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Rio de Janeiro
2013
O SERVIÇO NACIONAL DE DOENÇAS MENTAIS NO GOVERNO JK: A
ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA PARA O DISTRITO FEDERAL.
Rio de Janeiro
2013
B813 Braga, André Luiz de Carvalho.
O Serviço Nacional de Doenças Mentais no governo JK:
a assistência psiquiátrica para o Distrito Federal./ André Luiz de
Carvalho Braga – Rio de Janeiro : s.n., 2013.
185 f .
CDD 362.2
ANDRÉ LUIZ DE CARVALHO BRAGA
Aprovado em de .
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________________
Prof. Dra. Ana Teresa Acatuassú Venancio (Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz) –
Orientadora
________________________________________________________________________
Prof. Dr. Prof.Dr. Pedro Gabriel Godinho Delgado (IPUB-UFRJ)
________________________________________________________________________
Prof. Dr. Gilberto Hochman (Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz)
Suplentes:
________________________________________________________________________
Jane Araújo Russo (IMS/UERJ)
________________________________________________________________________
Prof. Dra. Cristina Maria Oliveira Fonseca (Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz)
Rio de Janeiro
2013
À minha mãe e à Vania, com eterna gratidão.
A Luiz Carlos de Souza Braga, in memorian.
`
AGRADECIMENTOS
À Maria Cristina, minha mãe, pela dedicação integral a minha formação humana e
intelectual, por ter sido em muitas ocasiões mãe e pai, mas principalmente por nunca ter
desistido de mim. Conseguimos!
À Vania, pelo companheirismo nos momentos mais complicados, entendimento sobre a minha
constante ausência nos últimos dois anos e pelo amor demonstrado durante essa jornada.
Conseguimos!
Aos meus familiares que de algum modo contribuíram com a minha mãe na minha criação.
À minha orientadora, Ana Venancio, por acreditar em mim quando nem eu mesmo tinha certeza.
Muito obrigado pelas horas de dedicação ao nosso projeto e pela paciência nas nossas reuniões
de orientação. Certamente este trabalho ficaria apenas no campo das intenções se não fosse pela
sua orientação.
Aos professores da COC, que por meio do convívio nas aulas e nos encontros acadêmicos,
ampliaram a minha visão de estudos no campo da história das ciências e da saúde.
Aos funcionários da COC, que facilitaram esta pesquisa dando o suporte necessário que um
estudante de mestrado necessita.
Aos meus colegas alunos da COC que durante esse período intenso de estudos e pesquisas
possibilitaram uma convivência enriquecedora no campo acadêmico.
Aos amigos “canhotos”, que ao longo desses últimos anos me permitiram compreender a
importância de uma das funções de um historiador, contribuir com a construção da identidade de
um povo e do entendimento de suas atuais condições socioeconômicas.
Introdução 14
Bibliografia 172
Fontes Primárias 172
Legislação 172
Acervo IMASJM 173
Periódicos 179
Artigos em periódicos 179
Referências Bibliográficas 180
Lista de Abreviaturas
• AHM’s – Ambulatórios de Higiene Mental
• CAP’s- Caixas de Aposentadoria e Pensões
• CGR – Colônia Gustavo Riedel
• CJM – Colônia Juliano Moreira
• COI – Clínica de Orientação Infantil
• CPIJ – Clínica Psiquiátrica Infanto Juvenil
• CPN – Centro Psiquiátrico Nacional
• DAP – Divisão de Assistência a Psicopatas
• DAPPM – Diretoria de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental
• DASP – Departamento de Administração do Serviço Público
• DNERu – Departamento Nacional de Endemias Rurais
• DGSP – Diretoria Geral de Saúde Pública
• DINSAM - Divisão Nacional de Doenças Mentais
• DNS – Departamento Nacional de Saúde
• DNSP – Departamento Nacional de Saúde Pública
• DOH – Divisão de Organização Hospitalar
• DOS – Divisão de Organização Sanitária
• EEAP – Escola de Enfermagem Alfredo Pinto
• HGR – Hospital Gustavo Riedel
• HNPI – Hospital de Neuro Psiquiatria Infantil
• HNS – Hospital de Neuro Sífilis
• HP II – Hospício Pedro II
• IAPs – Instituto de Aposentadoria e Pensões
• IMASJM – Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira
• INS – Instituto de Neuro-Sífilis
• IOC – Instituto Oswaldo Cruz
• IP – Instituto de Psiquiatria
• IPCPN – Instituto de Psiquiatria do Centro Psiquiátrico Nacional
• IPUB – Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil
• LBHM – Liga Brasileira de Higiene Mental
• MES – Ministério da Educação e Saúde
• MESP – Ministério da Educação e Saúde Pública
• MJ – Manicômio Judiciário
• MJHC – Manicômio Judiciário Heitor Carrilho
• MTIC – Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
• PHP – Plano Hospitalar Psiquiátrico
• PAHP – Plano Mínimo de Assistência Hospitalar Psiquiátrico
• S.A – Seção de Administração
• SAP – Serviço de Assistência a Psicopatas
• S.C – Seção de Cooperação
• SNs – Serviços Nacionais
• SNM – Serviço Nacional de Malária
• SNDM – Serviço Nacional de Doenças Mentais
Lista de Quadro
P.
Quadro 1 Cronologia da inauguração de locais de internamentos de
doentes mentais no Brasil até 1954 61
Esta dissertação tem como objetivo analisar a atuação do Serviço Nacional de Doenças Mentais
(SNDM) durante a administração Kubitscheck (1956-1960), em especial a destinada à cidade do
Rio de Janeiro, considerando-se o contexto histórico e político do nacional desenvolvimentismo.
Para tanto foram analisadas fontes primárias encontradas em periódicos psiquiátricos e
documentação do SNDM encontrada no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano
Moreira (IMASJM), além de bibliografia acerca da assistência psiquiátrica, saúde pública e o
governo JK. Criado em 1941, durante o período do primeiro governo de Getúlio Vargas,
intitulado como Estado Novo, o SNDM foi idealizado como o órgão administrativo de
abrangência nacional que, pela primeira vez, possibilitasse a expansão da assistência psiquiátrica
pública para todas as regiões brasileiras. Observamos que na cidade do Rio de Janeiro, este órgão
federal também agia de forma direta na área executiva das políticas públicas para o setor, tendo
sob sua subordinação instituições que prestavam serviços psiquiátricos assistenciais à população.
Em relação aos estados, o SNDM participava de forma indireta na execução, pois as instituições
psiquiátricas locais eram administradas pelos governos estaduais. Por outro lado, exercia função
normatizadora e financiadora das assistências psiquiátricas locais, por meio de convênios
firmados com os estados para a realização de obras, manutenção de instituições psiquiátricas e
realização de terapêutica praxiterápica. Observamos assim como o nacional-
desenvolvimentismo, colocado em prática, principalmente, por meio da expansão da atuação
estatal no interior do país, convergia com uma das principais diretrizes do SNDM, a saber, a
expansão das ações federais no campo psiquiátrico em todo o país, e não apenas nos principais
centros políticos e econômicos do país.
ABSTRACT
Created in 1941, during the period of the first Government of Getúlio Vargas, titled as "Estado
Novo", the National Service of mental illness (SNDM) was designed as the first nationwide
organ that, in fact, allow the expansion of public psychiatric care for all Brazilian regions.
However, it was in the city of Rio de Janeiro, this federal agency acted directly on the Executive
public policies for the sector. Having under his subordination four institutions that provided
assistance to psychiatric services. In relation to States, the SNDM acted indirectly in the
implementation, because the local psychiatric institutions were administered by State
Governments. On the other hand, normatizadora function and funding of local psychiatric
assistance, through agreements concluded with the States for the execution of works,
maintenance of psychiatric institutions and praxiterápica therapy. This dissertation aims to
analyze the performance of SNDM during Kubitscheck administration, which in turn, had as its
main flag national developmentalism, put into practice, especially through the expansion of State
activities in the interior of the country. Converging with one of the main guidelines of SNDM,
the expansion of federal actions in the psychiatric field across the country, and not just in the
main political and economic centers of the country.
14
INTRODUÇÃO
Ainda criança fui morar no bairro de Jacarepaguá, a apenas dois quilômetros e meio da
Colônia Juliano Moreira, da janela do meu quarto é possível ver o morro Dois Irmãos, localizado
ao lado da instituição. Essa proximidade, paradoxalmente somada a dificuldade de acesso ao
local, que ajudava a constituir o imaginário coletivo da população da região sobre a Colônia, a
transformava em um dos piores pesadelos para uma criança. Somado a isso, todas as pessoas que
apresentavam crises agudas de distúrbios mentais acompanhadas de agressividade, que
colocassem em risco a sua própria vida ou a de outras pessoas eram lá internadas, e na maioria
das vezes nunca mais tínhamos notícias delas. A Colônia era na minha concepção infantil e de
muitos dos meus amigos na época, um local habitado por pessoas “perigosas” e “desajustadas” e
ninguém sabia o que se passava por lá; era, portanto, um local a ser evitado.
Quando já havíamos aceitado a ideia de que tudo que ouvíamos até então sobre o local
eram apenas estórias, nos deparamos com um grupo de internos que andavam pelo meio da rua
em sentido contrário ao do carro em que estávamos, eram cerca de cem pessoas, todas vestiam
calça azul e camisa branca. O impacto daquela cena para nós foi avassalador, demoramos muito
a tomar uma decisão. Quando nos demos conta a massa uniformizada de azul e branco já estava
ao nosso lado. A cena foi marcante, todos de cabeças raspadas, quase carecas, inclusive as
mulheres, praticamente todos sem dentes ou com pouquíssimos na boca, alguns deles com
olhares perdidos, outros com olhos arregalados que pareciam prestar atenção em tudo ao mesmo
tempo.
15
Olhares entre ambos os grupos se entrecruzavam: do lado deles, uma mistura heterogênea
e paradoxal entre curiosidade e indiferença; do nosso, predominava o medo; do meu, em
especial, além do temor, um misto de curiosidade e compaixão. Deste momento em diante a
Colônia Juliano Moreira passou a ser um foco inesgotável de perguntas a serem preenchidas.
Nascia assim, um historiador da psiquiatria.
Durante a elaboração desta monografia me deparei com farta informação sobre a história
da psiquiatria no Brasil no que diz respeito a sua gênese enquanto especialidade médica durante
o século XIX, sobre a expansão da assistência pública psiquiátrica até a década de 1940 e, por
fim, sobre a reforma psiquiátrica brasileira levada a efeito já no final da década de 1970. O
campo da história da saúde relativa à psiquiatria brasileira revela-se, no tocante as suas políticas
públicas, uma seara que ainda permanece na penumbra devido à ausência de dados substanciais
relativos ao seu desenvolvimento histórico. Há uma lacuna grande no que diz respeito ao recorte
temporal das pesquisas já feitas sobre tal temática. Observa-se assim, um vazio historiográfico
entre as décadas de 1950 e 1960. Portanto, este trabalho pretende começar a compreender de que
forma a assistência psiquiátrica pública no Brasil pode, ainda na década de 1940, estar em ampla
expansão e ser alvo de grande investimento, mesmo que por vezes considerado insuficiente, e
três décadas depois apresentar um quadro de abandono atroz aos que necessitavam de tais
serviços. O que acontecera entre as décadas de 1950 e 1960 no que se refere às políticas públicas
de saúde para a área psiquiátrica?
1
Inaugurada em 29 de março de 1924.
16
iniciando-a no período de gênese da psiquiatria brasileira, na segunda metade do século XIX, até
o período contemporâneo à produção de tais textos. Nestes termos, analisam o processo de
criação da assistência psiquiátrica, sua expansão a partir da atuação do SNDM no Estado Novo
Varguista e seu processo de degradação que culminou com uma forte contestação do modelo
assistencial vigente à época, por parte dos profissionais do setor, resultando na chamada reforma
psiquiátrica. (cf. Medeiros, 1977; Resende, 1987; e Paulin & Turato, 2004).
A falta de pesquisas específicas mais recentes sobre a história da psiquiatria nos anos de
1950 e 1960 fica subordinada a um maior interesse no desenvolvimento de estudos sobre um
período relacionado à transformação da assistência psiquiátrica que se processa no Brasil a partir
do final da década de 1970 (cf. Medeiros, 1977; Resende, 1987; e Paulin & Turato, 2004). Tal
transformação teve como estopim um episódio conhecido como a “crise da Dinsam”, “...onde
profissionais das grandes unidades do SNDM no Rio de Janeiro (Centro Psiquiátrico Pedro II –
CPPII; Colônia Juliano Moreira; Hospital Pinel; e Manicômio Judiciário Heitor Carrilho –
MJHC) deflagram uma greve...” (cf Amarante 1995, p.58). A partir desta temática, a produção
acadêmica sobre assistência psiquiátrica volta a se fazer presente com mais constância,
principalmente analisando e descrevendo modelos e experiências de atendimento psiquiátrico no
Brasil contemporâneo consideradas expressivas da reforma psiquiátrica.
2
O termo é retirado do título: Diário do Hospício: o cemitério dos vivos, livro escrito por Lima Barreto, durante
uma de suas internações no Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro.
18
SNDM durante o governo JK, que se constitui num período pouquíssimo analisado pela
historiografia da psiquiatria, como já mencionado, permite a construção de bases para futuras
comparações acerca das permanências e rupturas nas diretrizes e ações desse órgão na condução
da assistência psiquiátrica nacional.
3
Lima, Fonseca e Hochman (2005) não mencionam como exemplos as rupturas consideradas expressivas no
governo JK, tanto em relação às administrações anteriores quanto em relação aos governos posteriores a este.
19
4
Fazia-se cidadão todos os membros da sociedade que exerciam qualquer atividade trabalhista reconhecida e
definida por lei (Santos, 1987, p. 68).
20
A partir da leitura dos textos acima pude perceber que ao longo das décadas de 1950 e
1960 a saúde pública no Brasil adquiriu características conceituais próprias, quando novos
sentidos foram dados à construção do Estado e da nação, sendo relacionados diretamente com o
“otimismo sanitário” do pós-guerra, quando se observou um aumento no poder da ciência e da
medicina (Lima, Fonseca e Hochman, 2005, p.46). Neste momento associava-se saúde a um bem
de valor econômico, sendo o investimento em capital humano fundamental para o
desenvolvimento e progresso das nações, especialmente nos países mais pobres, onde doenças,
em particular, as transmissíveis, tornavam-se obstáculos ao desenvolvimento dos países: o
combate a esses males servia de critério para classificar territórios e incorporá-los
assimetricamente ao mundo capitalista e “moderno” (idem, p.47).
Como fontes primárias utilizei vários tipos de documentos: legislação sobre assistência
psiquiátrica; periódicos de instituições assistenciais e normativas relativas ao campo psiquiátrico,
todos encontrados na seção de periódicos da Biblioteca Nacional; relatórios anuais de todos os
5
Embora Escorel e Teixeira (2008) vão mais além, iniciam sua pesquisa no período final do império.
22
das revistas contêm arquivos acadêmicos nacionais e estrangeiros sobre a psiquiatria; e por fim,
Noticiários, onde são publicadas notícias referentes ao próprio órgão e suas atividades. Por meio
desses dois periódicos pude acessar informações sobre os mecanismos assistenciais psiquiátricos
utilizados na década de 1950 pelo SNDM, tais como, as terapêuticas ofertadas, o modelo asilar
predominante, as diretrizes utilizadas na expansão desta assistência para todo o território
nacional e o modus operandi do órgão na cidade do Rio de Janeiro.
As demais fontes documentais produzidas pelo SNDM e seus órgãos, utilizadas nesta
pesquisa, estão localizadas no Centro de Documentação e Pesquisa do IMASJM. Trata-se de
1500 caixas, com apenas 1000 caixas catalogadas, as quais tem como instrumento de busca uma
listagem num caderno manuscrito. A partir dessa listagem foram selecionados os seguintes tipos
de documentos: os relatórios elaborados pelas instituições assistenciais no DF subordinadas ao
SNDM, relatórios do próprio SNDM referentes aos serviços prestados na assistência pública
psiquiátrica no DF entre os anos de 1953 e 1961; novas legislações, portarias e decretos;
correspondência entre autoridades, termos de convênios, termos de acordos, planos de
emergência e relação de redistribuição de pacientes, tanto do SNDM quanto de suas instituições
subordinadas no Distrito Federal durante os anos de 1954 e 1961; por fim, as justificativas
orçamentárias que demonstram em que os diretores das instituições psiquiátrica da cidade do Rio
de Janeiro utilizavam suas verbas, o que permitirá observar quais eram as suas demandas no ano
a que se referir o documento.
