Você está na página 1de 11

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL

TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

SOLICITAÇÃO DE SERVIÇO Nº 228/2016


SOLICITANTE: GABINETE DO DEPUTADO RODRIGO DELMASSO
ESTUDO SOBRE O HISTÓRICO DO ENSINO ESPECIAL NO DF

O Deputado Rodrigo Delmasso teve aprovado, em 23/02/2016, o


Requerimento nº 1.444/2016, de sua autoria, em conjunto com outros deputados, que
requer a realização de Audiência Pública para debater sobre “fortalecimento do Ensino
Especial no Distrito Federal”.
Em seguida, o Gabinete do Deputado apresentou a esta Assessoria Legislativa,
em 16/03/2016, a Solicitação de Serviço nº 228/2016, demandando “estudo sobre o
histórico do ensino especial no DF”.
É o que se apresenta a seguir.
De acordo com o documento “Currículo em Movimento da Educação Básica –
Educação Especial”, da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, desde a
década de 1970, havia ações de atendimento a estudantes com necessidades
educacionais especiais e, sobretudo, para aqueles que possuíam algum tipo de
deficiência. Essas ações ocorriam principalmente em instituições especializadas,
denominadas Centros de Ensino Especial, e, eventualmente, em classes especiais,
cujas turmas eram menores, visando a preparar os estudantes para sua inserção em
classes comuns de ensino regular.
No entanto, inicialmente, esse atendimento era concebido sob a perspectiva
de individualização, segregação, normalização e integração de pessoas com
deficiência, resultando na segregação de alunos no espaço pedagógico e social da
escola. Essa abordagem agravou os problemas de evasão, repetência e de retorno do
estudante às instituições especializadas.
Na década de 1990, o processo de integração começou a ser revisto, sob o
impacto de avanços na pesquisa acadêmica e de seus reflexos na legislação do país,
no bojo do movimento mundial pela educação inclusiva, em defesa do direito de todos
alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de
discriminação. A nova perspectiva sobre a Educação Especial passou a defender que
a instituição educacional acolhesse o estudante e proporcionasse a ele a possibilidade
de acesso à aprendizagem e a seu desenvolvimento global, respeitando suas
especificidades.
Assim, nas duas últimas décadas, a Secretaria de Estado de Educação tem
procurado incluir todos os estudantes com necessidades educacionais especiais em
classes comuns, subsidiadas pelo caráter multifuncional, diversificado e extensivo de
atendimento educacional especializado.
Esse desafio exigiu reestruturações organizacionais e pedagógicas, pautadas
na análise de objetivos, conteúdos, metodologias e do processo avaliativo, dando
ênfase de modo específico à flexibilização curricular e dos tempos educativos, para a
integralização de aprendizagens num sistema público de ensino mais inclusivo.
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

