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Mauricélia e o Santo Antônio – parte 2

Passaram-se alguns anos e Mauricelia ainda pensava em Benevides...

Ah... Porque você tinha que ser tão tímido,Benevides? A essa hora a gente tava casadim e
juntim,que nem que um par de vaso florido...

Deu uns passos pela sala, foi até o armário e de lá, tirou o Santo Antoninho todo
empoeirado, sem o menino Jesus...

Olhou para o santinho e esfregando-o num avental florido, tirou-lhe a poeira do tempo,
colocou-o sobre uma mesa e deu um suspiro desacorsoado.

Ajoelhou-se com as mãos postas em frente ao Santo e o olhou com a seriedade dos que têm
fé...

Respirou fundo e tomou satisfação com o Santo...

--- Olha aqui meu santinho... Não pense que amoleci e tirei o senhor de castigo, não... É que
tava muito empoeirado e por isso tirei a poeira do olho pro senhor enxergar melhor... Vê se
dessa vez, me arranja alguém daqui da cidade, um conhecido, de preferência, pra eu poder me
casar... Bom... Agora volta pro castigo até um bom moço, o senhor me arrumar... Já limpei os
seus olhos...Vê se agora escolhe bem...

Mauricelia tomou um banho, colocou um vestido rodado e perfumou-se de flor...

Foi até a pracinha matriz da cidade e entrou numa fila que dava voltas e mais voltas pela
praça...

Dessa vez pegaria um pedaço do bolo de Santo Antônio e casaria em um mês...

Olhava o bolo sobre a mesa sumindo e comia as unhas de aflição... Será que ainda não seria
dessa vez?

Sua vez se aproximando e o bolo sumindo, cada vez menor...

Às vezes roía as unhas, às vezes enrolava o dedo nos cachos do cabelo... Ai que aflição...

Só mais uma pessoa na frente...Dessa vez ía casar-se...

Chegada a vez de Mauricelia, ela sorria de contentamento, sorriso e mãos trêmulas... Tinha
chegado a sua vez...

E, de repente, como um raio vindo dos céus, uma bola cruzou o seu caminho e num segundo,
quicou sobre a mesa e espatifou o que sobrara do bolo...

Lá se foi de novo o sonho de uma vida toda...

Mauricelia não podia acreditar... De início perdeu a fala... Depois esqueceu-se de onde
estava... Debruçou se sobre a mesa, abraçando o restinho do bolo espatifado e entre soluços e
palavras incompreensivas, desesperadas, dava uma bocada nas migalhas do bolo e desatava a
chorar...

As pessoas em volta não entendiam o que acontecia... Umas olhavam aquela triste figura,
penalizadas, outras riam, de rolar...
Até que o padre mandou que fosse até ela o sacristão, para ver se podia ajudar...

O sacristão pegou Mauricelia pelo braço e a levou para a sacristia... Deu-lhe uma toalha de
rosto e a encaminhou para o lavabo...

Mauricelia se limpou o melhor que pode e enxugou o rosto na toalha...

Bem mais calma, agradeceu ao sacristão e só por educação, perguntou-lhe o nome...

Benevides, disse o sacristão...

Os olhinhos de Mauricelia brilharam de contentamento e emoção... Era um sinal...

Santo Antônio lhe enviou o sacristão...

Mauricelia pegou nas mãos do sacristão... Olhou em seus olhos de um jeito profundo,
brilhante, que o moço entendeu como gratidão...

Mauricelia foi para casa feliz... Agora, todos os domingos iria à missa, só para ver o
sacristão...

É, quem sabe agora, Mauricelia... Só da janela não se arranja marido não!!!

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