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Aula 7: A motivação das decisões judiciais ...................................................................................

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Introdução ............................................................................................................................. 2
Conteúdo................................................................................................................................ 3
Introdução........................................................................................................................... 3
A motivação das decisões em matéria penal............................................................... 5
Reforçando conceitos ....................................................................................................... 6
O princípio do livre convencimento .............................................................................. 7
E como ficam as partes interessadas no provimento final? ...................................... 7
A motivação per relationem ou motivação aliunde ................................................... 8
Ausência de motivação das decisões penais: consequências .................................. 8
Considerações relevantes sobre o Artigo 564 da Constituição Federal ................. 9
Princípios da fundamentação ....................................................................................... 10
Consequências da ausência de motivação das decisões penais ........................... 11
Concluindo ....................................................................................................................... 13
Atividade proposta .......................................................................................................... 13
Referências........................................................................................................................... 15
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 16
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 22
Aula 7 ..................................................................................................................................... 22
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 22

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 1


Introdução
Nesta aula, será estudado o princípio da motivação das decisões penais e sua
relevância no Estado Democrático de Direito como mecanismo de incremento
do devido processo legal, enquanto direito da coletividade, garantia das partes
e do justo processo. Para tanto, a presente aula terá por objeto a compreensão
do fundamento constitucional do referido princípio, a necessidade da motivação
das decisões sob pena de nulidade destas.

Objetivo:
1. Identificar as espécies de provimentos jurisdicionais praticados no curso do
processo penal;
2. Estudar as consequências decorrentes da ausência de fundamentação das
decisões.

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Conteúdo

Introdução
Antes de adentrarmos no tema central desta nossa aula, que é o princípio da
fundamentação das decisões, é importante fazer uma breve abordagem das
espécies de provimentos que podem ser proferidos pelo juiz no curso do
processo penal.

Conheça a classificação dos provimentos:

Despachos (de mero expediente): esses provimentos visam apenas


movimentar o processo, fazer com o que mesmo prossiga adiante. Aqui o juiz
não decide qualquer controvérsia e, portanto, os despachos se caracterizam
justamente pela sua ausência (ou irrelevância) de carga decisória. Podemos
apresentar como exemplos de despachos os seguintes: (i) a designação de
audiência; (ii) a determinação de vistas às partes; (iii) a determinação da
juntada de uma petição aos autos etc..

Decisões: esses provimentos são os atos que têm por conteúdo um


julgamento acerca de qualquer questão que se apresente no processo, ou
acerca do próprio mérito da causa. As decisões são, portanto, a própria
expressão do poder jurisdicional do qual são investidos os magistrados,
aplicando as normas jurídicas sobre as questões concretas que lhes são trazidas
à apreciação.

B.1) Decisões interlocutórias: são aqueles provimentos que solucionam


qualquer questão controvertida do processo, envolvendo a contraposição de
interesses das partes, podendo ou não colocar fim ao processo. As decisões
interlocutórias subdividem-se em interlocutórias simples e interlocutórias
mistas.
B.1.1) Decisões interlocutórias simples: são aquelas que solucionam
questões referentes à regularidade ou marcha processual, sem contudo,
adentrar no mérito da causa, nem tampouco implicar em encerramento do feito,

