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TENHA BONS SONHOS

Por Elvis Brassaroto Aleixo

A revista "Elevação", em sua edição de fevereiro de 2001, trouxe como matéria de capa o
seguinte tema: "Os sonhos não mentem: quando o espírito viaja, manda mensagens.
Prepare-se para interpretá-las".

Mas, será que o nosso espírito viaja enquanto sonhamos? Os sonhos realmente não podem
mentir? Todos os sonhos possuem interpretações? São suas origens sempre divinas? Tais
perguntas exigem respostas satisfatórias. Amparados pela Bíblia (Livro inteiramente
inspirado por Deus e digno de confiança - 2Tm 3.15-1 7) é a que as responderemos.

AIlan Kardec, considerado mestre divino do espiritismo ortodoxo, declara: "O sonho liberta
parcialmente a alma do corpo. Dormindo, ficamos momentaneamente no estado em que, de
modo permanente, ficamos depois da morte. O sonho é a lembrança do que seu espírito viu
durante o sono. Quando o corpo repousa, o espírito tem mais liberdade do que em vigília"1.

A Bíblia ensina que "Deus formou o espírito do homem dentro dele" (Zc 12. 1). Enquanto
vive o homem, seu espírito, em nenhum momento, está separado do corpo e da alma (l Ts
5.23). Esta separação só ocorre com a morte: "Porque, assim como o corpo sem o espírito
está morto..." (Tg 2.26). Isto também pode ser confirmado em Lucas 8.54-55: "Mas ele,
pondo-os todos fora, e pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te menina. E o seu
espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer".
Constatamos, portanto, que o corpo humano físico sem o espírito necessariamente está
morto.

Ora, se concordássemos com a herética doutrina de Allan Kardec, que diz que o nosso
espírito viaja enquanto dormimos, então, à luz da Bíblia, teríamos de admitir que morremos
todas as vezes que dormimos, ou seja, no mínimo uma vez por dia, o que é
veementemente contestado pelas Escrituras, que dizem: "aos homens está ordenado
morrerem uma vez, vindo depois disto o juízo" (Hb 9.27). Morremos uma vez, e não um
número indefinido de vezes!

Ainda deve ser considerado que o "Espírito Santo testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus" (Rm 8.16) e, neste sublime momento, na augusta presença do Senhor,
gozamos da verdadeira liberdade. O apóstolo Paulo diz: "Ora, o Senhor é Espírito; e onde
está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Co 3.17). Definitivamente, o espírito do cristão
tem liberdade mediante sua comunhão com Deus, não estando condicionado à vigília ou ao
repouso do corpo para isso.

Os sonhos não mentem?

Para responder a esta pergunta precisamos entender que os sonhos, em sua natureza
comum, nada mais são do que uma "seqüência de fenômenos psíquicos (imagens,
representações, atos, idéias, etc) que ocorrem durante o sono involuntariamente”2.

Mas, infelizmente, não é isso que diz a revista "Elevação": "Pare por alguns segundos e
pense em alguma relíquia, tesouro, preciosidade ou em algo que tenha um valor
imensurável para você. Pensou? O grau de valor que você atribui para este objeto pensado
você deveria atribuir para os sonhos que você tem"'.

Será que continuamente podemos atribuir a tais ocorrências involuntárias tão grandes
valores? Entendemos que nem sempre os sonhos são importantes ou nos querem dizer
algo, mas que podem ser uma conseqüência da vida corriqueira de todo ser humano
normal: SONHAR! O sábio rei Salomão parece concordar com isto dizendo: "Porque da
muita ocupação vêm os sonhos" (Ec 5.3).

Na verdade, esta pergunta (os sonhos não mentem?) só tem sentido porque alguns deles
podem ser interpretados e estas interpretações podem ser verdadeiras ou falsas. Com isso,
surge outra questão:

Todo sonho possui interpretação?

Qual é o sentido do sonho? Em resposta a esta pergunta, o psicólogo Marcos Fleury se


pronuncia da seguinte maneira: "A interpretação do sonho nunca deve ser fechada, pois
possui uma multiplicidade de níveis de sentido"4. O fato de que todos os sonhos podem ser
interpretados é uma falácia e, para comprovar esta afirmação, citaremos algumas dicas de
certos "expertos" no assunto:

"Faça associações espontâneas em torno destes seis elementos do sonho:

1 Imagens: Interprete-as por meio de metáforas.


2 Personagens: Os diversos personagens de um sonho podem ser traços de sua
personalidade.
3 Sentimentos ou sensações.
4 Enredo do sonho.
5 Frases expressivas.
6 Fazer curta associação exatamente assim: o que cada um destes elementos me lembra?"
5

Como se observa, tudo está baseado no subjetivismo. Através disso, fica evidente por que
os sonhos possuem "multiplicidade de níveis de sentido", pois não existem parâmetros a
serem seguidos. Cada pessoa interpreta-os como quer!

