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CARNEIRO, Ricardo; Desenvolvimento em Crise: a economia brasileira no último

quarto do século XX; cap 3 - Ruptura do financiamento externo.

● 1980 - período que se convencionou chamar de crise da dívida. Compreendendo


uma piora nos termos de troca e um extremo racionamento do financiamento
externo, e para alguns países, principalmente para a AL, uma transferência de
recursos para o exterior em razão do pgto da dívida externa. Isso gerou o sacrifício
do seu crescimento econômico. Para fazer essa análise o autor faz a trajetória do
financiamento externo que foi condicionado pelas transformações na ordem
econômica internacional da época (80).
● Crise da dívida - exclusão dos países periféricos do circuito financeiro internacional,
ocorreu em várias etapas de restrição do financiamento (79-82) e a seguinte etapa
de crescentes transferências de recursos para o exterior para o pgto da dívida.

A Crise de Dívida
A ordem econômica internacional após: elevado grau de mobilidade dos capitais era o
principal elemento na configuração dessa ordem (globalização financeira). Ocorreu uma
crescente autonomia no movimento dos capitais diante das necessidades de financiamento
corrente dos países. Circunstâncias históricas específicas é que são responsáveis por
condicionar os fatores que permitem, através da história, essas mudanças de regimes de
mais mobilidade financeira ou menos.
1. O estímulo mais importante para impulsionar essa nova ordem e acabar com a
ordem regulada de Bretton Woods foi o impulso à globalização e a mudança de
países-chave no sistema internacional.
a. A transnacionalização dos capitais americanos no pós-guerra criou fortes
competidores fora do espaço americano deteriorando a hegemonia produtiva
e comercial. O elemento essencial para a retomada da hegemonia foi a
subida na taxa de juros no final de 79; isso levou os países a se
condicionarem a dois movimentos:
i. obtenção de superávits comerciais para financiar o financiamento dos
déficits nas contas de capital
ii. realização de políticas monetárias e fiscais restritivas para reduzir a
absorção doméstica.
b. Nos EUA esse aumento na taxa de juros e crescente liberalização viabilizou
o financiamento dos déficits sem a necessidade de recorrer a ajustes mais
intensos.
2. O fato de os EUA ser a potência dominante, militar e politicamente, e possuir os
mercados de financeiros mais amplos levaram a sua moeda a se constituir na
principal reserva de riqueza financeira global. Isso alinhado ao fato da desregulação
e liberalização dos mercados financeiros nos países centrais faz com que essa
moeda se consolide como a principal dos mercados financeiros globais.
3. A partir de 1985 fica clara uma mudança no caráter do fluxo financeiro global,
mostrando uma dominância dos fluxos privados, dentre esses o investimento direto
em detrimento das finanças bancárias.
Essa primeira etapa da globalização se caracterizou pela exclusão das periferias, e assim
os países periféricos, ficando de fora desse novo fluxo, ficaram submetidos à chamada crise
da dívida, que se constituiu em um enorme racionamento do financiamento externo. O
financiamento que ocorria nesse período era em maior parte condicionado ao aval de
instituições como FMI, ou seja o fluxo que existia nesse período era em maior parte público.

Países Periféricos: Ásia e AL. A última região sofreu de maneira mais expressiva do que a
primeira com essa escassez de financiamentos. Houve, em realidade uma inversão de
preferência de investimentos nesse período. Uma análise mostra os diferenciado impactos
que poderiam acarretar dos choques externos nessas economias periféricas (no caso a
região asiática não sofreu de modo amplo com nenhum deles), os choques seriam: de
demanda, de relações de troca, de taxa de juros e de oferta de capital. O último aspecto é o
mais importante.

Ruptura do financiamento externo e transferência de recursos para o exterior


Nos anos 80 as relações econômicas do Brasil com o exterior sofre uma mudança radical. A
absorção de recursos financeiros no pós-guerra que é a principal característica de inserção
do país no cenário internacional se vê completamente revertida transformando-se em
transferência de recursos para o exterior para o pgto de serviços e amortização da dívida.

Essa crise no Brasil pode ser divida em duas etapas:


1. primeira, entre 79 e 82, ainda ocorre absorção, mas se dá por meio de instituições
multilaterais como FMI, houve o início da queima de reservas.
a. detalhes ver texto original
2. segunda, com a ruptura do mercado de créditos em 82, após 83 abre-se um período
de crescente transferência de recursos ao exterior e racionamento cada vez maior
de financiamentos.
a. detalhes ver texto original

Questão da estatização da dívida


O processo ocorreu por meio de dois mecanismos principais: primeiro o endividamento
adicional perante os organismos multilaterais e agências governamentais e o segundo pela
absorção da dívida externa do setor privado. Assim, a dívida estatal saltou de 61% em 82
para 8%1 em 87 e atingiu 85% em 89.
A ampliação da estatização da dívida tem várias causas, embora a transferência de dívida
do setor privado para o público tenha sido considerável. Um fator também importante para o
aumento da dívida do Estado foram as perdas de reserva e a moratória. No período de
85-87 ⅔ do aumento da dívida aconteceram por causa do refinanciamento dos juros junto
aos credores oficiais. Isso implicou diretamente no aumento da dívida a longo prazo. No
biênio 88-89 a proporção estatal da dívida ocorre apenas de modo relativo, pois o setor
privado estava reduzindo sua dívida em uma velocidade maior comparado ao setor
público.E também houve uma suspensão do pgto dos juros da dívida, feita de maneira
acordada e parcial, o que impediu a redução da dívida num curto prazo. A economia
brasileira, foi forçada nesse período a fezer um crescente transferência de recursos para o
exterior, além de a maior parcela da dívida ter ficado sob a responsabilidade do setor
público, este teve que arcar com o principal ônus da transferência. Esses dois fatos
afetaram a capacidade de crescimento econômico do país.

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