A Formação acadêmica contemporânea e o modo de produção capitalista
Podemos observar atualmente na formação acadêmica feita por instituições
privadas uma estrutura semelhante ao modo de produção capitalista, onde o aluno é visto como um objeto a ser moldado para servir aos interesses do mercado e não como um indivíduo que possui características subjetivas, humanas. A universidade se preocupa a princípio em transmitir o conteúdo da forma mais eficiente possível, para “produzir“ um novo profissional para ser inserido no mercado e atender à demanda de determinada área. A educação universitária privada contemporânea – à exceção de universidades públicas ou algumas poucas comprometidas com a formação intelectual do indivíduo enquanto sujeito – visa tão somente adequar o sujeito ao conteúdo teórico que este precisa dominar para ser produtivo na sociedade; os indivíduos se tornam então, de modo semelhante aos funcionários de uma fábrica nos moldes tayloristas, meras ferramentas para a obtenção de lucros das empresas nas quais eventualmente venham a trabalhar posteriormente. Assim sendo, o modelo capitalista de “produção” de profissionais afasta o homem do que deveria ser um processo de autoconhecimento, de formação intelectual, onde este poderia se desenvolver e aprimorar-se com objetivos menos pragmáticos que os da inserção no mercado, mas muito mais importantes, considerando a importância que há na educação para a compreensão do homem e do mundo que o cerca. Tal processo de alienação do homem de si mesmo termina por gerar uma infinidade de psicopatologias, já que ele não se encontra em busca de nada mais que o “sustento”, o alimento para o corpo, sendo este ineficaz para a alma (enquanto psique), e deixa de lado outros aspectos relevantes para o desenvolvimento do sujeito, deixando de atender às demandas subjetivas e tirando deste a possibilidade de pensar e produzir conhecimento, de se auto-conhecer (sendo este o objetivo maior de toda personalidade, segundo Jung, quando o homem durante sua vida busca compreender-se e ter contato com o self). Então por fim temos profissionais insatisfeitos enquanto indivíduos, e que seguindo o modo de vida capitalista, buscam nos bens materiais a completude que não obtêm da vida e de si mesmos. Porém os bens materiais não suprem a falta dos aspectos psicológicos e os profissionais se tornam logo pessoas infelizes com a vida, ou no máximo escondendo sua infelicidade atrás de tais bens, como sempre fica implícito em frases como “não posso reclamar, tenho uma vida boa, afinal tem pessoas que passam fome”. É preciso refletir – enquanto ainda podemos – se é este o papel que queremos exercer e modelo de sociedade que queremos e que pretendemos deixar para as gerações futuras: uma sociedade talvez com algum poder aquisitivo, mas vazia e infeliz. Enquanto a educação visar qualquer coisa além da compreensão do homem e do desenvolvimento das potencialidades humanas para o conhecimento (de si e do mundo que o cerca), estaremos nos afastando de nós mesmos, nos tornando meras ferramentas de um mercado capitalista que apenas visa o lucro, conhecendo apenas o prazer fugidio de bens materiais, quando poderíamos ir muito além, como diria o oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo, e conhecerá os deuses e o universo”.