Com relação especificamente às equipes especializadas de apoio à


aprendizagem, Gontijo (2013)1 informa que o “SEAA (nomenclatura atual do serviço
multidisciplinar) tem sua origem no fim da década de 1960, constituindo-se como um
serviço de suporte técnico-pedagógico de caráter multidisciplinar, composto por
profissionais com formação em Psicologia e em Pedagogia”.
Em 1968, foi criado o Atendimento Psicopedagógico na Escola Parque 307/308
Sul, com o objetivo de atender aos alunos portadores de dificuldades de aprendizagem,
e em 1971 o Centro de Orientação Médico Psicopedagógico-COMPP, que, mediante
convênio com a Secretaria de Saúde, passou a realizar diagnóstico diferencial e
complementar dos educandos com histórico de fracasso escolar, queixa de dificuldade
de aprendizagem e necessidades educacionais especiais, apoiado numa equipe
multidisciplinar composta por médicos, psiquiatras, psicólogos, pedagogos e
fonoaudiólogos. Todavia, o caráter de atendimento médico-diagnóstico do serviço era
descontextualizado do trabalho pedagógico.
Também de acordo com Gontijo (2013), em 1974, com o aumento na
demanda de alunos com necessidades educacionais especiais encaminhados para
diagnóstico diferencial, criou-se a primeira Equipe de Diagnóstico/Avaliação
Psicopedagógica do Ensino Especial, no Centro de Ensino Especial 01 de Brasília,
composta por profissionais com formação em Psicologia e em Pedagogia.
A partir de 1980, em reformulação conceitual nos pressupostos teóricos do
apoio psicopedagógico, os alunos com dificuldades de aprendizagem passaram a não
mais ser vistos como deficientes, mas como estudantes portadores de distúrbios
funcionais, o que levou à implementação das ‘Salas de Recursos’, em 1981. Todavia,
alguns críticos consideram que a conceituação usada para definir a população alvo
dessas Salas de Recursos, revela ter havido apenas uma troca de explicações médicas
por explicações de ordem psicológica.
Gontijo (2013) informa ainda que somente em 1987 foi instituído o
Atendimento Psicopedagógico para todo o sistema público de ensino, formando-se
então as Equipes de Atendimento Psicopedagógico e as Equipes de Diagnóstico
Psicopedagógico do Ensino Especial. Essas equipes desenvolviam atividades
semelhantes para públicos diferenciados, escoradas em concepções de
desenvolvimento humano inatistas e classificatórias, difundidas nas décadas de 70 e
80, a partir das quais se considerava os alunos que apresentavam dificuldades de
aprendizagem como portadores de alguma doença em nível orgânico.
Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96),
o então Serviço de Atendimento Psicopedagógico voltava sua atuação aos diversos
problemas comprometedores do desenvolvimento da aprendizagem e alertava para a
necessidade conscientização dos professores quanto à caracterização do alunado que
demandava atendimento diferenciado no próprio ensino regular, por não constituir
clientela de educação especial.

1
A Avaliação no Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem: Repercussões no Desempenho Escolar.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília. Rejane Farias Gontijo. 2013.
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

Assim, a clientela do serviço era constituída de crianças com inteligência normal,


sem problemas sensoriais, mas que apresentavam dificuldades de aprendizagem
traduzidas em evasão, repetência e baixo rendimento escolar. Persistia uma
concepção de desenvolvimento e de aprendizagem inatista em que o indivíduo é o
principal elaborador do conhecimento humano, portanto se há falhas estas tem sua
origem na pessoa.
...............................
As atividades desenvolvidas abrangiam a realização de avaliação psicopedagógica;
acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem por meio de reuniões com
os professores; atendimento efetivo aos alunos; orientações sistematizadas aos
professores e aos pais dos alunos encaminhados com dificuldades de aprendizagem
e em efetivo atendimento. O trabalho deveria ser realizado predominantemente na
modalidade grupal em salas destinadas para este fim, após a escola ter esgotado
seus recursos pedagógicos, caracterizando-se como um trabalho essencialmente
remediativo. Gontijo (2013).
A partir de 1995, uma articulação acadêmico-profissional entre o Laboratório
de Psicogênese da Universidade de Brasília e a Secretaria de Estado de Educação do
Distrito Federal concebeu o “Projeto Permanente de Extensão Integração”. Essa
assessoria aos psicólogos e pedagogos atuantes nas equipes do SEAA contribuiu para
um trabalho mais integrado entre os profissionais, em uma atuação contextualizada,
com cunho preventivo, tendo como suporte outras concepções de avaliação,
desenvolvimento, aprendizagem e de educação especial, diferentes daquelas
orientadas por um modelo clínico:
O serviço de apoio multidisciplinar deixa de representar um modelo inatista de
desenvolvimento para constituir-se em um modelo interacionista em que os
indivíduos são analisados num processo ativo de contínua interação com o meio
social, buscando compreender quais mecanismos mentais utilizamos para entender
o mundo. Gontijo (2013).
Atualmente, de acordo com a “Análise Situacional da Educação no Distrito
Federal”, apresentada pelo Fórum Distrital de Educação do DF no âmbito do Plano
Distrital de Educação-PDE 2015/2024, o DF possui hoje cerca de 60 mil pessoas entre
4 e 17 anos com algum tipo de deficiência congênita. Porém, as matrículas nas redes
pública e privada não alcançam 25% da demanda, já considerados os alunos especiais
inclusos nas escolas regulares. A evolução recente das matrículas é apresentada a
seguir:

