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O Problema Que Tornou Euler Famoso
O Problema Que Tornou Euler Famoso
5902/2179460X12973
Resumo
Neste trabalho é apresentado o problema da Basileia cuja resposta tornou Leonhard Euler famoso. Apresenta a prova
de Euler que por muito tempo continha uma passagem tida como incorreta, mas que após o Teorema da Fatoração
de Weierstrass foi aceita. Aborda também outras resoluções para o problema, sua representação geométrica e uma
aplicação. Discute também, por meio deste problema, a importância da História da Matemática para o professor
desta disciplina.
Abstract
In this study we present the Basel Problem whose answer has Leonhard Euler famous. Presents the Euler’s Proof
which long contained a passage regarded as incorrect, but that after the Weierstrass Factorization Theorem was
accepted. Also addresses other resolutions to the problem, its geometric representation and an application. It also
discusses, through this problem, the importance of the History of Mathematics for the teacher of this discipline
com mais de 850 trabalhos (Simmons, 2002), muitos de O que muitos especulam é que este fato ocorreu devido
extrema importância. a uma rotina intensa de trabalho, forçando a visão até
Neste trabalho apresentamos: tarde da noite (Boyer, 2003).
Permaneceu na Rússia até 1741 quando foi convi-
• Um pouco da vida e da obra do matemático Le- dado a ser professor de Matemática na Academia de
onhard Euler a fim de justificar sua importância Ciências de Berlim. Nesta cidade conquistou a admi-
para a Matemática. ração de alguns integrantes da corte do imperador da
Prússia, atual Alemanha e Polônia. No entanto, devido
• O problema da Basileia, que tornou Leonhard Eu-
a sua timidez, e por ter perdido um olho, tornou-se
ler famoso, e a solução apresentada por ele.
motivo de zombaria e em 1766 aceita um convite para
• Algumas de suas diversas soluções ao longo da retornar a Academia de Ciências de São Petersburgo
história, as aceitas atualmente. onde trabalhou até o último dia de sua vida (Cajori,
2007).
• A utilização da História da Matemática como fer- Ainda em 1766 percebeu que, devido à catarata, es-
ramenta de ensino. tava perdendo a visão do segundo olho e, para continuar
trabalhando treinou um de seus filhos para escrever en-
2 A Vida e Obra de Euler quanto ele ditava. Apesar destas condições, sua memória
admirável permitiu que continuasse trabalhando sem
Nesse capítulo mostraremos as principais obras de Euler, parar (Eves, 2004). Em 1783 morre enquanto tomava chá
nas diversas áreas em que ele atuou, e quão importante com um de seus netos, após ter passado o dia estudando
este homem foi para a Matemática. Você vai se surpre- a órbita do recém descoberto planeta Urano (Simmons,
ender com a personalidade e com o exemplo de vida 2002).
deste matemático que produziu muito, mesmo depois Sua vida acadêmica movimentada não o impediu
de ter ficado completamente cego. de formar com Katharina Gsell uma família numerosa:
tiveram ao todo 13 filhos. Segundo alguns autores, con-
seguia sem muitas dificuldades escrever seus artigos
2.1 A Vida de Euler
enquanto cuidava das crianças. “Um amigo que presen-
O matemático Leonhard Paul Euler nasceu em 1707 na ciava sua vida doméstica disse: Uma criança no colo,
Basileia, importante cidade suíça. Filho de uma família um gato sobre o ombro, assim escrevia ele suas obras
muito bem estruturada, desde cedo teve acesso a boas imortais” (Garbi, 1997) .
escolas e bons professores. Esta preocupação com os
estudos do garoto se devia principalmente ao fato de 2.2 A Obra de Euler
que Paul Euler, pai de Leonhard, era pastor da Igreja Cal-
vinista e sonhava que seu filho o seguisse na profissão Falar da obra de Euler é nada menos que falar de uma
(Boyer, 2003). Apesar de Leonhard não ter se tornado obra com mais de 850 títulos, entre livros e artigos. Na
um pastor como desejava seu pai, seguiu seus preceitos História da Matemática nenhum outro estudioso pro-
religiosos por toda a vida (Simmons, 2002). duziu tanto, somente no período que permaneceu em
A opção de Leonhard não foi tomada por seu pai Berlim produziu cerca de 275 trabalhos (Simmons, 2002).
