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Dossiê Foucault
N. 3 – dezembro 2006/março 2007
Organização: Margareth Rago & Adilton Luís Martins
RESUMO: Este artigo objetiva apresentar uma leitura da crítica que Foucault constrói
em relação à história tradicional e suas conseqüentes noções de origem e
conhecimento. A partir de rastreamento de textos em que Foucault aborda esta
questão, e seus desdobramentos, é possível inferir em suas análises históricas que a
noção de descontinuidade tem menos a ver com a simples oposição à linearidade
progressiva da história tradicional do que com a recusa ao primado do sujeito e à idéia
de origem metafísica. É a esta recusa à idéia de origem, em seu sentido metafísico, de
que há uma verdade única e primeira antes da história, que a noção de
descontinuidade se justifica; é a esta figura do sujeito universal que ela se opõe;
enfim, se opõe às pesquisas de “origem”.
ABSTRACT: This objective article to present a reading of the critical that Foucault
constructs in relation to traditional history and your consequent notions of origin and
*
Este artigo é parte integrante de minha Dissertação de Mestrado, defendida no Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Pará, em 2005, que tem por título: “Práticas discursivas
e subjetivação docente: uma análise do discurso pedagógico sobre formação de professores no Curso de
Pedagogia da UFPA”.
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Jadson Fernando Garcia Gonçalves
Foucault, a descontinuidade histórica e a crítica da origem
knowledge. From seletion of texts where Foucault approaches this question, and your
consequent unfoldings, are possible to infer in its historical analyses that the
discontinuity notion has but to see with the simple opposition to gradual linearity of the
traditional history of that with the refusal to the primate of the subject and the idea of
metaphysical origin. It is to this refusal to the origin idea, in its metaphysical direction,
of that it has a first truth only e before the history, that the discontinuity notion if
justifies; it is to this figure of the universal subject that it opposes it self; at last, if it
opposes to the research of "origin".
Key words: Historical discontinuity – Critical of the origin – Critical of the historical
knowledge
[...] a história tem por função mostrar que aquilo que é nem sempre
foi, isto é, que é sempre na confluência de encontros, acasos, ao
longo de uma história frágil, precária, que se formaram as coisas que
nos dão a impressão de serem as mais evidentes. Aquilo que a razão
experimenta como sendo sua necessidade, ou aquilo que antes as
diferentes formas de racionalidade dão como sendo necessária,
podem ser historicizadas e mostradas as redes de contingências que
as fizeram emergir [...] (Foucault, 1983 apud Rago, 2002: 263).
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A história arqueológica de Foucault não se confunde com a história das idéias: esta é “a disciplina dos
começos e dos fins, a descrição das continuidades obscuras e dos retornos, a reconstituição dos
desenvolvimentos na forma linear da história. [...] a descrição arqueológica é precisamente o abandono da
história das idéias, recusa sistemática de seus postulados e de seus procedimentos, tentativa de fazer uma
história inteiramente diferente daquilo que os homens disseram” (Foucault, 1997: 158-159).
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É importante assinalar a influência que Nietzsche tem sobre os trabalhos de Foucault desde sua fase
arqueológica, passando pela fase genealógica e culminando na fase ética e estética de suas investigações,
como o próprio Foucault em muitos momentos admitiu. É interessante que a idéia de uma história
arqueológica também seja uma ressonância de Nietzsche. A esse respeito vejamos o que diz Abbagnano
(2000, p. 80) sobre o verbete HISTÓRIA ARQUEOLÓGICA: “Na segunda das Considerações inatuais (Sobre a
utilidade e o inconveniente dos estudos históricos para a vida, 1873), Nietzsche distingue três espécies de
história: ‘A história pertence a quem vive segundo três relações: pertence-lhe porque ele é ativo e porque
aspira; porque conserva e venera; porque tem necessidade de libertação. A essa trindade de relações
correspondem três espécies de história, sendo possível distinguir o estudo da história do ponto de vista
monumental, do ponto de vista arqueológico e do ponto de vista crítico’. A história monumental é a que
considera os grandes eventos e as grandes manifestações do passado e os projeta como possibilidades para
o futuro. A história A. considera, ao contrário, o que no passado foi a vida de cada dia e nela enraíza a
mediocridade do presente. A história crítica serve, porém, para romper com o passado e para renovar-se”.
