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ATUALIZAÇÃO/CURRENT COMMENTS

A epidemiologiados "edifícios doentes"


Theodor D. Sterling*, Chris Collett**, Davi Rumel***

STELING, T.D. et al. A epidemiologia dos "edifícios doentes". Rev. Saúde públ., S. Paulo,25:
56-63 , 1991. O meio ambiente interno dos edifícios modernos, especialmente aqueles designados
para uso comercial e administrativo, constitui nicho ecológico com seu próprio meio bioquímico,
fauna e flora. Sofisticados métodos de construção e os novos materiais e equipamentos
necessários para manter o meio ambiente interno destas estruturas fechadas produzem grande
número de sub-produtos químicos e permitem o desenvolvimento de diversos microorganismos.
Estes edifícios, por serem hermeticamente fechados, apresentam um dilema quanto a regulagem
da umidade e temperatura do ar que circula pelos duetos, uma vez que diferentes espécies de
microoganismos se desenvolvem em diferentes combinações de umidade e temperatura. Se o meio
ambiente interno dos edifícios fechados não for mantido de forma adequada, pode se tornar
nocivo para a saúde dos seus ocupantes. Nessas condições, edifícios fechados, são chamados de
"Edifícios Doentes". Apresenta-se uma revisão da epidemiologia das doenças ocasionadas por
esses edifícios fechados, etiologia das doenças dos ocupantes, origens das substâncias tóxicas e
métodos possíveis para manter um ambiente interno seguro.

Descritores: Poluição do ar, efeitos adversos. Poluentes ocupacionais do ar, efeitos adversos.
Doenças ocupacionais, epidemiologia.

Introdução atrás. Apesar do tipo de estrutura da habitação e


do local de trabalho poder ter profunda influência
A doença tem sido freqüentemente associada na saúde das pessoas, antecedentes de doenças não
com o tipo e uso das estruturas que as pessoas ocu- costumam ser relacionados com a estrutura da
pam e seus costumes. A comida, bebida, excreções construção.
do organismo e outras substâncias orgânicas su- No início do século XX tornou-se proeminente
portam o desenvolvimento de microorganismos. na América do Norte e Europa um novo tipo de es-
Ao mesmo tempo que se descobriram os vetores trutura utilizada para edifícios públicos com fins
através dos quais microoganismos infecciosos in- administrativos ou comerciais. A medida que es-
vadem o homem, surgiram inovações na tecnolo- ses edifícios cresciam em tamanho, criaram um
gia de construção de edifícios, de eletrodomésticos meio ambiente propício a problemas pelo grande
(para cozinhar, armazenar e preservar alimentos) e volume de ar contido. Os subprodutos dos equipa-
de eliminação de dejetos, que ajudam a conservar mentos utilizados para fazer funcionar esses
o meio ambiente interno de um edifício razoalvel- edifícios criaram problemas. A necessidade de
mente livre de agentes infecciosos nocivos. Não sucção de ar externo, aquecimento, resfriamento,
obstante, produtos químicos tóxicos ainda são en- distribuição e eliminação dos subprodutos prove-
contrados em ambientes fechados, mas raramente nientes da presença humana e dos equipamentos
são reconhecidos como fonte de doença. A relação criaram a necessidade de instalação de grande
entre os sub-produtos da combustão de biomassa número de duetos através de todas as estruturas
em ambientes internos (como madeira, carvão, dos edifícios. Esta demanda levou a projetos de
querosene e gás natural) e subseqüentes doenças edifícios suficientemente amplos para acomodar
crônicas, não era reconhecida até pouco tempo os equipamentos necessários e possibilitar o tra-
balho das pessoas. No entanto, a idéia principal
das primeiras construções não era eliminar a po-
* School of Computing Science. Faculty of Applied luição interna, mas sim prevenir a infiltração da
Sciences. Simon Eraser University. Burnaby, B.C. Cana- poluição externa, como a fuligem proveniente da
da V5A 1S6. combustão do carvão utilizado em indústrias e re-
** Theodor D. Sterling and Associates Limited. Suite 20, sidências. No início procurou-se controlar o clima
1507 W 12th Av. Vancouver, B.C. Canada V6J 2E2.
*** Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde interno pela manutenção de uma temperatura ade-
Pública da Universidade de São Paulo - Av. Dr. Arnaldo, quada, purificação do ar proveniente da sucção ex-
715 - 01255 - São Paulo, SP - Brasil. terna e sua distribuição no edifício.