como uma afronta, pois o mesmo também havia estu- Euler foi tão eficiente que viu apenas cerca de 500 destes
dado Matemática com Jakob Bernoulli (1654 - 1705), seu trabalhos serem publicados, a Academia de São Peters-
amigo pessoal. A proximidade da família de Euler com burgo levou meio século após sua morte para publicar
a família Bernoulli talvez seja o que mais influenciou completamente sua obra (Boyer, 2003).
interesse do jovem pela Matemática (Boyer, 2003). Todo seu magnífico trabalho está atualmente sendo
Aos 14 anos de idade ingressou na Universidade da condensado e publicado pela Sociedade Suíça de Ciên-
Basileia onde inicialmente estudou Medicina, Teologia e cias Naturais e apesar de ainda não ter sido completa-
Ciências Humanas. Dois anos mais tarde, nesta mesma mente organizado deverá atingir mais de 85 volumes
universidade, dedicou-se a Matemática (Simmons, 2002). (Eves, 2004). Suas obras eram bem variadas, entre elas
Após se formar atuou, ainda na Basileia, nas áreas de se poderiam encontrar temas de Cálculo, Álgebra, Ge-
Filosofia, Teologia e Matemática. Em 1727, por influência ometria além de Física e Astronomia. Muitas de suas
dos irmãos Daniel e Nicolas Bernoulli, filhos de Jakob obras tinham fins didáticos com o objetivo de tornar a
Bernoulli, Euler foi convidado a integrar a Academia de Matemática desenvolvida naquele tempo acessível para
Ciências São Petersburgo na Rússia, onde foi nomeado alunos de Engenharia, Arquitetura e outras áreas técni-
professor de Física em 1730 e de Matemática em 1733 cas (Boyer, 2003).
(Simmons, 2002). Aos 28 anos de idade, perdeu a visão São diversas áreas em que Euler deixou sua marca,
do olho direito o que não reduziu seu ritmo de trabalho. tanto que não é difícil para um estudante de Matemática
Ciência e Natura, v. 37 Ed. Especial PROFMAT, 2015, p. 342-355 345
Ciência e Natura 4
se deparar com expressões do tipo Fórmula de Euler, e a timidez jamais permitiriam a este matemático tal
Equação de Euler, Número de Euler, entre outras. Na auto homenagem.
Geometria, por exemplo, quem estuda sólidos geomé- A função ϕ(n) denominada função fi de Euler, deter-
tricos se depara com a Relação de Euler para poliedros mina a quantidade de números naturais menores que
convexos: V − A + F = 2, onde V é o número de vérti- n e que com ele são primos entre si (Baumgart, 1992).
ces, F o número de faces e A o número arestas (Lima Esta função foi desenvolvida por Euler para apresen-
et al., 2006). Perceba que apesar dos sólidos geométricos tar uma generalização do Pequeno Teorema de Fermat
terem sido estudados desde a antiguidade, tal relação (Hefez, 2011) e mais tarde se mostrou uma importante
só foi descoberta por Euler no século XVIII. ferramenta no desenvolvimento da Teoria dos Números.