Evolução recente das matrículas na Educação Especial:


2010 2011 2012 2013
Entidades Públicas 12.645 13.490 13.447 13.704
Entidades Privadas 1.059 1.085 1.105 1.190
Fontes: PDE. Censo Escolar MEC/Inep e Secretaria de Estado de Educação/DF.
Classes regulares e especializadas (rede pública e instituições conveniadas).

Para dar conta dessa realidade, a Lei Orçamentária de 2016 (Lei nº 5.601, de
30 de dezembro de 2015) reservou para este ano recursos da ordem de R$ 4,7 milhões
para manutenção de escolas da Educação Especial (Ação 2393), no Programa Educa
Mais Brasília (6221), abrangendo não apenas as unidades especializadas, mas também
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

as escolas do ensino regular com classes especiais. Todavia, até o final do primeiro
bimestre do ano foi autorizada a despesa de apenas R$ 505 mil daquele montante,
conforme Relatório da Execução Orçamentária do 1º Bimestre, do GDF.
A Rede pública de Ensino do Distrito Federal tem hoje praticamente todas as
suas unidades escolares de ensino regular com classes comuns inclusivas e cerca de
220 escolas de ensino regular com classes especiais para Educação Especial.
Quanto às instituições especializadas em Educação Especial da Rede Pública
de Ensino, pode-se ter uma ideia da situação geral atual a partir da situação da mais
antiga delas, o Centro Integrado de Ensino Especial de Brasília-CIEE 2.
O CIEE atende 206 (duzentos) estudantes regulares e 189 (cento e oitenta e
nove) em atendimento complementar, oriundos das escolas inclusivas do Distrito
Federal. Principais carências apresentadas quanto à estrutura física: necessidade de
reparos nos banheiros, pintura dos módulos, aquecimento da piscina, cobertura da
quadra, reparos hidráulicos e elétricos. Principais demandas de ordem administrativas:
desenvolvimento de sistema interativo de comunicação para os servidores do Centro
e para as famílias (WhatsApp, Vibe). Principais demandas pedagógicas: material
didático adaptado em quantidade para atender de maneira suficiente toda a escola,
cursos de aperfeiçoamento de professores na própria escola e aquisição de maquinário
mais moderno para o trabalho pedagógico (scanner, xerox, internet).
Feito esse relato sobre a história da Educação Especial no DF e sua situação
atual, apontamos a seguir os marcos legais que devem ser observados na discussão
da matéria.
A esse respeito, a Constituição Federal estabelece que
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
........................................
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
Já a Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB, define que
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a
garantia de:
........................................
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino; (Grifos nossos).
A Lei federal nº 13.005/2014, que estabelece o Plano Nacional de Educação-
PNE, determina que
Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus
correspondentes planos de educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em
consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de
1 (um) ano contado da publicação desta Lei.
§ 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos de
educação estratégias que:

2
Informações da Secretaria de Estado de Educação e dos Projetos Político-Pedagógicos das escolas.
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

........................................
III - garantam o atendimento das necessidades específicas na educação
especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis,
etapas e modalidades; (grifos nossos).
O PNE estabelece ainda, como uma de suas metas:

Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de
sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas
ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

E como uma de suas estratégias, estipula o PNE:

4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos e políticas públicas de saúde,


assistência social e direitos humanos, em parceria com as famílias, com o fim de
desenvolver modelos de atendimento voltados à continuidade do
atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das pessoas com
deficiência e transtornos globais do desenvolvimento com idade superior
à faixa etária de escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção
integral ao longo da vida; (grifos nossos).