Inspirado na análise realizada por Fonseca (2007) sobre como as ideias presentes nos
diversos setores que compunham a base política de apoio do governo Vargas tornaram-se de fato
ações de políticas públicas, utilizo como referencial teórico a relação entre os conceitos de
filosofia pública e ideias programáticas formulado por Margareth Weir (1992), que me permite
compreender quais as diretrizes das políticas públicas articuladas ao ideário do governo JK e
como elas se faziam presentes na prática. A autora formulou tais conceitos, de filosofia pública e
ideias programáticas, no intuito de analisar a influência das ideias nas ações governamentais,
examinando assim, o ajuste entre ideias e políticas e investigando como e por que elas mudam
durante todo o tempo. Para isso, a autora rastreia o desenvolvimento e o trajeto que
influenciaram essas ideias e interesses materiais dentro do contexto institucional do que ela
chama de policy-making (formulação de políticas). Toma como estudo de caso o
24
desenvolvimento das políticas de geração de emprego dos Estados Unidos entre o New Deal7 e a
administração Reagan (1981-1989), com ênfase na análise de quando e como algumas ideias
deixam de influenciar o cenário político. Weir explica que durante a década de 1930 o Estado
americano era um grande provedor de oferta de emprego, onde a filosofia pública
(Keynesianismo) estava em adequação com as ideias programáticas (aumento na participação
estatal na economia e consequentemente no planejamento da política nacional de expansão do
mercado interno) do período pós-crise de 1929. Já na década de 1970 esse papel estatal
começava a perder força e ser questionado e, na década seguinte, principalmente na metade final
do decênio, o debate mudou: de “como” o governo deveria agir passou para “se” o governo
deveria agir. Segundo a autora, Reagan em seu segundo mandato, com seu grande ímpeto
neoliberal, intensificou a desmontagem do estado de bem-estar social, a desregulamentação da
economia e, como conseqüência, viu ampliar o desemprego dos norte-americanos e a
concentração de renda dos mais ricos. Para Weir, a força das ideias de Reagan (filosofias
públicas), pró-mercado, ganhou vulto devido a uma atraente retórica e um conjunto de ideias
programáticas sobre o funcionamento da economia, somado a desilusão sobre os rumos
econômicos do país nos anos 1970. Tais ideias pareciam plausíveis, em parte, porque eram
visivelmente aptas a serem colocadas em prática pelas instituições norte-americanas, estando
assim em consonância com os meios administrativos8 do período (Weir, 1992, p.208).
7
Plano elaborado na administração de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) por um grupo de economistas que se
baseavam nas teorias de John Maynard Keynes, que deu origem ao Keynesianismo (teoria econômica anti-liberal),
que tinha como objetivo superar as dificuldades econômicas norte-americanas do pós-crise de 1929.
8
Por meios administrativos Weir (1992) entende os mecanismos de efetivação das ideias programáticas, tal como
verbas e aparato técnico disponíveis para efetivação de políticas estipuladas a um determinado setor.
25
diferenciá-las em termos de suas influências no campo político. Filosofia pública tem um papel
central na organização política, mas sua capacidade de dar direção às ações é limitada, pois sem
articular-se às ideias programáticas sua influencia é dificilmente sustentada. Da mesma forma o
inverso, ideias programáticas são mais válidas quando sujeitas a uma filosofia pública; ainda
que tais ideias precisem estabelecer laços com os meios administrativos, pois quando não
articuladas, a influencia de cada uma tende a não se estabelecer (Weir, 1992, p.208).
Para o presente trabalho tal teoria norteia a análise do conjunto de ideias e ações do
governo JK (1956-1961), entendendo como filosofia pública de seu governo as concepções em
torno do desenvolvimentismo, que tem no período imediatamente após a segunda guerra mundial
o seu florescer, chegando ao ápice no final da década de 1950. Boris Fausto (2001) classifica
esse conceito como nacional-desenvolvimentismo, o qual sintetiza uma política econômica que
tratava de combinar o Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro, com ênfase na
industrialização, simbolizada pelo Plano de Metas. No campo social as ideias e ações eram
norteadas e diluídas nos conceitos de atraso/pobreza, identificadas como a primeira causa da
posição desfavorável do país no cenário internacional. Assim, sua superação seria possível uma
vez que fosse atacada a origem do problema: o sub-desenvolvimentismo dos países agro-
exportadores. Neste caso, a miséria é tratada em termos quantitativos e medida por padrões
nacionais (PNB, renda per capta, índices de produção industrial, etc). “Em outros termos... o
combate à miséria é idêntico ao aumento da riqueza nacional” (Teixeira, 1988, p.12). Portanto,
a miséria não se constituía num problema social, mas sim numa preocupação econômica, em que
a ênfase na industrialização, aparecia como modo de melhorar a condição de vida da população
brasileira.
Desse modo, o texto que segue está divido em três capítulos. No primeiro capítulo,
intitulado “A Conjuntura Política do Governo JK e a Área da Saúde”, buscou-se compreender
como um governo como uma administração federal, mesmo num período conturbado, com
tentativas de golpes de estado e investidas militares para impossibilitar posses de presidentes,
como foi no seu próprio caso, conseguiu estabilidade política e institucional para empreender
tantos projetos modernizantes de tamanha envergadura. Ao longo do capítulo é possível observar
que foi a ideologia desenvolvimentista de JK que possibilitou a integração de forças políticas e
sociais, no Congresso, nas forças armadas, nas classes trabalhadoras urbanas e na burguesia
industrial, em torno de seu governo, pois viam em tal “filosofia pública” – o desenvolvimentismo
– viabilidade necessária para apoiá-lo. Porém o desenvolvimentismo atuava em conjunto com o
nacionalismo integrador, no qual o desenvolvimento econômico e social somente seria bem
sucedido se houvesse integração nacional e, portanto, se o Estado brasileiro fosse capaz de levar
suas ações de forma homogênea para todo o seu território, ainda que respeitando as vicissitudes
locais, inclusive na área da saúde. Tanto a filosofia pública quanto as ideias programáticas para a
área da saúde da administração Kubitscheck, são originários de períodos pretéritos ao seu
governo, em especial o primeiro governo Vargas (1930-1945) que, ao longo dos anos, foram
recebendo novas características e perdendo outras, dependendo das contingências de cada
período.
políticas públicas para a área psiquiátrica no país, o que permaneceu durante o governo JK.
Entretanto, o SNDM não agia plenamente de forma direta nos estados. Centralizava-se no órgão
as ações normativas e financiadoras por meio de convênios firmados com os governos locais
para a realização de obras nas instituições locais, manutenção de seus hospitais e promoção da
praxiterapia como método de terapêutica a ser utilizado. Além disso, pequena parte da
assistência, também era prestada nos estados por meio do SDNM, através de alguns ambulatórios
de higiene mental espalhados pelas unidades da federação e administrados diretamente pelo
órgão. Porém, a parte executiva dos hospitais locais ficava a cargo dos governos estaduais.
CAPÍTULO 1
2011), porém, viam nas “classes sociais arcaicas” um grande empecilho ao processo de
modernização e industrialização. Tais grupos eram identificados pelos isebianos, como os setores
latifundiários, os ligados ao comércio exterior e a classe média tradicional, sem nenhum interesse
no desenvolvimento nacional baseado na indústria e mercado interno. Neste sentido, os
intelectuais do ISEB difundiam a necessidade de produzir e divulgar a chamada “ideologia do
desenvolvimento nacional, com o interesse de sedimentar a aliança das chamadas “classes
dinâmicas” contra os segmentos políticos e sociais “atrasados”. Para eles a propaganda,
fundamental, mas não exclusiva, seria capaz de aglutinar sob o mesmo ideal, o proletariado, os
camponeses e a classe média (setores sociais dinâmicos), o que tornaria possível alcançar o
desenvolvimento industrial sob a liderança da burguesia (Moreira, op cit., 162-163).
Outro grupo próximo a Kubitschek era formado por políticos progressistas, sobretudo os
ligados ao PTB, embora no campo político partidário o movimento fosse plural, e agregasse
setores de várias outras legendas partidárias como o PSD, a UDN e o PCB. Defendiam
principalmente a industrialização e criticavam o modelo agro-exportador precedente. Estavam
interessados no aprofundamento da industrialização nacional, e para tanto, tinham a convicção de
que era preciso que o país realizasse reformas estruturais como, por exemplo, a reforma agrária,
que seria capaz de elevar o padrão social e econômico das massas rurais auxiliando na
sustentação do modelo de desenvolvimento econômico baseado no fortalecimento do mercado
interno (idem, pp. 168-169).
Não apenas durante o período JK, mas durante a pequena experiência democrática no
Brasil (1946-1964), de maneira geral, os debates no campo ideológico circulavam em torno de
dois pólos antagônicos, no qual seus grupos defensores reuniam-se em blocos que absorviam em
9
De um lado representantes das oligarquias estaduais alijadas do poder após a Revolução de 1930, interessadas na
manutenção da autonomia dos estados, onde poderiam continuar direcionando os rumos políticos, econômicos e
sociais dos seus “representados”. Do outro lado, os revolucionários de 1930, que constituíam um quadro
heterogêneo, que desejavam apenas maior atendimento à sua área de atuação, com um mínimo de transformações, a
exceção dos quadros civis mais jovens, que se associaram transitoriamente aos “tenentes”, que antes do período
varguista, eram um movimento de rebeldia contra o governo da República, e depois entraram no governo e
procuraram promover seus objetivos, tais como: o atendimento mais uniforme das necessidades das regiões do país,
a nacionalização das riquezas naturais, dos meios de comunicação e transporte. Para isso, era preciso um governo
federal centralizado e estável, o que os dissociava nitidamente dos pontos de vista liberais. (Fausto, 2006, p. 326-
341).
33
Tais grupos dicotômicos marcaram presenças na sociedade civil e nas instituições como o
poder legislativo. No Congresso Nacional a distribuição voluntária de parlamentares em
“Frentes” traduziu a polarização da sociedade civil. Formou-se a Frente Parlamentar Nacionalista
(FPN), constituída em 1956, que apresentavam como bandeiras a defesa do nacionalismo e do
desenvolvimentismo como forma de alcançar a autonomia e soberania nacional frente às outras
nações do mundo; seus documentos refletiam a heterogeneidade ideológica, buscando
fundamentação teórica junto a ala mais nacionalista do ISEB. Do outro lado da trincheira, a
resposta no campo parlamentar ao crescimento da FPN foi a instauração da Ação Democrática
Parlamentar (ADP), que embora tendo sido criada apenas em 1961, seus militantes políticos10,
antes de sua criação, ainda durante todo o governo JK, entravam em choque com as propostas
dos nacionalistas no parlamento nacional. Defendiam intransigentemente a iniciativa privada e os
investimentos estrangeiros no Brasil, tudo isso baseado nos preceitos liberais. Fora do campo
político os liberais pró-Estados Unidos tiveram grande atuação também no Instituto Brasileiro de
Ação Democrática (IBAD), fundada em 1959, sob marcada influência do lado capitalista da
“Guerra Fria”, tendo como objetivo o combate às ideias comunistas no Brasil, sendo financiado
por empresários brasileiros e estrangeiros (Delgado, 2011, pp. 147-148).
10
Quadros da UDN, do Partido Republicano (PR) e por alguns integrantes do PSD afastados ideologicamente da
coligação com o PTB.
34
Essa união entre PSD e PTB somente foi possível graças ao projeto nacional
desenvolvimentista que levou JK ao poder, pois estabelecia um “ponto ótimo” entre tais grupos
tão distintos. Para a burguesia industrial ligada ao primeiro partido a ênfase no
desenvolvimentismo evitava a discussão nacional e da intervenção estatal na economia brasileira.
Além disso, para o PSD era essencial poder negociar junto às suas bases eleitorais, como os
proprietários de terras, que viam na intensificação da urbanização e industrialização bons meios
de aumentar seus lucros (pois seriam eles que forneceriam alimentos para as cidades em
crescimento), assim como a grande meta de integração nacional, sintetizada por Brasília, era
vista como um passo importante na formação de um sistema integrado da produção nacional
(Moreira, 2011, p. 177). Outro grupo de apoio do PSD era composto pelas empreiteiras, que
assim como os ruralistas, se beneficiariam das obras previstas no Plano de Metas, tais como
rodovias e extensão da rede elétrica. No que interessava o segundo partido, o PTB, o governo
ampliou o grau de ingerência das representações sindicais em decisões governamentais, além de
praticar subsídio estatal de produtos básicos ao cotidiano das massas trabalhadoras (como o
petróleo e o trigo) que viam no projeto desenvolvimentista do governo uma chance concreta de
construir um futuro melhor através do seu próprio trabalho (Mendonça, 2000, p. 343).
Outro fator que possibilitou essa referida estabilidade ao governo em questão, fora a
importância do papel do exército durante o período. Juntamente com o voto popular ao novo
presidente, o exército legitimara o novo governo principalmente após o golpe preventivo do
General Lott que possibilitou a posse de JK e Jango, em janeiro de 1956. Mesmo não havendo
homogeneidade na alta oficialidade das forças armadas, as altas patentes, especialmente do
exército, estavam dispostas a garantir a continuação do jogo democrático, conquanto fosse
respeitado os limites da ordem e do combate ao comunismo. Após a tentativa fracassada de
impedir a posse de JK, os ânimos golpistas arrefeceram. O novo presidente iniciaria seu governo
ressaltando a necessidade da promoção, pelo Brasil, do desenvolvimento e ordem, que eram
objetivos mais gerais dos militares. Somado a isso, os interesses econômicos dos militares
convergiam com o ideal desenvolvimentista do governo, o que possibilitaria o atendimento às
reivindicações militares (como plano de vencimentos e equipamentos) e a implementação de
36
mecanismos de cooptação por meio do papel suprapolítico das Forças Armadas diante da
crescente participação dos militares no poder, ocupando cargos importantes no governo
(Benevides, 1979, p.149). Tal apoio foi fundamental, pois o exército possuía um papel de
coerção, sobretudo no período em questão, onde as forças armadas frequentemente intervinham
na vida política do país11.
Para analisar como o governo JK conseguiu colocar em prática suas ideias programáticas
no campo da saúde, torna-se fundamental o mapeamento do processo de construção da ideia que
permeou a administração JK, tomando como parâmetro o conceito de “policy-making” de Weir
(1992), no qual a filosofia pública deste governo, o nacional desenvolvimentismo, parecia
plausível, em parte, porque era visivelmente apta a ser colocada em prática pelas instituições e
grupos políticos e econômicos brasileiros, mas também por estar em consonância com os meios
administrativos. Neste sentido, é preciso entender de onde surgiu o nacional desenvolvimentismo
e como tal ideologia, presente na administração JK, conseguiu transpor o campo das ideias e
consubstanciar-se em políticas públicas.
11
A intervenção militar na vida política do país era uma constante até a redemocratização da década de 1980.
Depuseram ou tentaram depor inúmeros governantes, como nos casos a seguir: derrubada do Imperador Pedro II
(1889), sublevações de ordem militar (1922 e 1924), na Revolução (1930), no ensaio revolucionário comunista
(1935), Decretação do Estado Novo (1937), na deposição de Vargas no primeiro governo (1945) e no segundo
(1954); na tentativa de impedir a posse de JK (1955); na tentativa de impossibilitar a posse de Jango em 1961e em
sua própria deposição em 1964. Além disso, há o fato de militares de altas patentes se candidatarem a presidência da
república em todas as eleições realizadas de 1945 a 1960, durante o curto período democrático.
37
12
Dentro das oligarquias dissidentes, estava presente entre os vitoriosos o Partido Democrático (São Paulo) que
entrou na luta pretendendo o controle do governo do estado de São Paulo e a permanência dos princípios liberais,
assegurando assim seu predomínio no estado.
38
tarde, os industriais” (Fausto, 2006b, p. 182). A grande luta destes novos grupos dominantes era
contra o federalismo que vigorava na Primeira República, no qual os estados da federação
gozavam de certa autonomia decisória em relação à implementação de ações estatais, e também
contra o liberalismo que, preconizava a não interferência do Estado nacional na economia.
Segundo os autores mencionados (Fausto, 2006; Fonseca, 2007) o governo Vargas tomou
a missão de enfraquecer o federalismo, que teria fortalecido os poderes locais e era identificado
com os interesses particulares de uma pequena elite econômica e política que agia em detrimento
dos interesses nacionais. Desse modo, era fundamental construir a noção de nação e atribuí-la o
sentido de princípio norteador das políticas públicas empregadas, adotando-se, portanto, um
caráter antiliberal, pois, conforme dito anteriormente, o liberalismo também era associado ao
interesse regional.
A Revolução de 1930 alijou a oligarquia cafeeira de São Paulo do centro do poder federal.
Porém, nenhum dos novos grupos dirigentes do país13, a partir de suas atuações no interior do
governo, obteve condições de sobrepor-se, de forma individualizada, aos demais vencedores,
portanto, nenhum deles tornou-se hegemônico em substituição aos cafeicultores paulista. Se por
um lado o novo governo tinha que dialogar com os variados setores que compuseram o quadro
dos vitoriosos de 1930, por outro, tinha relativa autonomia face aos interesses em disputa, o que
possibilitou mudar a própria estrutura e forma de atuação estatal, superando estruturas
tradicionais de expressão política baseadas nos interesses de classes, e do seu próprio processo
de reprodução (Mendonça, 2000, p. 322).
13
Os técnicos diplomados, os jovens políticos e a burguesia industrial.
40
14
Correspondem a esse período a eleição para a Assembléia Nacional Constituinte em 1933 e a eleição para a
Câmara Federal em 1934.