Euler também provou que em um triângulo qualquer
os pontos baricentro, ortocentro e circuncentro são coli- As áreas da Matemática que mais evoluíram com
neares e, em sua homenagem a reta que contem os três Euler foram o Cálculo Diferencial e Integral e a Aná-
pontos é chamada de Reta de Euler. Atualmente sabe-se lise Matemática. Sua contribuição foi tão significativa
que outro matemático, o inglês Robert Simson, havia que Boyer (2003) afirma: “Pode ser dito com justiça que
provado anteriormente esta colinearidade, no entanto a Euler fez pela Análise de Newton e Leibniz o que Eu-
homenagem a Euler foi mantida (Eves, 1992). clides fez pela Geometria de Eudoxo e Teaetetus, ou
Em Trigonometria convencionou A, B, C como os que Viète fizera pela Álgebra de Al-Khowarizmi e Car-
vértices opostos aos lados a, b, c de um triângulo ABC dano. Euler tomou o Cálculo Diferencial e o Método
qualquer, convencionou ainda s como semiperímetro dos Fluxos e tornou-os parte de um ramo mais geral
deste triângulo e r como o raio de seu círculo inscrito da Matemática que a partir dai é chamado ‘Análise’ - o
(Boyer, 2003). estudo de processos infinitos. Se os antigos Os Elementos
Apesar destas contribuições a Geometria Clássica, constituem a pedra angular da Geometria e Al jabr wa’l
foi a Geometria Analítica que obteve grandes avanços muqabalah medieval a pedra fundamental da Álgebra,
com Euler. Apresentou no Volume II de Introduction então a Introductio in Analysin Infinitorum de Euler pode
uma extensa e eficaz abordagem ao uso de coordenadas ser considerada como chave de abóbada da Análise.”
no plano e no espaço. Sistematizou e popularizou o Deixou sua marca na notação do Cálculo sendo o
estudo de curvas e superfícies por meio de equações primeiro a utilizar f ( x ) para funções e por popularizar o
algébricas e transcendentes, em especial as quadráticas ∂ para representar derivadas parciais (Boyer, 1992). Não
e trigonométricas (Boyer, 2003). é por acaso que o físico e astrônomo François Arago,
Na Álgebra Euler introduziu a letra i para represen- amigo de Euler, disse (Eves, 2004): “Euler poderia muito
tar a raiz quadrada de -1 (Eves, 2004): bem ser chamado, quase sem metáfora, e certamente
√ sem hipérbole, a encarnação da Análise.”
i = −1
Além do já mencionado Introductio in Analysin In-
e deu aos números complexos a forma z = a + bi, com finitorum de 1748, são também relevantes Institutiones
a e b pertencentes ao conjunto dos números reais. Esta Calculi Differentialis de 1755 e Institutiones Calculi Integra-
notação impulsionou o estudo dos números complexos, lis publicado em três volumes de 1768 à 1774. Estas três
o próprio Euler observou que obras influenciaram o estilo, a notação e o desenvolvi-
mento do Cálculo e da Análise desde o século XVIII até
eix = cos x + i sen x os dias atuais (Eves, 2004). Inúmeras outras obras, entre
artigos, e livros, foram publicadas nesta área abordando
de onde, substituindo x por π concluiu que equações diferenciais, integrais indefinidas, séries con-
vergentes e divergentes, geometria diferencial e cálculo
eiπ = −1
das variações.
ou
eiπ + 1 = 0.
Assim Euler reuniu em uma só fórmula os 5 números
notáveis da Matemática: 1, 0, e, i e π, além das operações
3 O problema da Basileia
de adição, multiplicação e potenciação (Eves, 2004). Esta
fórmula atualmente é conhecida como Identidade de Nesse capítulo apresentaremos um breve histórico do
Euler. problema da Basileia, seu enunciado e a primeira resolu-
O número e também recebeu esta notação de Euler. ção, apresentada por Leonhard Euler, com suas peculia-
Acredita-se que a escolha se deve a inicial da palavra ridades. Esta resolução surpreendeu toda comunidade
expoente (Boyer, 2003). Não é correto creditar a escolha Matemática da época, e fez com que Euler passasse a
do e por ser a inicial do sobrenome de Euler, a modéstia figurar entre os maiores matemáticos de seu tempo.
346 Gayo e Wilhelm: O problema que tornou Euler famoso.
5 Autores: O problema que tornou Euler famoso
de onde obtemos 1
g( x ) = − − x − x2 − x3 − . . .
2
a0 = (−1)n r1 r2 . . . rn
a1 = (−1)n−1 r2 r3 . . . rn + (−1)n−1 r1 r3 . . . rn Note que a região de convergência da série é dife-
+ . . . + (−1)n−1 r1 r2 . . . rn−1 rente do domínio da função e que r1 não pertence à
região de convergência da série. Mas, assumindo que a
e dividindo a1 por a0 , obtemos propriedade (1) continua valendo para esta série, temos
a1 1 1 1 −1 1
= − − −···− , − = ,
a0 r1 r2 rn −1/2 −1
348 Gayo e Wilhelm: O problema que tornou Euler famoso.
7 Autores: O problema que tornou Euler famoso
ou seja 1 = 2, o que deixava a prova de Euler inválida. consideramos 0 < x < π/2 e n ímpar inteiro positivo.
