Você está na página 1de 4

O que é governança corporativa?

Quatro princípios são fundamentais: transparência, equidade, prestação de contas e


responsabilidade corporativa

Economia & Negócios - 16 Outubro 2014 | 18h55 - Ian Gastim e Malena Oliveira

Governança corporativa é um tema em evidência no Brasil e no mundo quando se fala

em eficiência e transparência na gestão de uma empresa. Por tratarem, em linhas gerais,

das melhores práticas para administrar um negócio, os conceitos de boa governança


tornaram-se fundamentais para avaliar os riscos e o retorno de um investimento.

Companhias que notadamente colocam em prática esses conceitos são mais valorizadas

e têm mais facilidade para captar recursos. Ao mesmo tempo, ao aplicar bem esses

recursos, constroem boa reputação e se consolidam no mercado. Esse processo é


chamado de criação de valor.

Apesar de as discussões sobre o tema terem começado no contexto das grandes

companhias de capital aberto, elas também têm peso em sociedades fechadas, pequenas
e médias empresas, e até em organizações estatais e do terceiro setor.

Todas as empresas possuem um estatuto social no qual podem ser encontradas as

diretrizes, os valores e as pretensões de cada uma delas. É a partir dessas definições e de

seu cumprimento na prática que se observa o nível de governança de uma entidade.

Estes são conceitos que, portanto, estão profundamente ligados à imagem de uma
companhia.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), as bases da

boa governança variam de acordo com o ambiente corporativo – regulatório e social –

em que as organizações estão inseridas. Quatro princípios, no entanto, são


fundamentais:
1) Transparência: as decisões e os processos devem se dar de maneira clara para os

públicos com os quais a organização se relaciona – clientes, fornecedores, investidores,


governo, sociedade -, os chamados stakeholders;

2) Equidade: todos os interessados nos negócios devem participar e ser tratados de


maneira igualitária;

3) Prestação de contas (accountability): a organização deve prestar contas de seu

trabalho, não só em relação aos recursos financeiros que administra, mas também em
relação ao papel que exerce junto aos stakeholders;

4) Responsabilidade corporativa: uma visão mais ampla da atuação da organização em


seu contexto social.

A adoção desses princípios é voluntária e vai além das exigências legais. No caso das

empresas de capital aberto, que precisam prestar contas a seus acionistas publicamente,

a estrutura organizacional é pensada de maneira a respeitar esses quatro pilares. Quanto


mais fiel for a companhia a essas diretrizes, melhor ela será vista pelo mercado.

Dessa maneira, o trabalho dos administradores de uma organização com ações em bolsa

é dividido em vários comitês, que são regidos por um conselho de administração e


auditados por um conselho fiscal.

O conselho de administração é formado por representantes de todos os interessados nos

negócios da empresa (proprietários ou controladores, acionistas e colaboradores) e têm a


responsabilidade de tomar as decisões mais importantes.

O conselho fiscal tem o papel de verificar as contas da empresa e oferecer um parecer

aos acionistas sempre que solicitado. Quanto mais independente o órgão for do conselho

de administração, mais transparente aos olhos do mercado será a gestão da companhia.


Os desafios da governança corporativa no Brasil
Cultura das organizações brasileiras ainda é entrave para a boa governança no
País

Economia & Negócios - 16 Outubro 2014 | 19h24 - Ian Gastim e Malena


Oliveira

O conceito de governança corporativa começou a ser implantado em grandes

empresas do País apenas no final dos anos 1990. No início, as discussões sobre

as melhores práticas para administrar companhias não eram fator decisivo para
os negócios, justamente por não se compreender exatamente a sua importância.

Para a presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa (IBGC), Sandra Guerra, o principal entrave à boa

governança em empresas brasileiras ainda é a cultura das organizações. “A

consciência de que fazer as coisas bem governadas gera valor vai na contramão

de uma visão antiga que se tinha sobre negócios: a de que algumas práticas não
tão republicanas às vezes trazem lucros mais rapidamente”, afirma.

Formas de gestão não tão excelentes e decisões precipitadas podem trazer

retorno rápido, mas oferecem risco no longo prazo, explica a executiva: “A


questão da governança é como sustentar isso [o retorno]? E como o benefício
que se consegue hoje não canibalizará o futuro da empresa?”

Com o intuito de evitar escândalos corporativos como os ocorridos nos Estados

Unidos, a lei 10.303/2001 – conhecida como Lei das SAs, ou Sociedades por

Ações – instituiu padrões para a administração e a contabilidade das empresas

brasileiras de capital aberto e fechado. Seu objetivo é promover a igualdade

entre acionistas e proteger os minoritários em especial, de maneira a garantir


seu direito a voto em decisões sobre os rumos dos negócios.
Todas as companhias que têm ações negociadas em bolsa de valores no Brasil

são reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão do governo

que padroniza a divulgação de informações, como resultados financeiros,


operações de fusão e aquisição e comunicados diversos ao mercado.

A legislação brasileira e as normas ditadas pela CVM possuem padrões

semelhantes aos americanos e criaram mecanismos para evitar fraudes e

proteger investidores minoritários. Além disso, normas da própria

BM&FBovespa, a bolsa de valores de São Paulo, classificam as empresas nela


listadas de acordo com o nível de governança e as práticas de gestão.

Cada segmento de listagem possui uma série de exigências às quais as

companhias que ofertam ações no mercado brasileiro precisam se ajustar.

Empresas que pertencem ao segmento Novo Mercado, por exemplo, têm mais

credibilidade junto a investidores por se adequarem ao mais alto grau de


exigência da BM&FBovespa. Do maior para o menor, são eles:

– Novo Mercado;

– Nível 2;

– Nível 1;

– Bovespa Mais (a partir de maio/2014 para pequenas e médias empresas);


– Tradicional.

Além do Ibovespa, principal índice de ações do mercado brasileiro, empresas

que investem em boa governança também são listadas em índices à parte na

BM&FBovespa (IGC, IGCX e IGCT). Para fazerem parte desses índices,

companhias se adaptam voluntariamente a uma série de padrões que vão além

das normas estabelecidas por lei, como o alinhamento com práticas

internacionais de gestão.

Você também pode gostar