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http://www.uem.br/acta
ISSN printed: 1679-7361
ISSN on-line: 1807-8656
Doi: 10.4025/actascihumansoc.v39i3.35350
RESUMO. O método de ensino da aula expositiva tradicional, baseado na passividade do aluno, tem sido
repensado e questionado ao longo dos últimos anos, desde os níveis básicos até a pós-graduação. Entre as
metodologias ativas mais utilizadas encontra-se a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). O objetivo
deste estudo foi comparar a motivação e a percepção de aprendizado em alunos na disciplina de embriologia
após aulas expositivas tradicionais e após encontros no modelo pedagógico da ABP. Após a discussão dos
temas, os alunos responderam a um questionário e os dados coletados foram tabulados e comparados por
meio do teste qui-quadrado. Os resultados nos permitem concluir que, a partir do delineamento
experimental proposto, os alunos avaliaram melhor o método tradicional e consideram que aprendem mais
em aulas expositivas do que na aprendizagem baseada em problemas. No que se refere à motivação para
realizar trabalhos em equipe, comuns na técnica da ABP, não observamos diferenças significativas na
comparação dos alunos que responderam ao questionário antes e após a metodologia ativa, sinalizando que
a atividade do ABP não alterou o ponto de vista dos alunos a respeito dos trabalhos em equipe.
Palavras-chave: metodologias ativas de ensino, aula expositiva tradicional, motivação e percepção de aprendizagem,
biomedicina.
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 39, n. 3, p. 327-332, Sept.-Dec., 2017
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Destacamos que a atividade que propusemos literatura atualizada, com material de apoio em
ocorreu em uma disciplina isolada, em curto período quantidade suficiente nas bibliotecas, acesso à
de tempo, com alunos historicamente habituados internet, além de espaços para discussão equipados
com o método tradicional, confortáveis em ver na com mesas redondas e multimídia (Araujo,
figura do professor um profissional disposto a Fregonesi, Soares, & Slowski, 2010).
entregar informações prontas que devem ser Um projeto estadunidense comparou notas em
anotadas para posterior estudo visando o sucesso nas avaliações finais de alunos da disciplina de terapia
avaliações. Vale ressaltar que o professor envolvido respiratória submetidos às metodologias de ensino
na atividade tem experiência com ambos métodos de ABP e tradicional. A conclusão do estudo foi que
ensino e excelente relação com os alunos. não houve diferenças significativas entre as notas dos
Apesar da preferência das universidades alunos submetidos aos dois métodos (Beachey,
brasileiras pela fragmentação dos conteúdos em aulas 2007). Vale destacar que as avaliações foram
expositivas tradicionais, estas instituições têm sido realizadas no modelo tradicional e não mediram
estimuladas a refletirem acerca dos métodos de desempenho dos alunos em relação à proatividade,
ensino, se atualizarem e enfrentarem seus desafios, bem como na execução de trabalhos em equipe, duas
dentre os quais o de romper com estruturas características muito importantes para o sucesso no
cristalizadas e modelos de ensino tradicional e o de mercado de trabalho. Isso nos faz refletir e
formar profissionais de saúde com competências que questionar o modo como as avaliações são realizadas
lhes permitam recuperar a dimensão essencial do historicamente no ensino tradicional: ‘Vale a pena
cuidado (Cyrino & Toralles-Pereira, 2004). Em submeter os alunos a avaliações teóricas que soam às
nosso estudo, a metodologia ativa ABP foi vezes como punitivas, que privilegiam detalhes
considerada pela maioria dos alunos como um específicos e que não interagem com os problemas
possível complemento às aulas expositivas, e o fato que os mesmos enfrentarão quando inseridos no
dos alunos já estarem habituados à metodologia mercado de trabalho? Que relação existe entre o
convencional e ao professor atuante contribui para método de avaliação e o aluno que se deseja formar?