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nem encerramento de qualquer fase procedimental. São exemplos desse tipo
decisões: (i) a decisão que recebe a denúncia ou queixa; a decisão que
concede liberdade provisória; (iii) a decisão que decreta a prisão preventiva;
(iv) quebra do sigilo telefônico etc.
B.1.2) Decisões interlocutórias mistas (também chamadas de decisões
com força de definitivas): são aquelas que, ao resolverem a questão
controvertida que lhe é trazida para apreciação, põem fim ao próprio processo
(sem julgamento de mérito) ou apenas a uma etapa procedimental. Essas
decisões subdividem-se em:
B.1.2.1) decisões interlocutórias mistas não terminativas: são aquelas que
apenas põem fim a uma etapa procedimental. Exemplo: a decisão de pronúncia
no procedimento do Tribunal do Júri.
B.1.2.2) decisões interlocutórias mistas terminativas: são aquelas que
põem fim ao próprio processo, isto é, provocam a extinção do feito sem
julgamento de mérito: Exemplo: a decisão que rejeita a denúncia ou queixa.
B.2) Decisões definitivas em sentido lato (também chamadas de decisões
terminativas de mérito): são aquelas que encerram o processo, julgam o
mérito, mas sem apreciar a imputação feita ou réu, isto é, não condenam nem
absolvem. Exemplos: (i) a decisão que declara a extinção de punibilidade face
à ocorrência da prescrição; (ii) a decisão que declara extinta a medida de
segurança pelo decurso do tempo.
B.3) Decisões definitivas em sentido estrito (ou sentenças stricto sensu):
essas são as verdadeiras sentenças que de fato resolvem o mérito da causa,
apreciando a pretensão punitiva deduzida perante o Poder Judiciário.
B.3.1) Sentenças absolutórias: são aquelas em que o juiz julga totalmente
improcedente a pretensão punitiva deduzida pelo Ministério Público ou pelo
querelante, com fundamento em um dos incisos do Artigo 386 do CPP. As
sentenças absolutórias subdividem-se em:
B.3.1.1) Sentenças absolutórias próprias: são aquelas que rechaçam a
pretensão punitiva sem impor qualquer espécie de medida sancionatória ao
réu.
B.3.1.2) Sentenças absolutórias impróprias: são aquelas que, sem embargo
da absolvição, impõem medida de segurança ao acusado, conforme previsto
no Artigo 386, parágrafo único, inciso III, do Código Processual Penal.

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B.3.2) Sentenças condenatórias: são aquelas em que o juiz entende
procedente, no todo ou em parte, a pretensão punitiva deduzida na denúncia
ou queixa, infligindo ao réu uma pena.

A motivação das decisões em matéria penal


No Artigo 381 do CPP encontramos elencados pelo legislador os requisitos da
sentença penal. Iremos nos ocupar, especificamente, do inciso III do referido
dispositivo, que determina que a sentença conterá “a indicação dos motivos de
fato e de direito em que se fundar a decisão”.

A motivação, que decorre, inclusive, de exigência constitucional, nos termos do


Artigo 93, IX, da Constituição Federal de 1988, consiste na exteriorização do
raciocínio lógico que deve necessariamente ser desenvolvido pelo magistrado a
partir do contexto probatório carreado ao processo e das alegações expendidas
pelas partes.

Assim, o dever que incumbe ao julgador de motivar suas decisões constitui a


um só tempo garantia às partes e garantia da legalidade da decisão.

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Atenção
É importante deixar bem claro que quando motivada sua
decisão, o magistrado tem que imputar valores às provas
carreadas aos autos pelas partes, justificando o acolhimento ou
rejeição dos argumentos por elas expendidos. Assim fazendo, o
juiz torna real, concreta e efetiva a observância dos princípios do
contraditório e da ampla defesa.
Por outro lado, quando falamos em garantia de legalidade,
estamos a afirmar que ao expor a motivação, o magistrado
permite às partes e à sociedade em geral exercer um controle de
legalidade sobre aquela decisão, tornando possível, por exemplo,
a impugnação do ato decisório por meio de um recurso. É por
essa razão que afirmamos que a motivação das decisões deve
ser elaborada de maneira lógica e fundada em preceitos
jurídicos, eis que uma motivação que não respeite tais requisitos
impede sua perfeita e total compreensão, inviabilizando, muitas
vezes, até mesmo uma adequada impugnação, ou gerando
dúvidas quanto à sua execução.

Reforçando conceitos
Podemos então reforçar a ideia de que a fundamentação da decisão possui a
essencial função de controlar a eficácia do contraditório e da ampla defesa e,
assim, fazer com que o exercício da jurisdição observe o devido processo
constitucional.

Portanto, não podemos admitir, no modelo garantista do processo penal,


qualquer espécie de imposição de sanção penal sem a real, efetiva e concreta
demonstração da autoria, da existência do delito, da tipicidade, da ilicitude e da
culpabilidade e, por certo, tal demonstração tem que ser evidenciada na
fundamentação decisória. É fundamental que o julgador explique, de forma

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clara e objetiva, sempre calcado nos elementos carreados ao processo, o
porquê de sua decisão.

