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Aluno 1
Boa tarde, diretor. Sou aluna da oitava série. Do corredor térreo, próximo a
sua sala. Todos da minha turma disseram que as aulas “desnecessárias” vão ser
suspensas.
Então, ontem nossa professora de artes perguntou o que é arte e qual sua
importância pra gente. Foi no fim do dia, aí muitos nem responderam. A verdade é
que arte pra mim é a dança. Antes mesmo de entrar na escola eu costumava fechar
os olhos, abrir meus braços e girar por aí fingindo que dançava. A sensação de
liberdade, de que eu podia fazer tudo o que quisesse fez com que me apaixonasse
cada vez mais pela dança. Meus pais é que não gostaram nada quando disse que
queria ser bailarina. Então, eu mesma não acreditava ser possível até entrar nessa
escola.
Aluno 2
Em primeiro lugar, peço desculpas, pois não sou nem aluno regular da
escola; eu costumo frequentar um curso de vocês três vezes por semana à tarde. Faz
seis meses que tenho aula de bateria no teatro da escola.
A música sempre foi importante para mim. Muitas vezes foi a minha forma
de me comunicar com as pessoas. Minha mãe dizia que eu tinha noção de ritmo, que
poderia ser um artista um dia. Eu achava um exagero dela, mas conseguia mesmo
sentir a música, as notas e a emoção que era passada através da batida.
Minha mãe veio no show que a escola organizou no mês passado e adorou
me ver tocar. Estou me aperfeiçoando cada vez mais na bateria, tanto que eu e uns
caras do curso estamos pensando até em montar uma banda! (Não sei se irá dar
certo, mas uma coisa que vocês me ensinaram foi a nunca desistir).
Aluno 3
Bom dia, diretor. Venho por meio desta tentar esclarecer quais mudanças
teremos em nossa grade curricular. Ando muito por esses corredores e, apesar de
nunca ter te visto, sempre ouvi falar muito bem do senhor.
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O Diretor abriu os olhos, ergueu as sobrancelhas e encarou a professora.
Ela ensinava artes para a maioria das turmas e algumas das classes de dança e
música após o horário de aula.
—Existem várias outras cartas como essa. — Ele indicou com a mão a pilha
de papéis em cima de sua mesa. — Acho que a maioria são seus alunos…
—Isso. Eles são muito bons. Muitos não teriam oportunidade de ter esse
tipo de ensino em outro lugar — e acrescentou num tom mais baixo — estão até
organizando um abaixo assinado…
—Eu só disse a verdade. Eles merecem saber. Muitos desses alunos contam
com as atividades que nós fornecemos para se sentirem inclusos, para se sentirem
alguém, — a professora apontou o indicador para a pilha de cartas e elevou o tom de
voz. — Aquela banda pode estar rodando o Brasil daqui alguns anos. Assim como a
menina que não tinha perspectiva de vida, a não ser sentada numa cadeira de rodas
num escritório. É com o futuro desse tipo de jovem que nós estamos mexendo. E se
ser honesta com eles tornou cada um deles pelo menos um pouco mais consciente do
papel que nós temos na vida deles, sim, eu não me arrependo de nem uma palavra
do que disse.
—Só um boato… — ele respirou fundo e olhou em volta. — Eu vou nas salas
para esclarecer esse mal-entendido.
—Vai ser muito bom os alunos ouvirem isso de você. Esses cursos são
muito importantes para eles.
— Admito que nunca fui a essas aulas desde que assumi, no começo do ano.
Muito obrigado por abrir meus olhos, e pela honestidade.