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“É verdade que o fato de o eleitor não ir votar não elide o crime, até porque
a busca pela abstenção (que é́ , exatamente, não ir votar) é uma das
modalidades criminosas. Tampouco afasta o crime o fato de ele não cumprir o
combinado com o corruptor, indo votar tendo prometido abstenção, ou votando
em outrem diverso do candidato que lhe deu a vantagem e com o qual
comprometera. Porém, não é menos verdade que a abstenção, o oferecimento
ou a promessa de vantagem a quem não pode votar tal como quer o corruptor
não caracteriza crime. É o caso, por exemplo, nas eleições municipais, do
eleitor que vota em Zona Eleitoral diversa da do candidato corruptor. Ou, ainda
que ambos da mesma Zona Eleitoral, quando o eleitor estiver impossibilitado
de exercer o jus sufragii, de que é exemplo certo a suspensão de seus direitos
políticos. Haverá, no caso, aqui como alhures, impropriedade absoluta do
objeto (CP, art. 17).”
Afirma José Domingues Filho (2012, p. 256-257), por sua vez, que
“corrupção eleitoral sem envolvimento de eleitor na sujeição de corrompido ou
de corruptor traduz comportamento inofensivo ao bem/interesse jurídico
especificamente tutelado pela norma penal”. E complementa: “tão somente
haverá propriedade do objeto quando o agente viabilizar risco de venal
interferência na vontade do votante ou orientando seu voto”.
Tal tese foi acolhida pelo Tribunal Superior Eleitoral, que decidiu ser
exigido, “para a configuração do ilícito penal, que o corruptor eleitoral passivo
seja pessoa apta a votar”.[12] No caso, a pessoa que seria agraciada com
benesses em troca do voto estava, à época dos fatos e do pleito, com seus
direitos políticos suspensos em decorrência de condenação criminal transitada
em julgado.
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26
receber, para si ou para outrem, dinheiro, constitui captação de sufrágio, vedada po
dádiva, ou qualquer outra vantagem, para candidato doar, oferecer, prometer, ou entre
obter ou dar voto e para conseguir ou com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantag
prometer abstenção, ainda que a oferta não qualquer natureza, inclusive emprego ou f
seja aceita: desde o registro da candidatura até o dia da el
sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir,
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento
de cinco a quinze dias-multa. registro ou do diploma, observado o procedime
art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de
(Incluído pela Lei nº 9.840, de 1999)
§ 1o Para a caracterização da conduta ilícita, é
o pedido explícito de votos, bastando a evid
consistente no especial fim de agir. (Inclu
12.034, de 2009)
§ 2o As sanções previstas no caput aplicam-s
praticar atos de violência ou grave ameaça a
fim de obter-lhe o voto. (Incluído pela Lei nº 12.
§ 3o A representação contra as condutas ved
poderá ser ajuizada até a data da diplomaçã
pela Lei nº 12.034, de 2009)
§ 4o O prazo de recurso contra decisões profe
neste artigo será de 3 (três) dias, a cont
publicação do julgamento no Diário Oficial. (In
nº 12.034, de 2009)
Estabelecida esta primeira diferença, já se constata que, embora
ambas visem coibir a popularmente chamada “compra de votos”, seus
requisitos, procedimentos e consequências não são os mesmos.
Como visto no tópico 2.1.5, o bem jurídico tutelado pelo artigo 299 do
Código Eleitoral é, para a maioria da doutrina, a liberdade para o exercício do
voto, o que coincide com o bem jurídico tutelado pelo artigo 41-A da Lei nº
9.504/1997 (GOMES, 2012, p. 520). O Tribunal Superior Eleitoral, inclusive, já
se manifestou no sentido de que norma tutela a “soberania da vontade
popular”[18] ou, ainda, a “vontade do eleitor”[19].
Desse modo, uma única “compra de votos” pode ser sancionada tanto
na seara cível-eleitoral quanto na penal, desde que satisfeitos os requisitos
legais. Ressalte-se que essa “dupla responsabilização” não é nova no Direito
brasileiro, haja vista que uma mesma conduta ilícita pode ser sancionada nas
esferas cível, penal e administrativa, sem que haja configuração de bis in idem,
como no caso do funcionário público que se apropria de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão
do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio (artigo 312 do Código
Penal).
Podem ser réus na ação criminal qualquer pessoa física (na corrupção
eleitoral ativa) ou o eleitor (na corrupção eleitoral passiva), conforme observado
no tópico 4.6.1. Na investigação da captação ilícita de sufrágio, em tese,
qualquer pessoa física ou jurídica pode figurar no polo passivo da demanda, na
medida em que
Rito processual Artigo 357 e seguintes do Código Eleitoral c.c. Artigo 22 da Lei Co
artigo 394 e seguintes do Código de Processo 64/1990
Penal
Legitimidade Qualquer pessoa física (na corrupção eleitoral Qualquer pessoa (físic
passiva ativa) ou o eleitor (na corrupção eleitoral passiva)
https://tse.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/469063871/agravo-regimental-em-recurso-
especial-eleitoral-respe-414220146190000-cordeiro-rj/inteiro-teor-469063894?ref=juris-tabs
https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/707075598/apelacao-criminal-apr-
63495520188260562-sp-0006349-5520188260562/inteiro-teor-707075618?ref=serp
https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp