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RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO ARQUEOLÓGICO INTERVENTIVO

NA ÁREA DA BARRAGEM DE REJEITO E PILHA DE ESTÉRIL / REJEITO, DA


EMPRESA DE MINERAÇÃO ESPERANÇA S/A,
MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM DE BICAS e BRUMADINHO/ MG.

ARQUEÓLOGOS RESPONSÁVEIS
ELIANY SALAROLI LA SALVIA
JULIMAR QUARESMA MENDES JUNIOR

Relatório apresentado ao IPHAN em cumprimento da Portaria nº 22, de 21/05/13


13ª Superintendência Regional - Belo Horizonte, Minas Gerais

BELO HORIZONTE, AGOSTO DE 2013


Empresa Responsável Pelo Diagnóstico Arqueológico Interventivo:
ARKEOS Consultoria Ltda.
Conceição do Mato Dentro/MG

Coordenação Técnico-científica
Dra. Eliany Salaroli La Salvia
Ms. Julimar Quaresma Mendes Junior
Endereço: Rua Dr. Basílio Santiago, 264 – Centro – Conceição do Mato Dentro/MG –
CEP 35860-000
Fones: (31) 3868-1299, (31) 93627478
E-mail: arkeosconsultoria@gmail.com
likalasalvia@gmail.com
Equipe:
Renato Saad Panunzio – Historiador
Natália Gomes de Sousa – Arqueóloga

Empreendedor (Endosso Financeiro):


Ferrous Resources do Brasil – Empresa de Mineração Esperança Ltda
Endereço: Av. Raja Gabaglia, 959 - Luxemburgo
CEP: 30.380-403/ Belo Horizonte, MG
Telefax: (31) 3515-8913
E- mail :www.ferrous.com.br

Responsável pelos Estudos de Patrimônio Cultural:

Socioambiental Projetos Ltda.


Endereço: Avenida Contorno, 5491 / 504 – Bairro Cruzeiro
Belo Horizonte/ MG – CEP 30.110-035
Fones: (31) 3282 0983 (31) 9992 0579
E-mail: socioambientalprojetos@uol.com.br

Endosso Institucional:

Museu de Ciências Naturais - PUC Minas


Endereço: Rua Dom José Gaspar, 290 - Coração Eucarístico
Belo Horizonte - MG, CEP 30535-901
Fone: (31) 3319-4152

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de Localização da Barragem de rejeitos e pilha de estéril/rejeito ....................7


Figura 2: Mapa geológico do Q.F. ........................................................................................... 10
Figura 3: Coluna Estratigráfica do Q.F..................................................................................... 11
Figura 4: Vista geral da área prospectada............................................................................... 17
Figura 5: Detalhe da área prospectada. .................................................................................. 17
Figura 6: Mapa de localização das intervenções arqueológicas .............................................. 18
Figura 7 e 8: Vista geral da AS01 ............................................................................................. 20
Figura 9: Furo 02..................................................................................................................... 20
Figura 10: Furo 05. .................................................................................................................. 20
Figura 11: Furo 08 ................................................................................................................... 20
Figura 12: Furo 11. .................................................................................................................. 20
Figura 13 e 14: Vista geral da AS02 ......................................................................................... 22
Figura 15: Furo 13. .................................................................................................................. 22
Figura 16: Furo 16. .................................................................................................................. 22
Figura 17: Furo 19. .................................................................................................................. 23
Figura 18: Furo 22. .................................................................................................................. 23
Figura 19: Furo 25. .................................................................................................................. 23
Figura 20: Furo 28. .................................................................................................................. 23
Figura 21 e 22: Vista geral da AS03. ........................................................................................ 25
Figura 23: Furo 32. .................................................................................................................. 25
Figura 24: Furo 35. .................................................................................................................. 25
Figura 25: Furo 38. .................................................................................................................. 25
Figura 26: Furo 41. .................................................................................................................. 25
Figura 27: Furo 44. .................................................................................................................. 26
Figura 28: Furo 47. .................................................................................................................. 26
Figura 29: Orlando da Silva Passos. ........................................................................................ 26

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Bens Tombados ....................................................................................................... 12


Tabela 2: Furos de sondagens AS01........................................................................................ 19
Tabela 3: Furos de sondagens AS02........................................................................................ 21
Tabela 4: Furos de sondagens AS03........................................................................................ 23

