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A FORMA E O CAMPO

DE GRAVIDADE DA
TERRA
Manoel S. D’Agrella Filho
A FORMA DA TERRA

 Os filósofos e sábios antigos só


conseguiam especular sobre a
natureza e forma da Terra em que
viviam.

 Viagens limitadas
 Instrumentos simples
A FORMA DA TERRA
As observações mostravam que a superfície era
convexa:

 Os raios solares continuam a iluminar o céu e as


montanhas, mesmo após o desaparecimento do
Sol
 Os navios pareciam afundar devagar no horizonte
 Durante um eclipse parcial da Lua, a sombra da
Terra aparecia curvada
A FORMA DA TERRA

 Mitologia Grega - a Terra era uma região em


forma de disco.

 No século 6 A.C.
 o filósofo grego Anaximander visualizava o
céu como uma esfera celestial que circundava
uma Terra plana no seu centro.
A FORMA DA TERRA

 Pitágoras (582-507 A.C.) e seus seguidores


foram os primeiros a especularem que a Terra
era uma esfera.

 Esta idéia foi também proposta pelo influente


filósofo Aristóteles (384-322 A.C.).
A FORMA DA TERRA
 Eratóstenes (275-195 A.C.)
 Primeira estimativa do tamanho da Terra

Uma estadia Grega representava


o percurso (~185 m) de corrida
em forma de U, onde corridas e
outros eventos de atletismo
ocorriam.

A estimativa de Eratóstenes -
46.250 km

Estimativa atual - 40.030 km


A FORMA DA TERRA

 Estimativas de um grau de meridiano

 Século 8 durante a dinastia Tang na China.

 Astrônomos árabes no século 9, na Mesopotâmia.

 Pouco progresso foi feito na Europa até o início do


século 17.
A FORMA DA TERRA
 Invenção do telescópio neste século possibilitou pesquisas
geodéticas mais precisas:

 Em 1671
 Jean Picard (1620-1682), astrônomo Francês
levantamento geodético - um grau de arco do meridiano.

 Raio da Terra como sendo de 6.372 km,


impressionantemente próximo do valor atualmente
conhecido de 6.371 km.
A FORMA DA TERRA
 Em 1672
 Jean Richer, outro astrônomo Francês
 Enviado por Louis XIV para realizar algumas
observações astronômicas na Ilha
Equatorial de Cayene.
 Ele observou que um relógio de pêndulo ajustado
para bater em Paris a cada segundo, atrasava
cerca de dois minutos e meio por dia. Isto é, seu
período era mais longo.
A FORMA DA TERRA
 Esta observação gerou muito interesse e
especulação, mas foi somente explicada cerca de
15 anos mais tarde, por Newton, através das leis
de gravitação universal e de movimento.

 Newton sugeriu que a forma de uma Terra em


rotação deveria ser a de um elipsóide oblato: ela
deveria ser achatada nos pólos, formando um
bojo no equador.
A FORMA DA TERRA
Argumento de Newton para a
Terra em rotação.

Terra - esfera hidrostática

 Newton assumiu uma densidade constante ao longo da


Terra e chegou a conclusão que o achatamento seria de
1:230 (f=(a-c)/a, a é o eixo maior do elipsóide).
 Este valor é maior do que o que se conhece hoje, que é de 1/298
(~0,3%).
A FORMA DA TERRA
O aumento no período do pêndulo de Richer pode ser agora explicado:

Cayenne fica próximo do equador, onde:

1- o raio é maior e a atração gravitacional é menor.


2- A força centrífuga oposta é maior (próximo do equador).

Estes dois efeitos juntos resultam em um valor menor da gravidade em


Cayenne do que em Paris.

