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Introdução
O lema da IELB para este ano de 2010 é: Compartilhando experiências da vida com Deus.
Ele visa ir ao encontro de certos clamores dos congregados por sermões menos dogmáticos e
voltados mais para vivências palpáveis do dia a dia na vida cristã.
Em vista disso, os pastores se esforçam, para em seus sermões, compartilharem experiências.
Pessoas voltam de reuniões, congressos e estudos, afirmando: Foi uma grande experiência.
Mas o que é uma experiência? O dicionário Aurélio o define como “um conhecimento que se
obtém pela pratica”. Isto nos leva à pergunta: É possível adquirir uma experiência “pratica com
Deus”? O que seria isso?
Moisés queria ter uma experiência com Deus, mas este lhe respondeu: Não me poderás ver a
face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá (Ex 33.17-23). Deus é um Deus
abscondito (oculto). Nenhum pecador poderá ver sua face. Quando Filipe, discípulo de Jesus,
pediu: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta! Jesus lhe respondeu: Filipe, há tanto tempo
estou convosco, e não me tens conhecido: Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-
nos o Pai... crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das mesmas
obras (Jo 14.8-15). A grande obra que Cristo realizou por ordem do Pai, foi redimir a
humanidade por sua morte na cruz, e os milagres que Jesus realizou, são chamados de “sinais”,
para mostrar que ele é o unigênito Filho de Deus, o Messias prometido, que a razão humana não
pode reconhecer, devido a sua revelação ao contrário, isto é, em humilhação.
A fé cristã
O que é esta fé cristã? Lemos na carta aos hebreus: Fé é a certeza de coisas que se esperam,
a convicção de fatos eu se não vêem (Hb 11.1). É o nascer da água e do Espírito (Jo 3.5), a
nova vida que o Espírito Santo opera ao gerar a fé em Cristo. É reconhecer o amor de Deus em
Cristo, e a Cristo como o verdadeiro Filho de Deus, nosso único e suficiente Salvador, e confiar
nele de coração, contra todos nossos argumentos da razão e todo o nosso sentir.
Vemos isto na virgem Maria. Ela era uma jovem pobre, noiva de um rapaz carpinteiro,
também pobre. O anjo apareceu a ela e lhe anunciou que ela fora escolhida por Deus para se a
mãe do Filho de Deus, o Salvador da humanidade (Lc 1.28-38). Que o Espírito Santo viria sobre
ela e ela ficaria grávida. Que problema Deus arranjou para esta jovem? Quem iria acreditar
isso? O anjo ainda lhe falou a respeito de Isabel. Com ela, Maria poderia falar sobre isso. Maria
foi visitá-la. Após três meses, ela retornou. Sem dúvida falou, agora, a seu noivo sobre sua
gravidez, já visível. Que notícia! O que tudo deve ter passado pela cabeça de José? Ele resolve
abandoná-la. Pois era seu dever denunciá-la, para que fosse apedrejado por causa de uma
relação sexual ilícita (Lv 20.10). Ele a amava e resolveu abandoná-la, deixá-la à sua sorte. À
noite, porém, o anjo do Senhor, em sonho o informa a respeito e lhe ordena, da parte de Deus,
tomar Maria como sua esposa e cuidar de ambos, pois o menino gerado pelo Espírito Santo é o
Messias, o Salvador prometido (Mt 1.18-25). Quanta zombaria os dois devem ser sofrido.
Depois, a ordem do recenseamento (Lc 2.1-7). A estrebaria em Belém. A fuga para o Egito, etc.
Como Deus age ao contrário do que nós esperamos ou imaginamos. Para nossa razão, tudo isso
é loucura. Incrédulos em nossa volta o confirmam constantemente.
Este Deus, em sua santidade e majestade diz: Todos quantos, pois, são das obras da lei
estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece
em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3.10). Ele
realmente amaldiçoa e odeia o pecador, não somente o pecado, mas o que pratica o
pecado, que é culpado de pecado; ao mesmo tempo, em Cristo, Deus ama o pecador e
não quer a sua perdição, mas que o pecador chegue ao conhecimento da verdade, se
arrependa, creia na graça de Cristo e seja salvo (1 Tm 2.4; Jo 3.16; Ez 33.11).
Tentação
A vida sob a cruz é uma vida de tentações. As tentações surgem quando não
conseguimos realizar a caminhada da fé. Quando indagamos sobre a razão do
sofrimento e nos sentimos abandonados por Deus, sim, quando parece que Deus nos
odeia. Parece que Deus se contradiz. Esta é a maior das tentações, quando a pessoa se
vê abandonada e rejeitada por Deus. O diabo aproveita esses momentos para nos tentar
para a incredulidade. Nestes momentos não nos resta outra coisa do que agarrar-nos
firmemente, contra todo o pensar e sentir, à palavra de Deus, pois nela Deus nos fala.