15
Eleição para a Câmara Federal
41
consonância entre alguns grupos identificados com as oligarquias locais, como por exemplo, no
caso da defesa do modelo do Estado brasileiro a ser definido pela constituição de 1934, durante
sua Assembléia Constituinte. Os grupos políticos do norte-nordeste foram mais benevolentes
quanto a um modelo interventor, em virtude de sua dependência econômica ao governo federal e
da necessidade de contrapor-se a interferência dos estados do Centro-Sul que eram
predominantes (Pandolfi, 1980, pp. 391-394).
Para Fausto (2006), durante os anos 30 as correntes autoritárias ganharam força no Brasil,
devido à dificuldade de organização das classes e da formação de representatividades partidárias
nacionais. A esquerda política via o liberalismo como instrumento de dominação das oligarquias,
não dando o devido valor à democracia e os próprios liberais, que temiam as reformas sociais e
não viam problemas nas interrupções do “jogo democrático” nas vezes em que consideravam
seus interesses ameaçados. Desse modo, em 1937, instala-se o Estado Novo e consequentemente
a ditadura Vargas. O golpe teve o apoio da classe dominante, além de parte do próprio
Congresso, que os via como benéfico. Têm-se, então, o fim da representatividade política via
Congresso Nacional, ou seja, acabam-se os partidos políticos. O que não significa dizer que os
interesses sociais estavam em seu ocaso, eles apenas transferiram-se para outras instituições,
agora sendo expressandos então por meio de alguns órgãos governamentais.
O autor ainda pontua os grupos de apoio à Vargas durante o Estado Novo que tinham como
objetivo comum promover a industrialização sem grandes transformações sociais que pudessem
levar o país à instabilidade. A burocracia civil defendia o programa industrializante do país por
considerá-lo o verdadeiro caminho para a independência nacional. Os militares, por sua vez,
defendiam a indústria de base como medida de fortalecimento econômico, e a burguesia
industrial convenceu-se da necessidade de intervenção estatal como forma de incentivo à
industrialização.
Para Mendonça (2000), a tática central para a realização do controle sobre as estruturas
políticas locais foi a instalação das interventorias/departamentos administrativos, que faziam a
ligação das oligarquias tradicionais com o governo federal. Desse modo, enfraqueceram o antigo
quadro e fortaleceram o poder central garantindo-lhe certa autonomia de implementação de
medidas nacionais. Além do papel fundamental da figura do interventor, foram criados os
Departamentos Estaduais que substituíram o poder legislativo estadual e que funcionava também
como um instrumento de supervisão dos interventores, comportando elementos da burocracia
técnica do Estado, de modo a ter imunidade às pressões clientelistas do mandonismo local.
No âmago das Forças Armadas havia uma divisão ideológica que se expressava de um
lado, pelos militares nacionalistas e, de outro lado, pelos militares que depreciativamente eram
chamados de “entreguistas”. Os primeiros defendiam o desenvolvimento baseado na
industrialização, com ênfase na criação de um sistema econômico autônomo, com liberdade
frente ao sistema capitalista internacional, tendo no Estado a força motriz e o leme desse
processo como regulador da econômica e investidor em áreas estratégicas, porém sem recusar
integralmente o capital estrangeiro, aceitando-o com muitas restrições. No campo internacional
propuseram o distanciamento das relações com os Estados Unidos. O segundo grupo, além de se
opor aos nacionalistas em relação ao posicionamento brasileiro frente aos interesses
estadunidenses, defendia um modelo liberal de diminuição do papel do Estado na economia, sem
priorizar a industrialização e acreditando que o progresso viria a partir da abertura controlada ao
capital estrangeiro (Fausto, 2006b, p.225).
44
Entretanto, apenas a divulgação ideológica não seria suficiente, era preciso reformar o
Estado a fim de diminuir o acesso a ele das demandas clientelistas e torná-lo mais técnico.
Mesmo que os setores “arcaicos” ligados a elite rural brasileira ainda fossem protagonistas do
cenário político, o quadro socioeconômico mudara desde a Revolução de 1930, sobretudo, na
década de 1950, em que o crescimento econômico e a progressiva afirmação de um novo perfil
sociopolítico da sociedade brasileira produziam novas demandas. Não é demais lembrarmos que
a partir das décadas de 1930 e 1940 houve um incremento à industrialização e,
consequentemente, à urbanização, tornando-se possível a afirmação de uma burguesia industrial,
a classe operária e a classe média urbana. Desse modo, desde o segundo governo Vargas tornou-
se contingencial retomar o projeto de crescimento industrial (Moreira, 2011, p. 203); ainda que
no pequeno mandato tampão de Café Filho (1954-1955) tal projeto tenha sido momentaneamente
abandonado em nome do liberalismo econômico, devido ao alinhamento automático com os
interesses estadunidenses que buscavam a ausência de barreiras alfandegárias para a entrada de
seus produtos no Brasil. Com JK houve a retomada de um projeto industrializante, e devido a
existência de uma classe média urbana mais robusta o foco tornou-se as indústrias dos setores de
bens de consumo duráveis.
Nas primeiras décadas do período republicano, a política brasileira viu-se dominada pela
lógica dos arranjos intraoligárquicos. Estes grupos controlavam as decisões políticas a serem
implementadas de acordo com seus interesses particulares. Tal estrutura apresentava os estados e
municípios no centro político nacional, tornando-se subordinados à lógica dos poderes
econômicos locais. Este quadro foi potencializado devido à falta de um difuso sentimento de
nacionalidade em todo o território nacional, à ausência de organização nacional que fortalecesse
a presença do Estado brasileiro e à débil comunicação imposta pelos limites de circulação de
bens econômicos, produtos, serviços e ideias (Lima, Fonseca e Hochman, 2005, P. 31).
A condição humana e social dos brasileiros não privilegiados economicamente era atroz. Os
pobres das grandes cidades que se empilhavam nos cortiços em más condições de higiene
sofriam frequentemente de epidemias, enquanto a parcela popular que se espalhava pelos sertões
47
brasileiros, era atingida frequentemente por endemias rurais, transformando o país num “imenso
hospital”, conforme pronunciado por Miguel Pereira em 1916.
Portanto, não era a questão racial, tampouco climática ou geográfica, as responsáveis pelo
atraso do povo interiorano e consequentemente do Brasil. O que tais relatórios deixavam claro é
que esse entrave devia-se à indolência estatal no tocante as condições sanitárias do sertanejo,
descrito pelos médicos como “ignorante, abandonado, isolado, com instrumentos primitivos de
trabalho, desconhecendo o uso da moeda, tradicionalista e refratário ao progresso” (Hochman,
1998b, p. 222). Essas imagens foram assimiladas pela elite política e intelectual que passaram a
culpar os governos, em todos os níveis, pelo abandono da população, o que consequentemente
impossibilitava a modernização da nação. (Lima, Fonseca e Hochman, 2005; Hochman, 1998b;
Escorel e Teixeira, 2008; Santos, 1985).
48
O aumento da atuação estatal federal nos estados não poderia confrontar a ideia presente na
Constituição de 1891, do federalismo, no qual se defendia a preservação da autonomia estadual.
Foi através do decreto nº 13.358 de 09.04.1919 no qual foi reorganizado o Serviço de Profilaxia
Rural, criado no ano anterior16, que possibilitou aos estados receberem “recursos humanos,
técnicos e financeiros por meio de acordos com os serviços federais, que em troca transfeririam
para estes a responsabilidade direta no combate às endemias rurais” (Hochman, 1998b, p.228).
Desse modo, respeitou-se o pacto federativo do período e de forma ainda incipiente tornou-se
viável a centralização de algumas ações pontuais no campo da saúde pública nacional.
16
Instituído pelos decretos 13.001 de 01 de maio de 1918, 13.055 de 06 de junho e 13.139 de 16 de agosto, todos em
1918.
50
rurais, por exemplo, as endemias e as doenças transmissíveis mantiveram-se como principal foco
dos agentes públicos (Fonseca, 2007, p. 51). Ao longo do período, gradativamente, foram criados
novos órgãos e reformulados os que já existiam, o que possibilitou o fortalecimento de uma
estrutura centralizada e hierarquizada com finalidade de normatizar e executar as atividades de
saúde em todo o país (Lima, Fonseca e Hochman, 2007, p. 41).
Em 1934, após a chegada de Capanema na pasta, foi instituída uma reforma no MESP, na
qual, entre outras coisas, criou-se um mecanismo para que as ações da União não se limitassem
ao Distrito Federal. Erigiu-se a Diretoria Nacional de Saúde e Assistência Médico-Social
(DNSAM), com o intuito de coordenar as diretorias estaduais de saúde, incorporando as
atribuições do DNSP, mas com atuação ampliada. Desse modo, manifestou-se claramente as
intenções centralizadoras dessa reforma ao constituir um órgão com a função de coordenar todas
as providências dos entes federativos e da iniciativa privada em todo o território nacional,
assumindo características mais universais em formato mais sistematizado e coordenado de
intervenção (Fonseca, 2007, p. 124-126). Também foram criadas oito Delegacias Federais de
Saúde correspondentes aos oito distritos em que o país foi dividido que tinham o objetivo de
colaborar com os serviços locais e fiscalizar os serviços federais de saúde (Escorel e Teixeira,
2008, p. 362).
Em 1937, outra reforma é realizada na área da saúde pública. Com ela a pasta passou a se
chamar Ministério da Educação e Saúde (MES) e o DNSAM, subordinado ao Departamento
Nacional de Saúde (DNS) que substituiu o DNSP, passou a coordenar os departamentos
estaduais de saúde, procurando normatizar e uniformizar as estruturas locais. Além dessa
centralização, a reforma procurava acabar com as atividades municipais de saúde, direcionando
suas atribuições aos governos estaduais que, neste momento, estava nas mãos de interventores
federais, desde a imposição do Estado Novo varguista (Lima Fonseca e Hochman, 2005; Escorel
e Teixeira, 2008). Essa centralização das ações estatais da União em relação aos estados da
52
A existência de um ministério específico para a área de saúde não era uma demanda da
década de 1950, mas sim originária da Primeira República. Em 1910, um projeto de criação do
ministério foi alvo de intenso debate, sem que, no entanto, fosse aprovado, pois esbarrou na
oposição das oligarquias locais, que o viam como uma ameaça a autonomia dos estados frente à
intervenção federal (Hamilton e Fonseca, 2003, p. 792). Ao longo da década de 1940, durante e
após o Estado Novo, houve continuidade de tal movimento, que tinha entre os seus partidários,
desde a década de 1920, médicos e sanitaristas em atividade no setor público no Brasil. Entre
eles, havia um consenso em torno da necessidade de uma pasta autônoma para a saúde pública
no governo federal, sobretudo após a segunda guerra mundial, momento de otimismo
internacional na área da saúde com as inovações científicas, como o desenvolvimento dos
antibióticos, o que motivou a crença de que era possível erradicar algumas doenças infecciosas.
No contexto nacional essa orientação somava-se à importância que as endemias rurais assumiram
no debate político do período (Hamilton e Fonseca, 2003, p. 793).
53
O segundo governo eleito durante esse período foi o de Getúlio Vargas (1951-1954), que
considerava que o problema da área da saúde era de superestrutura, ou seja, era necessário
melhorar as estruturas econômicas do país a fim de que a reboque, a saúde do brasileiro pudesse
melhorar, sobretudo dos mais pobres (idem). Desse modo, Vargas consubstanciaria alguns
objetivos: subordinação das políticas sociais ao enriquecimento da nação e aumento dos serviços
médicos hospitalares rurais a fim de combater as endemias, já que nos centros urbanos a
assistência previdenciária seria expandida (Escorel e Teixeira, 2008, p. 372). Para tanto, o
presidente propôs uma reforma administrativa em que pesasse o modelo estatal de interventor e
54
A grande modificação no campo da saúde pública desde o Estado Novo foi então a criação
de uma pasta autônoma para o setor no governo federal após intenso e desgastante debate
legislativo acerca do tema. Na visão dos sanitaristas em geral houve certa frustração, pois eles
tentaram manter a saúde pública longe da interferência das questões políticas, o que não foi
possível, pois mesmo participando diretamente da elaboração do projeto foram relegados a
segundo plano no processo decisório, e viram a formação do ministério surgir a partir do
interesse da classe política do âmbito federal, que por sua vez, viam na instituição uma maneira
de aumentar suas bases de sustentação política (Hamilton e Fonseca, 2003, p.817-819).
Deste modo, é perceptível a consonância de suas ideias programáticas para a área da saúde,
como a intenção de focar no combate às endemias rurais e as doenças de massa em geral, com a
sua filosofia pública personificada pelo desenvolvimentismo, pois a intenção de levar
infraestrutura sanitária para o interior e combater suas principais moléstia, tinha claro objetivo de
melhorar as condições do sertanejo a fim de que este servisse como fonte de mão de obra que
possibilitasse o desenvolvimento econômico dessas áreas. Das 18 metas estabelecidas por JK
para a área de saúde 10 são direcionadas diretamente para ações nos sertões, 6 direcionavam suas
ações tanto nas cidades quanto no campo e apenas 2 não tinham vinculação necessariamente com
o meio rural.
17
Diplomado médico em 1918, a partir da década seguinte ocupou vários cargos técnicos e políticos. Em 1942,
passou a ocupar o cargo de diretor do Serviço Nacional da Malária (SMN) por mais de uma década. Tal cargo o
consagrou como uma das principais figuras na área da saúde pública brasileira no período, levando-o a ser assumir o
Ministério da Saúde em duas oportunidades. A primeira em 1954, nomeado durante o segundo governo Vargas
(1950-1954), quando permaneceu no cargo por apenas 3 meses, saindo 11 dias depois da morte do então presidente.
A segunda em 1958, convidado por Juscelino Kubitscheck a ser ministro da saúde após a saída de Maurício de
Medeiros do cargo, permanecendo no cargo nos dois anos seguintes (Silva & Hochman, 2011, pp. 520-521).
57
CAPÍTULO 2
18
Afirmação baseada na análise da documentação existente no Centro de Documentação do IMASJM e que será
comprovada ao longo do presente trabalho.
19
Como já demonstrado no campo da saúde pública, as diretrizes que direcionaram as ideias programáticas do setor
durante o período focado por este trabalho foram forjadas por estruturas ideológicas e institucionais montadas e
organizadas em períodos anteriores, tanto na primeira república (1889-1930) quanto na Era Vargas (1930-1945),
além é claro, da nova dinâmica de demandas estabelecidas no quadro político e social nacional a partir do curto
período democrático vivido pelo país que se iniciou com o governo Dutra (1946-1951).
58
SNDM, tal como as instituições que prestavam esse serviço à população da cidade do Rio de
Janeiro, estavam seguindo diretrizes engendradas ao longo dos anos que precedem o foco desse
trabalho. Desse modo, para compreender a lógica assistencial exercida pelo SNDM ao longo da
administração Kubitscheck torna-se imperativo mapear o quadro institucional desta assistência.
Tal abordagem visa possibilitar o entendimento das distinções desse campo de atuação nas
diversas regiões do país; da ênfase dada a determinadas técnicas de tratamento em detrimento de
outras; e do desenho modelar hospitalar utilizado.
Deste modo, inicialmente neste capítulo tratarei das origens do SNDM (ainda na década
de 1940), quando surgiu como instituição a partir da percepção de que era necessária a expansão
dos cuidados psiquiátricos para todo o país, buscando organizar as ações federais para além do
Distrito Federal. A seguir tratarei das políticas públicas psiquiátricas estabelecidas pelo SNDM
no intuito de levar tal assistência a todo o território nacional e sua organização institucional
durante a década de 1950. Como objeto analítico, destaco as estruturas do setor herdadas pelo
governo JK, de modo que seja possível realizar a comparação entre dois períodos: o primeiro,
posterior ao fim do primeiro governo Vargas até 1955, último ano antes da administração
Kubitscheck, e o segundo, correspondente a toda Era JK (1956-60)20.
20
O mandato de Juscelino Kubitschek na presidência da república terminou dia 31/01/1961. Desse modo, como os
dados e as suas análises são realizadas baseadas nas informações anuais, não utilizo o ano de 1961 como referente às
medidas adotadas pelo governo JK..
59
todos os futuros hospitais psiquiátricos que fossem construídos pelo governo do então Distrito
Federal, seriam anexados ao órgão. Desse modo, percebe-se que tal instituição tinha sua atuação
limitada à cidade do Rio de Janeiro.
Na década seguinte, a primeira lei geral de assistência a alienados no Brasil (lei 1132, de
22/12/1903) pretendia se estabelecer como uma legislação de caráter nacional, no sentido de
organizar e administrar todas as instituições psiquiátricas brasileiras. Entretanto, somente
insinuava a existência de estabelecimentos psiquiátricos nos estados. Em seu artigo 12
demonstrava interesse em realizar a fiscalização destes estabelecimentos em todo o território
nacional, mas em nenhum dos seus dispositivos explicitou claramente a diretriz assistencial de
internação a ser seguida por essas instituições. Tais ações do governo federal esbarrariam no
princípio constitucional da autonomia federativa dos estados, o que transformaria em letra morta
várias de suas normas. Tratava, de forma direta, apenas das normas de funcionamento a serem
seguidas, tais como: as condições de internamento; as condições para tratamento domiciliar; o
direito de requerimento da pessoa internada ou interessada de exame de sanidade que cessaria o
constrangimento à liberdade; as normas para concessão de altas; procedimentos relacionados à
evasão; a inspeção, direção e normas para criação dos estabelecimentos psiquiátricos, proibição
de manutenção de alienados em cadeias públicas e entre criminosos; e a criação de
estabelecimentos especiais para alienados delinqüentes e condenados, os manicômios judiciais
(Medeiros, 1977, p. 114-115). Nos artigos 19 e 20 a lei regia a assistência a ser prestada pela
União, limitando-se a mencionar o Distrito Federal, que por sua vez, seria composto pelo
Hospício Nacional, pelas colônias, e pelo Pavilhão de Admissão, onde funcionava a Seção de
Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que teria como diretor o
professor da cadeira de psiquiatria e de moléstias nervosas desta faculdade.
em segundo lugar o interesse das próprias Santas Casas, que após a separação da Igreja e o
Estado, a partir da primeira constituição republicana de 1891, viu-se em dificuldades financeiras
significativas, o que se refletiria na qualidade do serviço prestado em seus estabelecimentos,
superlotados, sujos e com grande mortalidade (Medeiros, 1977, pp.113-114).