O período de um pêndulo (T) é dado por:

T = 2 (L / g)1/2

L – comprimento do pêndulo; g - gravidade


A FORMA DA TERRA
Duas expedições (entre 1735 e 1743) organizadas
pela Académie Royale des Sciences, uma para
Lapônia, próximo do Círculo Ártico e outra para
o Peru, próximo ao equador, com o intuito de se
medir o comprimento de um grau de arco de
meridiano, confirmaram a predição de Newton
de que a forma da Terra é a mesma de um
elipsóide oblato.
GRAVITAÇÃO
Um corpo de massa m em movimento (velocidade v)
possui uma inércia. Para mudarmos este movimento é
necessário aplicar uma força F a este corpo.
A segunda lei de movimento de Newton estabelece que
a razão de mudança no tempo do momento (quantidade
de movimento - p) de uma massa m é igual à força
resultante que atua sobre ela e acontece na direção da
força.
p=mv
Fres = dp/dt
Fres = d(mv)/dt = m dv/dt = ma
GRAVITAÇÃO
 Se aplicarmos uma força F a uma massa m, ela
adquire uma aceleração a, dada por:

 F = ma

 A unidade de força no sistema SI é o Newton (N).

 Ela é definida como sendo a força que dá a uma


massa de um quilograma, uma aceleração de 1 m/s2.
A lei da gravitação universal
 Nós conhecemos a célebre observação de
Newton da maçã em queda, a qual ele relacionou
com a atração gravitacional que a Terra exercia
sobre a maçã. Entretanto, a genialidade de
Newton foi reconhecer que o campo gravitacional
que faz com que a maçã caia é o mesmo que
mantém a Lua em órbita em torno da Terra e que
mantém os planetas girando em redor do Sol.
A lei da gravitação universal
 Newton deduziu que a força de atração gravitacional (F)
exercida por uma massa M sobre outra massa m,
separadas pela distância r, é proporcional ao produto
destas massas e inversamente proporcional ao quadrado
da distância entre elas:

 F = - G mM/r2 r,

 Onde r é o vetor unitário na direção da coordenada r,


direcionada para fora do centro de referência da massa M.
O sinal negativo indica que a força F age na direção
oposta, em direção da massa M.

 A constante G é denominada de Constante da Gravitação


Universal.
A lei da gravitação universal
 Na época de Newton não havia como determinar a
constante G.
 O método a ser seguido, seria determinar a força
exercida entre duas massas no laboratório. A
determinação experimental de G, extremamente difícil, foi
conseguida somente depois de mais de um século após
a formulação de Newton, por Lord Charles Cavendish,
em 1798.
 Depois de uma série de medidas apuradas da força de
atração entre duas esferas de chumbo, Cavendish
determinou o valor de G = 6,754 x 10-11 m3 kg-1 s-2.
 Um valor atual é 6,6725985 x 10-11 m3 kg-1 s-2.
ACELERAÇÃO GRAVITACIONAL
Na física, o campo de uma força é mais importante do que a
magnitude da força.
O campo é definido como sendo a força exercida em uma unidade
de material.

O campo gravitacional na vizinhança de uma massa é a força que ela


exerce em uma massa unitária. Como:

F = ma,

Podemos dizer que o campo gravitacional é equivalente ao vetor


aceleração (ag).
ACELERAÇÃO GRAVITACIONAL
Tendo em vista que:

F = -GMm/r2 r,
e
F = ma

Decorre que:

ag = -GM / r2 r.

No sistema SI, aceleração é dado em m/s2. No sistema c.g.s., a


aceleração é em cm/s2, o qual é chamado de gal em
reconhecimento às contribuições de Galileo.
Teorema da casca

 Uma casca esférica uniforme de matéria atrai


uma partícula que está fora da casca como se
toda a massa da esfera estivesse concentrada
em seu centro.
Teorema da casca

A terra pode ser considerada como um conjunto


de cascas esféricas, uma dentro da outra e cada
casca atraindo uma partícula fora da superfície
terrestre como se a massa de cada casca estivesse
no centro da casca. Portanto, a Terra pode ser
considerada como uma partícula localizada no
centro da Terra com massa igual a da Terra.
Teorema da casca
 Suponhamos o caso da maçã e da Terra. A Terra atrai
a maçã com uma força de 0,8 N. A maçã deve atrair a
Terra com a mesma intensidade de 0,8 N.