Oração
Onde não se ora não há fé. Lutero nos lembra da dificuldade na oração. Não é fácil a
nós pecadores, colocarmo-nos diante do santo e justo Deus. Estremecemos. E ao mesmo
tempo importa, nestes momentos, não olhar para nossa indignidade, mas para as
promessas de Deus e falar ao nosso Pai celestial, como seus queridos filhos, com toda a
confiança em sua misericórdia.
Muitas vezes Deus nos atende ao contrário. Mas o aparente não atendimento, ou ao
contrário, é o melhor atendimento. Não colocamos a Deus medida nem alvo para seu
auxílio. Mesmo o tirar o sofrimento deixamos a seu encargo. Não queremos agir como
as seitas com ordens a Deus o aqui e agora. Firmados na promessa, temos em fé certeza
que Deus nos atende como melhor nos convém.
A teologia da glória como a teologia da cruz são uma forma de ler e interpretar a
Bíblia. Eles não são uma doutrina específica, mas focam o acento, o ponto de partida na
interpretação das Escrituras.
A teologia da glória procede do calvinismo e perpassa quase todas as denominações
evangélicas. Faz-se sentir, especialmente, no pentecostalismo e nos neopentecostais.
Eles vêem o pecado como uma doença e negam a corrupção total do ser humano
(pecado original). Eles atribuem à razão humana a capacidade de tomar decisões em
coisas espirituais, como por exemplo: decidir-se por Cristo. São, portanto, sinergistas. O
ser humano colabora em sua salvação. Como sinergistas, eles vêem e falam de Cristo
mais como Senhor que deve ser obedecido, do que como Salvador, que nos remiu.
Recentemente um destes pregadores falou sobre: Atitudes. Ele disse o seguinte: Noé
tomou a atitude de obedecer a Deus e tornou-se o salvador da humanidade. Abraão,
mesmo não sabendo para onde iria, tomou a atitude de deixar-se guiar por Deus e
tornou-se o pai da fé (fé como obediência). José, no Egito, tomou a atitude de não
adulterar, e tornou-se vice-rei do Egito. Moisés tomou a atitude de obedecer a Deus e
tornou-se o libertador do seu povo, e assim por diante. Tudo está na ação humana. Tudo
isso é oposto à teologia da cruz
A teologia da cruz tem seu centro no que o apóstolo Paulo afirma: Nós pregamos a
Cristo crucificado (1 Co 1.23). Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se
perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1 Co 1.18). Pois muitos
andam entre vós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando,
que são inimigos da cruz de Cristo (Fp 3.18). A cruz é juízo e consolação. Tudo é
provado pela cruz. Concluímos, pois, que o homem e justificado pela fé,
independentemente das obras da lei (Rm 3.28).
Estamos rodeados pela teologia da glória. Ela invade nossos lares pela mídia e
facilmente pode contagia nosso modo de pensar e a vida congregacional. Por isso
importa vigiar.
Esta teologia afeta especialmente as seguintes áreas da vida congregacional, gerando
ali conflitos com a teologia da cruz.
Conclusão
Este pequeno estudo visou alertar sobre os perigos da teologia da glória, bem como
clarificar em nosso meio o tema: Fé e experiência. Que Deus o abençoe.
São Leopoldo, 04/10/2010
Horst R. Kuchenbecker
Bibliografia
1) Loewenich, Walther von. A Teologia da Cruz de Lutero. Editora Sinodal. São
Leopoldo, RS, 1988.
2) Wengenroth, Karl, The Theeology of the Cross, a theological historical
treatment, apresentado em Antigua, Guatemala, 05/08/1981.
3) Klän Werner e Barnbrock, Christoph. Heilvolle Wende. Edition Ruprecht,
Göttingen, 2010, ps. 114ss.
4) Martinho Lutero, O Debate de Heidelberg. Obras Selecionadas. Vol. I, p. 35ss.
Editora Sinodal, São Leopoldo e Concórdia Editora, Porto Alegre, RS. 1987.
5) Martinho Lutero, Da Vontade Cativa. Obras Selecionadas, vol. IV, p. 11ss.
Editora Sinodal, São Leopoldo e Concórdia Editora, Porto Alegre, RS.1993.
6) Walther, Carl F. W. Lei e Evangelho. Editora Concórdia, Porto Alegre, e Editora
da ULBRA, Canoas. RS. 2005.