O princípio do livre convencimento


Importante ainda observarmos que o princípio do livre convencimento motivado
ou da persuasão racional está intrinsecamente ligado à exigência da motivação
das decisões, na medida em que é ela que impede o magistrado de agir
imbuído de sentimentos pessoais, analisando fatos ou circunstâncias que não se
encontram no processo.

Analisando por outro prisma, podemos dizer que o livre convencimento


motivado é um importante princípio a sustentar a garantia da fundamentação
das decisões jurisdicionais, eis que o mesmo se refere à não submissão da
jurisdição a nenhuma espécie de interesse predominante, político ou
econômico, ou seja, o magistrado não está preso a nenhuma prova legal
previamente valorada pelo legislador (sistema de prova tarifada), todas as
provas são relativas, contudo tal liberdade deve ser devidamente interpretada,
não devendo ser admitidas meras conjecturas ou opiniões.

E como ficam as partes interessadas no provimento final?


As partes interessadas no provimento final, as quais participaram do
procedimento em contraditório, têm o direito de um provimento conforme o
ordenamento jurídico vigente. Todavia, a decisão deve indicar com precisão
regras, princípios e sobretudos elementos probatórios constantes dos autos que
lhe serviram de base para fundamentação. A decisão legítima baseia-se na
escolha dos argumentos desenvolvidos pelas partes, em contraditório, em torno
das questões de fatos e de direito trazidas para o processo, de forma que os
argumentos e provas das partes, produzidos em contraditório, é que deverão
constituir a base para as razões da decisão judicial.

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A motivação per relationem ou motivação aliunde
A chamada motivação per relationem ou motivação aliunde verifica-se quando o
órgão julgador fundamenta sua decisão por mera remissão a outras
manifestações ou alegações de uma das partes ou peças processuais
constantes dos autos. Ela pode apresentar-se de várias formas:

1. Tanto em sede doutrinária quanto em sede jurisprudencial, divergência


quanto à validade desse tipo de motivação das decisões judiciais.

2. O que temos observado, contudo, é que a mais balizada doutrina, e também


as Cortes superiores de nosso país, vêm admitindo a fundamentação per
relationem ou aliunde desde que o órgão julgador, em seu decisum, transcreva
os termos do parecer/peça que utilizou para formar sua convicção, ou seja,
aponte, de forma expressa, quais fundamentos está adotando em seu ato, ou,
ainda, acrescente novos elementos que deem suporte ao seu julgado.

3. Lembre-se: a mera referência, a singela indicação a um parecer/peça


existente nos autos não se presta como fundamentação idônea de uma decisão
judicial.

Ausência de motivação das decisões penais: consequências


Ao estudarmos o princípio da motivação das decisões judiciais, ficou bastante
evidenciado que ele, gerado no berço do constitucionalismo moderno, detém
amplíssima aplicabilidade no universo jurídico, mas é justamente na seara
penal, pela relevância e gravidade dos interesses envolvidos, que ele demonstra
todo o seu espectro garantista, de verdadeira proteção do cidadão contra
eventuais arbítrios produzidos pelo Estado.

Devemos agora ir um passo à frente e estudar, nesta ultima parte de nossa


aula, as consequências da ausência de motivação das decisões penais.

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Em um Estado Democrático de Direito não se pode conceber que um julgador
profira uma decisão, apaziguando um conflito a ele apresentado, sobretudo na
seara penal, sem que indique sua fundamentação, pois como já vimos antes,
essa omissão impediria que os interessados tivessem o conhecimento
necessário do raciocínio do magistrado para atingir aquela conclusão e, de
outro bordo, o eventual ato de império necessário para dar cumprimento ao
decisum não estaria acobertado por nossa Carta Magna, afrontando os
princípios e garantias nela promulgados.

Atenção
Verificada a ausência de motivação da decisão judicial penal ou
sua deficiência, ofendidos estarão a própria Lei Maior e os mais
caros princípios que norteiam nosso sistema jurídico, atingindo
os litigantes, diretamente, mas por via reflexa, a própria ordem
pública.
Não é por outra razão que o Artigo 93, IX, da CF/88 traz a
seguinte regra: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;”.

