãs relatavam os sofrimentos de seu Senhor. Começava com
sua prisão. Seguia-se o processo diante de Pôncio Pilatos e, por fim, havia a
cena da crucificação e da morte de Jesus. Não havia apenas está crônica
difundida na comunidade primitiva. Como vimos, o relato da última ceia fazia
parte destas crônicas orais, que circulavam entre o povo.

O relato da última ceia foi, juntamente com o da unção em Betânia,


introduzidos entre as crônicas da paixão e morte, sendo que somente Lucas
não insere este episódio entre a paixão e morte.

Antes de mais nada, é preciso notar que a fé cristã nomeia cruz e


ressurreição de Jesus como acontecimento unitário sobre a qual se
fundamenta a nossa salvação. Só se pode compreender devidamente a morte
de Jesus e a sua ressurreição, se se considerarem estes fatos como
pertencentes a um mesmo âmbito e ligados por uma relação estreitíssima e
mútua (1Co 5:7-8). De fato, exatamente porque Cristo foi ressuscitado da
morte, está inerente à sua morte uma força expiadora e os pecados são
perdoados (cf. 1Co 5:17). Sem a páscoa, a sexta-feira santa seria apenas
morte. Mas ao mesmo tempo, na primitiva profissão de fé cristã, sublinha-se
que o Senhor ressuscitado e glorificado se identifica com o Jesus histórico que
morreu na cruz por nós (1Co 5:7). Por isso a comunidade cristã, quando
informa sobre a paixão de Jesus, não pretende contar simplesmente um
episódio do passado, já bastante afastado no tempo e que não teria nenhum
vínculo imediato com o presente. Ele relata tal acontecimento porque aquele
Jesus que percorreu o caminho da cruz, é proclamado o Senhor, por causa de
sua ressurreição (Atos 2:36).

A ressurreição é que rompe o escândalo da cruz, visto que para os


judeus o Messias morrer numa cruz era uma afronta às suas mais aceitas
tradições.

Graças aos modernos estudos bíblicos, é que hoje sabemos haverem


existido nos tempos de Jesus, pelo menos três idéias messiânicas. Nos
círculos farisaicos e no povo hebreu em geral se esperava um rei consagrado
que pudesse aparecer como um segundo David e restituir o esplendor de
Israel, outros esperavam um profeta como Moisés ou um sumo sacerdote do
fim dos tempos, que purificaria Israel prepararia um tempo novo.
Completamente diverso era o enfoque apocalíptico, que se voltava para o céu
de onde deveria vir, descendo das nuvens, o Filho do Homem (Daniel 7: 10),
para o castigo dos ímpios e a libertação dos judeus. A idéia de um Messias
sofredor era, para muitos exegetas, completamente desconhecida nos tempos
de Jesus. A este respeito temos mais recentemente a tese do professor
Ricardo Pietrantonio, sobre o Messias Ben Efraim do Evangelho de João.

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SUGESTÃO Nº 1 PARA LITURGIA PASCAL

PÁSCOA, LIBERTAÇÃO – TEMPO DE ESPERANÇA

Prelúdio

I – A comunidade é convidada a celebrar a Páscoa, inovando e


adorando a Deus e a Cristo como Senhor de suas vidas.

 Dirigente – Os símbolos pascais e sua mensagem: porque a


páscoa é a festa da libertação?
Na história da salvação, que é a nossa história, os acontecimentos
evoluem de acordo com as novas lutas dos homens e mulheres. Num
princípio, as tribos hebraicas comemoravam a chegada da primavera
com uma grande festa. Estas tribos, nômades e alegres com o
desenvolvimento do rebanho, sacrificavam o melhor cordeiro a
Deus. Acreditavam que o sacrifício traria melhor sorte na próxima
temporada de criação.

Mais tarde, os hebreus estabeleceram-se na Palestina, deixando de


ser unicamente nômades. Assim, aos poucos diminuiu as festas da
páscoa ligadas a criação de rebanhos e valorizaram-se as
comemorações agrícolas. Nessa ocasião comemora-se o surgimento
dos primeiros grãos da safra, prenúncio da boa colheita. Louvavam a
Deus por isso cantando, dançando, orando e tomando refeições
especiais.