4
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................6
2 BREVE DESCRIÇÃO REGIONAL ..........................................................................................8
3 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.....................................................................................9
3.1 - GEOLOGIA REGIONAL .......................................................................................................9
3.2 - ASPECTO GEOMORFOLÓGICO......................................................................................... 11
3.3 – ASPECTO CULTURAL ....................................................................................................... 12
4 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 13
5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 13
5.1 – RECONHECIMENTO DE ÁREA ......................................................................................... 14
5.2 – INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS .................................................................................. 14
5.3 – LABORATÓRIO ............................................................................................................... 14
6 CONCEITUAÇÃO ............................................................................................................. 15
7 RESUTADOS OBTIDOS .................................................................................................... 17
7.1 - ÁREAS SEDIMENTARES PESQUISADAS ............................................................................ 19
7.2 – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................................................. 26
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 27
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 28

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1 INTRODUÇÃO

O presente Relatório Único de Diagnostico Arqueológico Interventivo por solicitação


da Empresa de Mineração Esperança S/A – EMESA, pertencente ao grupo Ferrous Resources
do Brasil., para averiguação e avaliação do patrimônio arqueológico eventualmente existente
na área em questão (Figura 01), procurou-se estabelecer com clareza o grau, natureza e
extensão dos impactos decorrentes da implantação do empreendimento, em atendimento aos
dispositivos da Constituição Federal de 1988, da Lei 3924/61, da Lei 9985/00, do artigo 6°
parágrafo I alínea c da Resolução CONAMA n° 001 de 23 de janeiro de 1986 e das portarias
07/87 e 230/02 do Instituto do Patrimônio histórico e Artístico Nacional, que estabelecem a
proteção do patrimônio arqueológico.

Dessa forma, o presente relatório apresenta as atividades realizadas durante a


execução do diagnóstico arqueológico interventivo na área onde se pretende implantar uma
barragem de rejeitos e pilha de estéril / rejeito, de forma a atender a legislação brasileira,
assim como, procurar por vestígios arqueológicos que possam contribuir com o mosaico da
pré-história e história local e regional.

Neste relatório são apresentados os dados e informações coletados em campo, assim


como, a descrição da área, os acessos, os pontos de interesse arqueológicos, caso tenham sido
identificados, a metodologia de trabalho de campo, o contexto histórico e arqueológico da
região, os resultados obtidos com a avaliação geral do potencial arqueológico e as
considerações finais.

6
Figura 1: Mapa de Localização da Barragem de rejeitos e pilha de estéril/rejeito

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2 BREVE DESCRIÇÃO REGIONAL

Brumadinho é um dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),


definida pelas Leis Complementares 56/2000 e 65/2002. Abrange uma área de
aproximadamente 640 km². O município deve-se ao fato do local estar próximo à antiga vila de
Brumado Velho, que por sua vez teria sido assim denominada pelos bandeirantes por causa
das brumas comuns em toda a região montanhosa em que se situa o município, especialmente
no período da manhã.

Embora o município de Brumadinho seja atravessado pelas rodovias BR-381 (São


Paulo-Belo Horizonte) e BR-040 (Rio de Janeiro-Belo Horizonte), e seja possível chegar à sede
municipal a partir de ambas as rodovias, o acesso mais curto de Belo Horizonte à cidade de
Brumadinho é pela rodovia MG-040, a chamada Via do Minério, uma estrada mais direta que
sai da região do Barreiro, na parte sudoeste da capital, e atravessa os municípios de Ibirité e
Mário Campos antes de chegar a Brumadinho. Há uma curta divisa direta de Brumadinho com
o município da capital, mas localizada numa remota área montanhosa, sem estradas e de difícil
acesso.

Os municípios do entorno das unidades, PESRM – Parque Estadual da Serra do Rola-


Moça e EEF – Estação Ecológica Fecho, estão situados na Região Central de Minas Gerais, que
esteve sob intensa exploração de ouro até o final de 1750, a partir da qual entrou em
decadência. Se a descoberta do ouro gerou forte fluxo populacional para a região das minas,
sua decadência favoreceu a fuga de parte da população, na busca de outras terras para
explorar. Muitos se fixaram na própria região, desenvolvendo atividades agrárias de
subsistência.

Assim, paradoxalmente, a decadência das minas de ouro, com o esgotamento do


minério superficial, especialmente em Vila Rica, teria sido na opinião de historiadores, fator
importante na ocupação efetiva da Região Central.

