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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000010902

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2246328-14.2016.8.26.0000, da Comarca de Guarulhos, em que é agravante PAULO JOSÉ
DE MENDONÇA, é agravado IMOBILIARIA E CONSTRUTORA CONTINENTAL
LTDA..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 6ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores VITO GUGLIELMI


(Presidente sem voto), EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE E JOSÉ ROBERTO
FURQUIM CABELLA.

São Paulo, 18 de janeiro de 2018.

Rodrigo Nogueira
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO N.º 516


AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 2246328-14.2016.8.26.0000
AGRAVANTE: PAULO JOSÉ DE MENDONÇA
AGRAVADA: IMOBILIÁRIA E CONSTRUTORA CONTINENTAL LTDA.
COMARCA: GUARULHOS 9.ª VARA CÍVEL
JUIZ: JAMIL NAKAD JÚNIOR

AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPROMISSO


DE COMPRA E VENDA. Rescisão contratual. Decisão
que indeferiu produção de prova pericial por entende-la
desnecessária ao deslinde da causa. Tese do adimplemento
substancial que pode ser conhecida sem a produção de
prova pericial, mediante simples análise do número de
prestações pagas. Por sua vez, o pedido de revisão
contratual - que teria o condão, segundo o agravante, de
aumentar o percentual pago, corroborando o argumento do
adimplemento substancial - deveria ter sido formulado em
sede de reconvenção, não em contestação, ou, ainda, em
ação autônoma. Ademais, cabe ao magistrado decidir a
melhor forma de orientar a formação da base cognitiva a
lhe permitir a exata compreensão da questão submetida a
julgamento, indeferindo a produção de provas
impertinentes. Decisão mantida. Recurso desprovido.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a


r. decisão, colacionada a fl. 18, proferida pelo MM. Juiz da 9.ª Vara Cível da Comarca de
Guarulhos, que indeferiu produção de prova pericial contábil, por entende-la dispensável
ao deslinde do ponto controvertido.

Inconformado, o agravante pugna pela reforma da


decisão, aduzindo que a perícia contábil, a ser feita no instrumento de promessa de compra
e venda, é essencial para solucionar a controvérsia. O indeferimento, portanto, caracteriza
cerceamento de defesa. Aduz, em síntese, que a referida perícia pode demonstrar se o
agravado aumentou indevidamente ou não o valor do contrato.

Recurso tempestivo e processado sem atribuição de


efeito suspensivo (fl. 82/83).

Contraminuta a fl. 88/90.

As partes não se opuseram ao julgamento virtual (fl.


91).
Agravo de Instrumento nº 2246328-14.2016.8.26.0000 -Voto nº 516 2
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É o breve relatório do necessário.

O recurso não comporta provimento.

Inicialmente, consigne-se que a r. decisão agravada


não determinou o desentranhamento do contrato juntado aos autos. Tão somente indeferiu
o pedido de produção de prova pericial contábil sob o fundamento de não ser ela necessária
para o deslinde da causa.

Pois bem.

No caso em análise, alega o agravante, em suma, que


a perícia é essencial para averiguar se há cláusulas abusivas no contrato e se houve
pagamento suficiente do preço para se configurar o adimplemento substancial. Busca,
portanto, em sede de exceção, revisar o contrato, recaindo o pleito de produção de prova
pericial contábil sobre esse pedido revisional.

Todavia, a meu ver, a tese do adimplemento


substancial pode ser conhecida sem a produção de prova pericial, mediante simples análise
do número de prestações pagas.

Por sua vez, o pedido de revisão contratual - que teria


o condão, segundo o agravante, de aumentar o percentual pago, corroborando o argumento
do adimplemento substancial - deveria ter sido formulado em sede de reconvenção, não em
contestação, ou, ainda, em ação autônoma.

Nesse sentido, confira-se o seguinte acórdão:

“AÇÃO DE RESCISÃO DE COMPROMISSO DE


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL C.C.
REINTEGRAÇÃO NA POSSE E INDENIZAÇÃO
POR PERDAS E DANOS. Sentença de procedência
em parte para decretar a rescisão do contrato e a
reintegração de posse, com compensação integral
entre os valores devidos pelas partes. Apelam os réus
arguindo cerceamento de defesa por falta de fase
instrutória; defendem o direito de renegociação da
dívida; atacam a cobrança de taxa de ocupação e perda

Agravo de Instrumento nº 2246328-14.2016.8.26.0000 -Voto nº 516 3


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das parcelas pagas; pugnam ainda pela indenização e


retenção por benfeitorias realizadas no imóvel.
Descabimento. Preliminar. Cerceamento de defesa.
Ausência de fase probatória. Insubsistência. Matéria
eminentemente de Direito. Provas existentes nos autos
suficientes para prolação do julgamento. Aplicável a
Teoria da Causa Madura. Não há cerceamento de
defesa, caso a produção de prova requerida pela parte
seja desnecessária para o deslinde da demanda.
Inadimplemento incontroverso. Inexistência de
impugnação fundamentada ao débito apresentado pela
autora que exigisse a instauração de fase probatória
para sua dilucidação. Tampouco oferecimento de
indício de acessões passíveis de indenização.
Preliminar rejeitada. Mérito. Pertinência da rescisão
contratual e consequente reintegração de posse.
Inadmissibilidade de pugnar pela revisão do
contrato em sede de contestação a pedido
resolutório. Cabimento da incidência de taxa de
ocupação pelo período de utilização do bem em
situação de inadimplemento. Possibilidade de
compensação entre a proporcionalidade dos valores a
serem restituídos com aqueles devidos a título de
cláusula penal e taxa de ocupação, ante o longo
período de inadimplência e posse indevida.
Ressarcimento pelas acessões e direito de retenção.
Descabimento. Ausência de especificação na peça de
defesa. Sentença confirmada. Preliminar rejeitada e,
no mérito, recurso improvido”1.

Não se olvide que "(...) como o Magistrado é o


1TJSP;
Apelação n.º 0002139-19.2008.8.26.0462; Relator: James Siano; Órgão Julgador: 5.ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Poá - 2.ª Vara Cível; Data do Julgamento: 28/09/2011; Data de Registro:
29/09/2011 - g.n.
Agravo de Instrumento nº 2246328-14.2016.8.26.0000 -Voto nº 516 4
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destinatário das provas, a ele cabe a melhor forma de orientar a formação da base
cognitiva a lhe permitir a exata compreensão da questão submetida a julgamento e, em
não havendo restrição legal, tem ele a faculdade, sempre lógica e racional, de admitir
provas tendentes a melhor explicitar os pontos da questão, bem como de indeferir aquelas
que se mostrem impertinentes”2.

Assim, compete ao juiz avaliar a pertinência e


conveniência da produção probatória para formação de seu livre convencimento motivado.

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

RODRIGO NOGUEIRA

Relator

2Agravo
Regimental n.º 0018635-15.2012.8.26.0000, Relator: Erickson Gavazza Marques; Comarca:
Campinas; Órgão julgador: 5.ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 18/12/2013; Data de
registro: 07/01/2014; Outros números: 18635152012826000050000 g.n.
Agravo de Instrumento nº 2246328-14.2016.8.26.0000 -Voto nº 516 5

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