Você está na página 1de 12

Superior Tribunal de Justiça

AgRg no HABEAS CORPUS Nº 459.788 - SC (2018/0177129-1)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
EMENTA

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS


CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REGIME SEMIABERTO. AUSÊNCIA DE
VAGA. PRISÃO DOMICILIAR. INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO.
CUMPRIMENTO EM PRESÍDIO ADEQUADO AO REGIME
INTERMEDIÁRIO. GOZO DE BENEFÍCIOS INERENTES AO
SEMIABERTO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ART. 117, III, DA LEP.
ALEGADA NECESSIDADE DE PRESTAR CUIDADOS À FILHA MENOR.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. O Supremo Tribunal Federal, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, entende
que "a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa
hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS".
2. Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a falta de
estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso; b) os Juízes da execução penal poderão avaliar os
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para verificar se
são adequados a tais regimes, sendo aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como colônia agrícola, industrial (regime semiaberto), casa de
albergado ou estabelecimento adequado regime aberto (art. 33, § 1º, alíneas "b" e
"c"); c) no caso de haver déficit de vagas, deverão determinar: (i) a saída
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao preso que sai antecipadamente ou é posto em
prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de
direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até que
sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão
domiciliar ao sentenciado.
3. No caso, o Tribunal de origem entendeu que não há razões suficientes para a
excepcional colocação da reeducanda em prisão domiciliar, pois, o Presídio
Regional de Itajaí/SC se enquadra na condição de "estabelecimento prisional
similar" e possui ala específica para as detentas do regime semiaberto.
4. Quanto ao pedido de substituição da pena privativa de liberdade por prisão
domiciliar, cumpre destacar que a Lei nº 13.257 de 2016, no qual o impetrante
baseia o seu pedido, diz respeito tão somente aos casos de prisão preventiva,
situação não verificada nos autos.
5. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que
"a melhor exegese do art. 117 da Lei n. 7.210/1984, extraída dos recentes
precedentes da Suprema Corte, é na direção da possibilidade da prisão domiciliar
em qualquer momento do cumprimento da pena, ainda que em regime fechado,
desde que a realidade concreta assim o imponha" (HC 366.517/DF, Rel. Ministro
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 11/10/2016, DJe
27/10/2016).
6. Consoante informações prestadas pelo Tribunal de origem, "não ficou
demonstrado nos autos que a agravante é a única pessoa capaz de cuidar da filha
de 10 (dez) anos e de sua genitora que enfrenta problemas de saúde ou que a sua
presença no convívio da menor seja indispensável a ponto de ter concedida a
benesse da prisão domiciliar, a qual frisa-se, é medida excepcional". Assim,
inexistindo excepcionalidade comprovada nos autos demonstrando a necessidade
de prisão domiciliar, a alteração desse entendimento demandaria revolvimento do
conjunto fático-probatório, o que seria inviável na via estreita do writ.
7. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer, Jorge
Mussi e Reynaldo Soares da Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 19 de março de 2019 (data do julgamento)

MINISTRO RIBEIRO DANTAS


Relator

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 459.788 - SC (2018/0177129-1)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RIBEIRO DANTAS:

Trata-se de agravo regimental em habeas corpus impetrado em favor de


MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES contra a decisão monocrática de minha
Relatoria, que não conheceu do writ (e-STJ, fls. 109-112).
A agravante reitera os argumentos expendidos na inicial, no sentido de que o
acórdão é manifestamente ilegal, por afrontar o seu direito ao cumprimento da pena em
estabelecimento adequado ao regime semiaberto (e-STJ, fl. 118).
Afirma que "os apenados que cumprem suas penas privativas de liberdade em
regime semiaberto devem cumpri-las em “colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar”,
nos termos do art. 33, § 1º, b, do Código Penal e do art. 91 da Lei de Execução Penal" (e-STJ, fl.
119).
Pleiteia seja colocada em regime aberto sem recolhimento, nos moldes como já
ocorre em Criciúma, ou, então, em prisão domiciliar, se necessário, cumulada com uso de
tornozeleiras eletrônicas (e-STJ, fl. 124).
Sustenta, ainda, a necessidade "de cuidar da filha de 10 anos e de sua genitora
que enfrenta problemas de saúde, o que impossibilita a presença eficaz no convívio da menor"
(e-STJ, fl. 124).
Requer a reconsideração da decisão agravada ou a submissão do feito à Turma
Julgadora.
É o relatório.

