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JUSTIÇA FEDERAL

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO JOÃO DEL REI

PROCESSO N. : 2396-58.2015.4.01.3815

PARTE AUTORA : MARILEA MARIA DE PAIVA


PARTE RÉ : INSS

SENTENÇA '

Relatório dispensado nos termos do art. 38 da Lei n. 9.099/95 c/c art 1° da I ei n


10.259/01. ' J '

Trata-se de açao veiculando pedido de concessão de aposentadoria por invalidez.

Preliminarmente, afasto a preliminar de incompetência alegada pelo INSS em sede


de contestação, porquanto não se trata de demanda que verse sobre auxflio-doença acidentário,
uma vez que conforme resposta do perito ao quesito 02°, do laudo pericial de fls.58/61, não há
elementos para estabelecimento de nexo entre os sintomas/sinais apresentados pela autora e o
trabalho.

Superada a questão, passo a enfrentar o mérito da controvérsia.

Analisando os artigos 42 e 59, ambos da Lei n. 8.213/91, infere-se que são requisitos
comuns à concessão de auxflio-doença e aposentadoria por invalidez a qualidade de segurado e o
cumprimento da carência mínima de 12 (doze) contribuições mensais, quando exigida. Tais
benefícios possuem a mesma natureza e idêntica finalidade, que é garantir ao segurado meios
necessários à sobrevivência em caso de superveniência de incapacidade para o trabalho.

O deferimento de um ou de outro benefício dependerá das características da


incapacidade. Sendo esta temporária e obstando o exercício das atividades habituais do segurado,
ensejará a concessão de auxflio-doença. Ao contrário, se for definitiva e houver impossibilidade
de reabilitação profissional do segurado, a hipótese será de concessão de aposentadoria por
invalidez.
Na hipótese vertente, o laudo médico de fls. 58/61 noticiou que a autora, ajudante
de cozinha, 50 anos, é portadora de labirintite - H83.0, de maneira que estaria parcial e
temporariamente incapacitada para o exercício de sua atividade laborativa habitual. Quanto
ao início da incapacidade, o perito asseverou à fl. 60 que esta se deu em 01/02/2015, contudo
percebe-se que houve erro material na fixação da data de início da incapacidade, uma vez que na
resposta ao quesito 10 do laudo pericial, o perito afirmou que fixou a data de início da
incapacidade em dia posterior à data da cessação da incapacidade laborativa proposta pela perícia
do INSS (30/01/2015). Sendo assim onde constou a data de 01/02/2015, na verdade, deveria
constar a data de 31/01/2015 (dia imediatamente posterior à data de cessação do benefício).

1 Tipo A (Resolução n, 535/06 do CJF).

Autos n. 2396-58.2015.4.01.3815
JUSTIÇA FEDERAL
SÃO JOÃO DEL REI

Dessa forma tenho por comprovada a incapacidade da parte autora, apta a justificar o
^n^n^ de auxSio-doença desde ^^^^ ^
(30/01/2015). Dada a natureza temporária da incapacidade, não e o caso d
aposentadoria por invalidez.
Cumpre ressaltar que incide «> prindpio da fung.bihdade nas ações

. concebo o beneficio adecuado, em face da


qucen™le o assunto, não havendo que se falar em julgamento «fc» ou «*»^te
Quanto aos demais requ,sitos, o cumprimento do período de carência e a qualidade
de seguradoi autora a época do surgimento ^^,^^^^o ™

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contribuições, sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício.
A autarquia alegou em contestação (B.70) que a autora continuou trabalhando no
neríodo de 01/02/2015 a 18/06/2015. Por conseguinte, segundo a autarquia, durante este
p ríodo em que a parte autora supostamente desempenhou atividade laboraUva remunerada ha
fmpoSde de^c acumular beneficio por incapacidade com remuneração, não havendo que
TfaTar em concessão e pagamento de auxflio-doença. Não prospera as alegações da parte ré,
Primevo porque conforme CNIS de fl.76 não consta que a autora tenha trabalhado no período
aCdo 'pela autarquia (01/02/2015 a 18/06/2015). Segundo, porque mesmo que a autora
ulTse deP5envIido auvidade laborativa no período, não havena nenhum óbice ao recebimento
do benefício, uma vez que nos termos da súmula n. 72 da TNU2 e poss.vel o recebimento de
benefício por incapacidade do segurado que exerceu atividade laborativa remunerada no penodo
em que este se encontrava incapaz.
Estão, pois, induvidosamente preenchidos todos os requisitos legais, de modo que a
implantação do benefício de auxflio-doença é medida que se impõe.