Considerações relevantes sobre o Artigo 564 da Constituição


Federal
Indiscutível, pois, que a ausência de fundamentação das decisões judiciais traz
como consequência inarredável a nulidade absoluta do próprio decisum.

Embora tratando do tema na seara do processo cível, mas com total pertinência
a esse ponto de nossa matéria, eis que o foco da questão aqui versada é

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constitucional. O insigne processualista Nelson Nery Júnior, com muita
perspicácia, observa o seguinte:

“Caso não sejam obedecidas as normas do artigo 93, n. IX e X, da CF, a falta


de motivação das decisões jurisdicionais e administrativas do Poder Judiciário
acarreta a pena de nulidade a essas decisões, cominação que vem
expressamente designada no texto constitucional. Interessante observar que
normalmente a Constituição Federal não contém norma sancionadora, sendo
simplesmente descritiva e principiológica, afirmando direitos e impondo
deveres. Mas a falta de motivação é vício de tamanha gravidade, que o
legislador constituinte, abandonando a técnica de elaboração da Constituição,
cominou no próprio texto constitucional a pena de nulidade” (NERY JÚNIOR,
1999. p. 175-176).

Princípios da fundamentação
“Nessa perspectiva, o vício da fundamentação abrange a hipótese em que
existe alguma motivação, mas ela é insuficiente; assim, se o juiz deixa de
apreciar questão importante apresentada pela acusação ou defesa nas razões
finais. Diferente o caso de fundamentação sucinta mas em que há análise dos
elementos de prova, bem como a valoração e solução das questões de fato e
de direito suscitadas no processo.

A jurisprudência vem afirmando que não se confunde fundamentação sucinta


com falta de motivação: RTJ 73/220; RJTJSP 103/488, 122/489 e 126/521; RT
605/321 e 612/288; JTACrimSP 97/40 e 95/285.

Mas vem também declarando nulas sentenças incompletas, com


fundamentação insuficiente, porque deixam de analisar teses relevantes
formuladas pelas partes ou apreciar preliminares que as partes levantaram (RT
594/365 e 591/331; RJTJSP 123/467, 117/457, 114/512, 102/447, 100/484 e
97/443; JTACrimSP 100/210, 98/297, 98/297, 98/292, 96/256, 96/253, 87/428,

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83/300, 83/441 e 81/385), ou, ainda, quando a excessiva concisão tira a
necessária clareza do ato judicial: JTACrimSP 85/443)”.

(GRINOVER, Ada Pellegrini; SCARANCE FERNANDES, Antonio; GOMES FILHO,


Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal. 6ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999. p. 211)

Consequências da ausência de motivação das decisões penais


Devemos agora ir um passo à frente e estudar as consequências da ausência
de motivação das decisões penais:

Ao estudarmos o princípio da motivação das decisões judiciais, ficou bastante


evidenciado que o mesmo, gerado no berço do constitucionalismo moderno,
detém ampla aplicabilidade no universo jurídico, mas é justamente na seara
penal, pela relevância e gravidade dos interesses envolvidos, que ele demonstra
todo o seu espectro garantista, de verdadeira proteção do cidadão contra
eventuais arbítrios produzidos pelo Estado.

Um Estado Democrático de Direito não se pode conceber que um julgador


profira uma decisão, apaziguando um conflito a ele apresentado, sobretudo na
seara penal, sem que indique sua fundamentação, pois como já vimos antes,
essa omissão impediria que os interessados tivessem o conhecimento
necessário do raciocínio do magistrado para atingir aquela conclusão e, de
outro bordo, o eventual ato de império necessário para dar cumprimento ao
decisum não estaria acobertado por nossa Carta Magna, afrontando os
princípios e garantias nela promulgados.

Verificada a ausência de motivação da decisão judicial penal ou sua deficiência,


ofendido estará a própria Lei Maior e os mais caros princípios que norteiam
nosso sistema jurídico, atingindo não só os litigantes diretamente, mas
também, por via reflexa, a própria ordem pública.

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Não é por outra razão que o Artigo 93, IX, da CF/88 traz a seguinte regra:
“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”.