Esta alteração inicial do estilo dos edifícios ou constante lacrimejamento), problemas nasais
teve o respaldo do desejo de eliminar os vão cen- (constipação nasal, coriza ou irritação nasal), pro-
trais de luz dos edifícios. Estes vãos ocupam um blemas de garganta (secura, dor ou irritação), pro-
espaço que pode ser utilizado nos edifícios comer- blemas no tórax (sensação de opressão e dificuldade
ciais com um local adicional de trabalho. respiratória), fadiga e letargia (sonolência e debili-
Aprender a fornecer energia e a manter esses dade), anormalidades na pele (secura, coceira ou ir-
grandes edifícios de escritórios ocupou a primeira ritação), e problemas para manter a concentração no
metade do século XX. Ao fim da década de 60, os trabalho (Sterling e Sterling38, 1983; Hedge22,23,
edifícios nas zonas comerciais das cidades moder- 1984; Finnegan e col.13, 1984; Robertson e col.34,
nas começaram a mudar. Novos prédios fechados e 1985). Em quatro estudos a prevalência de queixas
altos foram construídos e dependiam de sistemas nos ocupantes dos edifícios fechados foi pelo menos
mecânicos para controlar seu ambiente interno. Os o dobro que nos ocupantes dos edifícos ventilados
prédios com janelas que se podem abrir e o aqueci- de forma natural. (Turiel e col.41,1983; Hedge22,23,
mento do vapor de água foram substituídos por es- 1984; Finnegen e col13, 1984; Robertson e col.34,
truturas com ductos de ar que eram resfriados ou 1985). Outros sintomas como: erupção, irritação e
aquecidos por um equipamento centralizado. Os secura da pele, náusea, vertigem e problemas respir-
avanços na química tornaram possível a utilização atorios (chiado, falta de ar e sensação de opressão
de novos materiais para cobrir pisos e paredes e para têm sido sugeridos como mais prevalente nos
fabricar móveis. Cabe ressaltar as resinas de for- edifícios fechados (WHO42, 1983; Stolwijk e
maldeído, utilizadas em grande quantidade em Pierce39,1984; Hawkins21,1985). Por último, em al-
móveis de madeira aglomerada, divisórias e materi- guns edifícios tem havido aumento de abortos es-
al colante para fixar carpetes. Uma grande diversi- pontâneos. Esses relatos não têm sido levados em
dade de equipamentos foi introduzida, entre os consideração devido à dificuldade de avaliação dos
quais as fotocopiadoras e certos tipos de ar condi- mesmos.
cionado, que talvez estejam entre os mais impor- Cabe ressaltar a investigação realizada por
tantes sob o ponto de vista epidemiológico. Para Hedge e col.24 (1986). A Tabela 1 compara os sin-
limpeza de grandes superfícies de carpetes utili- tomas referidos por 796 ocupantes de três edifícios
zam-se shampoos e outros produtos de limpeza de fechados e 214 ocupantes de dois edifícios com
porte industrial, que podem deixar resíduos tóxicos. ventilação natural. Os dados foram coletados usan-
Filtros são usados para purificar o ar que circula no do um questionário padronizado que perguntava o
ambiente interno e em conjunto com os sistemas de quão freqüentemente os ocupantes tinham experi-
duetos converteram-se em criadouros de vários ti-
pos de microorganismos (como também os car-
petes). Em resumo, os edifícios modernos fechados
brindaram-nos com as necessárias condições para
criar um nicho ecológico complexo que se tornou
uma possível fonte de doenças para o homem. Nos
anos recentes esses modernos edifícios fechados
foram e continuam sendo construídos no Brasil,
principalmente nos grandes centros urbanos.