61
Quadro 1: Cronologia da inauguração de locais de internamentos de doentes mentais no Brasil até 1954.
Ano Cidade Instituição
1800-1830 Rio de Janeiro Enfermarias do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
Recife Enfermarias do Hospital S. Pedro de Alcântara
Salvador Enfermarias do Hospital S. Cristovão
Porto Alegre? Enfermarias do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
São Luis Enfermarias do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
1817? São João Del Rei (MG) Enfermarias do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
1831 São Paulo Cadeias Públicas: separação dos loucos
Asilo Provisório (em casa situada onde se construia o Hospício
1841 Rio de Janeiro
Pedro II)
1852 São Paulo Hospício Provisório de Alienados
Rio de Janeiro Casa de Saúde Dr. Eiras
1864 São Paulo Hospício de Alienados (Ladeira da Tabatinguera)
Olinda - Recife Hospício da Visitação de Santa Isabel
1865 Belém Enfermaria do Hospital de Caridade
1873 Belém Hospício de Alienados (vizinhança dos Lázaros)
1874 Salvador Asilo de S. João de Deus
1875 Paraíba Enfermaria do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
1878 Niterói Enfermaria do Hospital São João Batista
1883 Recife Hospício de Alienados (Tamarineira)
1884 Porto Alegre Hospício de S. Pedro
1886 Fortaleza Asilo de Alienados de S. Vicente de Paula (Porangaba)
1890 Rio de Janeiro Colônias S. Bento e Conde de Mesquita (Ilha do Governador).
1891 Maceió Asilo Santa Leopoldina
1892 Belém Hospício de Alienados (Marco da Legua)
1893 Paraíba Asilo do Hospital Santa Ana (Cruz do Peixe)
1894 Manaus Hospício Eduardo Ribeiro
1895 Sorocaba (SP) Hospício de Alienados
Niterói Pavilhão no Hospital de São João Batista
1898 São Paulo Hospício do Juqueri
1903 Barbacena (MG) Hospital Colônia
Curitiba Hospício N.S. da Luz (Campo do Aú)
1904 Barra do Piraí (RJ) Colônia de Alienados de Vargem Grande
?-1905 Terezina Enfermaria do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
Cuiabá Enfermaria do Hospital da Santa Casa de Misericórdia
1905-1941? Terezina Hospital Psiquiátrico Areolino Abreu
Cuiabá Asilo de Alienados
São Luis Hospital Colônia Nina Rodrigues
Cachoeiro do Itapemirim
Asilo Deus, Cristo e Caridade (Espírita)
(ES)
62
Continuação do Quadro 1
Ano Cidade Instituição
1911 Rio de Janeiro Colônia do Engenho de Dentro (para mulheres)
Natal Hospício de Alienados (no Antigo Lazareto da Piedade)
1918 São Paulo Atendimento Médico no Recolhimento das Perdizes (Posto Policial)
eram semelhantes (Medeiros, 1977, p.108). O final do século XIX e início do XX constitui-se
num momento de inflexão:
“Um fator provável que influiu na tomada de
consciência de que novos rumos deviam ser traçados,
foi a verificação de que a custódia em estabelecimento
privativo para alienados constituía solução
insuficiente, pois a superlotação logo devorava os
espaços. Reconhece-se a condição de “crônico”, e são
criadas colônias em sítios periféricos às cidades”.
(idem)
Essa tendência de construir hospitais psiquiátricos em pontos distantes dos centros urbanos
foi amplamente disseminada, e atendia a uma demanda de instalar os enfermos em campos a fim
de que fossem cultivados pelo trabalho dos crônicos (Medeiros, 1977, p. 65). Desse modo, a
maioria dos estados brasileiros incorporou as colônias agrícolas à sua rede de serviços
psiquiátricos, alguns como única opção manicomial, outros como complemento a hospitais já
existentes. Esperava-se que tais instituições conseguissem dar conta do excedente cronificado que
os hospitais urbanos produziam em quantidades cada vez maiores. O objetivo era recriar, como
método terapêutico, um ambiente rural pré-capitalista, no qual algumas práticas propostas e
decorrentes da própria organização social típicas daquelas sociedades eram utilizadas e
naturalizadas (Resende, 1987, pp. 50-51). Embora, algumas colônias já estivessem em
funcionamento antes de 1911, apenas nesse ano, a partir do decreto 8.834, de 11 de julho, que
reorganizou a assistência a alienados, estabeleceu-se com mais detalhes as regras para a criação
das colônias e para implantação da assistência hétero-familiar (Medeiros, 1977, p. 116).
Uma das lógicas assistenciais contidas nas colônias era a da laborterapia ou praxiterapia,
sobre a qual recaia a missão terapêutica e econômica, pois deveria contribuir para o sustento
material destas instituições, por meio do trabalho de seus internos que, portanto, teriam o ônus de
prover através do seu próprio trabalho a assistência que o Estado lhes oferecia. Tais métodos
estavam em consonância com o estímulo e a glorificação do trabalho, incorporados pela
crescente sociedade burguesa de fins do século XIX e início do XX: “trabalho e não trabalho
seria a partir de então mais um ponto de clivagem a estabelecer os limites do normal e do
anormal” (Resende, 1987, p.47). O trabalho já aparecia como método terapêutico no antigo
Hospício Nacional por meio da oferta de diferentes oficinas aos pacientes (Engel, 2001, pp.213-
64
216). A especificidade da colônia de Jacarepaguá, assim como das antigas colônias da Ilha do
Governador, não era o uso do trabalho como terapêutica, mas sim sua vocação agrícola que,
segundo os psiquiatras envolvidos, poderia prover melhores resultados em virtude dos excelentes
recursos naturais disponíveis na região (Venancio, 2011, p. 42). A ideia era tornar essas
instituições o mais próximo da auto-suficiência em termos de recursos a partir das atividades
(agrícolas) realizadas pelos próprios internos e juntamente com este caráter economicista,
buscava-se também chegar à cura por meio do trabalho (Fabrício, 2009, p.105).
A permanência insistente nessas colônias das mesmas práticas condenáveis existentes nos
hospícios urbanos superlotados deturpou o ideal terapêutico dessas instituições. Como as massas
de internos não paravam de chegar ao longo dos anos, e por ficarem muito distantes dos locais
onde se tomavam as decisões referentes à triagem da clientela que se destinaria as suas
instalações, as colônias também ficaram superlotadas, sobretudo, porque o objetivo de atender
apenas os pacientes crônicos não era respeitado. A deficiência de pessoal, maus tratos e péssimas
condições de hotelaria transformaram essas instituições em depósito de pessoas (Resende, 1987,
p.53-55).
Esse tipo de assistência se deu como forma de atender as demandas advindas dos setores
organizados na sociedade civil urbana do país. Porém, antes mesmo da revolução de 1930 e das
mudanças atreladas a ela, já havia no período do colonial do Brasil, programas de previdência
social. Contudo, até o século XIX, estes eram restritos aos funcionários públicos, civis e
militares. A partir do século XX que a previdência social mantida pelo governo foi estendida ao
setor privado. Um marco importante neste processo foi criação da Lei Eloy Chaves, n 4.682 de
24 de janeiro de 1923, que por meio de seus conceitos legais e organizacionais tornou-se base
para a futura elaboração do sistema de previdência social no Brasil (idem, p. 96). Entretanto,
nessas organizações previdenciárias a assistência médica não era oferecida de forma integral: o
campo da atenção psiquiátrica, por exemplo, só seria incorporado a gama de serviços ofertados
durante a década de 1950, e mesmo assim de forma incipiente (Resende, 1987, p. 57).
O MESP, por sua vez, diferenciava-se em relação ao MTIC no tocante a clientela assistida e
ao nítido foco na medicina preventiva, como vimos. Suas políticas de saúde tinham como
objetivo garantir a saúde pública da nação, mas não era pautado somente pelas ações profiláticas.
Existia uma gama significativa de serviços assistenciais de caráter universal oferecidos a
qualquer pessoa, independente de sua condição social nos hospitais públicos, principalmente
como no caso da assistência psiquiátrica. Mesmo tendo como incumbência a prestação de
serviços de saúde aos indivíduos excluídos do sistema, o MESP era encarado como peça chave
do projeto de construção de uma nova imagem do povo brasileiro.
Único responsável, pelo menos até a década de 1950, pela prestação de assistência
psiquiátrica organizada pelo governo federal, o MESP sofreu grandes alterações ao longo da
década de 1930, que acarretaram mudanças na direção das medidas preventivas e na promoção de
políticas sanitárias. Ainda que a assistência psiquiátrica não tenha sido um dos alvos prioritários
do órgão, foi uma das ferramentas utilizadas para a transformação do quadro médico-social
brasileiro. A psiquiatria pública obteve importantes ganhos no tocante ao apoio governamental,
que possibilitou o início do processo de capilarização assistencial pelo Brasil. Essas
transformações institucionais também foram acompanhadas por novas regras legislativas.
Embora, em 1927, no decreto 17805, pela primeira vez, mencionava-se num documento
66
legislativo o termo profilaxia (das doenças mentais), é no decreto 24559, de 3 de julho de 1934,
que a preocupação com a profilaxia mental aparece como foco de atuação pública. No primeiro
decreto, de caráter local, pois estabelece regras assistenciais específicas para o Distrito Federal,
estipula-se que os ambulatórios e os serviços clínicos eram os responsáveis pela prática
preventivista, colocando como meta a ser alcançada por meio do estudo dos problemas relativos à
higiene mental e à “psycho-physiologia” normal ou mórbida, aplicadas as diversas atividades
sociais. No decreto de 1934, a profilaxia ganha mais espaço, indicando-se a que se destina tal
prática, e como seria realizada: por meio da promoção de estudos das causas das doenças mentais
no Brasil e da vulgarização e aplicação dos preceitos da chamada higiene preventiva. Além disso,
pela primeira vez numa lei destinada a nortear a assistência psiquiátrica brasileira, observa-se
regras que visavam limitar ao máximo a presença de estrangeiros portadores de qualquer doença
mental ou nervosa em todo o território nacional: negando-lhes a naturalização ou extraditando-os.
21
Sobre a Liga Brasileira de Higiene Mental ver o trabalho clássico de Costa (1976) e uma análise mais recente de
Fabrício (2009).
67
Durante toda a década de 1930 até a criação do Serviço Nacional de Doenças Mentais em
1941, os órgãos federais com responsabilidade pela assistência psiquiátrica mudaram de acordo
com as reformas ministeriais ocorridas durante o período. Em 1930, subordinada ao
Departamento Nacional de Assistência Pública do MESP, o Serviço de Assistência a Psicopatas
(SAP), criado três anos antes, tinha sua atuação limitada ao Distrito Federal (Fabrício, 2009,
p.50); a partir da reforma Washington Pires ocorrida no MESP (1934), o órgão passa a ser a
Diretoria de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental (DAPPM), criada por meio do decreto
24559, de 3 de julho, revelando as diretrizes a serem tomadas pelo setor, assistência e profilaxia
(idem, 2009, p.64); após a reforma Capanema (1937), que transforma o MESP em Ministério da
Educação e Saúde (MES), surge a Divisão de Assistência a Psicopatas (DAP) que, mesmo
possuindo diretrizes de caráter nacional tendo como uma das funções auxiliar os estados em sua
respectivas assistências, teve uma atuação resumida à feitura de regimentos dos serviços
estaduais, de plantas prediais e subvenção federal nas unidades federativas que apresentasse sua
assistência psiquiátrica em estado crítico, ou inexistentes (Fabrício, 2009, p.106). No campo da
assistência psiquiátrica no Distrito Federal a responsabilidade ainda era do Serviço de Assistência
a Psicopatas (SAP), composto pelo Hospital Psiquiátrico (antigo Hospital Nacional de
Alienados), Instituto Neuro-Sífilis (INS), Colônia Gustavo Riedel (CGR), Manicômio Judiciário
(MJ) e a Colônia Juliano Moreira (CJM) (Idem).
A partir da Reforma Capanema são lançadas algumas das bases e da estrutura na qual a
assistência psiquiátrica exercerá sua função nas décadas seguintes. No campo da saúde pública
foi utilizado pelo governo varguista uma estratégia para furar o bloqueio estabelecido pelos
governos locais em relação às ações efetivas do poder federal. Para isso, o Departamento
Nacional de Saúde (DNS) foi reincorporado ao agora Ministério da Educação e Saúde (MES),
subordinando ao órgão as divisões que teriam como função a promoção da cooperação da União
aos serviços de saúde locais por meio de auxílios financeiros e técnicos, a saber: Divisão de
Saúde Pública, Divisão de Assistência Hospitalar, Divisão de Amparo à Maternidade e à
Infância, e a Divisão de Assistência a Psicopatas (DAP) (Fabrício, 2009, p. 71).
Para executar tal política expansionista das ações estatais federais criou-se também os
órgãos de execução, os quais estavam divididos em: “Serviços Relativos à Educação”, os
“Serviços Intermediários” e os “Serviços Relativos à Saúde”. Para o presente trabalho são
68
Os Serviços Relativos à Saúde, por sua vez, em sua grande maioria limitavam-se apenas à
atuação no Distrito Federal, pois as ações diretas da União eram responsáveis apenas pela
capital federal: os serviços da alçada do ministério de alcance nacional eram apenas o Serviço de
Propaganda e Educação Sanitária, o Serviço de Saúde dos Portos e o Serviço Anti-Venéreo das
Fronteiras (Fabrício, 2009, p.71). Entretanto, esse quadro mudaria a partir dos acontecimentos
políticos que, derivados do estabelecimento do Estado Novo, possibilitaram a centralização das
ações federais em âmbito nacional com a nova organização do MES em 1941, por meio da
Reforma Barros Barreto.
22
A partir desse momento sempre que me referir às Delegacias Federais estarei nomeando-as como Delegacias
Federais de Saúde, tendo em vista que é esta denominação que encontro em fontes documentais como o regimento
do SNDM.
23
Os estados que apresentam asterisco eram as sedes das Delegacias Federais de Educação e Saúde.
69
A partir de 1937, o DNS ganhou muita importância no meio diretivo estatal na área da
saúde e, após 1941, com a reforma Barros Barreto, o órgão se tornava formulador e canalizador
das políticas públicas sanitárias no Brasil por intermédio dos Serviços Nacionais que, por sua
vez, organizavam a assistência à saúde a partir de ações que combatiam doenças específicas.
Além disso, as organizações estaduais e municipais passaram a atuar sob a orientação direta do
DNS. Neste momento, era preciso racionalizar o processo de nacionalização dos serviços
sanitários. Seguindo a tendência política centralizadora do país executada após o golpe do Estado
Novo, coube ao DNS o controle exclusivo e direto sobre a fiscalização da promoção de tais
políticas, subordinando-se diretamente ao MES (Fonseca, 2007, p. 210-211; Fabrício, 2009,
p.87). Esta reforma criou as bases de gestão da saúde pública das décadas seguintes, e a única
mudança estrutural que se processou no setor foi o desmembramento do MES, em 1953, em dois
distintos ministérios: um relativo à educação e outro específico para a saúde. Entretanto, essa
separação não modificou a estrutura organizacional inaugurada a partir de 1941, que alçou o
DNS ao posto de principal instituição formuladora de políticas públicas sanitárias através da
centralização das medidas praticadas pelos Serviços Nacionais. Dessa forma, a ação sobre os
estados tornava-se direta no tocante a normatização e administração, e indireta na execução. Essa
estratégia seguia as diretrizes das políticas de saúde pública que se discutiam internacionalmente,
entre 1930 e 1945. Neste período, a Organização Panamericana de Saúde havia promovido várias
reuniões recomendando o modelo de centralização normativa e descentralização diretiva24
(Fonseca, 2005, p. 36; Venancio, 2012, p.179).
A organização do DNS ganhou a seguinte constituição, no que se refere aos seus serviços de
administração: além do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), outros quatro tipos de órgãos que tinham
como função orientar a padronização e supervisão dos serviços de saúde pública no país eram a
Divisão de Organização Sanitária (DOS), Divisão de Organização Hospitalar (DOH), as
Delegacias Federais e os Serviços Nacionais (SN’s).
O DOS era responsável pela padronização e supervisão das funções administrativas, além
de buscar soluções para os problemas referentes à saúde pública que não contassem com um
órgão especializado no DNS. Também era de sua alçada, realizar inquéritos, investir no estudo
24
Este auxílio federal às instituições psiquiátricas estaduais já era ideia defendida no governo Vargas antes de 1941.
70
Os Serviços Nacionais (SN’s) eram os seguintes: Serviço de Saúde dos Portos, Serviço
Federal de Águas e Esgotos, Serviço Federal de Bioestatística, Serviço Nacional do Câncer,
Serviço Nacional de Educação Sanitária, Serviço Nacional de Febre Amarela, Serviço Nacional
de Fiscalização da Medicina, Serviço Nacional de Lepra, Serviço Nacional de Malária, Serviço
Nacional da Peste, Serviço Nacional da Tuberculose, Serviço Nacional de Doenças Mentais. Tais
instituições eram formados por estrutura própria, a exceção do Serviço Nacional de Educação
Sanitária, que substituiu o antigo Serviço de Propaganda e Educação Sanitária, e o Serviço
Nacional de Esgotos, que não continha sub-seções. Os pontos comuns dos SN’s eram ser
comandados por alguém no posto de diretor; estabelecer Seções de Administrações em cada um
deles, que seria um dos elos entre o DNS e seus órgãos subordinados; e por fim, possuir plenos
poderes na formulação de políticas para as suas áreas e fiscalizar suas execuções, que ficariam a
71
cargo dos serviços estaduais. Dessa forma, auxiliaram na capilarização das ações federais por
todo o país, aumentando sua influência em detrimento das oligarquias locais. Já os métodos e
objetivos variavam de acordo com o órgão, uns objetivavam o fortalecimento das estruturas
federais, como o de Fiscalização da Medicina e de Bioestatística, outros, objetivavam combater
epidemias que adoeciam o país, como o da Lepra e da Tuberculose (Fabrício, 2009, p. 96).
Seguindo o modelo de expansão nacional dos serviços de saúde, de acordo com a diretriz do
governo varguista de diminuir a influência dos poderes locais e aumentar o poder central nos
estados, o DNS iniciou uma série de inquéritos sobre os problemas de saúde no Brasil
aproveitando-se da estrutura das Delegacias Federais de Saúde. Um desses questionários referia-
se à assistência psiquiátrica. Este, realizado em 1937, ainda sob a supervisão da Divisão de
Assistência a Psicopatas, tinha como objetivo o levantamento das condições referentes à situação
de todos os estados brasileiros no tocante a capacidade de cada um destes em prestar serviços
psiquiátricos a sua população. Continham 15 perguntas que pretendiam obter informações
fundamentais à futura organização e padronização destes serviços em caráter nacional (Fabrício,
2009, p.76).
Fabrício (2009) afirma que, a partir das respostas dadas pelos estados chegou-se a
conclusão que alguns dos estabelecimentos construídos até aquele momento, muitos inaugurados
ainda no século XIX, não possuíam condições estruturais para prestar o serviço psiquiátrico a sua
população de forma minimamente satisfatória. No intuito de identificar com o máximo de
exatidão possível onde e como agir, o resultado do inquérito estabeleceu uma classificação
quanto ao grau de eficácia assistencial prestado em cada unidade da federação, e diretrizes
propositivas. Tais informações encontram-se no documento “Plano Hospitalar Psiquiátrico”
(PHP) que, embora não apresentasse autoria ou datação, continha o timbre do DNS e do MES, o
que atribui à fonte o caráter de oficialidade (Fabrício, 2009, p. 79).
O autor ainda relata a divisão em que o plano foi montado. Eram 4 partes, a primeira
discutia a questão das psicopatias, aproximando-as às doenças corporais; a súmula do estado
naquele momento da assistência psiquiátrica oferecida pelo serviços locais nos estados da
federação; classificação baseada na assistência prestada em que os estados eram divididos de
acordo com as suas características assistenciais, baseados no número de enfermos, e possibilidade
72
de funcionamento das instituições psiquiátricas do local; e por fim, as diretrizes que o plano
estabelecia para mudar o quadro vigente (Fabrício, 2009, p.80). Tal classificação ficou
estabelecida da seguinte forma:
I – Estados que não assistiam a seus psicopatas: Sergipe, Goiás e Acre;
II – Estados onde a assistência era rudimentar, sem tratamento especializado: Mato
Grosso, Espírito Santo, e Piauí;
III – Estados onde a assistência era bastante deficiente, apesar de apresentar certa
orientação quanto ao tratamento: Amazonas, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte,
Alagoas e Santa Catarina;
IV – Estados onde a assistência era especializada, porém defeituosa e insuficiente:
Paraíba, Pará, Bahia e Rio de Janeiro
V – Estados onde a assistência utilizava métodos atualizados e realizavam a
prevenção e serviços sociais: Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.
25
Este decreto também criava o Instituto de Neuro-Psiquiatria Infantil, instituição sobre a qual dissertarei no
decorrer do presente trabalho.
73
respeitar o cálculo de 2 leitos para doentes mentais para cada 1000 habitantes. Dessa forma, a
construção de novas instituições psiquiátricas reduziria a superlotação das já existentes.
Entretanto, inicialmente, na prática, o novo órgão adquiria atribuições locais ainda que,
imediatamente após sua criação, a relação dos gestores da assistência psiquiátrica no governo
federal com as instituições de outros estados tenha sido incrementada com mais instituições
estaduais passando a comunicar-se de forma mais sistemática do que na vigência do DAP
(Fabrício, 2009, p.107). Apenas a partir do decreto 17.185, de 18 de novembro de 1944, o SNDM
incorporou oficialmente funções que abrangiam todo o país (Medeiros, 1977, p.122).
A lógica assistencial que destinava-se a reger o trabalho do SNDM estava calcada em dois
pilares. Um deles correspondia à expansão dos serviços hospitalares oferecidos à população que
demandasse tais cuidados, especificamente para a cidade do Rio de Janeiro e para além dela. A
26
Tais viagens transformaram-se em práticas regulares, pelo menos até o final do governo JK, foco principal do
presente trabalho, conforme pude observar nas análises documentais realizadas nos arquivos do IMASJM.
74
outra correspondia à preocupação com a saúde mental tendo como foco a profilaxia e higiene
mental. Para tais ações o SNDM criou os Ambulatórios de Higiene Mental (AHM’s), sobre os
quais recaía a responsabilidade de fazer a triagem de pacientes na rede pública psiquiátrica,
acompanhar os pacientes egressos e disseminar informações a título de prevenir os distúrbios
mentais. Tais instituições foram implementadas pelo primeiro diretor do órgão, Adauto Botelho,
que permaneceu no cargo ininterruptamente até 1954. O psiquiatra defendia a existência em todo
o território nacional de serviços de higiene e profilaxia mental, hospitais para serviços abertos e
fechados, manicômio judiciário ou seções específicas para delinqüentes (Medeiros, 1977, p. 21).
Sua importância no setor se dá por ser o formulador da organização assistencial em vários
estados da federação durante a década e 1940 e parte de 1950, a exemplo do que já existia no
Distrito Federal naquele período.
O SNDM nos seus primeiros três anos de existência trabalhava sem embasamento
legislativo que pudesse legitimar e qualificar a atuação do órgão em âmbito nacional (Fabrício,
2009, p. 109). Apesar de seu estabelecimento enquanto órgão de saúde pública, não obteve
durante esse curto período de tempo a necessária aprovação de seu regulamento. Foi através do
decreto Nº 17.185 de 18 de novembro de 1944, que a assistência psiquiátrica pública brasileira
pode ser de fato organizada legitimamente pelo SNDM. A estratégia pensada para enfrentar a
falta de base legal parece ter sido a implementação do Plano Hospitalar Psiquiátrico. Porém,
devido às condições econômicas nacionais momentâneas, não foi possível tal empreendimento, o
que obrigou a um plano alternativo e como indica seu nome, que propiciasse o planejamento
“mínimo” em psiquiatria: O Plano Mínimo de Assistência Hospitalar Psiquiátrico27 (PMAHP).
Este consistia em atender emergencialmente em três etapas os estados que mais necessitavam de
ajuda segundo o resultado do Inquérito Hospitalar Psiquiátrico presente e explicitado no
documento PHP. Dos estados aglomerados no grupo I do PMAHP (compreendiam os que
necessitavam de ajuda mais urgente), a exceção de Sergipe que não entrou no referido plano,
todos estavam reunidos majoritariamente nos grupos I e II do PHP. O que demonstra que as
ações governamentais, neste momento específico (primeira metade da década de 1940) seguiam
um parâmetro norteado pelas condições assistenciais estaduais pautadas pelo PHP. Nesse sentido,
27
Para mais informações sobre o referido plano ver: Ver também: BOTELHO, Adauto. Relatório relativo ao ano de
1943. In: Arquivos do Serviço Nacional de Doenças Mentais. 1945, Vol. 1. PP. 5-118.
75
28
Tinha como função a preparação de enfermeiros auxiliares para os serviços sanitários e assistenciais e promover a
especialização, em serviços psiquiátricos, de enfermeiros e enfermeiros auxiliares diplomados.
29
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 417 / Env. 3106. Relatório de Atividades do SNDM, 1956, p.11.
76
servidores. À Seção de Cooperação pesava funções mais ampliadas, tais como elaboração de
inquéritos e investigações sobre a incidência e a profilaxia das doenças mentais; divulgação de
novas aquisições científicas; auxilio aos órgãos de propaganda de higiene mental; organização
dos ambulatórios de Higiene Mental junto às Delegacias de Saúde em todo o Brasil; cooperação e
ajuda aos serviços estaduais no campo da assistência psiquiátrica, orientando-os, coordenando e
fiscalizando no que tange a organização, instalações e funcionamento. O órgão também opinava
sobre os projetos de instalação de novas instituições psiquiátricas ou a expansão das já existentes,
sendo públicas ou privadas, cooperando com a Divisão de Obras do Departamento de
Administração do Ministério da Saúde; organizava o cadastro dos estabelecimentos psiquiátricos
oficiais e particulares e era responsável por fiscalizar o cumprimento das exigências estabelecidas
pelo poder executivo central nos processos de subvenção federal às instituições de assistência
psiquiátrica.
30
O Manicômio Judiciário, inaugurado em 1921, recebeu o nome de Heitor Carrilho (MJHC) a partir do decreto Nº
37.990, de 27 de setembro de 1955, Era destinado aos delinquentes isentos de responsabilidade por motivo de
afecção mental, assim determinado por juiz competente, condenados recolhidos às prisões federais que
apresentassem sintomas de perturbação mental, ou acusados de algum crime que deveriam ser submetidos à
observação ou tratamento psiquiátrico, todos sob o regime de internação fechada. Por ter função especificamente
jurídica e, desse modo, alheia as vicissitudes do atendimento padrão aos afligidos por moléstias mentais na cidade,
não me debruçarei na análise desta instituição.
77
meio do trabalho nos ambulatórios de higiene mental, já construídos a partir de 1938, portanto,
três anos antes da criação do órgão. Afirmava-se ainda a necessidade de abrigar delinqüentes
doentes mentais em manicômios judiciais e, por fim, a percepção de que o serviço psiquiátrico
prestado em todo o território nacional era insuficiente. Tornava-se necessário, portanto, levar as
medidas supracitadas a todos os estados brasileiros, inclusive ao Distrito Federal, onde o órgão
assumia a responsabilidade direta das ações assistenciais, distintamente das outras unidades
federativas, nas quais o SNDM auxiliava de forma indireta os serviços estaduais através de ajuda
financeira e técnica. Por ser criada durante o Estado Novo, pode-se entender que o órgão também
foi projetado seguindo as ideias contidas no grupo que estava no poder, centralizadoras e anti-
federalistas. Porém, quando Getúlio Vargas é retirado do poder em outubro de 1945, qual o
modelo institucional que o órgão apresentou? As ideias que permeavam suas ações mudaram, e o
modelo assistencial sofreu alterações? São essas questões que o presente trabalho pretende
analisar a seguir.
Nos anos seguintes ao governo Vargas não houve mudanças de trajetória no tocante às
diretrizes e ao quadro organizacional da assistência psiquiátrica pública brasileira, uma vez que
Adauto Botelho ainda permaneceria como diretor do SNDM até 1954. De um lado mantiveram-
se as políticas voltadas para a prevenção e de outro foi incrementada a rede hospitalar
psiquiátrica, sobretudo, para além das fronteiras da cidade do Rio de Janeiro, então Distrito
Federal. Era preciso aumentar a área de abrangência do órgão sem deixar de cumprir com as
obrigações legais que a capital demandava.
Em 1955, o então Ministro da Saúde Aramis Athayde31 (1954-1955) afirma que o SNDM
possuía uma das maiores coletividades médicas e o maior número de hospitais da pasta.
Entretanto, ao analisar as fontes para a presente pesquisa pode-se constatar que essas instituições
localizavam-se todas na cidade do Rio de Janeiro. Como forma de expandir a rede assistencial
psiquiátrica por todo o país, o SNDM utilizou então a realização de convênios (acordos), via
Ministério da Educação e Saúde32, com os estados da federação que apresentassem deficiências
31
ATAÍDE, Aramis. Apresentando. In Revista Brasileira de Saúde Mental. Vol. I. pp. 1-2, 1955.
32
A partir de 1953, via Ministério da Saúde.
78
em prestar tais serviços. O objetivo era regulamentar o auxílio federal aos estados no tocante à
construção, instalação e funcionamento dos hospitais e serviços psiquiátricos locais. Tal
mecanismo fora regulamentado através do decreto 8550, de 3 de janeiro de 1946, que se
apresentava “subordinado juridicamente” ao decreto–lei 7.055, de 18 de novembro de 1944, que
criou o Centro Psiquiátrico Nacional (CPN) e, ao decreto 24.559, de 3 de julho de 1934, que
dispôs sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção aos psicopatas. Nesse sentido, a
existência desses acordos doze anos após a legislação de 1934 sugere a continuidade das mesmas
diretrizes profiláticas e assistenciais defendidas no momento anterior à criação do SNDM, ainda
na década de 1930.
33
Realizações do SNDM EM 1956. In Revista Brasileira de Saúde Mental. p.165. 1957.
34
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 540/ Env. 4321. Relatório Anual do Dr. João da Costa Machado: inspetor
psiquiátrico do SNDM em Natal-RN. s/p, 1955.
35
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 540/ Env. 4321. Relatório Anual do Dr. Percy Menezes: inspetor
psiquiátrico do SNDM em Manaus-AM. s/p, 1955; Fabrício, 2009, p.96.
36
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 417/ Env. 3106. Relatório de Atividades do SNDM. p.06. 1957.
79
Aos estados recaía a obrigação de financiar a outra parte das despesas de construção de
hospitais psiquiátricos, somente podendo retirar o dinheiro enviado pela União quando
depositassem a parte que lhes cabiam. Também tinham a obrigação de doar os terrenos para as
edificações quando necessário. Embora no artigo 2º do decreto nº 8550 (1946) fosse estabelecido
que as despesas com o funcionamento das instituições locais fossem exclusivamente de
responsabilidade da esfera estadual, o governo federal – além dos acordos para a realização de
obras – elaborou convênios com os estados no intuito de financiar também a manutenção38 desses
serviços e as práticas de praxiterapia39 a serem executadas pelos hospitais locais. Nesse sentido,
os alvos dessas ações eram não somente ampliar a oferta do serviço, mas também melhorar o
atendimento nas instituições já existentes por meio dos preceitos médicos-psiquiátricos
amplamente defendidos no período.
37
Idem. p.2.
38
Os acordos de manutenção começaram a ser estabelecidos em 1953 conforme documentos consultados (Fundo
Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607 / Env. 4926; Quadros Demonstrativos dos Auxílios Concedidos Através do
SNDM de Praxiterapia e Manutenção. s/p. 1958.
39
Idem.
40
Apenas o estado de São Paulo não foi incluído.
41
Outros 46 convênios firmados com os governos dos estados do Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro,
Paraná e Minas Gerais não foram contabilizados nesta análise, pois nos documentos consultados não fica claro
quantos contratos foram destinados especificamente a cada uma das três finalidades (construção, ampliação ou
reforma). Alguns desses contratos contemplavam mais de uma finalidade, construção ou ampliação e o único caso
que envolvia a necessidade dos três tipos de obras ocorreu na Bahia, em seus 8 acordos, ao longo do período
estipulado. Entretanto, os documentos não demonstram quantos destes foram destinados a cada um dos três
80
Sobre o tipo de instituição psiquiátrica contemplada por essas obras, percebe-se, a exemplo
do que já ocorria desde o início do século XX e durante o período em que o SNDM foi criado
(Medeiros, 1977, p.64), que o modelo baseado nas colônias foi atualizado para o de hospital-
colônia tornando-o prioridade na assistência pública psiquiátrica brasileira (Venancio, 2011, p.