Indiscutível, pois, que a ausência de fundamentação das decisões judiciais traz


como consequência inarredável a nulidade absoluta do próprio decisum.
Embora tratando do tema na seara do processo cível, mas com total pertinência
a esse ponto de nossa matéria, eis que o foco da questão aqui versada é
constitucional. O insigne processualista Nelson Nery Junior, com muita
perspicácia observa que uma vez não obedecidas as normas do Artigo 93, IX e
X da CF, a ausência de motivação de toda e qualquer decisão judicial ou
administrativa acarreta a nulidade de tais decisões, o que vem insculpido no
próprio texto constitucional (NERY JÚNIOR, 1999, p. 175-176.)

Revela-se ainda relevante destacar que não apenas a completa ausência de


fundamentação nulifica o julgado. A fundamentação mal-elaborada, obscura,
insuficiente também macula a decisão judicial.

A respeito do tema, com sua habitual maestria, Grinover, Fernandes e Gomes


Filho lecionam que o vício de fundamentação atinge os casos em que apesar de
existir fundamentação na decisão, esta é insuficiente, ou seja, o juiz não
aprecia questões relevantes que foram apresentadas seja pela acusação, seja
pela defesa. Isso não se confunde com casos de fundamentação sucinta, onde
se analisam os elementos de prova, valoram-se as questões de fato e direito
suscitadas no processo.

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Concluindo
Por fim, cuidando especificamente das consequências da ausência de motivação
das decisões penais, Tourinho Filho (2009, p. 317) apresenta-nos os seguintes
ensinamentos:

“Sentença sem motivação é um corpo sem alma. É nula. Se se trata, como


acabamos de ver, de requisito estrutural da sentença, formalidade, portanto,
essencial, fácil concluir que sentença sem motivação é uma não-sentença. Tão
essencial e fundamental é a motivação que sua omissão, que constitui nulidade
absoluta, encontraria suporte na própria alínea “m” do inciso III do artigo 564
do CPP, sem necessidade de invocar o disposto no inciso IV do mesmo artigo”.
(TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. V. 4. 31ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 317)

Atividade proposta
Leia o caso concreto apresentado abaixo e analise, a exigência da
motivação das decisões judiciais, bem como as consequências
jurídicas decorrentes da não observância desse princípio.

Pedro Álvares foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de
homicídio, duplamente qualificado, que teria sido praticado contra um desafeto
seu. Ao receber a denúncia, o magistrado processante, atendendo a
requerimento do Parquet, entendeu por decretar a prisão preventiva de Pedro
Álvares sob o único fundamento de que a gravidade extrema do delito
imputado ao acusado já servia para configurar a “garantia da ordem pública”,
como elemento autorizador da prisão cautelar.

Analise a idoneidade da fundamentação apresentada pelo magistrado no caso


em questão.

Chave de resposta: Indiscutivelmente, na hipótese em comento, não houve


motivação apta a embasar um decreto de prisão preventiva. Ora, como

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sabemos, nossa Carta Magna de 1988 erigiu a princípio constitucional a
presunção de inocência até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória e, justamente por isso, uma segregação cautelar de qualquer
indivíduo somente se admite quando demonstrado, no caso real, a efetiva
necessidade da prisão.

Em nosso ordenamento jurídico vigente, a necessidade da prisão cautelar


somente está caracterizada quando um dos requisitos autorizadores previstos
no art. 312 do CPP se faz presente. Não basta, por óbvio, para servir de
fundamentação, a simples menção ao artigo da lei; é preciso que o juiz
evidencie a presença de um desses requisitos com base nos elementos reais
dos autos, não se admitindo a simplória e genérica alegação da gravidade em
abstrato do crime supostamente praticado para justificar medida tão extrema
de caráter cautelar pessoal.

Neste sentido, confira-se elucidativo acórdão proferido pelo Egrégio Supremo


Tribunal Federal:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS DO ART. 312


DO CPP. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONSIDERAÇÃO TÃO-SÓ A
GRAVIDADE ABSTRATA DO CRIME. FUGA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
AUSÊNCIA DE ADITAMENTO AO DECRETO DE PRISÃO. FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Em matéria de prisão processual, a
garantia constitucional da fundamentação do provimento judicial importa o
dever da real ou efetiva demonstração de que a segregação atende a pelo
menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal. Sem o que
se dá a inversão da lógica elementar da Constituição, segundo a qual a
presunção de não-culpabilidade é de prevalecer até o momento do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. 2. A mera referência vernacular à
garantia da ordem pública não tem a força de corresponder à teleologia do art.
312 do CPP. Até porque, no julgamento do HC 84.078, o Supremo Tribunal
Federal, por maioria, entendeu inconstitucional a execução provisória da pena.