 Aceleração produzida na maçã pela atração


gravitacional da Terra é de 9,8 m/s2,

 Aceleração produzida na Terra pela atração


gravitacional da maçã é de 1x10-25 m/s2.
Exercício 1.
 Uma partícula deve ser colocada, de cada vez,
do lado de fora de quatro objetos, cada um com
massa m: (1) uma grande esfera sólida uniforme,
(2) uma grande casca esférica uniforme, (3) uma
pequena esfera sólida uniforme e (4) uma
pequena casca esférica uniforme. Em cada
situação, a distância entre a partícula e o centro
do objeto é d. Classifique os objetos de acordo
com a intensidade da força gravitacional que
eles exercem sobre a partícula, da maior para a
menor.
Princípio da superposição
Dado um grupo de partículas, a força gravitacional
resultante sobre qualquer uma delas, exercida
pelas demais, é a soma dos efeitos individuais.

F1,res = F1,2 + F1,3 +F1,4 + .... + F1,n

Onde, F1,res é a força resultante sobre a partícula 1 e,


por exemplo, F1,3 é a força que a partícula 3 exerce
sobre a partícula 1.
Exercício 2.
A figura abaixo mostra quatro arranjos de três partículas de
massas iguais. (a) Classifique em ordem decrescente os
arranjos de acordo com a intensidade da força
gravitacional resultante sobre a partícula identificada por
m. (b) No arranjo 2, a direção da força resultante está
mais próxima da linha de comprimento d ou da linha de
comprimento D?
Exercício 3.
 Na figura abaixo, qual a direção da força
gravitacional resultante sobre a partícula de
massa m1 devida às outras partículas, cada uma
com massa m, que se encontram dispostas
simetricamente em relação ao eixo y?
Gravitação Próxima à superfície da Terra

A força gravitacional da Terra sobre uma partícula de


massa m, localizada fora da Terra, a uma distância r do
centro da Terra, é dada por:

F = -G M m / r2,

onde M é a massa da Terra.


Gravitação Próxima à superfície da Terra
Se uma partícula for solta, ela cairá em direção ao centro da
Terra, em conseqüência da força de atração gravitacional,
com uma aceleração (chamada aceleração gravitacional) ag.
Da segunda lei de Newton:

F = m ag ,

F = -G M m / r2,

ag = -G M / r2
Exercício 4.
 Supondo que a aceleração gravitacional da Terra é
de aproximadamente 9,8 m/s2, o raio da Terra (R) é
de 6371 km, a constante gravitacional vale
6,673x10-11 m3kg-1s-2 e o volume (V) da Terra é dado
por (4/3) R3, calcule a densidade média ( = M/V)
aproximada da Terra. Comparando com os valores
de densidade das rochas encontradas na superfície
da Terra (2.800 a 3.000 kg/m-3), o que você poderia
deduzir sobre a distribuição de densidade no interior
da Terra?
Gravitação Próxima à superfície da Terra

Em vários exercícios, é comum considerarmos a


aceleração que um corpo em queda livre apresenta
(denominado g), como sendo a aceleração
gravitacional que agora chamamos de ag.
Normalmente, também consideramos que g possui
um valor constante sobre a superfície da Terra.
Gravitação Próxima à superfície da Terra
Entretanto, o valor de g que mediríamos, difere de ag
que calcularíamos pela equação acima.

Por exemplo, medidas recentes de g no pólo (gp) e no


equador (ge) forneceram valores de:

gp = 9,832177 m/s2 e ge = 9,780318 m/s2 , o que nos


fornece uma diferença de:

5,186x10-2 m/s2 = 5,186 cm/s2


= 5,186 gal = 5.186 mgal.
Gravitação Próxima à superfície da Terra
Existem três razões para que isto ocorra:

1 - A Terra não é uniforme;