No cjue tange à data de início do benefício, a Turma Nacional de CJniformização de


Jurisprudência firmou entendimento no sentido de que o termo inicial dos benefícios, seja por
incapacidade, seja no de prestação continuada deve ser assim fixado: a) na data da realização da
perícia médica, se o médico não precisar o início da incapacidade e o jui/ não possuir outros
elementos nos autos para sua fixação (Precedente: PEDILEF 20093600702?>962); b) na data d<,
requerimento administrativo, se a perícia constatar a existência da incapacidade em momento
anterior a este pedido (Precedente: PEDILEF 00558337620074013400); e c) na data do
ajuizamento do feito, se não houver requerimento administrativo e a perícia constatar o inicio da
incapacidade em momento anterior à propositura da açao (Precedente: PEDILEF
00132832120064013200). Em todos os casos, se privilegia o princípio do livre convencimento
motivado que permite ao magistrado a fixação da data de início do benefício mediante a análise
do conjunto probatório (Precedente: PEDILEF 05017231720094058500).

2 Súmula n. 72 da TNU: É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período erçi 4pe hou\
exercício de arividade remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as advidades IhabituaA
na época em que trabalhou.
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AUTOS n. 2396-58.2015.4.01.3815
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SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO JOÃO DEL REI

No caso vertente, tendo o perito fixado o início da incapacidade em 31/01/2015 e


tendo a autora estado em gozo de auxílio doença no período compreendido entre 02/01/2015 a
30/01/2015, faz ela jus ao restabelecimento do beneficio de auxílio-doença (NB
609.078.231-2), devendo a DIB ser fixada em 31/01/2015, dia imediatamente posterior à
cessação indevida.

Cumpre ressaltar que é possível a suspensão de um benefício por incapacidade


concedido em sentença judicial, se posteriormente o segurado se submete à perícia e a
administração constata a ausência dos requisitos para a permanência de percepção do auxílio-
doença ou da aposentadoria por invalidez. Isso porque o art. 101 da Lei n. 8.213/91 resguarda o
direito de a autarquia previdcnciária submeter o segurado em gozo de auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez à realização de novas perícias médicas, com o objerivo de averiguar
se subsiste a incapacidade.

Esclareço, ainda, que à parte autora é assegurado o direito de requerer


administrativamente o benefício de aposentadoria por invalidez ou ajuizar nova ação, no caso de
progressão e/ou agravamento da patologia que o acomete e que venha a alterar sua condição
atual de forma a autorizar a concessão do benefício requerido, nos termos da Lei n. 8.213/91.

Este o quadro, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido e, por


conseguinte, resolvo o mérito do presente processo, nos termos do art. 487, I, do CPC,'para
condenar o INSS a restabelecer, em favor da parte autora, o beneficio de auxilio-doença
desde 31/01/2015 (dia imediatamente posterior a cessação indevida do benefício n
609.078.231-2).

Condeno o INSS, ainda, ao pagamento das parcelas vencidas com atualização e juros
de mora na forma prevista no Manual de Cálculos da Justiça Federal, observadas a prescrição
quinquenal e a limitação dos cálculos a 60 (sessenta) salários-mínimos na data do ajuizarnento,
conforme cálculos anexos, que passam a integrar o presente deásum.

Defiro a tutela específica da obrigação de fazer, com fundamento no art. 497 do


Código de Processo Civil, para a imediata implantação do benefício, diante da natureza alimentar
da prestação e da ausência de efeito suspensivo, como regra, ao recurso processual cabível.

Intime-se a APSADJ/INSS para a implantação do benefício de auxílio-doença no


prazo de 30 (trinta) dias, com base nos parâmetros abaixo:

BENEFICIÁRIO(A) MARILEA MARIA DE PAIVA


CPFN. 100,591.606-32
BENEFÍCIO CONCEDIDO Restabelecimento do auxílio-doença
NB 609.078.231-2
DIB 31/01/2015
DIP 1°/04/2016
RMI: R$ 788,00(conforme INFBEN em anexo)
VALOR DOS ATRASADOS, QUE R$ 13.083,16 (treze mil, oitenta e três reais e
SERÃO PAGOS VIA RPV E dezesseis centavos).
COMPREENDEM AS PARCELAS
ENTRE A DIB E DIP:
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Autos n. 2396-58.2015.4.01.3815
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SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO JOÃO DEL REI

Condeno a parte ré a promover o ressarcimento das despesas referentes aos


honorários periciais, devendo, para esse fim, ser expedida RPV em favor da Justiça
Federal de 1° grau - SJMG, conforme o disposto no § 2° do art. 3° c/c o disposto no art.
6° da Resolução CJF n. 558, de 22.05.2007.

Defiro os benefícios da assistência judiciária gratuita.

Sem custas e honorários advocatícios (Lei n. 9.099/95, art, 54 e 55).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

São João Del Rei/MG,^)/04/2016/>

DA SILt A OLIVEIRA
uíza Fe eral

Autos n. 2396-58.2015.4.01.3815

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