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PATOS
2021
KATIANO RENATO ALVES DE MEDEIROS JUNIOR
Orientadora:
PATOS
2021
KATIANO RENATO ALVES DE MEDEIROS JUNIOR
Orientadora:
BANCA EXAMINADORA:
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Examinador
Faculdades Integradas de Patos
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Examinador
Faculdades Integradas de Patos
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Examinador
Faculdades Integradas de Patos
Ao Picos (in memoriam), por ter visto em
mim um potencial que eu não vislumbrava
à época.
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos, por terem me ajudado a atravessar todos os dramas que
surgiram antes, durante e – já prevejo – após a graduação.
As minhas gatas, responsáveis por trazer calor aos meus dias mais gélidos.
A presente monografia versa sobre uma nova abordagem jurídica que visa instituir
uma análise da Economia e do Direito mais precisa: a Análise Comportamental da
Economia e do Direito. De antemão, nos propomos a discutir sobre o destinatário da
norma, o homo juridicus, pois encontramos uma lacuna na literatura sobre o tema e a
falta de um arquétipo de indivíduo se demonstra como um empecilho para pesquisas
sérias na área. Como uma disciplina que almeja cientificidade pode estudar o
comportamento de seus sujeitos – e, portanto, objetos de estudo – se não conhece
sua identidade? Partimos deste questionamento. Posteriormente, dedicamos um
capítulo do trabalho para tratar dos pressupostos das teorias da escolha racional,
utilizadas pelos economistas neoclássicos para o estabelecimento da figura de um
homo economicus. Por fim, tomando como base o que foi pesquisado, apontamos as
limitações comportamentais específicas da teoria da escolha racional e a
(in)compatibilidade da exportação desse modelo de indivíduo para o Direito.
This monograph deals with a new legal approach that aims to establish a more precise
analysis of Law and Economics: the Behavioral Law and Economics. In advance, we
propose to discuss about the addressee of the law, the homo juridicus, as we find a
gap in the literature on the subject and the lack of an individual model is shown as a
hindrance to serious research in the field. How can a discipline that pursues scientificity
study the behavior of its subjects – and therefore objects of study – if it does not know
its identity? We start from this question. Later, we dedicate a chapter of the work to
deal with the assumptions of theories of rational choice, used by neoclassical
economists to establish the figure of an homo economicus. Finally, based on what was
researched, we point out the specific behavioral limitations of the theory of rational
choice and the (in)compatibility of the export of this model of individual to the Law..
Keywords: Law and Economics. Behavioral Law and Economics. Rational choice
theory. Homo economicus. Homo juridicus.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
2 AS TENTATIVAS DE ESTABELECER UM HOMO JURIDICUS.............................11
2.1 INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS........................................................................11
2.1.1 John Locke.......................................................................................................12
2.1.2 Giorgio Del Vecchio e Alain Supiot.................................................................17
2.1.3 Niklas Luhmann...............................................................................................19
2.1.4 Michel Foucault................................................................................................23
2.2 A INEVITABILIDADE DE UM ARQUÉTIPO DE INDIVÍDUO.................................26
2.3 RACIOCÍNIO JURÍDICO OU RACIONALIDADE JURÍDICA?...............................30
3 A DIFUSÃO DA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO ATRAVÉS DO
DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL...............................39
3.1 CONCEPÇÕES THIN DA TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL............................43
3.2 CONCEPÇÕES THICK DA TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL..........................48
3.3 AMARRANDO OS NÓS........................................................................................51
4 O HOMO ECONOMICUS, O HOMO JURIDICUS E O HOMO
SAPIENS....................................................................................................................61
4.1 RACIONALIDADE LIMITADA...............................................................................63
4.1.1 Emotividade limitada.......................................................................................72
4.1.2 Consciência limitada.......................................................................................73
4.2 FORÇA DE VONTADE LIMITADA .......................................................................75
4.3 AUTO-INTERESSE LIMITADO............................................................................79
4.4 ETICIDADE LIMITADA.........................................................................................83
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................91
REFERÊNCIAS..........................................................................................................92
9
1. INTRODUÇÃO
10
2. DIREITO E ECONOMIA
1
Salientamos o fato de que quando nos referimos a disciplina de Direito e Economia estamos nos
referindo ao agrupamento de análises que compreendem a economia, instituições e normas sociais.
Encontramos diversos autores que confundem a Análise Econômica do Direito com Direito e Economia,
devido ao modo como a disciplina foi batizada em seu idioma nativo, Law and Economics, contudo,
acreditamos que traduzir em sua literalidade mistura duas áreas com abordagens distintas para estudar
o mesmo objeto e, portanto, diferenciamos ambas as nomenclaturas.
11
Ou
2Os autores descrevem como a situação mais exitosa de “incursão imperialista” da Economia em outra
disciplina.