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 459.788 - SC (2018/0177129-1)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
EMENTA

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS


CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REGIME SEMIABERTO. AUSÊNCIA DE
VAGA. PRISÃO DOMICILIAR. INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO.
CUMPRIMENTO EM PRESÍDIO ADEQUADO AO REGIME
INTERMEDIÁRIO. GOZO DE BENEFÍCIOS INERENTES AO
SEMIABERTO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ART. 117, III, DA LEP.
ALEGADA NECESSIDADE DE PRESTAR CUIDADOS À FILHA MENOR.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. O Supremo Tribunal Federal, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, entende
que "a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa
hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS".
2. Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a falta de
estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso; b) os Juízes da execução penal poderão avaliar os
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para verificar se
são adequados a tais regimes, sendo aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como colônia agrícola, industrial (regime semiaberto), casa de
albergado ou estabelecimento adequado regime aberto (art. 33, § 1º, alíneas "b" e
"c"); c) no caso de haver déficit de vagas, deverão determinar: (i) a saída
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao preso que sai antecipadamente ou é posto em
prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de
direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até que
sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão
domiciliar ao sentenciado.
3. No caso, o Tribunal de origem entendeu que não há razões suficientes para a
excepcional colocação da reeducanda em prisão domiciliar, pois, o Presídio
Regional de Itajaí/SC se enquadra na condição de "estabelecimento prisional
similar" e possui ala específica para as detentas do regime semiaberto.
4. Quanto ao pedido de substituição da pena privativa de liberdade por prisão
domiciliar, cumpre destacar que a Lei nº 13.257 de 2016, no qual o impetrante
baseia o seu pedido, diz respeito tão somente aos casos de prisão preventiva,
situação não verificada nos autos.
5. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que
"a melhor exegese do art. 117 da Lei n. 7.210/1984, extraída dos recentes
precedentes da Suprema Corte, é na direção da possibilidade da prisão domiciliar
em qualquer momento do cumprimento da pena, ainda que em regime fechado,
desde que a realidade concreta assim o imponha" (HC 366.517/DF, Rel. Ministro
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 4 de 5
Superior Tribunal de Justiça
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 11/10/2016, DJe
27/10/2016).
6. Consoante informações prestadas pelo Tribunal de origem, "não ficou
demonstrado nos autos que a agravante é a única pessoa capaz de cuidar da filha
de 10 (dez) anos e de sua genitora que enfrenta problemas de saúde ou que a sua
presença no convívio da menor seja indispensável a ponto de ter concedida a
benesse da prisão domiciliar, a qual frisa-se, é medida excepcional". Assim,
inexistindo excepcionalidade comprovada nos autos demonstrando a necessidade
de prisão domiciliar, a alteração desse entendimento demandaria revolvimento do
conjunto fático-probatório, o que seria inviável na via estreita do writ.
7. Agravo regimental a que se nega provimento.