Causalidade das Doenças dos Edifícios


Fechados

Desde o início da década de 70, os trabalhadores


de centenas de modernos edifícios fechados na
América do Norte e na Europa Ocidental têm relata-
do um complexo de queixas relativas à saúde e con-
forto (Berglund e col.3, 1984). Esses edifícios são
comumente referidos como edifícios doentes e a epi-
demia de queixas de seus ocupantes foi definida pela
Organização Mundial da Saúde como "Síndrome do
Edifício Doente" (WHO42,1983). Edifícos doentes
são identificados por uma alta prevalência de sinto-
mas em seus ocupantes, que incluem: dor de cabeça,
problemas nos olhos (irritação, dor, secura, coceira
mentado determinados sintomas durante o traba- mudança do local de trabalho de um edifíco antigo
lho. As respostas foram registradas em quatro ca- com ventilação e iluminação natural para um
tegorias: nunca, raramente, algumas vezes e sem- edifício moderno-fechado. Neste estudo foram co-
pre. A Tabela apresenta a percentagem dos letados dados por um período de um ano antes e
ocupantes que registraram sintomas nas catego- sete meses depois da mudança de local de traba-
rias: algumas vezes e sempre. lho. A percentagem de dias de absenteísmo foi cal-
Foi encontrada prevalência maior de sintomas culada para todos os membros. O grupo de estudo
entre os ocupantes de edifícios fechados, com sig- serviu como seu próprio controle, possibilitando a
nificativas diferenças em 15 dos 22 sintomas. Os comparação das taxas de absenteísmo antes e de-
significantemente maiores podem ser agrupados pois da mudança para o edifício fechado. A Figura
em gerais (dor de cabeça, fadiga, sonolência, fra- 1 apresenta a percentagem de dias de absenteísmo
queza, tontura e enjôo) e sintomas relacionados a do grupo de estudo entre o começo de agosto de
irritação da membrana mucosa (irritação ocular, 1978 e o fim de fevereiro de 1980. A linha sólida
nasal e de garganta, resfriado, dificuldade para vertical divide o gráfico em duas partes, antes e
focalizar e dificuldade respiratória). A prevalência depois da mudança. Não há uma tendência na taxa
de sintomas relacionados a fatores ergonômicos de absenteísmo antes da mudança. Na maioria das
como dor nas costas, dor no pescoço e dor muscu- semanas o absenteísmo era abaixo de 3% e não
lar foram similares em ambos os tipos de edifícios, houve nenhuma ausência em 40% das semanas. A
sugerindo a validade das diferenças encontradas linha pontilhada é o melhor ajuste resultante do
para os outros sintomas. modelamento da equação linear dos dados do
O efeito de um edifício fechado na taxa de período de tempo prévio à mudança. A inclinação
absenteísmo de seus ocupantes foi demonstrado desta linha não varia significativamente em
em um estudo realizado por Sterling e Sterling38 relação a zero. O coeficiente de determinação (r2)
(1983), com um grupo de trabalhadores de es- entre a taxa de absenteísmo e o tempo é de 0,03 e
critório em Vancouver, Canadá, por ocasião da o coeficiente de correlação (r) é -0,17 indicando
que não há uma tendência crescente (ou significa- suprimento de ar fresco (Salisbury36, 1981; Mac-
tivamente decrescente). A linha sólida é o melhor Manus30,1985; Chio e Piacitelli4,1985). Um resu-
ajuste dos dados para o período depois da mu- mo sobre o que é conhecido das causas específicas
dança. O r2 neste caso é 0,53 e o r é 0,73 (p da síndrome do edifício doente foi fornecido pela
<0,01). Esta tendência significativa demonstra NIOSH, em 1984. Os resultados de 203 investi-
claramente que o absenteísmo aumentou logo após gações levadas a cabo por esse instituto, até o fim