12
um real a menos para gastar em outros. Ou ainda: um estudante que tem duas provas
no outro dia e resolve compartimentar seu tempo para estudar o assunto de ambas;
cada hora gasta para estudar uma das matérias, é uma hora a menos para estudar a
outra.
Os tradeoffs interessam ao direito porque é frequente nos depararmos com
situações similares com consequências jurídicas. O conflito entre liberdade de
expressão e a honra de pessoas públicas; preservação do meio ambiente com custos
excessivos para os proprietários de empresas e, consequentemente, seus
empregados; a disputa frequente entre eficiência e igualdade na formulação de
políticas sociais como cotas raciais ou redistribuição de renda. Em relação ao último
embate, Mankiw (2013) afirma que eficiência alude ao tamanho do bolo, ao passo que
a igualdade trata da divisão do bolo em fatias iguais. Ele pensa que se o Estado intenta
partir a sobremesa em fatias mais iguais, ela perde tamanho, se faz ineficiente. Porém,
engana-se que ao falar isso o autor defende uma ausência de políticas sociais. Sua
intenção é que o reconhecimento de tradeoffs pode não dizer quais atitudes serão
realizadas pelos tomadores de decisão, só que estar ciente desse fato é essencial
para a tomada de boas decisões.
Tristemente, a comunidade jurídica majoritária não adota essas visões. Uma
decisão judicial sempre afeta a terceiros, mesmo que indiretamente ou em segundo
plano. Os operadores do Direito deixam escapar essa informação porque estão
preocupados com as consequências diretas, mais facilmente vislumbradas. O
momento em que uma decisão judicial adjudica um valor, este foi escolhido no lugar
de outro, assim como o valor auferido está imerso na lógica mercadológica da
escassez. Não existe almoço grátis.
A ciência demonstrou que os recursos são escassos e as pessoas tendem a
realizar suas ações visando maximizar seus interesses e satisfazer suas
necessidades, quer dizer, exibem auto-interesse. Em um cenário em que as
necessidades dos indivíduos são imensuráveis e os recursos padecem de escassez,
o mais razoável a se fazer é alocá-los da melhor forma possível, de forma que a
coletividade possa extrair o mais satisfatório resultado possível com seus recursos
escassos. Esses axiomas são aplicados em esferas que não a mercadológica. É um
pressuposto de subsistência. Vislumbrá-los pela ótica jurídica é garantir que decisões
mais racionais, razoáveis e eficientes sejam tomadas; é aumentar o zoom da lente
14
jurídica para tornar mais visíveis os interesses que devem ser protegidos em numa
situação de conflito de direitos/entre princípios; é dar mais segurança jurídica.
“Um incentivo é algo que induz uma pessoa a agir, tal como a perspectiva de
uma punição ou recompensa. Como as pessoas racionais tomam decisões
comparando custo e benefício, elas respondem a incentivos.” (MANKIW, 2020, p. 6,
grifos do autor) O estudo da maneira como se configura a tomada de decisão
individual tem potencialidades inexploradas para se avaliar, por exemplo, a eficácia e,
num tempo em que o ativismo judicial é cada vez mais utilizado, a constitucionalidade
da lei ou decisão judicial. Fulano demonstra isso com uma história boba:
Por mais trivial que seja, essa história ilustra o cenário em que agem os
incentivos. Tudo estava acontecendo normalmente, até que um elemento novo entrou
em cena e deu um incentivo para a situação mudar. E ela mudou. Depois as coisas
normalizam novamente.
Mesmo que não descreva os comportamentos da forma mais precisa, a
assunção do homo rationalis é útil para mapear uma cadeia genérica de situações
que, mesmo incompleta, abarca padrão geral (GUASQUE, 2018); e a última citação
de Mankiw deixa explícito que ele pressupõe que as pessoas agem racionalmente, ou
seja, ele condiciona a eficácia dos incentivos à racionalidade do indivíduo. Semelhante
pode ser dito sobre o enunciado econômico da externalidade, a qual
surge quando uma pessoa se envolve em uma atividade que provoca impacto
no bem-estar de um terceiro, que não participa dessa ação, sem pagar nem
receber nenhuma compensação pelo impacto provocado. Se o impacto sobre
o terceiro for adverso, isso é denominado externalidade negativa. Se é
benéfico, é chamado de externalidade positiva. (MANKIW, 2020, p. 156,
grifos do autor)
É sobre esse fenômeno a que estávamos nos referindo quando dissemos que
toda decisão judicial afeta terceiros: “externalidades negativas aparecem quando uma
15
REFERÊNCIAS
MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. E-
book.
MERCURO, Nicholas; MEDEMA, Steven G. Economics and the Law: from Posner
to Postmodernism and beyond. 2. ed. Princeton: Princeton University Press, 2006.