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Margarida Roquette

“Querida, prometo estar contigo até que a minha


secretária nos separe.”

Projecto de Investigação

1. Tema geral: Ética

2. Tema específico: Infidelidade

3. Título do trabalho: “Querida, prometo estar contigo até que a minha


secretária nos separe”

4. Pergunta a que o trabalho responde: Como é tratado o tema da


infidelidade pelos sociólogos? O que leva um casal a não cumprir o
voto de fidelidade?

5. Programa: para elaborar este trabalho vou falar da importância do


casamento antigamente e actualmente, baseando-me em estudos
realizados por entidades especializadas, de percentagens de
infidelidade masculina e feminina, apresentar possíveis razões através
de testemunhos e fazer uma reflexão final sobre o tema.

Ana Margarida Roquette Santos Costa

12º3 Nº3

Cascais, 9 de Dezembro de 2009


Introdução
Para a maioria dos animais, essencialmente nos mamíferos, a biologia dita as regras e
programa o macho para difundir e produzir milhões de espermatozóides, seguindo o
princípio de inseminação do máximo de fêmeas possível. Num casamento, se um
homem ou mulher seguir o princípio da inseminação diz-se que foi infiel. A infidelidade
é assim, numa perspectiva genérica, uma violação de regras e limites mutuamente
acordados, no caso específico do casamento denomina-se adultério.

A importância do casamento
A infidelidade conjugal constitui um forte indicador de “ transformações nos valores,
atitudes e padrões de comportamento face ao casamento e face aos papéis sexuais e,
num nível mais geral, face às próprias práticas e representações da família” (Santos,
1995). Tornamo-nos modernos e descomprometidos e agora ao título
“casamento”prefere-se “união de facto” ou “amizade colorida”, mas nem sempre foi
assim, ao longo dos anos assistiu-se a uma gradual desvalorização do casamento
dando preferência a relações desprovidas de laços afectivos.

Na antiga Roma as regras do Direito Romano viam o casamento num domínio


puramente material no entanto o adultério era punido segundo a lex Julia adulteriis
coercendis promulgada pelo imperador Augusto no ano 17 a.C., esta lei ditava que o
homem adúltero deveria pagar uma indemnização à esposa e a mulher adúltera
deveria ser executada ou exilada. Também a cultura judaica, através dos Dez
Mandamentos com os comandos “Não desejarás a mulher do próximo” e “Não pecarás
contra a castidade”, cria uma visão voltada para a fidelidade matrimonial e
condenatória do adultério. Posteriormente o Cristianismo adoptou esta conduta e a
Didaché (primeiro documento utilizado na catequese cristã) referia a prática da
infidelidade como errada. O casamento era, assim, visto como algo importante e a
constituição de família era considerada o expoente da felicidade.

Actualmente, numa recusa à utopia do eterno amor romântico e da vida perfeita das
histórias infantis fomos associando o casamento a esses mesmos conceitos e
consequentemente passámos a contestar a premissa de durabilidade de uma união
mesmo antes da mesma acontecer. Nos últimos 10 anos os casamentos católicos
diminuíram aproximadamente 65%; pelo contrário os divórcios aumentaram, só no
último ano foram 26572 ocorrências (Instituto Nacional de Estatística, 2008)

A mudança está a acontecer em muitas sociedades e actualmente o adultério é visto


como algo banal, na medida em que apesar de o ideal em quase todo o mundo ser a
monogamia as pessoas tendem a aceitar que é normal as pessoas casadas terem
pequenos casos (Druckerman, 2007) o que se vê com o caso da palavra ‘traição’ que
devido à sua conotação negativa tem vindo a deixar de ser usada como sinónimo de
infidelidade conjugal.

“Fui infiel.” Porquê?


“Em casais simpáticos, que nunca discutem, por vezes há um medo aterrador de não
se controlarem, pelo que a infidelidade constitui um terreno para uma expressão mais
livre e aberta. Em casais que têm medo da intimidade, de se sentirem emocionalmente
vulneráveis, a infidelidade e a discussão são duas formas de garantir uma barreira
entre ambos. (…) Para os casais divididos, a infidelidade prende-se com o facto de se
estar farto de andar a fazer funcionar o casamento. Por último, nos casos amorosos
terminais, a infidelidade é uma forma de acabar o casamento.” (Carreteiro, 2003)