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 5 de 5
Superior Tribunal de Justiça

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RIBEIRO DANTAS (Relator):

A pretensão não merece êxito, na medida em que o agravante não apresentou


argumentos capazes de modificar o entendimento anteriormente adotado.
Conforme consignado na decisão agravada, o Supremo Tribunal Federal editou a
Súmula Vinculante n. 56, segundo a qual "a falta de vagas em estabelecimento prisional não
autoriza a manutenção do preso em regime mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese,
os parâmetros do RE 641.320/RS".
Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a falta de estabelecimento
penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso; b)
os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes
semiaberto e aberto, para verificar se são adequados a tais regimes, sendo aceitáveis
estabelecimentos que não se qualifiquem como colônia agrícola, industrial (regime semiaberto),
casa de albergado ou estabelecimento adequado – regime aberto – (art. 33, § 1º, alíneas "b" e
"c"); c) no caso de haver déficit de vagas, deverão determinar: (i) a saída antecipada de
sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao preso
que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento
de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até
que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar
ao sentenciado.
No caso dos autos, não há razões suficientes para a excepcional colocação da
reeducanda em prisão domiciliar, pois, o Presídio Regional de Itajaí/SC se enquadra na condição
de "estabelecimento prisional similar" e possui ala específica para as detentas do regime
semiaberto. A propósito, confira-se o seguinte trecho do acórdão impugnado:

"Em que pese a argumentação da defesa, entendo que a decisão do juízo


singular é adequada e merece ser mantida incólume.
Ressalto que a prisão domiciliar pretendida é medida excepcional, admitida
em último caso e quando preenchidos os seguintes requisitos, verbis:

Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime


aberto em residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante. (grifei) No caso em tela, a reeducanda cumpre
pena em regime semiaberto e, apesar da norma acima mencionada tratar de
condenada em regime aberto, o entendimento é de que ela pode ser
aplicada, excepcionalmente, aos reeducandos dos regimes mais gravosos,
quando, por questões humanitárias, a medida for recomendável.

Nesse sentido, destaco posicionamento do Des. Paulo Roberto Sartorato,


no agravo em execução penal n. 0009443-37.2017.8.24.0033, julgado em
14-12-2017:
(...)
Destaco que o caso dos autos, todavia, não possibilita a concessão da
benesse. Explico.
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 6 de 5
Superior Tribunal de Justiça
De fato, a genitora da agravante encontra-se enferma. Todavia, referida
enfermidade, segundo a documentação acostada no PEC, é uma doença
inflamatória intestinal, a qual aparentemente possui tratamento e não impede
que a paciente leve uma vida normal, como bem salientou a magistrada
singular.
De outro modo, a filha da agravante, que é cuidada pela avó materna, tem
pai — Senhor Carlos Espíndola, o qual tem obrigação, também, de cuidar
da criança.
Além disso, não ficou demonstrado nos autos que a agravante é a única
pessoa capaz de cuidar da filha de 10 (dez) anos e de sua genitora que
enfrenta problemas de saúde ou que a sua presença no convívio da menor
seja indispensável a ponto de ter concedida a benesse da prisão domiciliar, a
qual frisa-se, é medida excepcional.
De igual modo, não é aplicável ao caso o verbete da Súmula Vinculante n.
56.
É certo que o reeducando deve cumprir pena em ambiente adequado e
compatível com o regime de cumprimento de pena a ele imposto. No caso
dos autos, destaco que a reeducanda encontra-se cumprindo pena no
regime semiaberto.
O art. 91 da Lei n. 7.210/84 (LEP) prevê que "a Colônia Agrícola,
Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em regime
semi-aberto".
Pois bem. A reeducanda já está cumprindo pena no regime
supramencionado desde 27-7-2017, inicialmente no Presídio Regional
de Criciúma/SC, o qual enquadra-se em "estabelecimento prisional
similar". Isso porque, referida unidade possui ala destinada,
exclusivamente, para mulheres que cumprem pena em regime
semiaberto, mostrando-se, portando, compatível com o resgate da
pena imposta à reeducanda.
Ressalto que no mês de fevereiro de 2018, foi expedido ofício pela
Diretora-Geral da Penitenciária Feminina de Criciúma, solicitando ao juízo a
transferência de 9 (nove) reeducandas, dentre elas a agravante, para aquela
Penitenciária, o que foi deferido em 6-2-2018 (p. 664 do PEC).
Posteriormente, novo ofício foi expedido pela Diretora-Geral da
Penitenciária Feminina de Criciúma (pp. 708-709 do PEC), desta vez
solicitando ao juízo a permuta entre reeducandas daquela unidade com as
do Presídio Regional de Itajaí, o que foi deferido em 16-4-2018 (p. 710 do
PEC), sendo a agravante então transferida de presídio.
Analisando os autos, constatei que atualmente a agravante vem
cumprido pena no Presídio Regional de Itajaí/SC, que igualmente se
enquadra em "estabelecimento prisional similar" e possui ala
específica para as detentas do regime semiaberto.
Bem se vê, portanto, que a reeducanda está cumprindo pena em local
compatível com o regime a ela imposto. Ainda, destaco que não há
notícias de irregularidades, violação de direitos ou de que as garantias
próprias do regime semiaberto não estejam sendo asseguradas a
reeducanda no referido local.
Com base na fundamentação retro, entendo que não há violação à Súmula
Vinculante n. 56, eis que, como já apontado, a reeducanda cumpre pena em
local compatível com o regime intermediário. Além do mais, a agravante
não preenche os requisitos para concessão da prisão domiciliar, como já
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 7 de 5
Superior Tribunal de Justiça
demonstrado, motivo pelo qual mantenho a decisão singular."
(e-STJ, fls. 36-39, grifou-se).