No ano de 1885, o matemático alemão Karl Theodor Dividimos os dois lados da igualdade por (sen x )n obte-
Wilhelm Weierstrass (1815 - 1897) provou um teorema mos
atualmente denominado Teorema da Fatoração de Wei-
erstrass. Neste teorema ele afirma (Knopp, 1996): cos(nx ) + i sen(nx ) (cos x + i sen x )n
=
Toda função analítica (aquelas que podem ser repre- (sen x )n (sen x )n
sentadas por uma série de potências) pode ser expressa n
por um produto envolvendo suas raízes. cos x + i sen x (2)
=
Realmente, a função sen x
√
sen x = (cot x + i )n .
f (x) = √
x
é uma função analítica e pode ser representada por uma Em seguida desenvolvemos o binômio
série de potências em todo seu domínio, passo justi-
ficado pelo Teorema da Fatoração de Weierstrass. O (cot x + i )n
problema é que a resolução de Euler é anterior a este
teorema. A resolução de Euler é de 1735, ou seja, para n 0 n n 1 n −1
= i cot x + i cot x+...+
uma das passagens de sua resolução não havia justifica- 0 1
tiva por aproximadamente 150 anos. Foi neste período
que outros matemáticos, ao mesmo tempo em que aplau- n n −1 n−(n−1) n n n−n
i cot x+ i cot x
diam o resultado obtido, chamavam a atenção para falta n−1 n
de rigor desta passagem. Muitos matemáticos, também
brilhantes, conseguiram soluções contendo apenas pas- n n
= n
cot x + i cotn−1 x + . . . +
sagens válidas para o problema da Basileia. O trabalho 0 1
destes, com certeza de grande valia para a Matemática,
foi de certa forma facilitado, uma vez que já conheciam n n −1 1 n n 0
i cot x + i cot x
o resultado numérico do problema. n−1 n
O Teorema da Fatoração de Weierstrass dificilmente é
apresentado em livros de cálculo para iniciantes devido n n
= cotn x + i cotn−1 x + . . . +
sua complexidade. Apresentar a prova de Euler sem 0 1
mencionar o Teorema de Weierstrass incorre em falta de
n n n
rigor matemático, invalidando a prova (Simmons, 1987). in−1 cot x + i
É por isto que autores de tais livros não consideram a n−1 n
prova de Euler válida neste nível.
como n é ímpar, n − 1 é par, portanto
4 Provas rigorosas do problema da n n
= n
cot x + i cotn−1 x + . . . +
Basileia 0 1
n n −1 n n
Após Euler chegar a resposta do problema da Basileia cot x (−1) 2 + i
muitos outros matemáticos também apresentaram suas n−1 n
resoluções (Giesy, 1972). Dentre as provas para o pro-
n n
blema da Basileia estão algumas bem elementares e ou- = n
cot x − cotn−2 x + . . . +
0 2
tras um tanto quanto complexas. Neste capítulo vamos
(3)
apresentar algumas de diferentes níveis.
n n −1
cot x (−1) 2
n−1
4.1 A prova de Cauchy
n n
A primeira resolução que apresentaremos é a do mate- +i cotn−1 x − cotn−3 x + . . . +
1 3
mático francês Augustin-Louis Cauchy (1789-1857). Esta
prova se destaca por utilizar apenas conhecimentos de
n n −1
Matemática Elementar. cot0 x (−1) 2 .
n
Inicialmente tomamos a fórmula de De Moivre
(cos x + i sen x )n = cos(nx ) + i sen(nx ) Como (2) e (3) são iguais, possuem a mesma parte
Ciência e Natura, v. 37 Ed. Especial PROFMAT, 2015, p. 342-355 349
Ciência e Natura 8
onde π
1
a0 = f ( x )dx
π −π
∞
1
π a0
an = f ( x )cos(nx )dx f (x) = + ∑ ( an cos(nx ) + bn sen(nx ))
π 2 n =1
−π
π
1 π2 ∞
4
bn = f ( x )sen(nx )dx x2 = +∑ (−1)n · cos(nx )
π −π 3 n =1 n2
A série converge para a função em todos os pontos
de continuidade da função e converge para a média dos
limites laterais nos pontos de descontinuidade.