A passagem do século XVIII para o XIX representou uma quebra no desenvolvimento,


não apenas da Região Central, mas também de todo o atual território mineiro. Ainda no início
do século XIX, começou a se impor a extração de ouro através de minas subterrâneas. O século
XX marca, em toda a região centro-mineira, a introdução de novas atividades econômicas,
especialmente voltadas para a produção metalúrgica e siderúrgica.

8
É importante ressaltar que a Região Central sempre abrigou a sede político-
administrativa de Minas, primeiramente em Ouro Preto e, posteriormente, em Belo Horizonte,
a partir de 1897. Cabe destacar que Belo Horizonte teve um importante papel polarizador no
processo de desenvolvimento industrial desta região, em especial a partir da criação da Cidade
Industrial, em 1941. Assim, a capital mineira afirmou sua liderança não somente como centro
administrativo, mas também econômico.

Por sua vez, o município de São Joaquim de Bicas, onde serão instaladas a maior parte
da barragem e da pilha de estéril/rejeito faz parte dessa complexa região central mineira, que
tem suas origens atreladas à descoberta e exploração do ouro no século XVIII.

Devido à sua localização, nas margens do Rio Paraopeba, proporcionou aos


bandeirantes paulistas terras férteis para a prática agrícola e criação de gado, dando início à
colonização da região. Nessa época, pertencia a Pará de Minas e paróquia de Mariana.
Somente em 1880 passou a Distrito ao se instalar ali um cartório de registro, permanecendo
até 1931, quando este cartório, por questões políticas, transferiu-se para o povoado de
Barreiro, atual Igarapé, e, São Joaquim voltou à condição de povoado.

Em 1953 elevou-se à distrito, porém do município de Mateus Leme, e posteriormente


à criação do município de Igarapé, em 1962, passou a integrá-lo como distrito também,
obtendo a sua emancipação apenas em 1995.

3 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 - Geologia regional

Em termos regionais, a área investigada situa-se no setor norte-noroeste do


Quadrilátero Ferrífero (QF). O Quadrilátero Ferrífero ocupa uma área de aproximadamente
7.190 km2 encontrando-se parcialmente inserido no extremo sudeste do Cráton do São
Francisco e parcialmente na faixa Araçuaí, de idade brasiliana. A estratigrafia do Quadrilátero
consiste nas seguintes unidades geológicas: complexos granítico-gnáissicos arqueanos
(embasamento); sequência vulcanossedimentar arqueana (Supergrupo Rio das Velhas);
sequência metassedimentar proterozóica (Supergrupo Minas) e coberturas sedimentares
recentes.

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O embasamento constituído por rochas graníticas e gnáissicas polimetamorfizadas,
migmatitos e rochas máficas e ultramáficas, representa segmentos crustais estabilizados
durante o Neoarqueano (Figuras 02 e 03).

Figura 2: Mapa geológico do Q.F.


Fonte: CPRM, 2001.

10
Figura 3: Coluna Estratigráfica do Q.F.

3.2 - Aspecto geomorfológico

O Quadrilátero Ferrífero é um conjunto de relevo dobrado e fortemente dissecado


pela erosão, rebaixado na parte central e elevado nas bordas, onde há ocorrência de serras. As
cotas altimétricas predominantes estão entre 800 e 900 metros, sendo que ao sul ocorrem
frequentemente linhas de cristas que ultrapassam 1.400 metros de altitude. O processo de
dissecação na área é marcado por um nítido controle estrutural, com intensidade controlada
pela diferença litológica e atuação de processos tectônicos.

Todo o conjunto do Quadrilátero Ferrífero foi tectonicamente soerguido por


movimentos pós-cretáceos (Saadi, 1991; Saadi et al, 1992), e nele se encontra moldado um
relevo caracterizado em sua maior parte por formas de dissecação e restos de antigas

11
superfícies de aplainamento. Contrastes bastante significativos, principalmente em setores
onde movimentos tectônicos produziram desnivelamentos acentuados, alternam áreas
aplainadas com picos e cristas elaboradas em quartzitos, xistos e itabiritos e grandes
escarpamentos geralmente orientados por fraturas.

