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Maria ama José, que ama Maria. Viveram uma linda história de amor sem final feliz.

Não, eles não foram felizes para sempre como haviam se prometido. Algo saiu dos
trilhos, no meio do caminho, pondo entre os dois corações uma montanha de tristeza e
desesperança. Com outras bocas estiveram sob outros corpos, vivendo substituições
frias como manhãs de inverno. Nada fazia o menor sentido. Não havia mais encaixe.
Quando a cama e a alma estavam vazias eram assombrados pela presença do outro,
que se deitava ao lado da certeza de que ninguém seria capaz de desatá-los.

José ama Maria, que ama José. Cada um com seu pranto, seguindo sem rumo a fumaça
de uma felicidade perdida em algum canto, esquecida na poeira de um porta-retratos.
Aonde haviam ido parar todas as evidências de um amor insuperável, capaz de
sobreviver às intempéries da união sem ao menos soltarem as mãos? Por que isso
agora, soltos em galáxias distintas, encarando a vida de cara lavada, sem graça e sem
cor e sem um sopro de promessa de que dias melhores virão?

Quando o amor acaba tudo é mais fácil: o recomeço pede um esforço miúdo. A
resiliência do fim acalenta o cansaço de quem esgotou todas as possibilidades. Restou
a convicção de que não há mais amor e nesse momento nada pode ser feito. É vida que
segue, é coração batendo no peito, sangue correndo nas veias e a vontade de ser feliz
por merecimento, com o que restou de si mesma.

Duro é quando duas pessoas se despedem do ‘felizes para sempre’, mas com a
esperança de que seja apenas um ‘até em breve’. Escondem-se os sorrisos, vão-se
embora os longos e úmidos beijos e os abraços apertados. Acabou a alegria, a vontade
de lutar para que dê certo. Tudo. Menos o amor. Resta apenas uma saudade doída do
que foi e do que não mais será, a constatação de já fomos felizes ao ápice, que amamos
com uma intensidade e inocência que não se repetirá.

Mas por que desistir do amor? Por que abrimos mão dele e deixamos que os
pormenores sejam maiores?

Por obra do destino e das sarcásticas pegadinhas da vida, por motivo de orgulho ferido,
por intromissão de terceiros e quartos e quintos, com suas soluções mirabolantes sobre
um relacionamento onde não cabem e tampouco pertencem. Colocamos a culpa na
distância, no ciúme sufocante, na jornada de trabalho abusiva, no olho gordo da vizinha
solteirona. Queremos um porquê capaz de nos convencer de que não amamos mais,
de que o melhor a fazer é esquecer e, consequentemente, substituir.

Acontece que o amor não acaba assim… Não mesmo. Quando ele cria raiz dentro da
gente, não morre com qualquer ventania. Passa o tempo, mudam as estações e tantas
pessoas circulando nas veredas do nosso coração. Ainda não entendemos a razão de
estarmos separados e o propósito de não estarmos juntos. Agora, tudo parece tão banal
diante do amor que continua intacto.

Nos resta a segurança doída de que pertencemos a alguém e que esse alguém também
nos pertence. Independente de outros beijos e outros corpos, das efemeridades e das
superficialidades. O amor verdadeiro é único e jamais poderá ser trocado. Se estamos
fisicamente juntos ou não, não faz diferença. A maior certeza é a que levamos dentro
de nós. Maria ama José e José ama Maria. Não foram felizes para sempre, mas para
sempre se amarão.

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