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Na oportunidade, assentou-se que o cumprimento antecipado da sanção penal
ofende o direito constitucional à presunção de não-culpabilidade. Direito
subjetivo do indivíduo que tem a sua força quebrantada numa única passagem
da Constituição Federal. Leia-se: "ninguém será preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei" (inciso LXI do art. 5º). 3. Esta nossa Corte entende que a simples
alusão à gravidade do delito ou a expressões de mero apelo retórico não valida
a ordem de prisão cautelar. Isso porque o juízo de que determinada pessoa
encarna verdadeiro risco à coletividade só é de ser feito com base no quadro
fático da causa e, nele, fundamentado o respectivo decreto de prisão cautelar.
Sem o que não se demonstra o necessário vínculo operacional entre a
necessidade do confinamento cautelar do acusado e o efetivo acautelamento do
meio social. 4. Ordem concedida.”
(HC 101705/BA – Relator Min. Ayres Brito - Órgão Julgador: 1ª Turma –
Julgamento: 29/06/2010 – Publicação: Dje-164)

Material complementar

Para saber mais sobre o direito providenciário, leia os textos


disponíveis em nossa biblioteca virtual.

Referências
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão – teoria do garantismo penal. 3. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
GOMES FILHO, Antonio Magalhães. A motivação das decisões penais. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. In:
Estudos de direito processual. Campos dos Goytacazes: Ed. Faculdade de
Direito de Campos, 2005. p. 225/286.

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GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO,
Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal. 6. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição
Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
NICOLITT, André. Manual de processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010.
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da Silva. Fundamentação das sentenças como
garantia constitucional. In: Direito, estado e democracia – entre a
(in)efetividade e o imaginário social. Porto Alegre: IHJ, 2006.
SILVA, Ana de Lourdes Coutinho. Motivação das decisões judiciais. São
Paulo: Atlas, 2012.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 31. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. v. 4.

Exercícios de fixação
Questão 1
Quanto aos atos jurisdicionais penais, assinale a alternativa correta:
a) As decisões interlocutórias simples são aquelas que encerram a relação
processual sem julgamento de mérito ou, então, põem termo a uma
etapa do procedimento. São exemplos desse tipo de decisão a que
recebe a denúncia ou queixa e decreta ou rejeita pedido de prisão
preventiva.
b) As decisões interlocutórias mistas não se equiparam às decisões
interlocutórias simples, pois as primeiras servem para solucionar
questões controvertidas e que digam respeito ao modus procedendi,
sem, contudo, trancar a relação processual, enquanto as decisões
interlocutórias simples trancam a relação processual sem julgar o
meritum causae.
c) A decisão que não recebe a denúncia é terminativa de mérito, por isso
não pode ser considerada decisão interlocutória mista.

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d) As decisões interlocutórias simples servem para solucionar questão
controvertida e que diz respeito ao modus procedendi, sem, contudo,
trancar a relação processual, as interlocutórias mistas, por sua vez,
apresentam um plus em relação àquelas. Elas trancam a relação
processual sem julgar o meritum causae.

Questão 2
A e B foram condenados pela prática de roubo qualificado consumado. A
decisão transita em julgado para A. B recorre. Em razões de apelação, o
defensor de B requer, em preliminar, a decretação de nulidade da sentença de
primeiro grau que não apreciou todas as teses da defesa. No mérito, pleiteia a
absolvição por falta de provas e subsidiariamente o reconhecimento da forma
tentada do delito. O Tribunal absolve B com fundamento no Artigo 386, I, do
Código de Processo Penal e estende a decisão à A. A decisão está:
a) Incorreta porque suprimiu um grau de jurisdição.
b) Incorreta porque A não era parte na fase recursal.
c) Correta porque a absolvição não está fundamentada em motivo de
caráter exclusivamente pessoal.
d) Incorreta porque extravasou os limites do que foi pedido pela defesa.
e) Correta porque obedeceu ao princípio do contraditório.