a mudança para o edifício novo. de 1983, foram revistos e tabulados pelo Health
Hazards Evaluation Branch desse mesmo Instituto
(Melius e col.31,1984). Destes 203 estudos, 17,7%
Causas Específicas dos Edifícios Doentes dos sintomas foram atribuídos à contaminação do
ar pelo meio interno (p. ex., substâncias de produ-
Numerosos estudos de edifícios doentes identi- tos de limpeza ou fotocopiadoras), 10,3% à conta-
ficaram causas específicas das queixas de saúde que minação do ar pelo meio externo (p. ex., locali-
permitem eliminá-las através de medidas apropria- zação errônea dos funis de entrada de ar
das. Estes estudos oferecem importantes infor- permitiram a aspiração de fumaça de gasolina de
mações de como prevenir epidemias em edifícios garagens ou estacionamentos de ônibus), 3,4% à
fechados. Em 1982, registros de estudos de edifícos contaminação por materiais de construção (p. ex.,
doentes deram origem a um banco de dados organi- gás de formaldeído proveniente de divisórias e
zado por um grupo de pesquisa do Canadá (Collett e móveis de aglomerados, colas e resinas de car-
col.7, 1987). Este arquivo contém dados de quase pete), 40,3% à ventilação inadequada*, 3% à
500 edifícios estudados na América do Norte e Eu- pneumonite hipersensitiva (freqüentemente causa-
ropa Ocidental (a maioria localizada nos EUA). da pelo desenvolvimento de microorganismos em
Esses estudos foram realizados por higienistas in- umidificadores), 2% à fumaça de cigarro, 4,4% à
dustriais e investigadores do "National Institute on umidade e 1,0% ao barulho e iluminação. Os 10%
Ocupational Safety and Health" (NIOSH), Center dos estudos restantes não identificaram uma causa
for Disease Control (CDC), ambos dos EUA, além específica para os sintomas.
de várias entidades municipais, estaduais, universi- Uma revisão realizada pelo Health and Welfare
dades e outros centros de pesquisa. Canada, de 94 edifícios, chegou a resultados seme-
Algumas das causas específicas relacionadas lhantes (Kirkbride26, 1985). Nessa citada revisão,
com os edifícios doentes encontrados no citado 68% dos sintomas foram atribuídos à ventilação
banco de dados incluem: inadequada (p. ex., pouca circulação do ar, inade-
Formaldeído: Proveniente de isolantes térmicos quado suprimento de ar fresco e precário controle
(Gunter e Thorburn20, 1981; Fannick12, 1981) e da umidade e temperatura), 10% à contaminação
desprendimento de gás de materiais que contêm externa (p. ex., gás de escapamento de motores de
resinas de formaldeído (Chrostek5,6, 1981; veículos), 5% à contaminação do ambiente interno
Konopinski27,1980; Coye e Belanger9,1982). (p. ex., fotocopiadoras e fumaça de cigarro), 2% aos
Produtos de limpeza: Proveniente dos resíduos de materiais de construção (p. ex., formaldeído, colas e
shampoos de limpeza de carpete (Kreiss e col.29, adesivos a base de substâncias orgânicas), e 15 % de
1981; Robinson e col.35,1980). causas desconhecidas. Devido à preocupação es-
Solventes: Preveniente de tinta fresca em áreas pecífica com fumaça de cigarro, todos os estudos da
mal ventiladas (Thobum40, 1981) e máquinas im- NIOSH e HWC deram especial atenção à fumaça de
pressoras (Gunter18,1981). cigarro como a possível,causa da síndrome dos
Percloroetileno: Proveniente da lavagem a seco: o edifícios doentes. É interessante notar que a fumaça
vapor foi encontrado em outras salas do mesmo de cigarro foi considerada como a causa principal
prédio (Thoburn40,1981). das queixas somente em 2% a 5% dos edifícios estu-
Fibra de vidro: Disseminado através do sistema de dados.
ventilação (Kreiss28,1981).
Ozônio: (Shoemaker37,1977; Gunter19,1981).