37). Dos 19 estados atendidos nesses convênios, 11 utilizaram-no unicamente na construção ou
ampliação de hospitais-colônias42. O Paraná além de investir na construção de um hospital
colônia também utilizou tais verbas para a construção de um manicômio judiciário43. Outros três
estados construíram instituições destinadas à assistência infantil: a Paraíba através de um
Hospital de Neuro-Psiquiatria Infantil, Sergipe com a Ala Infantil da Clínica Psiquiátrica44 e
Pernambuco, que além de construir um pavilhão infantil45 também deu início à construção de um
manicômio judiciário. Outro estado que investiu na construção de um manicômio judiciário foi o
Rio de Janeiro, que por sua vez também utilizou tal verba para a construção de um hospital
psiquiátrico em Niterói (Jurujuba). Rio Grande do Sul e Minas Gerais também investiram em
hospitais psiquiátricos: o primeiro na ampliação de um pavilhão de tuberculosos, o segundo na
construção de hospitais regionais em Varginha, Uberaba, Montes Claros e Leopoldina. Portanto,
12 estados, ou seja, 63% do total de 19 estados construíram ou ampliaram hospitais colônias; 3
estados ou 15% deles, investiram em manicômios judiciários, alas ou hospitais infantis e
hospitais psiquiátricos (aos quais geralmente são destinados os doentes agudos ou subagudos).
Confirmava-se a continuação da linha de ação na qual tinha como base institucional assistencial
as colônias ou hospitais-colônias.
objetivos (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607 / Env. 4918. Demonstrativo dos Auxílios Concedidos aos
Estados da União Através de Convênios Destinados à Construção. s/p, 1958).
42
São eles: Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia e Espírito Santo, Santa Catarina,
Mato Grosso e Goiás. (Idem).
43
Estado do Paraná (Ibidem).
44
Não foi encontrado sobre a qual instituição essa expansão se referia, porém é possível que seja a Ala Infantil do
Hospital Colônia Eronides de Carvalho, inaugurado em 1940 na capital Aracaju, pois a única referência à existência
de um hospital pública no estado é esta instituição (Medeiros, 1977, p. 63).
45
Também não foi não foi encontra nenhuma referência sobre em qual instituição isso ocorreu.
81
Quadro 246: Recursos federais para a realização de convênios de obras em instituições psiquiátricas nos estados (1946-1955)
Estados 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955
Minas
Gerais 500,000.00 0 500,000.00 1,000,000.00 1,200,000.00 600,000.00 700,000.00 700,000.00 1,000,000.00 0
Rio Grande
do S. 500,000.00 0 0 500,000.00 300,000.00 600,000.00 700,000.00 700,000.00 800,000.00 0
Rio de
Janeiro 0 1,200,000.00 1,000,000.00 800,000.00 0 500,000.00 600,000.00 700,000.00 1,000,000.00 0
Bahia 0 1,200,000.00 1,700,000.00 1,500,000.00 1,000,000.00 500,000.00 700,000.00 600,000.00 900,000.00 0
Paraná 1,000,000.00 0 1,000,000.00 800,000.00 800,000.00 0 500,000.00 600,000.00 800,000.00 1,200,000.00
TOTAL 10,150,000.00 5,000,000.00 11,000,000.00 10,400,000.00 8,900,000.00 5,200,000.00 10,000,000.00 7,000,000.00 10,000,000.00 11,800,000.00
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios Concedidos aos Estados da União Através de
Convênios Destinados à Construção. s/p, 1958.
46
Este quadro foi elaborado por mim a partir dos dados encontrados em documentos do arquivo da DINSAM que está no IMASJM.
82
Quadro 347: Detalhado sobre os recursos federais e estaduais para a realização de convênios de obras em instituições psiquiátricas (1946-1955).
Classificação Classificação Relação entre
em relação ao em relação à as verbas
Classificação recebimento doação de Verba federal Verba Estadual Total de verbas Federais / Valor médio
Estados da
Classificação no PMAHP de Verba Verba recebida pelos investida pelos destinadas às Estaduais49 Nº de dos acordos
Federação
no PHP48 (1942) federal estadual estados (Cr$) estados (Cr$) obras Cr$ acordos Cr$
Amazonas 3 2 18º 18º 1,850,000.00 850,000.00 2,700,000.00 2.18 2 925,000.00
Pará 4 2 16º 16º 3,000,000.00 1,000,000.00 4,000,000.00 3.00 1 3,000,000.00
Maranhão 3 19º 19º 1,500,000.00 200,000.00 1,700,000.00 7.50 4 375,000.00
Piauí 2 1 13º 17º 5,300,000.00 900,000.00 6,200,000.00 5.89 6 883,333.33
Ceará 3 2 3º 8º 11,600,000.00 3,850,000.00 15,450,000.00 3,01 8 1,450,000.00
Rio Grande do N. 3 1 1º 2º 13,400,000.00 9,100,000.00 22,500,000.00 1,47 9 1,488,888.89
Paraíba 4 16º 14º 3,000,000.00 1,350,000.00 4,350,000.00 2.22 5 600,000.00
Pernambuco 5 6º 6º 9,400,000.00 5,400,000.00 14,800,000.00 1.74 6 1,566,666.67
Alagoas 3 1 11º 11º 5,900,000.00 1,700,000.00 7,600,000.00 3.47 6 983,333.33
Sergipe 1 7º 9º 8,000,000.00 2,350,000.00 10,350,000.00 3.40 8 1,000,000.00
Bahia 4 3 2º 7º 12,000,000.00 5,100,000.00 17,100,000.00 2,35 8 1,500,000.00
Espírito Santo 2 1 12º 10º 5,800,000.00 1,900,000.00 7,700,000.00 3.05 8 725,000.00
Rio de Janeiro 4 3 8º 4º 7,600,000.00 7,700,000.00 15,300,000.00 0.99 8 950,000.00
Minas Gerais 5 10º 5º 6,200,000.00 7,600,000.00 13,800,000.00 0.82 8 775,000.00
Goiás 1 1 9º 12º 6,300,000.00 1,500,000.00 7,800,000.00 4.20 6 1,050,000.00
Mato Grosso 2 1 14º 15º 4,300,000.00 1,100,000.00 5,400,000.00 3.91 6 716,666.67
Paraná 5 3 4º 1º 11,500,000.00 11,600,000.00 23,100,000.00 0.99 8 1,437,500.00
Santa Catarina 3 15º 12º 3,700,000.00 1,500,000.00 5,200,000.00 2.47 4 925,000.00
Rio Grande do S. 5 5º 3º 10,100,000.00 7,800,000.00 17,900,000.00 1.29 7 1,442,857.14
TOTAL 130,450,000.00 72,500,000.00 202,950,000.00 2,83 1,147,065.58
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios Concedidos aos Estados da União Através de Convênios Destinados à
Construção. s/p, 1958; Fabrício, 2009, pp. 80-111.
47
Este quadro foi elaborado por mim a partir dos dados encontrados em documentos do arquivo da DINSAM que está no IMASJM e no trabalho de Fabrício
(2009).
48
Não há uma datação precisa para o PHP. Porém, é possível afirmar que este plano foi elaborado entre os anos de 1937 e 1942, pois foi originário do Inquérito
Hospitalar Psiquiátrico, iniciado em 1937, e o Plano Mínimo de Assistência Hospitalar Psiquiátrica (PMAHP) baseado no PHP consta no relatório anual do
SNDM de 1942 (Botelho, 1945, pp.5-56. Apud Fabrício, 2009, p. 111).
49
Proporção de cada cruzeiro (Cr$) federal gasto em relação ao investimento estadual. Por exemplo, em relação ao Rio Grande do Norte para cada Cr$ 1,00
fornecido pelo governo estadual foram disponibilizados pelo governo federal Cr$ 1,47.
83
Conforme quadro 3, ao analisar os valores das verbas federais enviados para os estados e
relacionando-os com a ordem dos estados que mais forneceram contrapartida financeira para a
conclusão desses acordos, percebe-se que os oito estados que mais receberam verbas federais
84
estão entre os que mais investiram dinheiro próprio50. Na outra extremidade, entre os dez estados
que menos receberam da União, nove estão no grupo dos que menos investiram. Isso pode
demonstrar o que, de fato, acabaria sendo executado com base no artigo 2º do decreto-lei 8.550,
de 03 de janeiro de 1946, o qual impunha que estados e União arcariam conjuntamente com as
despesas de construção e instalação, cada um com sua proporção fixada: na maior parte dos
casos, a União acabou usando como parâmetro de escolha a capacidade de cada estado em
financiar medidas assistenciais psiquiátricas. Quanto mais investissem mais ganhariam. No
sentido inversamente proporcional, os estados que menos tinham verbas para investirem menos
receberiam, alimentando assim, um círculo vicioso o qual ajudaria a perpetuar a baixa qualidade
da assistência psiquiátrica nestes estados, quando proveniente da falta de recursos financeiros.
Sobre os convênios para a realização de obras nos estados, das 20 unidades federativas, a
exemplo do período anteriormente analisado neste trabalho (1946-1955), São Paulo foi a única
unidade que ausentou-se desse processo. Para a análise desses acordos de obras elaborei uma
divisão dos estados, que são separados em quatro grupos distintos, de acordo com o valor total
recebido pelo governo federal. Como tais acordos somente eram realizados através de
concomitante e obrigatória contribuição estadual, também os separo de acordo com os valores
ofertados pelas próprias unidades federativas dentro do acordo com a União. Portanto, em relação
às verbas federais concedidas para a realização de obras em instituições psiquiátricas estaduais
durante a administração Kubitscheck, a divisão dos grupos ficou da seguinte forma:
• Grupo I: Bahia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul;
• Grupo II: Alagoas, Ceará, Minas Gerais e Sergipe e Mato Grosso;
• Grupo III: Maranhão, Pará, Piauí, Santa Catarina e Paraíba;
• Grupo IV: Amazonas, Espírito Santo, Goiás e Rio de Janeiro.
50
A exceção do estado de Goiás que foi o nono estado que mais recebeu verba federal, mas foi o décimo segundo no
montante de verbas próprias. (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios
Concedidos aos Estados da União Através de Convênios Destinados à Construção. s/p, 1958)
85
Quadro 451: Recursos federais para a realização de convênios de obras em instituições psiquiátricas (1956-1960)
51
Nas fontes pesquisadas para o presente trabalho encontramos a informação de que o valor total investido pela União nos acordos de obras em 1960 foi de Cr$
90.000.000,00. A referida fonte, entretanto, não contém a informação da distribuição total dentre os estados. Por este motivo nos demais quadros relativos a tais
acordos referentes ao governo JK não utilizo o ano de 1960, apenas neste quadro 4, devido a este tratar-se dos valores totais investidos a cada ano para tais
acordos.
86
Quadro 5: Contribuição federais e estaduais para convênios de obras em instituições psiquiátricas (1956-1959).
1956 1957 1958 1959 TOTAL
Verbas Verbas Verbas Verbas Verbas
Verbas Estaduais Verbas Estaduais Verbas Estaduais Verbas Estaduais Verbas Estaduais
Estados Federais Cr$ Cr$ Federais Cr$ Cr$ Federais Cr$ Cr$ Federais Cr$ Cr$ Federais Cr$ Cr$
Amazonas 900,000.00 100,000.00 0.00 0.00 0.00 0 0.00 0 900,000.00 100,000.00
Pará 1,500,000.00 500,000.00 0.00 0.00 0.00 0 1,500,000.00 500,000.00 3,000,000.00 1,000,000.00
Maranhão 0.00 0.00 0.00 0.00 1,500,000.00 300,000.00 1,500,000.00 500,000.00 3,000,000.00 800,000.00
Piauí 1,200,000.00 300,000.00 0.00 0.00 0.00 0 2,200,000.00 600,000.00 3,400,000.00 900,000.00
Ceará 1,600,000.00 500,000.00 3,400,000.00 1,000,000.00 1,600,000.00 400,000.00 0.00 0 6,600,000.00 1,900,000.00
Rio Grande do N. 2,000,000.00 1,000,000.00 3,000,000.00 1,000,000.00 3,000,000.00 1,000,000.00 6,000,000.00 1,800,000.00 14,000,000.00 4,800,000.00
Paraíba 700,000.00 300,000.00 0.00 0.00 1,000,000.00 300,000.00 2,000,000.00 600,000.00 3,700,000.00 1,200,000.00
Pernambuco 1,600,000.00 800,000.00 3,200,000.00 1,600,000.00 4,900,000.00 1,600,000.00 5,000,000.00 2,000,000.00 14,700,000.00 6,000,000.00
Alagoas 1,400,000.00 400,000.00 0.00 0.00 1,000,000.00 400,000.00 7,000,000.00 1,500,000.00 9,400,000.00 2,300,000.00
Sergipe 2,000,000.00 600,000.00 0.00 0.00 2,000,000.00 600,000.00 1,800,000.00 300,000.00 5,800,000.00 1,500,000.00
Bahia 900,000.00 500,000.00 3,000,000.00 1,000,000.00 9,500,000.00 3,500,000.00 7,000,000.00 3,000,000.00 20,400,000.00 8,000,000.00
Rio de Janeiro 1,000,000.00 500,000.00 0.00 0.00 0.00 0 0.00 0 1,000,000.00 500,000.00
Espírito Santo 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0 2,000,000.00 600,000.00 2,000,000.00 600,000.00
Minas Gerais 0.00 0.00 0.00 0.00 3,000,000.00 1,000,000.00 10,000,000.00 3,000,000.00 13,000,000.00 4,000,000.00
Goiás 800,000.00 200,000.00 0.00 0.00 0.00 0 1,000,000.00 300,000.00 1,800,000.00 500,000.00
Mato Grosso 0.00 0.00 0.00 0.00 3,500,000.00 500,000.00 1,000,000.00 300,000.00 4,500,000.00 800,000.00
Paraná 1,400,000.00 1,000,000.00 3,400,000.00 1,600,000.00 8,000,000.00 4,000,000.00 4,000,000.00 2,000,000.00 16,800,000.00 8,600,000.00
Santa Catarina 1,000,000.00 500,000.00 0.00 0.00 2,000,000.00 500,000.00 0.00 0 3,000,000.00 1,000,000.00
Rio Grande do S. 2,000,000.00 500,000.00 4,000,000.00 4,000,000.00 11,000,000.00 8,500,000.00 8,000,000.00 8,000,000.00 25,000,000.00 21,000,000.00
TOTAL 20,000,000.00 7,700,000.00 20,000,000.00 10,200,000.00 52,000,000.00 22,600,000.00 60,000,000.00 25,000,000.00 152,000,000.00 65,500,000.00
Fonte: Até 1958 (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios Concedidos aos Estados da União Através de Convênios Destinados à
Construção. s/p, 1958.); 1959 (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 414/ Env.3077. E.M. 1227- DASP. s/p, 1959).
87
Quadro 6: Detalhado sobre recursos federais e estaduais para a realização de convênios de obras em instituições
psiquiátricas (1956-1959)
Valor média
nº de Relação (Cr$) dos acordos
Estados Federal (Cr$) Estadual (Cr$) Total (Cr$) contratos Fed. / Est. (Cr$)
Amazonas 900,000.00 100,000.00 1,000,000.00 1 9 900,000.00
Pará 3,000,000.00 1,000,000.00 4,000,000.00 2 3 1,500,000.00
Maranhão 3,000,000.00 800,000.00 3,800,000.00 2 3.75 1,500,000.00
Piauí 3,400,000.00 900,000.00 4,300,000.00 2 3.78 1,700,000.00
Ceará 6,600,000.00 1,900,000.00 8,500,000.00 3 3.47 2,200,000.00
Rio Grande do N. 14,000,000.00 4,800,000.00 18,800,000.00 4 2.92 3,500,000.00
Paraíba 3,700,000.00 1,200,000.00 4,900,000.00 3 3.08 1,233,333.33
Pernambuco 14,700,000.00 6,000,000.00 20,700,000.00 4 2.45 3,675,000.00
Alagoas 9,400,000.00 2,300,000.00 11,700,000.00 3 4.09 3,133,333.33
Sergipe 5,800,000.00 1,500,000.00 7,300,000.00 3 3.87 1,933,333.33
Bahia 20,400,000.00 8,000,000.00 28,400,000.00 4 2.55 5,100,000.00
Espírito Santo 2,000,000.00 600,000.00 2,600,000.00 1 3.33 2,000,000.00
Rio de Janeiro 1,000,000.00 500,000.00 1,500,000.00 1 2 1,000,000.00
Minas Gerais 13,000,000.00 4,000,000.00 17,000,000.00 2 3.25 6,500,000.00
Goiás 1,800,000.00 500,000.00 2,300,000.00 2 3.6 900,000.00
Mato Grosso 4,500,000.00 800,000.00 5,300,000.00 2 5.63 2,250,000.00
Paraná 16,800,000.00 8,600,000.00 25,400,000.00 4 1.95 4,200,000.00
Santa Catarina 3,000,000.00 1,000,000.00 4,000,000.00 2 3 1,500,000.00
Rio Grande do S. 25,000,000.00 21,000,000.00 46,000,000.00 4 1.19 6,250,000.00
TOTAL 152,000,000.00 65,500,000.00 217,500,000.00 49 3.46 1,147,065.58
Fonte: Até 1958 (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios Concedidos aos Estados da União Através de
Convênios Destinados à Construção. s/p, 1958.); 1959 (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 414/ Env.3077. E.M. 1227- DASP. s/p, 1959).