Os motivos da infidelidade são variados e a forma como ela é vista depende de


factores como o sexo e a classe social, como demonstra o estudo da Associação
Portuguesa de Sociologia (Santos, 2003). As pessoas de classe mais baixa dão mais
importância ao casamento e nota-se “ um investimento intenso na família, como
forma de procura da felicidade” por isso avaliam a infidelidade de um ponto de vista
exclusivamente negativo “ em termos de sentimentos e comportamentos disfuncionais
para a família, nomeadamente porque levam à ruptura do casal”; pelo contrário, as
pessoas da classe média-alta “ pensam a infidelidade em termos de sentimentos e
comportamentos negativos dos indivíduos na relação mas também do ponto de vista
da realização pessoal e da procura do prazer”. As diferenças de visão são justificadas
pelos modelos de família apresentados por Roussel e Kellerhals, na medida em que a
classe baixa tem na maioria dos casos uma família do tipo famialista-conjugalista, ou
seja, olha para a família como sendo uma instituição que lhes permite sobreviver e que
por isso deve ser respeitada; enquanto a classe mais alta vê a família numa perspectiva
individualista onde a autonomia é valorizada e existe um maior relativismo face aos
valores e às normas de fidelidade conjugal (Fraga, s.d.). A variável do sexo demonstra
diferenças de ponto de vista entre os homens e as mulheres, na medida em que os
primeiros dão mais importância aos aspectos práticos (casa, dinheiro) e às normas
definidas pelo casal (fidelidade, respeito), e as segundas dão mais valor aos aspectos
afectivos e emocionais da relação.

Marta, 35 anos, traiu o marido devido à monotonia: “ Somos casados há sete anos mas
o nosso casamento estava a tornar-se previsível, sem discussões mas também sem
paixão” e Andreia de 30 anos traiu porque descobriu o caso do marido (Menezes,
2009); João traiu a mulher porque se sentiu atraído por uma colega de trabalho: “ Não
foi por não amar a minha mulher, mas simplesmente não conseguia resistir à atracção”
(Menezes, 2008). Por outras palavras, os motivos que levam as mulheres a trair são
diferentes dos que levam os homens a fazê-lo: 43% das mulheres traem porque se
sentem insatisfeitas com a relação e apenas 12% por atracção, pelo contrário os
homens traem maioritariamente por atracção, dando maior relevância aos aspectos
físicos; as diferenças não se encontram só nas razões mas também na descoberta pelo
parceiro, na medida em que os homens, geralmente, não sabem que a sua mulher está
a ter um caso, enquanto as mulheres desconfiam e estão certas 90% das vezes (Glass,
1992).

Conclusão
Os seres humanos são produto de uma interacção precoce entre o meio e a herança
genética, somos aquilo que os nossos genes ditam mas somos também um produto do
meio que altera o nosso genótipo e nos molda. Assim sendo, mais do que simples
animais racionais somos pessoas, com cultura, linguagem e moral; por muito que a
biologia dite que o macho tem a função de difundir espermatozóides para perpetuar a
espécie somos seres superiores a simples regras de satisfação de necessidades através
de instintos, cujo sistema é o que rege os animais que consideramos inferiores.

“Os animais só empregam o sexo para procriar, como só utilizam o que comem para se
alimentarem ou o exercício físico para a conservação da saúde; os seres humanos em
contrapartida inventaram o erotismo, o desporto e a gastronomia. O sexo é um
mecanismo de reprodução (…) mas produz muitos outros efeitos, como por exemplo a
poesia lírica e a instituição matrimonial.” (Savater, 1991,102). Por outras palavras, o
que nos distingue como espécie é a nossa cultura, a capacidade de ter um conjunto de
regras que definem uma conduta e um ideal de comportamento a seguir. A nossa
cultura vê a infidelidade como algo errado cuja prática deve ser, por isso mesmo,
evitada e punida; por muito subjectivos que conceitos como o certo e o errado sejam,
uma coisa é certa: somos capazes de escolher. Ao escolher ser infiel o homem ou a
mulher em questão estão a virar costas a um compromisso e a desonrar a sua palavra.
E em que mundo o ser humano viveria se não confiasse nos outros? Seríamos
incapazes de viver em comunidade; e quem é que consegue sobreviver sozinho?

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Bibliografia

Almeida, Tiago (2008) Mitos da Infidelidade. Online in


http://www.portaldacienciaevida.uol.com/artigo104951-1

Carreteiro, Rui Manuel (2003) Infidelidade. Online in


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Druckerman, Pamela (2007) Lust in translation. Cape Breton, Penguin Press.

Fraga, Nuno Silva (s.d) Tipos de família em Portugal. Online in


http://www.uma.pt/nunosilvafraga/wp-content/uploads/2009/02/tipos-de-familia-
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Instituto Nacional de Estatística (2008) Portugal: menos casamentos e mais divórcios?


Online in
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Glass, Shirley (1992). Justifications for extramarital relationships: The association


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Menezes, Sofia (2008) “Infidelidade masculina: Testemunhos” in Happy Woman nº39


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Menezes, Sofia (2009) “ Fui infiel: histórias de relações perigosas” in Happy Woman
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Menezes, Sofia (2009) “Porque tenho um amante” in Happy Woman nº46 pp.188 a
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Santos, Filomena (2008) Infidelidade Conjugal: Classe social e Género. Online in


http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR492ed538a123f_1.pdf

Savater, Fernando (1991) Ética para um Jovem, Lisboa, Publicações Dom Quixote

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