este resultado. Segundo Gil (1997), professores e É correto avaliar o sucesso, ou insucesso, de uma
alunos receiam por mudanças pelo costume às aulas metodologia ativa exclusivamente por meio de
tradicionais e medo do novo, rejeitando assim novas avaliações no modelo tradicional, teórico, que
propostas de ensino e aprendizagem. Além destes privilegia a formação de memórias a curto prazo sem
fatores, há também a frustração de alguns tutores em estabelecer pontes inter e transdisciplinares?’
não poder repassar seu conhecimento completo Sete artigos foram comparados quanto às
como deseja, visto que em metodologias ativas o vantagens e desvantagens no uso das metodologias
aluno é responsável por seu autoaprendizado. de ensino tradicional e ABP na formação médica em
Nesse sentido, uma vez que professores e alunos cursos onde alunos tiveram contato com ambas as
constituem a alma da universidade e muitos são metodologias no decorrer da graduação (Gomes,
avessos a mudanças, defendemos a ruptura gradual Brino, Aquilante, & Avó, 2009).
com o modelo tradicional por meio de, por exemplo, Nesta revisão concluiu-se que 4 dos artigos
avaliados descreveram a ABP como a melhor
currículos que integrem aulas expositivas com ABP,
metodologia enquanto 3 privilegiam o modelo
no modelo do que foi testado pelo curso de
tradicional. Segundo os autores, graduandos que
Medicina da Universidade Estadual de Londrina
avaliaram bem a ABP se sentiram mais preparados e
(Vargas, Colus, Linhares, Salomão, & Marchese,
foram avaliados mais positivamente por seus
2008), e pelo curso de enfermagem, da mesma
supervisores do que os graduandos dos cursos
Universidade, onde, após um período de negação exclusivamente tradicionais, principalmente na
por parte dos professores e alunos, em função da dimensão social.
inexperiência e da ruptura, e de treinamento docente Em relação à motivação e à percepção de
por meio de oficinas de formação continuada foi aprendizagem na realização de trabalhos em equipes
constatada uma mudança de atitudes e expectativas não encontramos diferenças entre os grupos
de todos, que passaram a avaliar a metodologia analisados. Esperávamos que após a prática da ABP
problematizadora positivamente (Godoy, 2001). houvesse variação nestes temas, em função das
Também destacamos que o sucesso das discussões em grupo e, consequentemente, da maior
metodologias ativas de ensino está associado à interação entre os alunos. A similaridade no padrão
necessidade de uma estrutura universitária adequada, das respostas observadas na comparação entre os
para que os estudantes possam ter à disposição grupos demonstra que, mesmo antes de passar pela
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ABP, os alunos se sentiam estimulados em realizar respiratory therapy education. Respiratory Care, 52(11),
trabalhos em equipe. Acreditamos que este 1498-1503.
resultado se deva ao estímulo institucional na Berbel, N. A. N. (1998). A problematização e a
realização de atividades práticas coletivas e de aprendizagem baseada em problemas: diferentes
trabalhos em equipe por meio de investimento em termos ou diferentes caminhos. Interface, 2(2),
infraestrutura e na formação pedagógica dos 139-154.
professores que, embora sigam, em sua maioria, o Costa, C. R. B. S. F, & Siqueira-Batista R. (2004). As
modelo da aula expositiva, são estimulados a teorias do desenvolvimento moral e o ensino médico:
variar a prática pedagógica promovendo uma reflexão pedagógica centrada na autonomia do
educando. Revista Brasileira de Educação Médica, 28(3),
seminários, oficinas e mesas-redondas a fim de
242-250.
despertar nos alunos o exercício da convivência,
Cyrino, E. G., & Toralles-Pereira, M. L. (2004).
do diálogo e do confronto de ideias, enriquecendo
Trabalhando com estratégias de ensino-aprendizado
o modelo tradicional.
por descoberta na área da saúde: a problematização e a
Cabe ressaltar que o docente que coordenou este aprendizagem baseada em problemas. Cadernos de
trabalho, por anos tem sido otimamente avaliado Saúde Pública, 20(3), 780-788.
pelos alunos em relação a seu desempenho em aulas Escrivão-Filho, E., & Ribeiro, L. R. C. (2009).
expositivas. Neste sentido é importante se atentar Aprendendo com PBL – aprendizagem baseada em
para que, embora o ABP possa ser um bom modelo, problemas: relato de uma experiência em cursos de
não é o único e não se adequa a todos os docentes. engenharia da EESC-USP. Minerva, 6(1), 23-30.