Ainda proveniente da União, há o Decreto nº 7.611/2011, que dispõe sobre a


educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências,
e estipula:
Art. 3o São objetivos do atendimento educacional especializado:
I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e
garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais
dos estudantes;
II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular;
III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem
as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e
IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais
níveis, etapas e modalidades de ensino. (Grifos nossos).
O Distrito Federal, por sua vez, em sua Lei Orgânica-LODF, a partir das
Emendas à Lei Orgânica-ELO nºs 79 e 84, de 2014, estabelece:
Art. 232. O Poder Público garante atendimento educacional especializado,
em todos os níveis, aos superdotados e às pessoas com deficiência, na
medida do grau de deficiência de cada indivíduo, inclusive com preparação
para o trabalho.
.......................................
§ 3º O Poder Público deve destinar percentual mínimo do orçamento da educação
para assegurar ensino especial gratuito a portadores de deficiência de
todas as faixas etárias, na forma da lei. (Grifos nossos).

A Lei distrital nº 3.218/2003 estabelece o modelo de Educação Inclusiva em


todas as escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal, definindo, no art. 1º, §
1º, a Educação Inclusiva como

Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

o atendimento a todas as crianças em escolas do ensino regular, respeitando suas


diferenças e atendendo suas necessidades, ressalvados os casos nos quais se
demonstre que a educação nas classes comuns não pode satisfazer às necessidades
educativas ou sociais da criança ou quando necessário para o bem-estar da criança.
Essa norma distrital também determina que o Poder Executivo do Distrito
Federal deve garantir, no cumprimento dessa política (art. 2º):
I – acessibilidade dos alunos portadores de deficiências, por meio de adaptações do
espaço físico necessárias à Educação Inclusiva;
II – formação continuada para os professores da educação básica, que atuarem na
Educação Inclusiva;
III – recursos humanos, materiais e equipamentos especializados para os serviços
de apoio ao desenvolvimento da Educação Inclusiva.
E, finalmente, determina que
Art. 3º Cabe às escolas da rede pública de ensino definirem em seu projeto
educacional:
I – o sistema de apoio especializado, em consonância com as orientações
pedagógicas oficiais, específicas para a Educação Inclusiva;
II – as adaptações curriculares no âmbito da escola, da sala de aula e do aluno
portador de deficiência individualmente;
III – os procedimentos e instrumentos de avaliação, adequados às adaptações
curriculares, necessários ao desenvolvimento da Educação Inclusiva;
IV – a organização específica de sua estrutura e funcionamento para atender às
necessidades educacionais especiais de todos os alunos participantes da Educação
Inclusiva.
A Lei nº 5.310/2014, que dispõe sobre a educação especial e o atendimento e
acompanhamento integral aos estudantes que apresentem necessidades especiais nos
diferentes níveis, etapas e modalidades de educação, estabelece:
Art. 2º A educação especial é dever do Estado e é garantida ao longo de toda a
vida dos estudantes que apresentem necessidades especiais nos diferentes níveis,
etapas e modalidades de educação.
§ 1º A garantia de que trata o caput deve observar os princípios definidos na
legislação federal e distrital competente, além das seguintes diretrizes:
...........................................
II – garantir sistema de educação especial em todos os níveis, sem
discriminação e ao longo de toda a vida dos estudantes especiais,
asseguradas as adaptações das unidades escolares às necessidades
individuais; (grifos nossos).

Finalmente, a Lei nº 5.499/2015, que estabelece o Plano Distrital de Educação-


PDE/DF, apresenta como uma de suas metas:
META 4
Universalizar o atendimento educacional aos estudantes com deficiência, transtorno
global do desenvolvimento, altas habilidades ou superdotação, com transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade – TDAH, dislexia, discalculia, disortografia,
disgrafia, dislalia, transtorno de conduta, distúrbio do processamento auditivo
central – DPA(C) ou qualquer outro transtorno de aprendizagem,
independentemente da idade, garantindo a inclusão na rede regular de ensino
ou conveniada e o atendimento complementar ou exclusivo, quando
necessário, nas unidades de ensino especializadas. (Grifos nossos).
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