A erosão diferencial, condicionada pela variedade litológica e estrutural, é responsável


pela variação topográfica da região (Varajão, 1991). Nas áreas onde a litologia é resistente à
transformação química e mecânica e a estrutura não apresenta características que favoreçam
a alteração das rochas, o relevo é constituído por cristas e colinas com topografia elevada. Nos
locais onde as rochas são menos resistentes aos fatores de modelação do relevo, e onde o
condicionante estrutural não é relevante, vertentes ravinadas, vales encaixados e colinas de
fundo chato.

3.3 – Aspecto cultural

Acerca do patrimônio cultural de São Joaquim de Bicas sabe-se muito pouco, apenas
que existem dois bens tombados pelo poder público municipal, que são a Igreja Nossa Senhora
da Paz e a Fazenda Carmo da Cunha, cadastrados no IEPHA.

Enquanto isso, no município de Brumadinho são vários bens tombados em três


categorias, variando entre tombamento municipal e estadual (Tabela 01).

Tabela 1: Bens Tombados

Bem Cultural Tombado Nível de Tombamento

Igreja de Nossa Senhora Piedade Municipal


Igreja de Santo Antônio Municipal
Igreja de Santana Municipal
Serra da Moeda Estadual
Cachoeira do Itaiata
Casarão dos Macedos Municipal
Cachoeira dos Macacos PN
Cachoeira de Casa Branca PN
Muralha da Fazenda Estadual
Capela de São Miguel Municipal
Fonte: Cadastro do Patrimônio Tombado de Minas Gerais IEPHA

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4 OBJETIVOS

Os estudos arqueológicos na área destinados a barragem de rejeitos e pilha de estéril


procurou alcançar os objetivos propostos:

 Identificar a existência do patrimônio arqueológico pré-histórico e histórico e seu


estado de conservação;

 Propor medidas mitigador-compensatórias, caso sejam necessárias.

Nos resultados obtidos estão apresentados os dados obtidos e os


procedimentos realizados em campo para a averiguação da existência ou não de um
patrimônio arqueológico.

5 METODOLOGIA

Para que os objetivos deste trabalho fossem atingidos, foi desenvolvida uma
metodologia que compreende três estágios dentro de um conjunto de técnicas de prospecção
extensiva e intensiva: Reconhecimento de área, Intervenções Arqueológicas e Laboratório.

A prospecção extensiva e intensiva é aplicada para reconhecimento de áreas


superficiais sedimentares com potencial arqueológico, mesmo que não evidenciem vestígios
em superfície, de forma a representar tal potencialidade em diferentes escalas. Isto é, na
prospecção extensiva a distância entre furos varia de 50 a 100 m ou mais de distância, de
acordo com o caminhamento de reconhecimento de área, quando se pontuam os locais a
serem melhor detalhados futuramente, além das informações coletadas junto a população
local sobre vestígios históricos (ruínas) e/ou pré-históricos.

A partir dessa prospecção extensiva com os locais de potencial arqueológico já


identificados realiza-se a prospecção intensiva através de investigação subsuperficial de forma
mais detalhada, com intervalos entre furos variando de 20 a 30 m de distância. Esta técnica é
geralmente utilizada em áreas de terraços fluviais, de platôs e em altos de colinas suaves,
geralmente, considerados locais de alto potencial arqueológico. Quando necessário a utiliza-se
a técnica de sondagem por decapagem ou sondagem arqueológica através de trincheiras de 2

13
m x 1m e maiores ou através de quadrículas de 1 m x 1m, geralmente utilizadas em abrigos sob
rocha e grutas.

5.1 – Reconhecimento de área

Nesta etapa foram levantadas as informações sobre os diferentes aspectos que


envolvem o trabalho em si, isto é, as informações acerca da presença humana pretérita
através de vestígios arqueológicos e dados fornecidos pela população local. Além do
levantamento de dados em fontes secundárias sobre a arqueologia e história da região. Na
realização do reconhecimento de área foram identificados os locais para detalhamento
subsuperficial, além do registro de caminhamento, tipos de acesso, cobertura fotográfica
representativa dos aspectos relevantes para a avaliação do potencial arqueológico local.

5.2 – Intervenções arqueológicas

Após a prospecção extensiva nos pontos elencados durante a sua execução realizou-se
as intervenções subsuperficiais pra averiguação de potencial arqueológico, já que em
superfície não foram evidenciados vestígios arqueológicos. Tais intervenções foram realizadas
através de furos de tradagem espalhados pelas áreas sedimentares superficiais. Os
caminhamentos, furos de tradagem foram registrados em GPS modelo Garmin 62 cs e o
levantamento fotográfico dos furos e da paisagem também foi realizado.