De acordo com Escrivão-Filho e Ribeiro, (2009), Gil, A. C. (1997). Metodologia do ensino superior (3a ed.). São
muitos professores são eles próprios, vencedores nos Paulo, Atlas.
modelos tradicionais de ensino e, assim, podem não Godoy, C. B. O. (2001). Currículo integrado de
conseguir ver a necessidade de mudanças didáticas enfermagem da Universidade Estadual de Londrina: a
em suas aulas ou as mantêm após uma boa aprovação percepção dos docentes. Olho Mágico, 8(1).
inicial. Recuperado de http://www.uel.br/ccs/olhomagico/
v8n1/curric. htm
Conclusão Goergen, P. (2010). Educação e diálogo. Maringá, PR:
Eduem.
Por meio deste trabalho concluímos que o uso da
Gomes, R., Brino, R. F., Aquilante, A. G., & Avó, L. R. S.
aprendizagem baseada em problemas, como parte do (2009). Aprendizagem baseada em problemas na
processo de ensino da disciplina de Embriologia do formação médica e o currículo tradicional de
curso de Biomedicina da Universidade Positivo, se medicina: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de
mostrou desfavorável em relação à metodologia Educação Medica, 33(3), 444-451.
tradicional no que se refere ao ponto de vista dos Junior, A. C. C. T, Ibiapina, C. C, Lopes, S. C. F,
alunos quanto à motivação e à percepção de Rodrigues, A. C, & Soares, S. M. S. (2008).
aprendizagem. Entretanto, tendo em vista que os Aprendizagem baseada em problemas: uma
alunos não tinham experiência prévia com o método experiência no ensino de química toxicológica.
e que estavam confortáveis com as aulas expositivas Revista Medica de Minas Gerais, 34(7), 123-131.
tradicionais, acreditamos que os resultados obtidos Lopes, R. M, Filho, M. V. S, Marden, M, & Alves, N. G.
se devem à implementação da metodologia em uma (2011). Problem-based learning: a teaching toxicology
disciplina isolada (ABP parcial), bem como à chemistry experience. Química Nova, 34(7),
1275- 1280.
afinidade dos alunos com o docente em aulas
Mitre, S. M., Siqueira-Batista, R., Giradi-de-
expositivas.
Mendonça, J. M., Morais-Pinto, N. M., Meirelles,
C. A. B., Pinto-Porto, C., Moreira, T., &
Referências Hoffmann, L. M. A. (2008). Metodologias ativas de
Araujo, A. M. P, Fregonesi, M. S. F. A, Soares, M. A, ensino-aprendizagem na formação do profissional
em saúde: debates atuais. Ciência e Saúde Coletiva,
Slomski, V. G. (2010). Aplicação do método problem-
13(Sup. 2), 2133-2144.
based learning (PBL) no de curso de especialização em
controladoria e finanças. In Anais do Congresso Internacional Mosé, V. (2013). A escola e os desafios contemporâneos. Rio de
de PBL 2010. (p. 1-18). Rio de Janeiro, RJ. Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
Baroneza, J. E., & Silva, S. O. (2007). Uma reflexão sobre Ribeiro, L. R. C. (2008) Aprendizado baseado em problemas.
a formação de professores para o ensino superior no São Carlos, SP: UFSCAR; Fundação de Apoio
Brasil. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, Institucional.
29(2), 163-168. Silva, J. L. L, Assis, D. L, & Gentile, A. C. (2005). A
Beachey, W. D. A. (2007). Comparison of problem-based percepção de estudantes sobre a metodologia
learning and traditional curricula in baccalaureate problematizadora: a mudança de um paradigma em
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 39, n. 3, p. 327-332, Sept.-Dec., 2017
332 Godinho et al.
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