Entre as estratégias para consecução dessa meta, o PDE/DF estabelece:


4.4 – Ampliar as equipes de profissionais da educação para atender à
demanda do processo de avaliação multidisciplinar e escolarização dos
educandos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, garantindo a oferta de professores do atendimento
educacional especializado, de técnicos em gestão educacional na especialidade
monitor, intérpretes educacionais de Língua Brasileira de Sinais – Libras, guias-
intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente surdos, e
professores bilíngues.
............................................
4.23 – Propiciar condições educacionais para a continuidade da
escolarização dos educandos com deficiência na educação de jovens e
adultos, de forma a assegurar e estimular a educação ao longo da vida, observadas
suas necessidades e especificidades, inclusive nas unidades especializadas. (Grifos
nossos).

Ademais, como estratégias para o atingimento da meta 2 – garantir o acesso


universal, assegurando a permanência e a aprendizagem dos estudantes a partir dos
6 anos de idade, ao ensino fundamental de 9 anos, assegurando, também, a conclusão
dessa etapa até os 14 anos de idade até o último ano de vigência deste Plano –, o
PDE/DF estabelece:
2.41 – Ampliar o quadro de profissionais (pedagogos e analistas em gestão
educacional com especialidade em Psicologia) para atuarem no Serviço Especializado
de Apoio à Aprendizagem, no espaço-tempo nível escola e na assessoria ao trabalho
pedagógico, com o objetivo de contribuir para a superação das dificuldades
apresentadas pelos estudantes, garantindo pelo menos 1 pedagogo ou 1 psicólogo
por escola.
2.42 – Ampliar o quadro de profissionais (pedagogos e analistas em gestão
educacional com especialidade em Psicologia) para atuar no Serviço Especializado
de Apoio à Aprendizagem, no atendimento aos estudantes que apresentam quadro
de transtornos funcionais específicos: Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade – TDAH, dislexia, dislalia, disgrafia, discalculia, disortografia,
transtorno de conduta, Transtorno Opositor Desafiador – TOD e Distúrbio do
Processamento Auditivo Central – DPA(C), realizado nas salas de apoio à
aprendizagem, com o objetivo de contribuir para a superação das suas dificuldades.
2.43 – Fomentar a formação contínua dos profissionais (pedagogos e analistas em
gestão educacional com especialidade em Psicologia) que atuam no Serviço
Especializado de Apoio à Aprendizagem e ampliar a oferta, na perspectiva da atuação
institucional.
..........................................
2.52 – Ampliar o quadro de profissionais, garantindo 1 pedagogo ou 1 analista em
gestão educacional com especialidade em Psicologia, por escola, para atuar no
Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem – SEAA no espaço-tempo nível
escola e na assessoria ao trabalho pedagógico de forma articulada com a orientação
educacional e o professor da sala de recursos com o objetivo de contribuir para a
superação das dificuldades de escolarização.

Como se vê, a regra geral, a ser obedecida na educação especial, é a de sua


oferta ser preferencialmente realizada no ambiente das escolas da rede regular de

Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

ensino, apenas excepcionalmente, portanto, em uma das quinze unidades de ensino


especializadas do DF3.
Com efeito, segundo pesquisa da Codeplan sobre o perfil das pessoas com
deficiência no DF4, o fato de a maioria dos professores que atendem alunos com
deficiência estar em classes comuns indica o interesse em que haja inclusão dos
estudantes com deficiência em sua comunidade, incentivando as relações sociais e a
autonomia, o que é coerente com a estratégia preconizada pela legislação.
No mesmo sentido, o Projeto Político Pedagógico do Centro de Ensino Especial
de Deficientes Visuais-CEEDV enfatiza que
o CEEDV é uma escola de passagem, onde o estudante fica apenas o tempo
suficiente para adquirir o suporte e o conhecimento necessários para ser incluído ou
fortalecer o processo de inclusão na rede regular de ensino e/ou no mundo do
trabalho.
Além disso, com relação à garantia aos educandos com deficiência visual a
alfabetização com certificação dentro dos CEEDV, na faixa etária de 4 (quatro) a 10
(dez) anos, respeitando as necessidades específicas de cada um, o Projeto Político
Pedagógico do CEEDV assim apresenta o Programa de Atendimento Pedagógico
Especializado/Bloco Inicial de Alfabetização-PAPE/BIA:
O PAPE/BIA é um Programa de Atendimento Educacional Especializado oferecido
pelo CEEDV que visa ao desenvolvimento educacional, à socialização, alfabetização
e à inclusão de crianças com deficiência visual, múltipla, TGDs e surdocegas – desde
que tenham deficiência visual associada – da comunidade do Distrito Federal e
Entorno. No caso da alfabetização, os alunos estão incluídos no Bloco Inicial de
Alfabetização (BIA), que é uma forma de organização escolar em ciclos de
aprendizagem. Atende crianças a partir de 4 anos ou a completar até 31 de março.
Fundamenta-se na especificidade dos conhecimentos básicos necessários para a
educação da criança com deficiência visual, para que ela possa acessar as múltiplas
possibilidades de vivências e convivências na sociedade. Nesse sentido, foi
estruturado em Classes, que atendem o estudante em suas especificidades
pedagógicas. Ainda visando ao desenvolvimento pedagógico, o estudante é
atendido, neste Centro, nas Áreas do Currículo específico para DV e também no
Atendimento Interdisciplinar, os quais fazem parte do currículo e contribuem, de
forma significativa, no processo educacional, de acordo com a necessidade de cada
um.
Portanto, considerando todo o ordenamento normativo em vigor, não parece
haver necessidade de alterações legais para o atingimento dos objetivos da Educação
Especial. O que, sim, parece estar faltando é um melhor aparelhamento do CAS,
inclusive com a destinação de espaço físico mais adequado à atuação de seus
profissionais.

3
De acordo com informação da Secretaria de Estado da Educação, esse universo é composto atualmente
por quatorze CEEs e pela Escola Pública Integral Bilíngue de Taguatinga.
4
“Perfil das pessoas com deficiência no Distrito Federal”, Brasília, Codeplan, maio de 2013. Disponível em
http://www.codeplan.df.gov.br/images/CODEPLAN/PDF/Pesquisas%20Socioecon%C3%B4micas/POL%C3%
8DTICAS%20SOCIAIS/Perfil%20das%20pessoas%20com%20defici%C3%AAncia%20no%20DF.pdf (acesso
em 30/09/2015).
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

Como aponta análise do documento da Política Nacional da Educação Especial


na Perspectiva de Educação Inclusiva5,
a educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional
especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões,
terminologias e modalidades que levaram à criação de instituições especializadas,
escolas especiais e classes especiais. Essa organização, fundamentada no conceito
de normalidade/anormalidade, determina formas de atendimento clínico-
terapêuticos fortemente ancorados nos testes psicométricos que, por meio de
diagnósticos, definem as práticas escolares para os alunos com deficiência.
A atual política nacional de atendimento educativo aos estudantes com
deficiências ou necessidades especiais decorre do já citado art. 208 da Constituição
Federal que estabelece:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
........................................
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
No ano seguinte ao da promulgação da Constituição, a Lei nº 7.853/1989
estabelecia que:
Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância
e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem
seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e
entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua
competência e finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e
adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
I - na área da educação:
a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade
educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a
supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e
exigências de diplomação próprios;
b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas
e públicas;
c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimento
público de ensino;
d) o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-
escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por
prazo igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de deficiência;
e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos
demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo;
f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos
públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se
integrarem no sistema regular de ensino; (Grifos nossos).
Em consonância com a Declaração de Salamanca, de 1994, e a Convenção da
Guatemala6, de 1999, marcos internacionais para a Educação Inclusiva, o Plano

5
Disponível em http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf (acesso em
30/09/2015).
6
A “Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência” foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, assegurando
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