Para resolver o problema da Basileia utilizando séries Pela igualdade obtida acima, e tomando x = π
de Fourier tomamos f ( x ) = x2 no intervalo (−π, π ). ocorre que
∞
π2 4
π2 = +∑ (−1)n · cos(nπ )
3 n =1 n2
∞
π2 1
π2 − = 4· ∑ (−1)n · (−1)n
3 n =1 n2
∞
2π 2 1
3
= 4· ∑ n2
n =1
∞
2π 2 1 1
Figura 2: f ( x ) = x2 , −π < x < π e f ( x + 2π ) = f ( x )
3
·
4
= ∑ n2
n =1
Basta agora determinarmos os coeficientes:
π2 1 1 1
= + 2 + 2 + ...
1 π 1 x3 π 2π 2 6 12 2 3
a0 = x2 dx = =
π −π π 3 −π 3
Para calcular an , utilizamos integração por partes
duas vezes:
π
1
an = x2 cos(nx )dx 4.3 A prova de Apostol
π −π
π π
1 2 sen( nx ) sen(nx )
= x − 2x dx Outra resolução deste problema utiliza integrais duplas
π n −π −π n
e é atribuída a Apostol (1983).
π
1 x2 sen(nx ) 2xcos(nx ) 2sen(nx ) Inicialmente analisaremos a integral
= + −
π n n2 n3 −π
portanto
1 1 1 1 ∞
1
0 0 1 − xy
dx dy =
0 0 n =0
∑ (xy)n dx dy
∞ 1 1
= ∑ ( xy)n dx dy
n =0 0 0
∞ 1
1
n n
= ∑ 0
x dx
0
y dy
n =0
∞ ∞
1 1 1
= ∑ n + 1
·
n + 1
= ∑
( n + 1)2
n =0 n =0
(a) Plano xy
1 1 1
= + 2 + 2 +...
12 2 3
∞
1
= ∑ 2
.
n =1 n
2 − u2 + v2 e
1 − xy = .
2 √2− u √
dv 1 2−u
A nova região de integração no plano = √ arctan √ ,
√ uv é um qua- 0 2 − u2 + v2 2 − u2 2 − u2
drado com vértices opostos em (0,0) e ( 2,0), conforme
figura 3. logo
Fazendo uso da simetria desse quadrado em torno √2/2
u du
do eixo u, temos I = 4 arctan √ √
0 2 − u2 2 − u2
√2/2 u
dv √
√2
I = 4 du+ 2−u du
0 0 2 − u2 + v2 +4 √ arctan √ √ .
2/2 2−u 2 2 − u2
√2
√
2− u dv Para calcular
4 √ du.
2/2 0 2 − u2 + v2 √2/2
u du
I1 = 4 arctan √ √
Como 0 2 − u2 2 − u2
x
dt 1 x
= arctan , seja √
0 a +t
2 2 a a
u= 2sen θ,
temos
de forma que
u
dv 1 u √
= √ arctan √ du = 2 cos θdθ = 2 − u2 dθ
0 2−u +v
2 2
2 − u2 2 − u2
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Ciência e Natura 12
√2 √
I2 = 4 √ arctan √
2−u
√
du 5.1 Representação geométrica
2/2 2−u 2 2 − u2
O fato de estarmos trabalhando com uma série de qua-
seja drados, nos faz pensar inicialmente em Teorema de Pitá-
√ goras (Maor, 2007). Tomamos então as duas primeiras
u= 2 cos 2θ,
parcelas da soma e montamos um triângulo retângulo
de forma que de vértices nos pontos A, P1 e P2 , de forma que AP1 = 1,
√ P1 P2 = 1/2 e que o ângulo em p1 seja reto conforme
du = −2 2sen 2θdθ figura 4. Para facilitar a representação fazemos r1 = AP1
√ √ e r2 = AP2 . Com o Teorema de Pitágoras obtemos
= −2 2 1 − cos2 2θdθ 2
2 2 1 1
√ √ r2 = 1 + = 1+ 2.