Escapamento de automóveis: Infiltração através Substâncias Químicas nos Edifícios
do sistema de ventilação (Nudelman32,1979). Modernos
Fotocopiadoras: gases provenientes de aquecimen-
to de óleo e uso de álcool metílico (Pryor e Uma grande variedade de substâncias químicas
Reno33, 1981; Apol1, 1981; Fannick11, 1980; vêm sendo identificadas na atmosfera dos edifícios
Chrostek5,6,1981). modernos de escritórios. Algumas delas são co-
As causas da síndrome do edifício doente não
são identificadas com freqüência . Entretanto, os
sintomas costumam ser resolvidos aumentando o * "Alta proporção de ar reciclado ou fluxo inadequado"
nhecidas como associadas a diversas doenças. Um de ventilação e em todos os lugares onde pode
resumo dessas substâncias foi compilado pela haver umidade. Bactérias, vírus, fungos e mi-
"United States Environmental Protection Agency" croácaros penetram nos edifícios junto com o ar
(EPA) e publicada pela "Environmental Protection fresco na roupa, cabelo e pele de seus ocupantes.
Agency Indoor Air Quality Implementation Plan" Alguns destes microoganismos podem causar da-
(EPA)10 (1987). nosas reações fisiológicas nos seres humanos.
O relatório da EPA listou 73 poluentes do meio Talvez, o melhor exemplo conhecido da viru-
interno ainda que não necessariamente presentes lência dos micróbios que podem se desenvolver
nos edifícios em níveis de concentração tóxica. em ambientes fechados é a "doença dos le-
Destas 73 substâncias, 38 provêm de materiais de gionários" ou legionelose. Esta enfermidade sur-
construção e equipamentos, 26 da evaporação de giu após um surto epidêmico de pneumonia num
água potável, 17 da contaminação do ar externo, grupo de legionários que estavam participando
12 da fumaça de cigarro e 9 da fumaça de veículos numa convenção da Legião Americana, num hotel
estacionados em garagens. de Filadélfia, em 1976. É uma reação à invasão da
A lista da EPA demonstra que há múltiplas bactéria Legionella pneumophillia. Esta bactéria
fontes de contaminação química, muitas tóxicas. requer a presença de certas algas para se desenvol-
Devido a esta multi-exposição o melhor método ver, usualmente encontradas nas torres de resfria-
para lidar com essas substâncias é identificá-las, mento de sistemas de ventilação centralizado
evitá-las ou diluí-las adicionando uma adequada (Fraser e col.15 1977). A "febre de Pontiac", cujo
quantidade de ar fresco. nome provém de um edifício localizado na cidade
de Pontiac, Michigan, USA, é uma síndrome que
foi identificada como causada por uma cepa de Le-
Ecologia do Meio Ambiente Interno gionella pneumophillia (Kaufmann e col.25,1981).
Casos dessas doenças são diagnosticados ocasio-
Uma regra geral da ecologia é que todo lugar nalmente, com freqüência relacionados com a
que seja capaz de desenvolver vida será ocupado precária manutenção das torres de resfriamento
por uma forma de vida. Isto é verdade também (Friedman e col.16,1987; Garbe17,1985; Conwill e
para o ambiente interno. Existem inúmeras col.8, 1982; Kaufmann e col.25, 1981; Fisher-Hoch
substâncias necessárias para a vida nos edifícios e col.14,1981)
fechados, especificamente nos duetos de sistemas A "doença dos legionários" é somente a ponta
de um iceberg. Existem inúmeros locais e con- (Sterling e Sterling38, 1983). Uma grande quanti-
dições ambientais num edifício onde microorga- dade de ar ventilado passava através de fontes de
nismos infecciosos podem se desenvolver. A Figu- iluminação ultravioleta. Esta emitida pelo sol so-
ra 2 descreve a relação entre umidade e bre a poluição atmosférica é uma das causas do
desenvolvimento de vários tipos de bactérias, "smog" em cidades como São Paulo, por exemplo.