Nacional de Educação 2001/2011 (Lei nº 10.172/2001) reafirmou, em suas diretrizes,


a questão da integração dos alunos com necessidades especiais na rede regular de
ensino.
Consequentemente, como mostra o documento da Política Nacional da
Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva, para um crescimento de 16%
nas matrículas de alunos em escolas especializadas e em classes especiais, entre 2001
e 2006, ocorreu um crescimento de 300% das matrículas em classes comuns de
escolas regulares no mesmo período. Ocorreu, igualmente, expansão da oferta de
matrículas por estabelecimentos públicos.
Assim, a partir de 2008, a maior parte (61%) dos alunos com necessidades
especiais já estava matriculada na rede regular de ensino.
No Distrito Federal, de acordo com os dados apurados pela mencionada
pesquisa da Codeplan, sobre o perfil das pessoas com deficiência no DF,
 A frequência a escola ou creche da população com deficiência é pouco diferente
da população sem deficiência, sendo inclusive maior nas faixas etárias de zero a
quatro anos (37,32%), cinco a seis anos (92,59%), 10 a 14 anos (97,55%) e de 18
a 24 anos (40,83%).
 A taxa de alfabetização das pessoas com deficiência de 15 a 29 anos, 97,36%, é
ligeiramente menor que a da população sem deficiência, que é de 99,43%.
 Em 2010, havia 163 escolas especiais e com classes especiais no ensino regular
ou de jovens e adultos, das quais 159 eram da rede pública. A “educação especial”
na Educação Básica empregou mais de 13 mil professores, segundo o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2010.
 Em 2010, havia 14.119 estudantes com necessidades educacionais
especiais matriculados, dos quais 8,99% estavam em escolas
especializadas, 25,67% em classes especiais e 65,34% em classes comuns.
 O nível de instrução é um dos elementos que mais diferenciam pessoas com e sem
deficiência. Dentre as pessoas com deficiência de 15 anos ou mais, 40,95% não
tinham instrução ou tinham o ensino fundamental incompleto. Na população sem
deficiência esse percentual é de 23,38%. (Grifos nossos).
Portanto, o principal objetivo da legislação, bem como de convenções
internacionais de que o Brasil é signatário, da grande maioria dos pesquisadores da
área e das diretrizes e orientações pedagógicas dos Conselhos Nacional e Distrital de
Educação, como já evidenciado, é o da educação inclusiva, ou seja, que o atendimento
escolar aos estudantes com necessidades especiais seja realizado preferencialmente
nas escolas da rede regular de ensino e apenas excepcionalmente em escolas
especializadas.
Nesse sentido, deve-se ver com cautela propostas de expansão da rede atual
de escolas especializadas, sem uma prévia caracterização, bastante sólida, de que a
rede atual é insuficiente para o atendimento da demanda, o que não parece ser o
caso.

às pessoas com deficiência os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais assegurados às


demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão
que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais,
implicando numa reinterpretação da educação especial para promover a eliminação das barreiras que
impedem o acesso à escolarização.
Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br
CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE

A prioridade deve ser a melhoria da estrutura e das condições físicas e


pedagógicas de trabalho e dos profissionais que atuam nas unidades especializadas
(Centros de Ensino Especial) e o melhor apetrechamento das escolas de ensino regular
para que possam bem acolher os estudantes com necessidades especiais e
desempenhar a contento sua missão de educação inclusiva, com o fortalecimento e
expansão de seus serviços de educação especial: capacitação de professores, classes
inclusivas, classes especiais, classes de integração inversa, classes de educação
bilíngue, equipes especializadas de apoio à aprendizagem etc.

____________________
Kleber Chagas Cerqueira
Consultor Legislativo
Matrícula nº 12.485

Praça Municipal – Quadra 2 – Lote 5 – 3º andar – CEP 70094-902 — Brasília-DF – Tel. (61) 3348-8830 (FAX) e 3348-8832
www.cl.df.gov.br

Você também pode gostar