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Em ambas, tais mutações provocaram efeitos diversos: na história tradicional, a tarefa de definir relações
entre fatos e acontecimentos datados dá lugar à constituição de séries: “é o efeito da elaboração,
metodologicamente organizada, das séries”. Na história das idéias se “dissociou a longa série constituída
pelo progresso da consciência, ou a teleologia da razão, ou a evolução do pensamento humano; pôs em
questão, novamente os temas da convergência e da realização; colocou em dúvida as possibilidades da
totalização” (cf. Foucault, 1997: 8-9).
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A esse respeito é importante observarmos a análise que Foucault faz de seus trabalhos anteriores à
Arqueologia do saber, em que manifesta a idéia segundo a qual as lentes com as quais olhamos nossos
objetos investigativos definem como os vemos: “Pensava que as particularidades que encontrava estavam
no próprio material estudado, e não na especificidade de meu ponto de vista [...] Foi êsse (sic) ponto de
vista que tentei definir na Arquéologie de Savoir. Tratava-se, em suma, de definir o nível particular ao qual o
analista deve colocar-se para fazer aparecer a existência do discurso científico e seu funcionamento na
sociedade” (Foucault, 1996: 18).
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Costuma-se dividir a trajetória intelectual de Foucault em três períodos: o período Arqueológico, o
Genealógico e o Ético. Neste momento não menciono o período Ético, pois ele só será anunciado em uma
pesquisa futura à crítica da origem, qual seja, a História da Sexualidade. Quanto ao fato da divisão de sua
trajetória intelectual nos três períodos mencionados, Foucault diz que todos eles se inscrevem no interior de
um projeto genealógico distribuídos em três domínios deste projeto: “Três domínios da genealogia são
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[...] distingue daquela dos historiadores pelo fato de que ela não se
apóia em nenhuma constância: nada no homem - nem mesmo seu
corpo - é bastante fixo para compreender outros homens e se
reconhecer neles. Tudo em que o homem se apóia para se voltar em
direção à história e apreendê-la em sua totalidade, tudo o que
permite retraçá-la como um paciente movimento contínuo: trata-se
de destruir sistematicamente tudo isso (Foucault, 1998: 27).
possíveis. Primeiro, uma ontologia histórica de nós mesmos em relação à verdade através da qual nos
constituímos como sujeitos de saber; segundo, uma ontologia histórica de nós mesmos em relação a um
campo de poder através do qual nos constituímos como sujeitos de ação sobre os outros; terceiro, uma
ontologia histórica em relação à ética através da qual nos constituímos como sujeitos morais” (Foucault,
1995: 264).
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Em A ordem do discurso, aula inaugural proferida em 1970 no Collège de France, Foucault irá retomar a
crítica à história das idéias, já realizada na Arqueologia do saber, para marcar novamente o tipo de história a
que ele se opõe e a direção que irá tomar sua análise histórica no sentido de uma genealogia que tem em
Nietzsche sua inspiração (cf. Foucault, 2002, p. 21, 56 - 60).
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O pensamento metafísico é caracterizado por Nietzsche do seguinte modo: “‘ [...] as coisas de valor devem
ter outra origem, uma origem própria - não podem derivar deste mundo efémero, enganado, ilusório e
mesquinho, deste labirinto de erros e desejos! Pelo contrário, é no íntimo do ser, no imperecível, na
divindade oculta, na “coisa em si” - que deve encontrar-se a sua razão de ser, e não em qualquer outra
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parte!’ Este processo de avaliar constitui o preconceito típico pelo qual se reconhecem perfeitamente os
metafísicos de todos os tempos. Este tipo de avaliação está no fundo de todos os seus métodos lógicos;
baseados nesta sua “fé’, esforçam-se pelo seu “saber”, por algo que, no fim, é solenemente batizado de
“verdade” (Nietzsche, 1982: § 2, p. 12).
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[é] a regra que permite que seja feita violência à violência e que uma
outra dominação possa dobrar aqueles que dominam [...]. O grande
jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem
tomar o lugar daqueles que as utilizam [...] de quem, se introduzindo
no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os
dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras
[dominação sobre dominação, indefinidamente, que] estabelece
marcas, grava lembranças nas coisas e até nos corpos (Foucault,
1998: 25 - 26).
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Bibliografia
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Recebido em dezembro/2006.
Aprovado em fevereiro/2007.
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