5.3 – Laboratório

Após a realização das campanhas de campo durante esta etapa, foram analisados os
dados obtidos, tratados os registros em GPS e fotográfico, verificação de locais e referências e,
elaboração do relatório final com resultados obtidos e considerações finais e atividades de
educação patrimonial com o objetivo de divulgar o trabalho arqueológico na região.

14
6 CONCEITUAÇÃO

Além de todas as etapas elaboradas pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico


Nacional (IPHAN), será adotado neste projeto o foco de investigação na arqueologia da
paisagem e cultura material. Contribuindo com autores que desenvolvem a interpretação
paisagística, cultural e ambiental, incorporando a arqueologia pré-histórica e histórica, para
procurar identificar os locais habitados pelo homem do passado.

Segundo Fagundes (2007), as escolhas “culturais” desse homem ou grupos que


ocuparam o tal ambiente no passado facilitam o mapeamento por meio das intervenções
arqueológicas. Outras relações são vistas por arqueólogos entre a paisagem e a cultura, como
a questão do objeto utilizado por esses homens etc.

Outra relação abordada é a identidade local com a paisagem, através da espacialidade


e produções sociais. Segundo Corolino e Pinto – Correia (2011), a paisagem no sentido
“material” enquanto traduções espaciais de unidades ecológicas são transformadas e
modeladas pelo homem, designadamente através de sistemas específicos, o que resulta num
mosaico complexo de várias manchas de ocupação do solo e de elementos lineares, com uma
composição e configuração própria em cada lugar, sendo árduo o conhecimento paisagístico
estudado.

Criado Boado (1999) e Morais (1999) salientam que a arqueologia da paisagem é uma
estratégia de trabalho que pode ser utilizada como uma ferramenta de gestão, estudo do
vestígio arqueológico e compreensão do solo, além da importância do passado do homem e os
modos de se adaptar, modificar, utilizar, organizar e compreender o espaço onde viveu. É uma
estratégia de investigação e identificação, para reconstrução da paisagem arqueológica e seu
processo de mudanças atual.

[...] a arqueologia da paisagem se ocupa da reconstrução ou recriação das


paisagens, da natureza, em sua evolução a partir da presença do ser
humano sobre a terra (VILLAESCUSA, 2006, p. 29).

Segundo Sousa (2005), a incorporação da paisagem, culturalmente determinada como


objetivo de analise pela arqueologia, ou seja, trata-se de um elemento da cultura material,

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sendo passível de ser analisado como artefato arqueológico e enquadrando-se no campo de
investigação.

O estudo da paisagem da cultura material, Linke (2008) argumenta que a paisagem e a


cultura são vista pelos arqueólogos como diversas categorias de vestígios arqueológicos:
depósitos vegetais, indústria lítica, assentamento ceramistas, restos faunísticos dentre outros,
e, além disso, os denominados sítios arqueológicos eram utilizados com funções especificas
como a caça, a limpeza da caça, a exploração de matéria prima. Os sítios arqueológicos, líticos,
cerâmicas ou louças estrangeiras do século XVI, fazem parte da cultura material de um
passado pré-histórico e/ou histórico na região de Minas Gerais.

Para vários autores a arqueologia da paisagem não se difere da cultura material, pois
ambas tem o mesmo contexto. Porto (2013, p. 24) acrescenta que “a arqueologia, a paisagem,
dinâmica e operante socialmente, é o macroartefato que abriga os demais artefatos humanos,
pois nele o mesmo está contido os testemunhos do modo de vida dos grupos humanos e a sua
forma de produzir cultura, material e imaterial sobre o espaço desde o passado, observando
suas vertentes até os dias atuais”.

Minas Gerais é um Estado rico de recursos naturais e a região do empreendimento


oferece atrativos de ocupações humanas, como por exemplo, recursos naturais (água, caça,
pesca, coleta vegetal, etc.) em abundância, mas isso não significa que serão encontrados e
identificados vestígios de uma ocupação humana. Tornando-se possível a realização de uma
abordagem sob os olhares da arqueologia da paisagem dentro dos resultados obtidos,
principalmente, quando se trata de uma área que possui em grande escala recursos naturais.