Procurando dar explicações aos sonhos, Allan Kardec pergunta: "Você não conhece
numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonhos e vêm prevenir parentes e
amigos do que vai acontecer? Que são essas aparições senão a alma ou o espírito dessas
pessoas que vêm comunicar-se com o seu?6

Em uma de suas narrativas, Jesus conta a história de um homem rico que, após sua morte
e sepultamento, se viu no inferno, em tormentos. Este rogou a Abraão que o mandasse a
casa de seu pai, pois tinha cinco irmãos e desejava dar-lhes testemunho, a fim de preveni-
los para que não fossem também para aquele terrível lugar. Abraão respondeu-lhe que esta
prevenção seria feita pelos vivos, através dos escritos de Moisés e dos profetas, sendo este
o único meio de ajudá-los (Lc 16. 193 1). Aquele homem não poderia prevenir seus irmãos
nem mesmo através dos sonhos!

As origens dos sonhos


Na Bíblia encontramos algumas maneiras usadas por Deus para comunicar-se com os
homens. Pelos sonhos - revelação pessoal (Jó 33.15-17); pelos Urim e Tumim revelação
sacerdotal (Êx 28.30); e pelos profetas - revelação inspiracional (Hb 1.1). As Escrituras
estão repletas de circunstâncias através das quais os sonhos tiveram verdadeiros
significados para diversos propósitos.

No Antigo Testamento

- O sonho de Abimeleque. Ele é orientado por Deus a não tomar a mulher de Abraão sob
risco de morte (Gn 20.3);
- O sonho de Jacó em Harã. Deus lhe confirma as promessas antes feitas a Abraão e
Isaque de que abençoaria sua descendência por meio de todas as famílias da terra (Gn
28.10-17);
- O sonho de Labão. Ele é alertado por Deus a não praticar o mal contra Jacó (Gn 31.24);
- Os sonhos dos oficiais de Faraó na prisão, através dos quais eles contribuíram depois
para que José fosse introduzido na presença do rei do Egito para interpretar o sonho do
monarca (Gn 40.1-23);
- O sonho de Faraó teve grande importância para os propósitos divinos em relação ao
destino das nações e provisão de um lugar para o seu povo escolhido (Gn 41.1-7);
- O sonho de Salomão. Na ocasião, ele pede a Deus um coração entendido para julgar de
maneira prudente o numeroso povo israelita (1 Rs 3.5);
- E O sonho de Nabucodonosor, rei da Babilônia. Ele ficou perturbado e convocou os
adivinhos para que lhe revelassem seu respectivo significado (Dn 2. 1);

No Novo Testamento

- O sonho de José lhe fez entender que sua noiva, Maria, teria o privilégio de dar à luz o
Salvador, o Messias prometido, por obra sobrenatural do Espírito Santo (Mt 1.20, Is 7.14);
- O sonho dos magos. Eles foram prevenidos por Deus que deveriam partir para suas terras
por outro caminho, visto que Herodes, usurpador rei da Judéia, pediu-lhes orientação
acerca do paradeiro do menino Jesus, porque pretendia matá-lo (Mt 2.12);
- Novamente José teve um sonho que o instruiu a voltar para Israel depois da morte de
Herodes, que resolveu matar todos os meninos com menos de dois anos de idade em
Belém e em todos os seus contornos, o que motivou, no passado, sua fuga com sua família
ao Egito (Mt 2.13-18, Jr 31.15);
- O sofrido sonho da mulher de Pilatos, que aconselhou seu marido a abster-se do
julgamento de Jesus porque verdadeiramente era um homem inocente (Mt. 27.19).

De fato, os sonhos permearam grandes e importantes eventos bíblicos. Dentre diversas


outras maneiras, constituem um meio de comunicação entre Deus e o seu povo: "Em sonho
ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama.
Então o revela ao ouvido os homens, e lhes sela a sua instrução" (Jó 33.15-16). A
importância do sonho é também caracterizada no livro do profeta Joel, onde foram
revelados os principais resultados do derramamento do Espírito Santo: "vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões"
(Jl 2.28). O apóstolo Pedro trouxe à memória, no seu inflamado discurso em defesa do
evangelho, a profecia que se cumpriu nos seus dias quando, em Jerusalém, era celebrada
a importante festa sagrada judaica: o Pentecoste (Jl 2.28, At 2.17-21).