= −2 2 1 − u2 /2dθ 2 2
√ Marcamos agora o ponto P3 de forma que P2 P3 = 1/3
= −2 2 − u2 dθ
e que o ângulo AP 2 P3 seja reto. Assim o triângulo AP2 P3
e √ √ é retângulo e considerando AP3 = r3 temos
2−u 2(1 − cos 2θ ) 2
√ = √ 2 2 1 1 1
2 − u2 2 − 2 cos2 2θ r3 = r2 + = 1+ 2 + 2.
3 2 3
1 − cos 2θ
=
1 + cos 2θ
2sen2 θ
=
2 cos2 θ
= tan θ.
Assim
π/6 π 2
I2 = 8 θ dθ = 4 .
0 6
Portanto
π 2 π2
I = I1 + I2 = 6 = .
6 6
Além das provas aqui apresentadas, existem diver- Figura 4: Teorema de Pitágoras e problema da Basileia
sas outras, cada uma com suas características próprias.
As três provas apresentadas mostram que tal problema Continuando a marcar pontos desta forma, ao mar-
pode ser resolvido tanto utilizando conteúdos de Mate- carmos o ponto Pn , conforme a figura 4 temos um seg-
mática Elementar quanto conteúdos de Cálculo e Aná- mento rn onde vale a seguinte igualdade
lise. 1 1 1
A prova de Apostol é do século XX, a de Fourier é do rn2 = 1 + 2
+ 2 + ... + 2 .
2 3 n
século XIX e do século XVIII temos as provas de Cauchy
e Euler. A prova de cada período traz características da Assim, pelo problema da Basileia é verdade que
Matemática desenvolvida até seu tempo, mostrando que π2
um assunto dentro da Matemática nunca está finalizado. rn2 <
6
354 Gayo e Wilhelm: O problema que tornou Euler famoso.
13 Autores: O problema que tornou Euler famoso
A representação geométrica da série mostra que as Figueiredo, D. G. d., 2009. Análise de Fourier e Equações
áreas da Matemática se relacionam. Estas relações tam- Diferenciais Parciais. Projeto Euclides, Rio de Janeiro.
bém podem ser percebidas na aplicação encontrada para
a série. Perceba que nosso problema está ligado ao Garbi, G. G., 1997. O Romance das Equações Algébricas.
Teorema de Pitágoras, limites, circunferências, probabi- Makron Books, São Paulo.
lidade, frações e divisibilidade. Isto nos leva a refletir Giesy, D. P., 1972. Still another elementary proof that
que a aplicação de um conhecimento pode vir através ∑ 1/k2 = π 2 /6. Mathematics Magazine 45.
da relação entre conteúdos.
Quando se passa no quadro para os alunos apenas Guidorizzi, H. L., 2003. Um Curso de Cálculo Vol. I. LTC,
um exemplo e uma lista de exercícios semelhantes, esta- Rio de Janeiro.
mos privando-os do prazeroso e necessário exercício de
Hefez, A., 2011. Elementos de Aritmética. SBM, Rio de
intuir e conjecturar sobre um assunto. Na verdade este
Janeiro.
deveria ser o principal objetivo das aulas de Matemática.
Na História da Matemática, os grandes matemáticos se Kalman, D., 1993. Six ways to sum a series. The College
tornaram grandes por terem intuído, conjecturado, es- Mathematics Journal 24.
tudado e resolvido e não apenas decorando fórmulas e
repetido exercícios já resolvidos. Knopp, K., 1996. Theory of Functions, Part II. Dover,
Estas considerações nos levam a concluir que a Histó- New York.
ria da Matemática é de extrema importância para a visão
Lima, E. L., Carvalho, P. C. P., Wagner, E., Morgado,
que o professor tem da Matemática, o que vai refletir no
A. C., 2006. A Matemática do Ensino Médio - Volume
interesse dos alunos pela disciplina.
2. SBM, Rio de Janeiro.