Poder contribuir para a elaboração de uma interpretação arqueológica que identifique


os elementos que caracterizam a atuação humana sobre a paisagem é um grande desafio e o
trabalho de campo, de identificação e registro dos vestígios humanos é de extrema
importância e detalhe para a Arqueologia da Paisagem. Descobrir, documentar, registrar,
retratar e descrever o achado arqueológico e sua correlação com os outros achados numa
determinada área é constantemente atravessar o limite entre as escalas macro e micro da
investigação espacial.

16
7 RESUTADOS OBTIDOS

Durante a prospecção extensiva definiu-se as intervenções subsuperficiais na área em


geral, devido às suas características – relevo ondulado com bastantes declividades, drenagens
marcantes, sem afloramento rochoso. As áreas de grandes declividades não foram possíveis
realizar as intervenções devido à própria declividade bastante acentuada, a mata fechada e
reservatórios de água na base das serras (Figuras 4, 5 e 6).

Figura 4: Vista geral da área prospectada.

Figura 5: Detalhe da área prospectada.

17
Figura 6: Mapa de localização das intervenções arqueológicas

18
A seguir estão as descrições das intervenções subsuperficiais realizadas nas áreas
sedimentares superficiais e a educação patrimonial realizada.

7.1 - Áreas sedimentares pesquisadas

- Área Sedimentar 01: Platô e meia encosta, vegetação rasteira com árvores espaçadas, pasto,
passagem do córrego Elias (Figuras 7 e 8).
Coordenadas: UTM 23K 580019/7776293
Altitude: 863 m
Precisão: 3 m

Tabela 2: Furos de sondagens AS01

Furo UTM E UTM N Altitude Descrição


F01 Sedimento argiloso de coloração marrom escuro,
0580019 7776293 863
próximo ao córrego, profundidade 54 cm.
F02 Sedimento argiloso de coloração marrom escuro,
0580026 7776266 854
próximo ao córrego, profundidade 55 cm (Figura 9).
F03 Sedimento cascalho de coloração marrom claro.
0579906 7776253 877
Furo parou em rocha, profundidade 25 cm.
F04 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0579925 7776290 878
alaranjada, profundidade 67 cm.
F05 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0579860 7776288 889 alaranjada, com cascalho, profundidade 50 cm
(Figura 10).
F06 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada,
0579820 7776331 899
com cascalho, profundidade 30 cm.
F07 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada,
0579762 7776272 891
com cascalho, profundidade 32 cm.
F08 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada,
0579729 7776217 911
com cascalho, profundidade 60 cm (Figura 11).
F09 Sedimento argiloso de coloração avermelhada, leito
0579824 7776166 878
do córrego, profundidade 36 cm.
F10 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0579823 7776137 887
escuro. Furo parou em rocha, profundidade 35 cm.
F11 Sedimento arenoso de coloração vermelho
0579930 7776202 875 alaranjada, com cascalho, leito do córrego,
profundidade 80 cm (Figura 12).
F12 Sedimento arenoso de coloração vermelho
0579869 7776107 907 alaranjada, com cascalho, leito do córrego,
profundidade 30 cm.

19
Figura 7 e 8: Vista geral da AS01

Figura 9: Furo 02. Figura 10: Furo 05.

Figura 11: Furo 08 Figura 12: Furo 11.

20
- Área Sedimentar 02: Platô e meia encosta, vegetação rasteira com árvores espaçadas, pasto
(Figuras 13 e 14).
Coordenadas: UTM 23K 0578667/ 7775604
Altitude: 982 m
Precisão: 3 m