Repercussão do sonho
No meio evangélico, às vezes, por falta de conhecimento bíblico dos cristãos os sonhos
causam grande polêmica. Os irmãos de José, filho de Jacó, conspiraram matá-lo por causa
de seus sonhos (Gn 37.19). A exemplo do que acontece com as profecias, o espírito
hurnano também pode confundir a mensagem dos sonhos como sendo divina (Jr 23.16, Ez
13.2-3). A Bíblia admite a possibilidade de uma profecia ser de inspiração demoníaca como
também humana

Os líderes das seitas, em geral, se valem dos seus sonhos e visões para justificar suas
doutrinas. Colocamos em foco Josué B. Paulino, líder dos adeptos do nome Yehoshua.
Com o propósito de fortalecer seu principal ensino (a pronúncia do nome Yehoshua tem
origem divina e a de Jesus, pagã) declara:

"Em maio de 1995, a minha filha Miriã teve um sonho e assim me relatou: Sonhei que havia
terminado de assistir a um estudo bíblico sobre o nome de Yehoshua e havia ficado
preocupada com o significado deste nome. Então eu estava lendo um livro e nesse livro
aparecia a inscrição: INRI, esse nome brilhava e clareava todo o quarto onde eu estava e
eu senti um grande poder; sentia como que uma voz dizia: INRI significa YEHOSHUA
NAZARENUS REX IUDEAEROUM em latim, em hebraico é YEHOSHUA HANOZRI
WUMELECK HAYCHUDIM (YHWH) e em português, YEHOSHUA NAZARENO REI
DOSJUDEUS.7 (Para refutação, ler matéria de Defesa da Fé, ed. 27, pp.46-53, intitulada
"Resposta aos adeptos do nome Yehoshua").

É inconcebível tomar por verdadeiro algo que contradiz aquilo que já foi revelado por Cristo
e seus apóstolos! Não nos parece razoável acreditar em sistemas doutrinários que tenham
outra fonte de revelação além da Bíblia, a Palavra de Deus. Convém ressaltar o que
sucedia com os falsos sonhadores no Antigo Testamento: "O sonhador morrerá quando falar
em rebeldia contra o Senhor" (Dt 13.5).

Quem poderia interpretar os sonhos?

A revista "Elevação" (p. 59) responde: "O sonho é a manifestação expressiva e criativa da
psique. Sendo assim, trata-se de uma propriedade humana. Portanto, cada um é dono do
seu sonho. Logo, não existe ninguém melhor do que você mesmo para interpretar o seu
próprio sonho, que foi criado por você".

Concernente à interpretação dos sonhos, destacamos que nem sempre eles são
metafóricos. Às vezes, não precisam do menor esforço para que sejam interpretados. Como
exemplo, temos, no Novo Testamento, os sonhos de José e dos reis magos com
significados explícitos. Contudo, não foi este o caso dos sonhos dos reis do Egito e da
Babilônia, que possuíam figuras e representações variadas. Confira a quem foi atribuído o
poder de interpretação nesses últimos exemplos.

-"E Faraó disse a José: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi
dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso
não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó" (Gn 41.15-16).
- "Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me saber
o sonho que tive e sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei, dizendo: O
segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem
declarar ao rei; mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao
rei Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias; o teu sonho e as visões da tua
cabeça que tiveste na tua cama são estes...” (Dn 2.26-28).

O sono dos justos

A indústria cinematográfica de Hollywood, através da conhecida série de terror "A hora do


pesadelo", explorou os maus sonhos que fizeram de seus filmes sucessos de bilheteria. O
principal personagem, Fred Khrugher, tem como função atormentar as vítimas que,
desesperadas, lutam contra o sono para não dormir. A partir daí, começa o terror.

Ao contrário disso, os justos podem dizer: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu,
Senhor, me fazes habitar em segurança" (SI 4.8). Não precisamos temer os sonhos:
"Quando te deitares não temerás; ao contrário, o teu sono será suave ao te deitares. Quer
coma pouco ou muito, doce é o sono do trabalhador" (Pv 3.24).

Sonhos. Podemos confiar neles? Estejamos atentos e aptos para avaliar esta questão.
"Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido" (1 Co 2.15).

Quer se lembre deles, quer não, tenha bons sonhos!

Notas:

1 "Elevação", edição no. 51 Fevereiro 2001, p. 58.


2 Dicionário Novo Aurélio Século Dg. Editora Nova Fronteira. 3 "Elevação", edição nº 5/
Fevereiro 2001, p. 56.
4 "Elevação", edição nº 5/ Fevereiro 200 1, p. 59.
5 " Elevação", edição nº 5/ Fevereiro 200 1, p. 6 1.
6 "Elevação", edição nº 51 Fevereiro 2001, p. 58.
7 "Um desafio ao cristianismo", Josué B. Paulino, p. 40.

Fonte: http://www.icp.com.br/38materia3.asp

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