Sobre o tema, a Terceira Seção do STJ, no julgamento do REsp n. 1.710.674/MG,


sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 993), da relatoria do Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, por decisão unânime, fixou a seguinte tese:

"A inexistência de estabelecimento penal adequado ao regime prisional


determinado para o cumprimento da pena não autoriza a concessão imediata
do benefício da prisão domiciliar, porquanto, nos termos da Súmula
Vinculante nº 56, é imprescindível que a adoção de tal medida seja
precedida das providências estabelecidas no julgamento do RE nº
641.320/RS, quais sejam: (i) saída antecipada de outro sentenciado no
regime com falta de vagas, abrindo-se, assim, vagas para os reeducandos
que acabaram de progredir; ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por
falta de vagas; e (iii) cumprimento de penas restritivas de direitos e/ou
estudo aos sentenciados em regime aberto."

Nesse contexto, conclui-se que não há nos autos situação excepcional que
justifique a concessão da prisão domiciliar, inexistindo ilegalidade no acórdão a ser sanada.
Vale ainda ressaltar que, para verificar se a instalação na qual a paciente está
recolhida é inadequada para condenados ao regime semiaberto, seria imprescindível adentrar o
conjunto fático-probatório dos autos, procedimento incompatível com a estreita via do writ.
Por fim, quanto ao pedido de substituição da pena privativa de liberdade por prisão
domiciliar, cumpre destacar que a Lei nº 13.257 de 2016, diz respeito tão somente aos casos de
prisão preventiva, situação não verificada nos autos.
No caso, a peticionante encontra-se em fase de execução de sua pena.
Cumpre destacar que a legislação em vigor limita a concessão da benesse
domiciliar para os apenados que cumprem a reprimenda em regime aberto.
Dispõe o artigo 117 da Lei de Execução Penal:

"Artigo 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime


aberto em residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante."

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça tem flexibilizado o entendimento para


concessão de prisão domiciliar aos sentenciados, em cumprimento de pena em regime fechado ou
semiaberto, quando devidamente demonstrada sua excepcionalidade.
A propósito:

"EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR. REGIME FECHADO. PACIENTE COM IDADE AVANÇADA E
ESTADO DE SAÚDE DEBILITADO. PRISÃO DOMICILIAR. ORDEM
CONCEDIDA.
1. Conquanto esteja recluso no regime fechado, verifica-se que o paciente
possui mais de 70 (setenta) anos de idade e é portador de câncer de
próstata, trombose e aneurisma abdominal, bem como apresenta quadro
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 8 de 5
Superior Tribunal de Justiça
depressivo, conforme comprovado nos autos. Assim, embora o
estabelecimento prisional seja dotado de estrutura para atendimentos
emergenciais, as enfermidades descritas necessitam de cuidados
específicos e continuados, ensejando a concessão da prisão domiciliar
como medida, até mesmo, de cunho humanitário.
2. Ordem concedida a fim de determinar a transferência do paciente para a
prisão domiciliar, em virtude do seu comprovado estado de saúde debilitado
e da sua idade avançada."
(HC 138.986/DF, MARIA THEREZA, SEXTA TURMA, julgado em
17/11/2009, DJe 07/12/2009).

O entendimento jurisprudencial dos Tribunais superiores, diante da necessária


evolução, vem superando a interpretação literal de determinados comandos previstos na Lei de
Execução Penal, a fim de abarcar e de dar efetividade ao princípio da dignidade da pessoa
humana na individualização da pena.
A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que "a
melhor exegese do art. 117 da Lei n. 7.210/1984, extraída dos recentes precedentes da Suprema
Corte, é na direção da possibilidade da prisão domiciliar em qualquer momento do cumprimento
da pena, ainda que em regime fechado, desde que a realidade concreta assim o imponha" (HC
366.517/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
11/10/2016, DJe 27/10/2016).
Contudo, consoante informações prestadas pelo Tribunal de origem, "não ficou
demonstrado nos autos que a agravante é a única pessoa capaz de cuidar da filha de 10 (dez)
anos e de sua genitora que enfrenta problemas de saúde ou que a sua presença no convívio da
menor seja indispensável a ponto de ter concedida a benesse da prisão domiciliar, a qual frisa-se,
é medida excepcional". Assim, inexistindo excepcionalidade comprovada nos autos demonstrando
a necessidade de prisão domiciliar, a alteração desse entendimento demandaria revolvimento do
conjunto fático-probatório, o que seria inviável na via estreita do writ.
Ilustrativamente:

"PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO DE
DROGAS. SENTENCIADA QUE CUMPRE PENA EM REGIME
FECHADO. PRISÃO DOMICILIAR. CUIDADOS COM O FILHO
MENOR. ART. 117 DA LEP. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
PECULIARIDADE DO CASO QUE JUSTIFIQUE A CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INVIABILIDADE NA VIA ELEITA. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento
firmado pela Primeira Turma do col. Pretório Excelso, sedimentou
orientação no sentido de não admitir habeas corpus em substituição ao
recurso adequado, situação que implica o não conhecimento da impetração,
ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade
apta a gerar constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de
ofício.
II - Este Tribunal Superior tem posicionamento no sentido de que, embora
o art. 117 da Lei de Execuções Penais estabeleça como requisito para a
concessão da prisão domiciliar o cumprimento da pena no regime aberto, é
possível a extensão de tal benefício aos sentenciados recolhidos no regime
fechado ou semiaberto quando a peculiaridade do caso concreto

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 9 de 5
Superior Tribunal de Justiça
demonstrar sua imprescindibilidade.
III - In casu, o eg. Tribunal de origem indeferiu o pedido de prisão
domiciliar em razão de se tratar de sentenciada que cumpre pena em regime
fechado pelo crime de tráfico de drogas, e porque não restou comprovada
a peculiaridade do caso que justifique a concessão do benefício.
IV - Assentado pelo eg. Tribunal estadual, soberano na análise dos fatos,
que não há excepcionalidade a demonstrar a possibilidade de concessão de
prisão domiciliar à paciente, a modificação desse entendimento - a fim de
conceder o benefício - demanda o reexame do acervo fático-probatório,
inviável na via eleita. Habeas corpus não conhecido."
(HC 456.301/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 23/08/2018, DJe 04/09/2018).

"HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PRISÃO DOMICILIAR.