Tabela 3: Furos de sondagens AS02

Furo UTM E UTM N Altitude Descrição


F13 Sedimento areno-argiloso de coloração
0578667 7775604 982 avermelhada. Furo parou em rocha, profundidade
20 cm (Figura 15).
F14 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada,
0578781 7775631 978
com cascalho, profundidade 22 cm.
F15 Sedimento areno-argiloso de coloração
0578655 7775525 1008 avermelhada, bastante concrecionado,
profundidade 17 cm.
F16 Sedimento areno-argiloso de coloração
0578597 7775440 1009 avermelhada. Furo parou em rocha, profundidade
50 cm (Figura 16).
F17 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada,
0578607 7775349 999
bastante concrecionado, profundidade 20 cm.
F18 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0578510 7775318 1010
avermelhado, profundidade 40 cm.
F19 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0578434 7775251 1018
avermelhado, profundidade 50 cm (Figura 17).
F20 Sedimento arenoso avermelhado sem horizonte "A"
0578556 7775615 981 em pasto, meia encosta de colina suave,
profundidade 50 cm.
F21 Sedimento arenoso avermelhado sem horizonte "A"
0578464 7775695 981 em pasto, meia encosta de colina suave,
profundidade 50 cm.
F22 Sedimento arenoso avermelhado sem horizonte "A"
0578363 7775667 998 em pasto, meia encosta de colina suave,
profundidade 42 cm (Figura 18).
F23 Sedimento arenoso avermelhado sem horizonte "A"
0578367 7775513 1018 em área de terra arada topo de colina, profundidade
70 cm.
F24 Sedimento arenoso avermelhado sem horizonte "A"
0578355 7775381 1025
em pasto topo de colina, profundidade 69 cm.
F25 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0578466 7775145 1012 avermelhado, bastante compactado, profundidade
35 cm (Figura 19).
F26 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0578527 7775175 1009
avermelhado, profundidade 40 cm.
F27 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0578611 7775148 1012
avermelhado, profundidade 52 cm.

21
F28 Sedimento cascalho de coloração alaranjada,
0578733 7775296 1013
profundidade 18 cm (Figura 20).
F29 Sedimento cascalho de coloração alaranjada,
0578789 7775376 1007
profundidade 40 cm.

Figura 13 e 14: Vista geral da AS02

Figura 15: Furo 13. Figura 16: Furo 16.

22
Figura 17: Furo 19. Figura 18: Furo 22.

Figura 19: Furo 25. Figura 20: Furo 28.

- Área Sedimentar 03: Área de baixada entre colinas, drenagem, com pequenos platôs. Área
alagadiça com barragens, meia encosta com vegetação fechada (Figura 21 e 22).
Coordenadas: UTM 23K 0579073/ 7775520
Altitude: 947 m
Precisão: 3 m

Tabela 4: Furos de sondagens AS03

Furo UTM E UTM N Altitude Descrição


F30 Sedimento arenoso de coloração alaranjada,
0579073 7775520 947
bastante compactado, profundidade 60 cm.
F31 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579132 7775623 924
avermelhada, profundidade 56 cm.

23
F32 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada.
0579275 7775604 939 Furo parou em rocha, profundidade 30 cm (Figura
23).
F33 Sedimento areno-argiloso de coloração alaranjada.
0578981 7775692 946
Furo parou em rocha, profundidade 25 cm.
F34 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579590 7775996 899
avermelhada, profundidade 60 cm.
F35 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579577 7775905 914
avermelhada, profundidade 35 cm (Figura 24).
F36 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579528 7775912 916
avermelhada, profundidade 45 cm.
F37 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579607 7775816 940
avermelhada, com cascalho, profundidade 27 cm.
F38 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579662 7775691 961 avermelhada, com cascalho, profundidade 22 cm
(Figura 25).
F39 0579581 7775745 958 Cascalho, profundidade 10 cm.
F40 Sedimento areno-argiloso de coloração marrom
0579502 7775764 932 avermelhado, com raízes. Furo parou em rocha,
profundidade 50 cm.
F41 Sedimento areno-argiloso de coloração
0579439 7775736 933 avermelhada, bastante concrecionado. Furo parou
em rocha, profundidade 25 cm (Figura 26).
F42 Sedimento arenoso de coloração marrom claro. Furo
0579821 7776069 907
parou em rocha, profundidade 40 cm.
F43 Sedimento arenoso de coloração alaranjada,
0579796 7776126 898
profundidade 40 cm.
F44 Sedimento arenoso de coloração marrom escuro,
0579757 7776143 873 próximo ao córrego, profundidade 56 cm (Figura
27).
F45 Sedimento areno-argiloso de coloração vermelho
0579671 7776041 900
alaranjada, compactado, profundidade 75 cm.
F46 Sedimento avermelhado sem horizonte "A",
0579464 7775836 918
arenoso, vegetação arbustiva, profundidade 57 cm.
F47 Sedimento avermelhado sem horizonte "A",
0579381 7775774 925
arenoso, pasto, profundidade 40 cm (Figura 28).
F48 Sedimento avermelhado sem horizonte "A",
0579320 7775691 936
arenoso, pasto, profundidade 50 cm.