- Leitura Bíblica – Isaías 53


- Oração de Invocação
_ Leitura Antífona nº 55 pág. 66 HE
- Hino nº 74 de Adoração do HE

II – A comunidade confessa seus pecados, pois muitas vezes não está


se colocando verdadeiramente como cristã em nossos dias, não
proporcionando vida e liberdade ao nosso próximo.

 Dirigente: os israelitas, porém, quando foram libertados da


escravidão do Egito pela mão forte de Deus, sob a liderança de

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Moisés e coma consciência de milhares de homens e mulheres,
viram que também tornaram-se livres na primavera. Assim, a
primavera liberta a natureza para o desabrochar de flores,
frutos e para o crescimento do rebanho; do mesmo modo,
Deus liberta os seres humanos, dando-lhes ânimo para a nova
vida. Israel lutou para não ser mais escravo no Egito e Deus
lutou com ele.

Neste propósito a comunidade é convida a orar


silenciosamente pedindo para que Deus com o seu poder
liberte o ser humano de tudo que o oprime na sua vida
material, espiritual, moral, econômica e política.

- Oração Silenciosa de Confissão


- Oração Audível de Confissão
- proclamação do Perdão – Dirigente: I João 2:1-2

III – A comunidade louva a Deus pela plena libertação oferecida


através de Jesus Cristo, nosso Senhor.

 Dirigente: Páscoa significa passagem, travessia, caminhada,


salto...Deus no Egito livrou os primogênitos israelitas da
morte, por meio do sangue derramado às suas portas. Depois,
livrou o povo da opressão do Faraó e da sua própria descrença
e desânimo. Deus atravessou as dificuldades com o povo e
caminhou com ele. Por isso eternamente os israelitas
comemorarão a liberdade e a nova vida.

- Cânticos de louvor (coral, conjunto ou congregação)

IV – A comunidade busca a orientação para os seus caminhos na


Palavra de Deus.

- Leitura Bíblica
- Mensagem
- Cântico Coral (ou conjunto, ou solo, etc...)

 Dirigente: Na Ceia da Páscoa, que Jesus comemorou horas


antes de ser preso pelos soldados, estavam presentes vários
símbolos da vida do povo. Come-se pão sem fermento para
lembrar a pobreza do povo no Egito e comem-se ervas amargas
para lembrar os tempos de escravidão, quando a vida é amarga
e sem esperanças; come-se também um pedaço de carne para

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lembrar o cordeiro, cujo sangue salvou os primogênitos no
Egito. E nas cerimônias lembra-se de Jerusalém reconstruída,
indivisível, símbolo da graça de Deus na criação da unidade da
vida. Recorda-se também do Messias, prometido para ser sinal
da salvação de todo o mundo. As orações têm como tema
central a questão da liberdade.

Jesus, nosso Mestre e Salvador, chega para cumpri todos os


sinais e símbolos. Na sua vida cumprem-se as cerimônias. As
cerimônias transformam-se em prática de vida para todos os
que crêem.

De fato, Jesus transforma em vida prática os símbolos de


Israel, garantindo a continuidade da história da salvação.
Aleluia!

 Congregação: o Senhor de fato ressuscitou e encontra-se no


meio e com todos nós. Aleluia!

V – A comunidade dedica-se a uma ação continuadora da prática do


Jesus ressuscitado

- Cântico Congregacional ( de dedicação)


- Momentos de orações comunitárias de gratidão pela vida
- Festa do amor // Ceia Pascal
- Oração Final e Bênção.

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SUGESTÃO Nº 2 PARA LITURGIA PASCAL

NA RESSURREIÇÃO, O ENCONTRO DO OUTRO

1 – Processional (entrada dos celebrantes)

2 - Leitura de Adoração:

- Dirigente – Aleluia! Jesus Cristo ressuscitou! Nele a morte foi


vencida e Ele é a garantia da nossa ressurreição.