Questão 3
No que diz respeito à Sentença, é correto afirmar que:
a) Transitada em julgado a decisão absolutória, poderá o Ministério Público
propor outra ação penal contra o mesmo réu pelo mesmo fato, se houver
provas novas.
b) Não será proferida sentença condenatória caso o Ministério Público tenha
opinado pela absolvição.
c) Poderá ser decretada a improcedência da ação penal em outras
hipóteses, além daquelas previstas no Artigo 386 do Código de Processo
Penal.

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d) Deve conter o relatório, a motivação, o dispositivo e a parte
autenticativa.
e) Proferida a sentença condenatória, torna-se certa a obrigação de
satisfazer o dano ex delicto.

Questão 4
Em relação à sentença no processo penal:
a) A sentença conterá a exposição sucinta da acusação, mas detalhada da
defesa.
b) Apenas no caso de sentença condenatória, a intimação da sentença será
feita ao réu, pessoalmente, se estiver preso.
c) O assistente será intimado na pessoa de seu advogado, mas o
querelante necessariamente será intimado pessoalmente da sentença
condenatória.
d) O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação,
no Brasil e no estrangeiro, será computado para fins de determinação do
regime inicial de pena privativa de liberdade.
e) Apenas a defesa pode, no prazo de 2 (dois) dias, opor embargos de
declaração, em razão de obscuridade, ambiguidade, contradição ou
omissão da sentença.

Questão 5
Com relação à sentença penal, é correto afirmar que:
a) Deverá conter, obrigatoriamente, o nome completo das partes.
b) É sujeita a embargos de declaração, que no rito sumaríssimo devem ser
opostos no prazo de 2 (dois) dias.
c) Fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
mas apenas se houver – por exigência legal – expresso pedido da vítima
nesse sentido.
d) Poderá reconhecer nova definição jurídica do fato descrito na denúncia,
sem que seja precedida de aditamento, mesmo que aplique pena mais
grave.

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Questão 6
Ao proferir sentença, o magistrado, reputando irrelevantes os argumentos
desenvolvidos pela defesa, deixa de apreciá-los, vindo a condenar o acusado.
Com base no caso acima, assinale a alternativa correta.
a) Como é causa de nulidade da sentença, a falta de fundamentação deve
ser arguida inicialmente por meio de embargos de declaração, que, se
não forem opostos, gerarão a preclusão da alegação, pois a nulidade
decorrente da falta de fundamentação do decreto condenatório importa
em nulidade relativa.
b) Como é causa de nulidade absoluta da sentença, a falta de
fundamentação não precisa ser arguida por meio de embargos de
declaração, devendo necessariamente, no entanto, ser sustentada no
recurso de apelação para poder ser conhecida pelo Tribunal.
c) Como é causa de nulidade absoluta da sentença, a falta de
fundamentação não precisa ser arguida nem por meio de embargos de
declaração, nem no recurso de apelação, podendo ser conhecida de
ofício pelo Tribunal.
d) Como reputou irrelevantes as alegações feitas pela defesa, o magistrado
não precisava tê-las apreciado na sentença proferida, não havendo
qualquer nulidade processual, pois não há nulidade sem prejuízo.

Questão 7
Em relação à sentença penal proferida em ação de conhecimento:
a) O juiz, ao proferir sentença condenatória, fixará valor máximo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido.
b) Se o réu estiver preso, a intimação da sentença será feita pessoalmente
ao defensor por ele constituído.
c) Somente a defesa pode, no prazo de dois dias, opor embargos de
declaração, sempre que na sentença houver obscuridade, ambiguidade,
contradição ou omissão.

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d) Somente depois do trânsito em julgado da sentença absolutória é que o
juiz ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente
aplicadas.
e) O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o
caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem
prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.