24
Figura 21 e 22: Vista geral da AS03.

Figura 23: Furo 32. Figura 24: Furo 35.

Figura 25: Furo 38. Figura 26: Furo 41.

25
Figura 27: Furo 44. Figura 28: Furo 47.

7.2 – Educação Patrimonial

A área prospectada trata-se de uma área na sua maioria plana, porém rodeada de
serras. Não há moradores no entorno, apenas minerações. O povoado mais próximo Nossa
Senhora da Paz, conhecido popularmente de Farofa, fica a aproximadamente 10 km do
empreendimento.

Orlando da Silva Passos (Figura 29), caseiro no entorno da área trabalhada, informa
que em outra área foi encontrado “trem véi de gentil” referindo-se ao material cerâmico de
índio quando lhe foi perguntado. Na região havia uma fazenda a qual foi alagada por água de
uma barragem que arrebentou e arrastou tudo o que tinha pela frente.

Figura 29: Orlando da Silva Passos.

26
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização deste levantamento de campo na área da Empresa de Mineração


Esperança S/A – EMESA, pertencente ao grupo Ferrous Resources do Brasil, foi verificado que,
apesar do local apresentar uma região rica em contexto etnohistórico, a área possui um baixo
potencial arqueológico confirmado com as intervenções superficiais e subsuperficiais
realizadas.

A constatação do baixo potencial arqueológico encontrado na área de pesquisa já era


o esperado devido às condições atuais da área e seu entorno imediato. Dessa forma, seria
muito difícil encontrar algum tipo de vestígio arqueológico, seja histórico e/ou pré-histórico,
considerando também que a área abrange uma porção de um curso d’água (drenagem
superficial), com áreas mais planas apenas onde foram realizadas as tradagens.

Infelizmente não foi uma área que pode contribuir com registros da presença humana
pretérita para uma compreensão acerca da ocupação pré-histórica do Quadrilátero Ferrífero,
apesar da importância local para o Quadrilátero Ferrífero, tanto quanto ao patrimônio cultural
como acerca do desenvolvimento econômico.

Quanto à atividade de educação patrimonial, esta fora realizada juntamente ao


levantamento e reconhecimento da área, quando das entrevistas realizadas, já que, a troca de
informações entre as partes envolvidas é uma constante. Mesmo as pessoas mais simples
sempre têm estórias de antigos para contar ou que se lembram da infância.

______________________***_______________________

Solicita-se por fim ao IPHAN a ANUÊNCIA para a obtenção de Licença Prévia (LP) para a
área da barragem de rejeito e pilha de estéril / rejeito, conforme as considerações
apresentadas neste relatório.

Tal solicitação é feita com base na execução das etapas previstas nos artigos 1, 2, 3 e 4,
da portaria IPHAN 230 de 07 de dezembro de 2002.

27
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOADO, F. C. “Del terreno al espacio: planteamientos y perspectivas para la arqueologia del


paisaje”. CAPA – Cadernos de Arqueologia e Patrimônio, n. 6, 1999.

BRANDT, Meio Ambiente. Contribuição do IBRAM para o Zoneamento Ecológico-Econômico


da APA-SUL da RMBH. 2002.

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DOOR, J.V.N. “Physiografic, stratigrafic and structural development of the Quadrilátero


Ferrifero, Minas Gerais, Brazil”, U.S.G.S., Prof. Paper, Washington, 341 (c):, p.109, 1969.

FAGUNDES, M. Sistema de assentamento e tecnologia lítica: organização tecnológica e


variabilidade no registro arqueológico em Xingó, Baixo São Francisco, Brasil. (Dissertação de
Doutoramento). Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, MAE/USP,
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município etapa leitura da cidade. 2011.

PORTO, F. R. C. ENTRE AS ROCHAS E O RIO: A ocupação dos platôs e a materialidade da


paisagem arqueológica em Antônio Almeida, Piauí, Brasil. Dissertação de Mestrado em
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PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Ed. Unb, Brasília, p. 605, 1992.

LINKE, V. Paisagens dos sítios arqueológicos de pintura rupestre da região de Diamantina -


MG. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Fundação
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VILLAESCUSA, R. G. Una disciplina denominada arqueología del paisage. Apuntes de ciência y


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