88
Quadro 7: Comparação dos estados no ranking das verbas para convênios de obras em
instituições psiquiátricas
Amazonas 4 4 4 4
Pará 4 3 4 3
Maranhão 4 3 4 3
Piauí 3 3 4 3
Ceará 1 2 2 2
Rio Grande do N. 1 1 1 1
Paraíba 4 3 3 2
Pernambuco 2 1 2 1
Alagoas 3 2 3 2
Sergipe 2 2 2 2
Bahia 1 1 2 1
Espírito Santo 3 4 2 4
Rio de Janeiro 2 4 1 4
Minas Gerais 2 2 1 2
Goiás 2 4 3 4
Mato Grosso 3 2 3 3
Paraná 1 1 1 1
Santa Catarina 3 3 3 3
Rio Grande do S. 1 1 1 1
Fonte: Até 1958 (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918; Demonstrativo dos Auxílios
Concedidos aos Estados da União Através de Convênios Destinados à Construção. s/p, 1958.); 1959 (Fundo
Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 414/ Env.3077. E.M. 1227- DASP. s/p, 1959).
89
52
Folha de São Paulo. Almanaque. Disponível em: < http://almanaque.folha.uol.com.br/dinheiro50.htm>. Acessado
em: 17/04/2013.
53
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627/Env 5126. Proposta Orçamentária do SNDM. s/p, 1961.). Sabe-se que
o valor atingiu Cr$ 100.000.000,00, e que por força do plano de contenção de despesas diminui para
Cr$90.000.000,00, destes Cr$ 40.000.000,00 foram distribuídos apenas a 3 estados, que o documento não informa.
54
Folha de São Paulo. Almanaque. Disponível em: < http://almanaque.folha.uol.com.br/dinheiro50.htm;
http://almanaque.folha.uol.com.br/dinheiro60.htm >. Acessados em: 17/04/2013.
55
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 442/ Env.3298. Documento escrito a mão e com assinatura da Seção de
Cooperação. s/p, 1959.
90
500.000,00). Por esse motivo, não teriam sido celebrados acordos com o estado do Rio de Janeiro
em 1958 e 1959. Para 1960, somente seria realizado algum tipo de acordo de obras mediante
apresentação de projetos articulados pelo SNDM e pelo estado.
A análise comparativa entre os dados encontrados sobre o período de 1946 – 1955 e durante
o governo JK (1956 – 1959) nos fornece informações importantes sobre continuidades e
descontinuidades relativas à política assistencial psiquiátrica. Conforme é possível observar no
quadro 7, o direcionamento das verbas para obras nas instituições psiquiátricas estaduais nos dois
períodos comparativos – 1946-1955 e 1956-1960 –, não sofreram profundas alterações. Apenas
dois estados, Rio de Janeiro e Goiás, mudaram para duas posições abaixo, caindo do Grupo II
para o Grupo IV. Outros oito estados alteraram suas colocações, porém, nenhum obteve queda
semelhante ou crescimento inversamente proporcional, oscilando apenas uma posição para cima
ou para baixo no ranking das verbas recebidas para os convênios de obras. Em relação aos que
mais receberam verbas federais, pertencentes ao grupo I, dos cinco estados entre 1946 e 1955,
quatro permaneceram neste grupo na Era JK, e apenas o Ceará que pertencia ao grupo no
primeiro período cedeu lugar à Pernambuco.
• Grupo I: Bahia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul;
• Grupo II: Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Sergipe e Paraíba;
• Grupo III: Maranhão, Pará, Piauí, Santa Catarina e Mato Grosso;
• Grupo IV: Amazonas, Espírito Santo, Goiás e Rio de Janeiro.
Assim se considerarmos a divisão dos estados em quatro grupos, tomando agora como
critério o valor ofertado pelas próprias unidades federativas para a celebração de tais acordos,
percebe-se que durante o governo JK dos 19 estados, 17 mantêm-se no mesmo grupo
correspondente quando o critério era o de recebimento de verbas federais. Por outro lado,
observando-se o quadro 7 é possível destacar que no período anterior ao governo JK (1946-
1955), em relação ao recebimento de verbas federais, apenas 11 estados permanecem na mesma
posição quando o critério é a aplicação de verbas estaduais. Neste sentido, cumpre ressaltar que
91
Além dos cortes de gastos determinados pela presidência da república, outros entraves
atrapalhavam o andamento e conclusão das obras a serem realizadas nos estados. A
inadimplência das próprias unidades federativas em relação ao pagamento de suas respectivas
partes nos acordos firmados com a União era um deles. Em 1959, 14 dos 19 estados estavam em
débito com pelo menos um convênio firmado (ver quadro 8). Este quadro era preocupante, pois
de acordo com o artigo 2º do decreto-lei 8550, de 03/01/1946, que regia tais convênios, a
56
Não há qualquer referência nos documentos pesquisados sobre as razões desses cortes orçamentários. Entretanto,
sabe-se que, na segunda metade de seu mandato JK enfrentou uma crise econômica causada pelo aumento dos
gastos públicos e da queda dos preços nos mercados internacionais dos produtos que compunham a pauta de
exportação brasileira, o que acabou gerando forte pressão inflacionária (Sarmento, 2012).
57
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 414/ Env. 3077. E.M 1227. s/p, 1959.
58
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 951/ Env. 8051. Processo Nº 16.594/58 do Ministério da Saúde /
Presidência da República Nº 36.207/58. S/p, 1958.
59
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 951/ Env. 8051. Ofício do SNDM s/nº direcionado ao diretor do DNS. s/p,
1958.
60
Não foi localizada nenhuma informação que comprovasse que essa ideia defendida pelo diretor do SNDM tenha
sido colocada em prática.
92
contribuição de uma das partes contratantes somente poderia ser movimentada depois que a outra
parte houvesse depositado a sua contribuição, o que travaria a continuação ou início das obras.
Outro obstáculo era a morosidade nos processos de pagamento em posse do Ministério da
Fazenda (ver quadro 9) que tinha como objetivo as obras nos estados. Também em 1959, 10 dos
19 estados tinham acordos parados no referido ministério, três deles com processos a cinco anos
estagnados. Já em 1960, em relatório da Seção de Cooperação, tais problemas aparentam estar
agravados, pois todos os acordos firmados neste ano estavam retidos no Ministério da Fazenda61.
Quadro 862: Quotas estaduais não depositadas relativas aos convênios de obras (1955 – outubro
de 1959)
Estados ANO Valor Cr$
Pará 1956 550.000
Maranhão 1958 300.000
Piauí 1956 300.000
1955 500.000
Ceará 1956 500.000
1957 1.000.000
Pernambuco 1958 1.600.000
Sergipe 1956 600.000
1957 1.000.000
Bahia 1958 3.000.000
Rio de Janeiro 1954 1.500.000
1956 1.000.000
Paraná 1957 1.600.000
1958 4.000.000
Santa Catarina 1958 500.000
Rio Grande do Sul 1957 4.000.000
1954 3.000.000
Minas Gerais 1958 1.000.000
Universidade (Bahia) 1958 500.000
Universidade (R.G. do Sul) 1958 500.000
TOTAL 27.450.000
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 442/ Env. 3298. Relação
dos Estados Que Ainda Não Depositaram Suas Quotas. s/p, 1959.
61 Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 567/ Env. 4535. Relatório da Seção de Cooperação: Volume I. p. 4, 1960.
62
Apesar do último ano referido na tabela ser 1958, o documento consultado é relativo a outubro de 1959.
93
Quadro 9: Quotas federais para convênios de obras não pagas pelo Ministério da Fazenda (1954
– 1959).
Estado Processo M.F Valor Cr$
Ceará 368.189/56 1.600.000
305.576/54 800.000
Paraná 161.129/59 8.000.000
Pernambuco 145.028/58 3.200.000
Sergipe 303.191/54 900.000
Minas Gerais 166.013/59 3.000.000
Santa Catarina 134.535/59 2.000.000
Alagoas 152.305/59 1.000.000
303.189/54 900.000
Bahia
113.652/59 7.000.000
Bahia (universidade) 112.471/59 3.000.000
346.335/58 2.000.000
Rio Grande do Sul
311.621/58 4.000.000
Rio Grande do Sul 106.107/59 3.000.000
(universidade)
Rio Grande do Norte M.S. – Aviso 349 3.000.000
TOTAL 42.900.000
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 442/ Env. 3298. SNDM - Convênios. s/p, 1959.
Outro tipo de acordo utilizado pelo SNDM com os estados a fim de incrementar a
assistência psiquiátrica em todo o Brasil era relativo à manutenção das instituições psiquiátricas
estaduais. Embora não houvesse a necessidade de contrapartida financeira dos estados para a
realização dos convênios de manutenção das redes assistenciais psiquiátricas estaduais, como
ocorria no caso dos acordos firmados para a realização de obras, as unidades federativas tinham
obrigações administrativas com o SNDM. Nesta perspectiva, era necessário aos estados
providenciarem o emprego dessas verbas na rubrica específica de manutenção a que foram
destinadas, ainda que não houvesse a definição de um cronograma para uso desses recursos
financeiros recebidos, a fim de que estivessem aptos a receberem novas verbas para tal propósito.
94
Como já citado, esses acordos para manutenção foram iniciados apenas em 1953 e, neste
sentido, sua análise não possibilita comparação com dados relativos a assistência psiquiátrica em
outros governos, conforme foi feito com os convênios de obras. Contudo, sobre os anos JK,
podemos constatar os diferentes critérios utilizados para determinação de quanto cada estado
receberia em cada acordo. Conforme documento assinado por Maurício de Medeiros, então
Ministro da Saúde em 1957, e destinado à presidência da república, a escolha do volume de
recursos fundamentava-se nas informações obtidas através das inspeções realizadas pela direção
do órgão in loco nos estados ou por vontades políticas superiores. Este foi o caso dos acordos
firmados em 1957, no qual priorizou-se mais recursos para os estados brasileiros do nordeste,
norte, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a pedido do próprio Juscelino Kubitschek
feito no ano anterior63. Já em 1958, um documento64 elaborado pelo DASP, também dirigido à
presidência da república, pedindo a aprovação de verbas para os estados relativas aos acordos de
manutenção, informa que os Cr$ 20.000.000,00 a eles destinados deveriam obedecer o critério de
distribuição segundo os 29.750 leitos hospitalares gratuitos para doentes mentais, resultando num
auxílio anual de Cr$ 672,00 para cada unidade-leito. No mesmo documento, entretanto, o DASP
lembra que o SNDM sugeria que a distribuição fosse feita segundo os critérios dos anos
anteriores, baseada nas “qualidades de cada estado”, isto é, tipo de assistência e custo de vida
local; bem como nas condições orçamentárias dos estados. Numa solução intermediária, ainda no
mesmo documento, o DASP indica a utilização de uma norma de distribuição de recursos que
contemplasse “algo dos critérios” indicados pelo SNDM: considerando-se as “qualidades de cada
estado” seria atribuído um “peso” a cada unidade da federação, para multiplicação da quota-base
de Cr$ 672,00, levando em conta o número de leitos gratuitos, registrados a partir do censo de
1956. Este cálculo determinou a seguinte divisão dos estados em relação ao recebimento de
verbas federais:
63
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918. E.M. Nº 353, direcionado à presidência da república,
timbre do Ministério da Saúde, assinado por Maurício de Medeiros (ministro) em 20/08/1957. s/p, 1958.
64
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 580/Env. 4760. Processo Nº 18.554/58 do M.S. s/p, 1958.
95
• Grupo E – Peso fixo Cr$ 500,00 p/ leito: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais e Pernambuco.
Portanto, de acordo com esse critério cada estado recebeu verbas federais considerando-se a
proporção em relação ao número de leitos conforme demonstra o quadro 10:
Quadro 10: Recursos federais recebidos pelos estados para convênios de manutenção por
número de leitos (1958)
Estados Nº de Auxílio Cr$
leitos
Amazonas 150 500,000.00
Maranhão 150 500,000.00
Piauí 167 550,000.00
Alagoas 130 420,000.00
Mato Grosso 101 350,000.00
Rio Grande do Norte 240 480,000.00
Sergipe 244 480,000.00
Paraíba 280 550,000.00
Goiás 330 650,000.00
Espírito Santo 428 550,000.00
Ceará 470 600,000.00
Pará 490 650,000.00
Santa Catarina 700 450,000.00
Paraná 1010 650,000.00
Bahia 1220 800,000.00
Rio de Janeiro 1420 710,000.00
Pernambuco 1400 700,000.00
Rio Grande do Sul 3220 1,610,000.00
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 607/ Env. 4918. E.M. Nº 353, direcionado à presidência da
república, timbre do Ministério da Saúde, assinado por Maurício de Medeiros (ministro) em 20/08/1957. s/p, 1958.
96
No ano de 1959 observa-se uma nova mudança no critério do cálculo das verbas a serem
enviadas aos estados relativos aos convênios de manutenção de instituições psiquiátricas.
Segundo documento65 produzido pelo próprio DASP, os critérios de distribuição tiveram como
princípio a quantidade de leitos nas unidades da federação, focando especificamente nos aspectos
econômicos. O critério das “qualidades” de cada unidade federativa, proposto pelo SNDM em
1958 – tipo de assistência e custo de vida local – deixou de ser considerado, permanecendo
apenas como critério a situação econômica das unidades federativas. Caberia maior auxílio por
leito-dia aos estados economicamente mais fracos, cujos governos não dispunham de recursos
próprios suficientes para atender aos doentes mentais. Neste período, segundo o mesmo
documento, o número de leitos no Brasil saltara de 29.750 para apenas 30.000, distribuídos pelos
20 estados. Neste sentido, seguindo a lógica do ano anterior66 de atribuição de pesos distintos aos
estados, e utilizando-se especificamente o critério das características econômicas de cada estado,
as unidades federativas ficaram divididas em 5 grupos, sendo o grupo A o que mais recebia
verbas e o grupo E o que menos recebia.
• Grupo A / 5.000 P/ leitos / Peso 5 – Amazonas, Maranhão, Piauí, Alagoas, Sergipe e Mato
Grosso;
• Grupo B / 3.000 P/ leitos / Peso 3 – Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Goiás;
• Grupo E / 500 p/ leitos / Peso 0,5- São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e estado
do Rio de Janeiro.
Nos grupos de 1959, apenas estados do sul e sudeste brasileiro compuseram os grupos D e
E, que correspondiam às unidades com maior saúde financeira. Este quadro difere daquele de
1957 quando além da situação econômica local, levava-se em consideração as outras qualidades
de cada estado, a saber, o tipo de assistência e o custo de vida local. Comparativamente nenhum
65
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx.428/Env. 3173. Processo Nº 11.724/59 do M.S; Nº 17736/59 da P.R, E.M
870. s/p, 1959.
66
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 756 / Env. 6354. Plano de Aplicação de Dotação Orçamentária, para
manutenção de Serviços Psiquiátricos nos Estados. p.02, 1959. Este plano refere-se aos recursos aplicados em 1958.
97
estado caiu de um grupo para outro, ao contrário, os estados que mudaram de grupo, assim o
fizeram passando a pertencer a grupos superiores no tocante a proporção leito/verba federal.
Desse modo, a distribuição das verbas67 para manutenção entre os estados a partir de 1959
estabeleceu-se da seguinte forma:
Quadro 11: Relação entre os valores recebidos pelos estados a partir de 1959, para
convênios de manutenção de hospitais psiquiátricos locais por número de leitos
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 428/ Env. 3173. Processo Nº 11.724/59 do M.S., Nº 17736/59 da
P.R, E.M 870: do DASP à Presidência da República. s/p, 1959.
Em 1958, Lisânias Marcelino da Silva, então diretor do SNDM, enviou ofícios68, aos
secretários de saúde do Espírito Santo, Goiás, Maranhão e Bahia determinando que, se tais verbas
67
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx.428/Env. 3173. Processo Nº 11.724/59 do M.S.; Nº 17736/59 da P.R; E.M
870. s/p, 1959.
68
Espírito Santo: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 589 / Env. 4757. Aplicação de Recursos Concedidos em
Convênios. pp. 1-2, 1958; Goiás: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 589 / Env. 4760. Aplicação de Recursos
98
já disponibilizadas não fossem aplicadas, esses estados não seriam incluídos no plano de
aplicação de verbas para convênios de manutenção relativos àquele ano de 1958. Não se tem
informações se tais secretários providenciaram essas pendências. Porém, todos esses estados
foram incluídos nos planos para acordos de manutenção nos anos seguintes, pelo menos até o
final do governo JK.
Apenas dois documentos nos permitem vislumbrar o uso que se dava as referidas verbas
federais para convênios de manutenção. O primeiro deles foi elaborado pela Diretoria Geral do
Departamento de Saúde da Secretaria de Educação, Cultura e Saúde de Mato Grosso, assinado
pelo diretor geral do órgão, Dr. Cid Nunes da Cunha e pelo Dr. Manoel de Souza Vargas, diretor
do Hospital Colônia de Alienados Coxipó da Ponte69, para o qual se destinou verba relativa a
convênio para manutenção em 1958. Dos Cr$ 350.000,00 recebidos, Cr$ 257.840,00 foram
destinados a compra da aquisição de gêneros alimentícios, Cr$ 65.671,50 em combustível e
lubrificantes para cozinha e Cr$ 26.488,50 para “aprestos” de cozinha e mesa. O segundo
documento70, refere-se ao plano de aplicação da verba derivada do convênio de 1958 para
manutenção entre o SNDM e o estado do Maranhão, utilizada pelo Hospital Colônia Nina
Rodrigues. Dos Cr$ 500.000,00 destinados ao estado, Cr$ 300.000,00 foram utilizados para
compra de alimentos (carne bovina, arroz e pão); Cr$ 100.000,00 para aquisição de uma rede de
telefone, uma geladeira e um motor elétrico; outros Cr$60.000,00 para compra de medicamentos
diversos; e por fim, Cr$ 40.000,00 para aquisição de combustível para fogão Butano.