Questão 8
Na sentença condenatória, o juiz:
a) Não precisa fundamentar a necessidade de manutenção de prisão
preventiva.
b) Pode reconhecer circunstâncias agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.
c) Pode atribuir ao fato definição jurídica diversa, sem modificar a descrição
contida na denúncia ou na queixa, prejudicada a suspensão condicional
do processo.
d) Não pode computar o tempo de prisão provisória para fins de
determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.
e) Decidirá de pronto, no caso de entender cabível nova definição jurídica
do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou
circunstância da infração não contida na acusação, se o órgão do
Ministério Público não proceder ao aditamento.

Questão 9
Considerando a sentença penal e seus efeitos, assinale a opção correta.
a) Um dos efeitos necessários da sentença penal condenatória é a prisão do
réu.
b) Os efeitos extrapenais da sentença condenatória, como a obrigação de
reparar o dano causado pelo crime, bem como a perda dos instrumentos
utilizados na prática da infração penal e dos produtos dela provenientes,
independem do trânsito em julgado.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 20


c) Tanto a sentença absolutória própria quanto a imprópria têm como efeito
a vinculação do acusado à instância processual, até o trânsito em
julgado.
d) A sentença penal condenatória, ainda que recorrível, implica entre outros
efeitos imediatos, a inclusão do nome do réu no rol dos culpados.
e) A prolação da sentença penal causa o esgotamento dos poderes
jurisdicionais do magistrado, que, com relação ao feito, não pode mais
praticar nenhum ato decisório, exceto em eventuais provocações, por
meio de recurso próprio.

Questão 10
Assinale a opção correta acerca da execução das sentenças criminais e da
suspensão condicional do processo no âmbito dos juizados especiais estaduais.
a) Não efetuado o pagamento da multa, será feita a inscrição do nome do
condenado na dívida ativa, com a conversão em pena restritiva de
direitos, vedada a conversão em pena privativa de liberdade.
b) A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos
deve ser processada perante o juízo da condenação, aplicando-se
subsidiariamente as normas da Lei de Execução Penal.
c) Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á
mediante pagamento junto à Secretaria da Receita Federal.
d) Devidamente aceita a proposta de suspensão condicional do processo, o
juiz, recebendo a denúncia, poderá determinar a suspensão, submetendo
o acusado a período de prova.
e) Efetuado o pagamento da pena de multa, o juiz declarará extinta a
punibilidade, determinando que a condenação não conste, para nenhum
efeito, dos registros criminais.

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Aula 7
Exercícios de fixação
Questão 1 - D
Justificativa: São decisões que não adentram no mérito da causa. São exemplos
desse tipo decisões: (i) a decisão que recebe a denúncia ou queixa; (ii) a
decisão que concede liberdade provisória; (iii) a decisão que decreta a prisão
preventiva; (iv) quebra do sigilo telefônico.

Questão 2 - C
Justificativa: Para que não seja aproveitada a decisão para coautores e
partícipes, a decisão precisa ser de caráter pessoal, o que não foi o caso. Do
contrário, aproveitará a todos.

Questão 3 - D
Justificativa: Trata-se de fixação de quantum indenizatório mínimo. Nada
impede que seja ajuizada ação futura para complementar o valor.

Questão 4 - D
Justificativa: Trata-se de previsão expressa prevista no Artigo 387, § 2º, do
CPP.

Questão 5 - D
Justificativa: Temos o instituto da emendatio libelli contido no Artigo 383 do
CPP que estabelece a possibilidade de o “juiz, sem modificar a descrição do fato
contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica
diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave”.

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Questão 6 - C
Justificativa: De acordo com o Artigo 93, IX, da Constituição, é caso de nulidade
absoluta a ausência de fundamentação das decisões judiciais.

Questão 7 - E
Justificativa: Trata-se de previsão expressa contida no Artigo 387, § 1º, do CPP:
Artigo 387, § 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou,
se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar,
sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.

Questão 8 - B
Justificativa: Estabelece o Artigo 385 do CPP que “Nos crimes de ação
pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes,
embora nenhuma tenha sido alegada”.

Questão 9 - E
Justificativa: Tendo em vista ter havido o esgotamento da instância, não é
possível, após a prolação da sentença, sua modificação, apenas para os casos
de erro material, embargos de declaração ou recurso que tenha efeito
regressivo.

Questão 10 - D
Justificativa: Por força do que dispõe o Artigo 89 da Lei nº 9.099/95.

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