- Todos: Em Cristo o acontecimento do passado dá-nos a


esperança do futuro plenificado.

- Dirigente: Mas o Espírito torna presente em nós a


possibilidade da passagem de um estado de morte para um estado
de vida em nossas relações ainda hoje.

- Todos: Por isso, Senhor, nós te louvamos. Nós te


agradecemos porque em teu infinitivo amor tu nos doaste teu Filho e
porque em sua morte e ressurreição nós somos elevados à altura de
teus filhos e filhas com todas as chances de vivermos a vida eterna
desde já. Louvado seja louvado!

3 – Hino Nº 43 (HE)

4 – Oração de Adoração

5 – Leitura de Confissão:
Dirigente – “Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração; não te
escondas da minha súplica“. (Salmo 55:1)

Todos - “Lava-me completamente da minha iniqüidade e


purifica-me do meu pecado” (Salmo 51:2).

16
6 – Oração Silenciosa de Confissão (tendo como motivo o
relacionamento familiar: marido/mulher, pai/mãe/filhos (as),
família/sociedade maior).

7 – Leitura Bíblica: Dirigente – João 8: 10-11

8 – Hino

9 – Leitura:
Dirigente – a Bíblia é um relato da ação de Deus na história do
seu povo. Vejamos como o Senhor, que é o Senhor da Vida e da
História, age com misericórdia para com a humanidade que
transgride e rompe um relacionamento perfeito:

- Todos: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de


Deus o criou; homem e mulher os criou”.

- Dirigente: “Viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom.
Houve tarde e manhã, o sexto dia”.

- Todos “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos


que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: é assim que Deus
disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”.

- Dirigente: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer,


agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento,
tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu”.

- Todos - “O Senhor Deus, por isso o lançou fora do jardim do


Éden...”.

- Dirigente – “Visto que a morte veio por um homem, também por


um homem veio à ressurreição dos mortos”.

- Todos - “Porque assim como em Adão todos morrem, assim


também todos serão vivificados em Cristo”.

- Dirigentes: “Graças a Deus que nos dá vitória por intermédio de


nosso Senhor Jesus Cristo”.

- 10 – Mensagem

- 11 – Hino

17
12 – Oração (Todos)

Ò Deus, Pai e Mãe de toda a Criação, nós te agradecemos por


teres feito homem e mulher, capazes de amar como Tu nos amas.
Ajuda-nos em nossa vida de pai e mãe, de filho ou filha, para que
possamos exercitar este amor no dia-a-dia de nossas vidas e, assim,
fortalecermos os laços que nos unem.

Ajuda-nos a crescer como pessoas e sermos apoio uns para os


outros nos momentos de crise e, a demonstrarmos este amor não só
através de palavras, mas também de atos coerentes como o nosso
falar.

Que as famílias da sociedade maior possam ver e sentir a


ressurreição de Jesus através de nossas famílias.

Que os muros da separação entre marido e mulher, entre pai-


mãe e filhos–filhas, entre uma pessoa e outra, entre um grupo e
outro, entre um povo e outro, possam ruir por terra e por toda a
morte reinante no mundo de relações seja vencida pela vida na
ressurreição de Jesus Cristo. Em nome dEle oramos. Amém.

13 – Oração do Pai Nosso

14 – Bênção (neste momento cada pessoa vira-se para o (a) vizinho


(a) à direita, e ambos encostam as palmas de suas mãos um no
outro (a) e, olhando-se dizem a bênção):

“Eu te reconheci como discípulo (a) de Cristo. Que o seu amor


e a sua paz nos acompanham. Amém”.

15 – Bênção Apostólica

16 – Amém Tríplice

18
Quem come
deste Pão,

Quem bebe
deste Vinho,

Permanece
em mim,

e Eu nele

(Jesus Cristo)

Ministério Regional de Publicações

IGREJA METODISTA
1ª Região Eclesiástica

19

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