vírus, fungos, microácaros, infecções respiratórias, De forma similar, emissões de ultravioleta a partir
reações atópicas e ainda interações químicas e pro- de lâmpadas fluorescentes podem causar a for-
dução de ozônio (Arundel e col.2,1986). Esta figu- mação de um "smog" interno. O citado estudo de-
ra mostra que o crescimento de microorganismos é monstrou que o sistema de ventilação não deve ser
minimizado quando a taxa de umidade nos acoplado ao sitema de iluminação e que lâmpadas
edifícios é mantida entre 40% e 60%. Devido à fluorescentes devem ser evitadas.
taxa de umidade em muitas regiões no Brasil, pro- Apesar do conhecimento sobre doenças causa-
blemas associados com o excesso de umidade no das por edifícios fechados provir de estudos reali-
meio interno devem ser de particular interesse. zados na América do Norte e Europa, muitos dos
mesmos problemas devem existir no Brasil. Um
número crescente de edifícios fechados vêm sendo
Conclusão construídos nas áreas comerciais de várias cidades
brasileiras. Porém, raras são as pesquisas sobre
Edifícios fechados criam um ambiente interno edifícios doentes em climas tropicais. Este deve
ainda pouco estudado e que pode ser hostil a seus ser um importante campo de pesquisa para aqueles
ocupantes. Não há uma solução única e simples preocupados com a saúde ocupacional de nosso
para este problema devido a multicausalidade dos futuro.
eventos que levam a reações fisiológicas nos ocu-
pantes de edifícios fechados. Uma adequada venti-
STERLING, T.D. et al. [The epidemiology of "sick
lação e suprimento de ar fresco elimina ou minimi- buildings"]. Rev. Saúde públ, S. Paulo, 25: 56-63, 1991.
za muitas das irritações em olhos, nariz, garganta e The indoor environment of modern buildings, especially
pele causadas por substâncias químicas presentes those designed for commercial and administrative
no ar provenientes do meio interno. Porém, uma purposes, constitutes a unique ecological niche with its
adequada ventilação atinge níveis de pureza do ar own biochemical environment, fauna and flora.
dependente da qualidade do ar externo. Sophisticated construction methods and the new
A tecnologia moderna pode melhorar e manter a materials and machinery required to maintain the indoor
pureza do ar interno em relação ao ar externo. Por environment of these enclosed structures produce a
exemplo, sistemas de filtro adequados podem re- large number of chemical by-products and permit the
mover a maioria da poeira proveniente do ar exter- growth of many different microorganisms. Because
modern office buildings are sealed, the regulation of
no, e sistemas de ar condicionado e controle de tem- humidification and temperature of ducted air presents a
peratura podem ser ajustados a específicas dilemma, since difference species of microorganisms
condições climáticas. Porém, essas tecnologias de- flourish at different combinations of humidity and
vem ser aplicadas com um claro entendimento dos temperature. If the indoor environment of modern office
possíveis efeitos negativos de seu uso na saúde hu- buildings is not properly maintened, the environment
mana. Apesar dos filtros removerem poeiras inde- may become harmful to its occupants' health. Such
sejáveis e partículas respiráveis do ambiente exter- buildings are classified as "Sick Buildings". A review of
no, esses filtros também são um meio de the epidemiology of building illness is presented. The
crescimento de uma variedade de bactérias e outros etiology of occupant illnesses, sources of toxic
agentes infecciosos. Entretanto, filtros podem ser substances, and possible methods of maintaining a safe
indoor environment are described.
trocados regularmente como parte das despesas de
manutenção de um edifício. Semelhantemente, aer- Keywords: Air pollution, adverse effects. Air pollutants,
osóis provenientes de torre de resfriamento podem occupational, adverse effects. Occupational diseases,
não alcançar os funís de entrada de ar puro com uma epidemiology.
adequada instalação. Os funis de entrada também
devem ser localizados longe do nível das ruas, de
garagens de automóveis e do de saída do ar interno. Referências Bibliográficas
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