ENTENDIMENTO DA SUPREMA CORTE NO JULGAMENTO DO HC
N.º 143.641/SP. INAPLICABILIDADE. DISCUSSÃO À LUZ DO QUE
DISPÕE A LEI DE EXECUÇÃO PENAL. MENORES SOB CUIDADOS
DA AVÓ MATERNA. REEXAME PROBATÓRIO VEDADO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DE
HABEAS CORPUS DENEGADA.
1. É inaplicável, na hipótese, o entendimento firmado pela Suprema Corte
nos autos do HC n.º 143.641/SP, pois a condenação da Paciente já transitou
em julgado. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça e decisão proferida
pelo Ministro Ricardo Lewandowski, em 24/10/2018, ao acompanhar o
cumprimento da ordem concedida pela Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal.
2. No caso, o pedido de prisão domiciliar foi devidamente indeferido, pois,
conforme ressaltaram as instâncias ordinárias, a Paciente cumpre pena em
regime fechado, pela prática do crime de tráfico, e os filhos menores não
se encontram desamparados, vivem sob os cuidados da avó materna.
3. Para se afastar as conclusões que justificaram a negativa do pedido de
prisão domiciliar, seria necessário proceder ao revolvimento
fático-probatório dos autos, o que não é cabível na via estreita do habeas
corpus. Precedentes.
4. Ordem de habeas corpus denegada."
(HC 467.441/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado
em 06/11/2018, DJe 23/11/2018).

"HABEAS CORPUS. PRISÃO DOMICILIAR. ENTENDIMENTO DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO HC N.
143.641/SP. INAPLICABILIDADE. CUMPRIMENTO DE
PRISÃO-PENA. ART. 117, III, DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO DEMONSTRADA. REGIME
FECHADO. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA. ABRANDAMENTO. ORDEM
CONCEDIDA EM MENOR EXTENSÃO. LIMINAR CASSADA.
1. A Lei n. 13.257/2016 teve reflexos no Código de Processo Penal e
imprimiu nova redação ao inciso IV do seu art. 318, além de acrescer-lhe
os incisos V e VI. Tais mudanças encontram suporte no próprio
fundamento que subjaz à novel legislação, notadamente a garantia do
desenvolvimento infantil integral, com o "fortalecimento da família no
exercício de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira
infância" (art. 14, § 1º).
Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 10 de 5
Superior Tribunal de Justiça
2. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, nos autos do HC n.
143.641/SP, em 20/2/2018, concedeu habeas corpus coletivo "para
determinar a substituição da prisão preventiva pela domiciliar - sem prejuízo
da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 do
CPP - de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas, ou mães de
crianças e deficientes sob sua guarda [...], enquanto perdurar tal condição,
excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante violência ou
grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações
excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos
juízes que denegarem o benefício".
3. O caso vertente, todavia, trata da postulação do benefício durante a
execução da pena imposta em condenação definitiva, ou seja, após a
realização do juízo de cognição exauriente, diversamente da situação relativa
à prisão ante tempus, hipótese examinada pelo Pretório Excelso.
4. A despeito da jurisprudência consolidada por esta Corte Superior
de Justiça de que a restrição imposta no caput do artigo 117 da Lei de
Execução Penal não impede a concessão do benefício àqueles que
cumprem pena em regime fechado ou semiaberto, não foi
demonstrada no caso a excepcionalidade da realidade concreta que
recomende a colocação da apenada em prisão domiciliar.
[...]
7. Ordem concedida, em menor extensão, apenas para fixar o regime
semiaberto para o início do cumprimento da pena. Liminar cassada."
(HC 456.826/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 04/12/2018).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


É o voto.

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 11 de 5
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2018/0177129-1 HC 459.788 / SC
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00090903620178240020 07007296220128240020 700729628240020 90903620178240020

EM MESA JULGADO: 19/03/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MÔNICA NICIDA GARCIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Execução Penal

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : MARCIANE CASAGRANDE RODRIGUES (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da
Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1803815 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/03/2019 Página 12 de 5

Você também pode gostar