Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dessa forma, Durkheim define como fato social e, sendo assim, objeto de estudo
das ciências sociais, as “maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo,
e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a
ele” (DURKHEIM, 1894, p. 02). Dessa forma, Durkheim ainda define que, existindo os
fatos sociais, o indivíduo não mais existe de forma autônoma, mas boa parte de sua
existência é fruto da coerção que a sociedade exerce sobre ele, lhe atribuindo ações e
características de origem externa. Exemplo disso é a educação dada às crianças: desde
sempre elas são ensinadas a ver, sentir e agir de determinada forma; são forçadas a
obedecer, ser empáticas e educadas; lhes dizem como se come, o horário que se dorme e
como se fala. Essa coerção, com o tempo, cessa de ser sentida e passa a ser hábito, mas
ainda existem (DURKHEIM, 1894, p. 06). Entretanto, é importante situar que o fato
social não é um pensamento ou um movimento comum a todas as consciências
particulares, mas sim práticas, crenças do grupo que são coletivas. (DURKHEIM, 1894,
p. 07).
É verdade que as coisas sociais podem ser confundidas como ideias, inatas ou
não, uma vez que só existem através dos homens e, sendo ideias, não podem ser
consideradas objeto de estudo de uma ciência. Entretanto, se nos opusermos aos fatos
sociais, às coisas sociais, sentiremos sua resistência. Ora, algo que resiste à nossa
oposição é, necessariamente, algo real. Dessa forma, podemos ver nas coisas sociais a
realidade social. (DURKHEIM, 1894, p. 19).
Durkheim ainda cita que Comte proclamou os fenômenos sociais como fatos
naturais, reconhecendo, implicitamente, o caráter de coisas. Entretanto, ele ainda
utilizava como objeto de seu estudo ideias. Comte toma como elemento principal de sua
sociologia o progresso da humanidade, o evolucionismo humano. Contudo, a realidade
da evolução só pode ser estabelecida uma vez que seja feita a ciência; dessa forma, só
pode fazer do evolucionismo objeto de estudo se adotá-lo como ideia, não como coisa.
Durkheim também defende que não existe o progresso da humanidade, mas sim
sociedades particulares que existem independentes de outras. (DURKHEIM, 1894, p.
21). Diferente de Comte, Spencer toma como objeto de sua ciência as sociedades. Ele
toma como pré-noção que uma sociedade só existe quando existe a cooperação de
indivíduos e que pode ser dividida em duas classes: as militares e as industriais.
Entretanto, não tem como embasar cientificamente a ideia de Spencer tem de sociedade.
Apenas se mostrarmos que todas as existências coletivas são formas de cooperação
humana é que o objeto de estudo de Spencer seria, então, uma coisa. (DURKHEIM,
1894, p. 22)
Ora, se para ser objeto de estudo científico precisa ser uma coisa e se os
fenômenos sociais são, na perspectiva de Durkheim, objeto das ciências sociais, uma
vez já discutida sua realidade, os fenômenos sociais, portanto, são coisas e assim devem
ser tratados. Para fortalecer esse argumento, Durkheim classifica os fenômenos sociais
como sendo o único datum oferecido ao sociólogo. Na sequência, classifica como coisa
tudo que se impõe a observação, tudo que é dado. Nessa linha lógica de pensamento,
então, os fenômenos são tratados como coisas uma vez que são tratados como a data
que constitui o ponto de partida da ciência social. É preciso, portanto, estudar os
fenômenos sociais de fora, independente dos sujeitos aos quais estão concebidos.
(DURKHEIM, 1985, p. 28) Mesmo que não tenham, ao final do estudo, caráter de
coisas, devem ser, primeiramente, tratados como se o tivessem, regra esta que pode ser
aplicada à toda realidade social, sem exceções. Segundo Durkheim, o que já foi dito
sobre fato social é o suficiente para comprovar a validade dessa objetividade aplicada a
ele. Se reconhece como coisa tudo aquilo que não pode ser modificado por vontade,
para mudar essa coisa é necessário um esforço devido à resistência que ela oferece a ser
vencida. O fato social, como já visto, oferece tal resistência, uma vez que há uma
coerção que o molda de tal ou qual forma. Dessa forma, considerar fenômenos sociais
coisas é nos conformarmos à sua natureza. (DURKHEIM, 1985, p. 29)
Durkheim, por fim, apresenta três regras principais que devem ser seguidas em
um estudo sociológico. Em primeiro lugar, “é preciso descartar sistematicamente todas
as prenoções” (DURKHEIM, 1894, p. 32), ou seja, o sociólogo precisa fazer o árduo
trabalho de se livrar de tudo que construiu sobre um objeto antes de estudá-lo
cientificamente. Em segundo lugar, o sociólogo precisa “jamais tomar por objeto de
pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres
exteriores que lhes são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos os que
correspondem a essa definição.” (DURKHEIM, 1894, p. 36), além disso, Durkheim
apresenta a ideia de que para a sociologia ser objetiva como reivindica em sua segunda
regra, é necessário que ela parta de sensações, que primeiro o sociólogo reconheça um
objeto artificialmente para, então, aprofundar seus estudos de modo científico
(DURKHEIM, 1985, p. 44). Por último, a terceira regra é baseada na ideia de que
“quando, portanto, o sociólogo empreende e explora uma ordem qualquer de fatos
sociais, ele deve esforçar-se em considerá-los por um lado em que estes de apresentem
isolados de suas manifestações individuais.” (DURKHEIM, 1894, p. 46).
REFERÊNCIA:
DURKHEIM, Émile. 1995. As regras do método sociológico. (Trad. Paulo Neves) São
Paulo: Martins Fontes [1894]