2 - Ela não é uma esfera perfeita (elipsóide com raio equatorial
~21 km maior que o raio polar). A distância ao centro de
massa da Terra é menor nos pólos do que no equador, o que
produz um aumento da gravidade em direção aos pólos.
Cálculos mostram que este efeito seria responsável por uma
diferença de 6.600 mgal, entre a gravidade no pólo e a
gravidade no equador;
3 - Ela está em rotação. A aceleração centrífuga se opõe à
aceleração da gravidade que é zero nos pólos e tem seu valor
máximo no equador. Portanto, este efeito produz um
aumento de g em direção ao pólo. Cálculos mostram que este
aumento é de 3.375 mgal.
Gravitação Próxima à superfície da Terra

A aceleração da gravidade (g)


varia de ponto para ponto na
superfície da Terra. A aceleração
da gravidade em um determinado
local resulta da soma vetorial das
acelerações gravitacional (ag) e da
centrífuga (ac). A Aceleração da
gravidade g não é radial e sua
intensidade atinge valores
máximos nos pólos e mínimos na
região equatorial.
Gravitação Próxima à superfície da Terra
Para um corpo em rotação, a aceleração centrífuga é igual a:

ac = 2 R,

onde é a velocidade angular da Terra e R é a distância ao


eixo de rotação. = 2 / T (T é o período de rotação, 24
horas).
A soma vetorial da aceleração gravitacional e da aceleração
centrífuga é denominada aceleração da gravidade, ou
simplesmente gravidade.

g = ag + ac
Gravitação Próxima à superfície da Terra
 Os efeitos dois e três descritos acima se somam,
produzindo uma diferença entre os valores de g no
pólo e no equador de:

 6.600 mgal + 3.375 mgal = 9.975 mgal

 Entretanto, como mostrado acima, medidas de g


nos pólos e no equador indicam uma diferença
menor, de 5.186 mgal.

 Porque isto ocorre?


Gravitação Próxima à superfície da Terra

 Isto decorre do fato que a Terra, tendo um raio


equatorial maior do que o raio polar contém
também uma massa maior no equador, o que faz
aumentar a atração gravitacional nesta região.
Entretanto, este efeito não supera os efeitos
produzidos pelo achatamento da Terra e pela
aceleração centrífuga.
Gravitação Próxima à superfície da Terra
Observação 1. Até recentemente, os instrumentos de campo
apresentavam uma precisão de dezenas de miligal. Instrumentos
mais modernos são capazes de medir diferenças de gravidade de
até um milionésimo de gal (1 gal, o qual tem se tornado uma
unidade prática nas investigações gravimétricas). Para se ter uma
idéia, o valor da gravidade na superfície da Terra é de cerca de 9.8
m/s2, e a sensibilidade dos aparelhos atuais chega a ser de 1 parte
em 109.

Observação 2. Vale a pena salientar que as diferenças de g sobre a


superfície da Terra são muito pequenas e são usadas, como
veremos mais adiante, para investigar estruturas de sub-superfície.
Entretanto, para uma primeira aproximação, podemos usar um
valor constante de g (9,8 m/s2) nos exercícios de física.
Gravitação no interior da Terra
Newton também mostrou que:

Uma casca uniforme de matéria não exerce nenhuma força


gravitacional sobre uma partícula localizada dentro dela.

Portanto, temos dois fatores que influenciam a aceleração da


gravidade no interior da Terra:

(1) a diminuição da distância ao centro da Terra (r), o que tenderia


a aumentar o valor de g em direção ao centro e;

(2) as camadas mais externas, de acordo com a afirmação acima,


teriam influência nula, o que acarretaria em uma diminuição no
valor de g.
Gravitação no interior da Terra

Como a densidade do núcleo é muito mais alta que a do Manto, a


gravidade se mantém aproximadamente constante (em torno de 10
m/s2) até a profundidade de 2.900 km (interface Manto-Núcleo),
decaindo, então, progressivamente até zero, no centro da Terra.
Exercício 5.

A figura acima mostra um arranjo de cinco partículas, com


massas m1 = 8,0 kg, m2 = m3 = m4 = m5 = 2,0 kg e com a =
2,0 cm e = 30 . Qual a força gravitacional resultante
F1,res sobre a partícula 1 devida às outras partículas?
FIM

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