Certamente, não se pode chegar à conclusão, a partir dos dados acima, de que tais gastos
nestes itens específicos se repetiam anualmente em Mato Grosso ou no Maranhão. Porém, ao
analisar os produtos comprados, percebe-se que grande parte dos valores recebidos por ambos os
estados foi utilizada para compras de alimentos ou produtos de bens de consumo não duráveis
(gasolinas, lubrificantes e remédios), os quais, geralmente, precisam ser renovados regularmente.
Sendo assim, é bem possível que a utilização destas verbas de manutenção possam ter sido
Concedidos em Convênios. pp. 1-2, 1958; Maranhão: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 589/Env.4761.
Aplicação de Recursos Concedidos em Convênios. pp. 1-2, 1958; Bahia: Ididem, p.1, 1958.
69
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 589 / Env. 4761. Empenho Nº 17/59; Pr. M.S. – 40.322/59 – 47.520/59.
s/p, 1959.
70
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 589 / Env. 4762. Ofício Nº 801/59 da Secretaria de Saúde e Assistência
Social do Estado do Maranhão ao SNDM. s/p, 1959.
99
utilizadas nos mesmos produtos ou artigos afins todos os anos. Do mesmo modo, não é possível
afirmar que outros estados tenham utilizado tal verba com os mesmos fins. Porém, os casos de
Mato Grosso e Maranhão possibilitam vislumbrar como, na prática, era possível utilizar as verbas
destinadas à manutenção da assistência psiquiátrica nos estados.
100
Quadro 12: Recursos financeiros para convênios de manutenção em instituições psiquiátricas (1953-1955).
Colocação
nos Posição
Convênios Posição no
Estados da Federação 1953 1954 1955 TOTAL de Obras no PHP PMAHP
Amazonas 110,000.00 110,000.00 400,000.00 620,000.00 18º 3 2
Pará 250,000.00 250,000.00 500,000.00 1,000,000.00 16º 4 2
Maranhão 100,000.00 100,000.00 300,000.00 500,000.00 19º 3
Piauí 130,000.00 130,000.00 300,000.00 560,000.00 13º 2 1
Ceará 250,000.00 250,000.00 500,000.00 1,000,000.00 3º 3 2
Rio Grande do N. 150,000.00 150,000.00 500,000.00 800,000.00 1º 3 1
Paraíba 85,000.00 85,000.00 300,000.00 470,000.00 16º 4
Pernambuco 420,000.00 420,000.00 600,000.00 1,440,000.00 6º 5
Alagoas 100,000.00 100,000.00 300,000.00 500,000.00 11º 3 1
Sergipe 100,000.00 100,000.00 300,000.00 500,000.00 7º 1
Bahia 450,000.00 450,000.00 600,000.00 1,500,000.00 2º 4 3
Espírito Santo 95,000.00 95,000.00 300,000.00 490,000.00 12º 2 1
Rio de Janeiro 520,000.00 520,000.00 650,000.00 1,690,000.00 8º 4 3
Minas Gerais 1,380,000.00 1,380,000.00 1,500,000.00 4,260,000.00 10º 5
Goiás 80,000.00 80,000.00 350,000.00 510,000.00 9º 1 1
Mato Grosso 80,000.00 80,000.00 350,000.00 510,000.00 14º 2 1
Paraná 350,000.00 350,000.00 650,000.00 1,350,000.00 4º 5 3
Santa Catarina 250,000.00 250,000.00 400,000.00 900,000.00 15º 3
Rio Grande do Sul 1,100,000.00 1,100,000.00 1,200,000.00 3,400,000.00 5º 5
TOTAL 6,000,000.00 6,000,000.00 10,000,000.00 22,000,000.00
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM, Cx. 607/ Env. 4474. Quadro de Auxílios Concedidos aos Estados nos Exercícios de 1953 a 1964. 1967, s/p.
101
Quadro 13: Recursos financeiros para convênios de manutenção em instituições psiquiátricas (1956-1960)
Estados 1956 1957 1958 1959 1960 TOTAL
Amazonas 450,000.00 600,000.00 500,000.00 750,000.00 1,500,000.00 3,800,000.00
Pará 500,000.00 700,000.00 650,000.00 1,500,000.00 2,000,000.00 5,350,000.00
Maranhão 250,000.00 400,000.00 500,000.00 900,000.00 1,800,000.00 3,850,000.00
Piauí 450,000.00 600,000.00 550,000.00 900,000.00 1,800,000.00 4,300,000.00
Ceará 450,000.00 450,000.00 600,000.00 1,200,000.00 2,000,000.00 4,700,000.00
Rio Grande do N. 700,000.00 1,000,000.00 480,000.00 1,200,000.00 2,000,000.00 5,380,000.00
Paraíba 750,000.00 1,000,000.00 550,000.00 1,200,000.00 2,000,000.00 5,500,000.00
Pernambuco 600,000.00 800,000.00 700,000.00 2,600,000.00 3,600,000.00 8,300,000.00
Alagoas 800,000.00 1,000,000.00 420,000.00 1,000,000.00 1,800,000.00 5,020,000.00
Sergipe 800,000.00 1,000,000.00 480,000.00 1,000,000.00 1,800,000.00 5,080,000.00
Bahia 500,000.00 800,000.00 800,000.00 2,400,000.00 3,600,000.00 8,100,000.00
materiais relativos às atividades de praxiterapia nas unidades de assistência aos doentes mentais
subordinados ao respectivo estado, e o 1/3 restante destinava-se a aquisição destes materiais para
os serviços de praxiterapia prestados nos Ambulatórios de Higiene Mental mantidos pelo SNDM
nos estados; por fim, era obrigatório ao estado, restituir ao SNDM o material não utilizado para a
finalidade devida.
Quadro 14: Recursos financeiros para convênios de praxiterapia firmados entre União e estados (1956-1960)
Grupo
pertencente
Classificação
em relação
Estados 1956 1958 1959 1960 Total em valores
às Verbas
absolutos
federais
1956-1960
Amazonas 150.000,00 0,00 0,00 100.000,00 250.000,00 14º 3
Pará 150.000,00 150.000,00 200.000,00 100.000,00 600.000,00 8º 2
Maranhão 80.000,00 0,00 50.000,00 100.000,00 230.000,00 17º 4
Piauí 0,00 0,00 0,00 100.000,00 100.000,00 19º 4
Ceará 100.000,00 0,00 0,00 0,00 100.000,00 19º 4
Rio Grande do N. 100.000,00 100.000,00 200.000,00 200.000,00 8º 2
600.000,00
Paraíba 150.000,00 0,00 200.000,00 200.000,00 550.000,00 10º 2
Pernambuco 200.000,00 300.000,00 300.000,00 200.000,00 4º 1
1.000.000,00
Alagoas 50.000,00 0,00 100.000,00 100.000,00 14º 3
250.000,00
Sergipe 100.000,00 0,00 50.000,00 100.000,00 250.000,00 14º 3
Bahia 200.000,00 300.000,00 200.000,00 300.000,00 1.000.000,00 4º 1
Espírito Santo 0,00 150.000,00 150.000,00 100.000,00 400.000,00 13º 3
Rio de Janeiro 900.000,00 150.000,00 150.000,00 100.000,00 1.300.000,00 2º 1
Paraná 150.000,00 150.000,00 150.000,00 200.000,00 650.000,00 7º 2
Santa Catarina 150.000,00 150.000,00 100.000,00 100.000,00 11º 3
500.000,00
Rio Grande do S. 200.000,00 300.000,00 200.000,00 200.000,00 6º 2
900.000,00
Minas Gerais 200.000,00 500.000,00 500.000,00 300.000,00 1.500.000,00 1º 1
Goiás 70.000,00 150.000,00 100.000,00 100.000,00 420.000,00 12º 3
Mato Grosso 50.000,00 0,00 50.000,00 100.000,00 200.000,00 18º 4
São Paulo 0,00 600.000,00 300.000,00 300.000,00 1.200.000,00 3º 1
TOTAL 3.000.000,00 3.000.000,00 3.000.000,00 3.000.000,00 12.000.000,00
Fonte: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 560/Env. 4473. Quadro de Auxílios Concedidos aos Estados nos Exercícios de
1956 a 1964. s/p, 1964.
104
Durante o governo JK, entre os anos de 1956 e 1960, apenas em 195776, não foram
celebrados acordos relacionados à praxiterapia. Nestes anos, todos os 20 estados da federação
foram contemplados. Desse modo, como forma de melhor organizar a análise dos dados que
compõem os convênios firmados para a realização de praxiterapia durante governo Kubitscheck,
e consequentemente melhorar a compreensão desta temática, divido todos as unidades federativas
contempladas por tais acordos em 4 grupos contendo 5 estados cada um. O grupo I é composto
do 1º colocado em recebimento de recursos federais ao 5º colocado; o Grupo II, do 6º colocado
ao 10º; Grupo III, do 11º ao 15º; Grupo IV, do 16º ao 20º, estes, os que menos receberam verbas
federais para o específico objetivo analisado no momento.
Sendo assim, durante o período de 1956 a 1960, a posição dos estados no tocante aos
acordos de incentivo a praxiterapia ficaram definidos da seguinte forma:
• Grupo II: Rio Grande do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Pará e Paraíba;
• Grupo III: Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Alagoas, Sergipe e Amazonas77;
A partir dos dados acima é possível identificar que a lógica expansionista de assistência
psiquiátrica direcionada para todo o território nacional visando sua intensificação no interior do
país (um dos pilares da criação do SNDM) teve como uma de suas forças motrizes a formulação
de convênios entre União e os estados. Tais convênios tinham o intuito de ampliar a capacidade
de atendimento nos serviços estaduais através do aumento do número de leitos hospitalares, e
manter um padrão aceitável de qualidade nos atendimentos, fornecendo capital destinado a
manutenção dessas instituições, e incentivando e financiando práticas de terapêutica ocupacional
76
Sobre o fato, não há nenhuma informação oficial em nenhum documento analisado para a composição deste
trabalho que afirme essa ausência no referido ano. Porém, em documento com o timbre do Ministério da Saúde
elaborado pela Seção de Cooperação do SNDM, contém uma planilha composta por todos os acordos celebrados
para o incremento da praxiterapia entre União e estados entre 1956 a 1967, nesta não aparece o ano de 1957.
77
Neste caso há um estado a mais no Grupo III, pois houve empate no total de recebimento de verbas entre os
estados de Alagoas, Sergipe e Amazonas.
105
como método barato e eficiente de tratamento. Também é possível observar que durante o
governo JK tal estratégia foi potencializada. Somado os cinco anos do referido governo, gastou-
se 170% a mais nos convênios destinados às obras, do que os primeiros dez anos iniciais (1946-
1955) desta medida; Em relação aos acordos para manutenção, a diferença foi ainda maior,
chegou a 445,45% de diferença entre os três primeiros anos dessa medida (1953-1955); por fim,
os acordos destinados as atividades de praxiterapia, embora planejados em 1955, foram iniciadas
em 1956 e até o final do governo JK foram investidos nessa prática Cr$ 12.000.000,00.
78
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 154/Env.1605. Relatório da Seção de Cooperação. p. 1, 1958.
79
Assinado pelo Dr. Mathias da Costa. Não foi encontrada nenhuma informação sobre qual o posto ele ocupava na
Seção de Cooperação (Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 356/ Env.2452. Relatório da Seção de Cooperação.
pp. 1-3, 1955)
106
serviços federais se valendo de amostras grátis para atender aos doentes“80. Somente foi
possível enviar no ano de 1955, de forma regular, material de expediente. Reclama-se que os
encargos hospitalares deslocam médicos de suas funções nos AHM’s; alguns inspetores
psiquiátricos davam consulta tri-semanal (e não diária) e alguns critérios adotados na elaboração
de estatísticas eram passíveis de revisão, embora não mencione explicitamente quais seriam esses
critérios. Os AHM’s de Belém e Belo Horizonte encontravam-se fechados, o de Maceió foi
transferido em janeiro de 1955 para a Casa de Saúde Miguel Couto por falta de verba; em relação
ao estado do Ceará chamava-se a atenção para a errônea distribuição de verba, da qual se
beneficiaram instituições particulares e espíritas. O ambulatório de Fortaleza conseguiu utilizar a
verba de Cr$ 100.000,00 referente ao acordo de manutenção entre União e governo do Ceará no
ano de 1955. Para finalizar, dentro desse quadro predominantemente negativo indicava-se que
deveriam ser feitas visitas periódicas de um técnico da própria S.C para vistorias in loco nos
ambulatórios de higiene mental nos estados.
O quadro apresentado pelo AHM de Alagoas também era calamitoso. Em seu relatório
anual81, referente a 1955, o inspetor psiquiátrico federal em Maceió, relata a situação caótica na
qual o ambulatório pelo qual era responsável se encontrava. Recebiam Cr$ 1.200,00 para aluguel
de imóvel, e não conseguiram nenhum local para alugar. Dessa forma, ocuparam a Casa de
Saúde São Miguel, em 1954, provisoriamente, esperando que o SNDM tomassem as
providências que lhe foram demandadas. Porém, um ano após a transferência nada havia sido
feito. Pedia aos “gritos”, segundo o próprio inspetor, ajuda pecuniária para a sobrevivência do
AHM e de auxílio à Casa de Saúde Miguel Couto, afirmando que o médico inspetor era o mais
mal pago entre os médicos federais sediados em Maceió: recebiam apenas Cr$ 1.200,00 por mês
somado o material de expediente mínimo, esse o menos importante para o inspetor, já que o
AHM não contava com máquina datilográfica, franquia posta, etc.
81
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 540/ Env.4321. Integra do Relatório do Dr. Mario Morcerf de Barros. s/p,
1955.
107
Apesar deste panorama negativo que a administração JK encontra em relação aos AHM, ao
longo deste governo essas unidades de atendimento psiquiátrico nos estados tiveram sua
capacidade ampliada. Os relatórios emitidos pela S.C, órgão responsável pela administração dos
ambulatórios do SNDM pelo Brasil, não menciona detalhadamente como tais instituições
obtiveram aumento sistemática no número de atendimento. Entretanto, ao verificarmos os
valores utilizados na manutenção desses AHM, pode se ter um indicativo de uma das causas
dessa melhora. Em 195783 o SNDM gastou Cr$ 2.000.000,00 na manutenção dos AHM, em
196084 alcançou um montante de Cr$ 9.000.000,00, sendo Cr$ 3.000.000,00 destinados a
equipamento e Cr$ 6.000.000,00 para compra de produtos químicos e farmacêuticos. Outro fator
que possibilitou o aumento no número de pessoas atendidas, provavelmente condicionado a esse
aumento de verbas, foi a abertura de novos AHM. Em 1955, eram 1685 ambulatórios ligados à
S.C86, no final do ano de 1960 já eram ao todo 2287, com mais 3 a espera de inauguração – os de
Belém do Pará, Recife e Olinda – que seriam colocados a funcionar em salas cedidas pelo
governo estadual.
82
Idem.
83
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627 / Env. 5126. Proposta Orçamentária para 1960. s/p, 1960.
84
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627 / Env. 5126. Proposta Orçamentária para 1960. s/p, 1960.
85
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 566/Env.4530. Relatório do SNDM. p.22, 1956.
86
Em Botelho (1955c) o ex diretor do SNDM afirma, entretanto, que em 1955 estavam em funcionamento 18 AHM.
87
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx567/4535. Relatório da Seção de Cooperação: Volume I. p.3, 1960.
108
Quadro 1588: Número de atendimentos nos Ambulatórios de Higiene Mental no Brasil (1946-
1960).
1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955
14029 21750 30744 34394 46837 52228 57226 65109 64116 72806
88
Até 1953: Deusdit (1955, p.251); a partir de 1954 até 1955: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 540 / Env.
4321. Relatório da Seção de Cooperação. s/p, 1955; sobre 1956: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 370 / Env.
2558. Mapas Estatísticos da Seção de Cooperação. s/p, 1956; sobre 1957: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx.
570 / Env. 4554. Relatório do SNDM: referente a 1957. p.6, 1958; sobre 1958: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM;
Cx. 165 / Env. 1605. Dados Estatísticos Sobre o Movimento Geral dos Ambulatórios de Higiene Mental. s/p, 1958.
De 1959 a 1960: Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 567 / Env. 4535. Relatório da Seção de Cooperação. s/p,
1960.
109
mais influência sobre os estados no tocante às formulações de políticas públicas para tal
assistência. Conforme descrito anteriormente, os inspetores psiquiátricos eram o principal
mecanismo de fiscalização das ações do SNDM nos estados. Outro mecanismo de controle eram
as viagens de inspeção in loco realizadas pelo diretor do SNDM e/ou o chefe da Seção de
Cooperação, nas quais além de verificar o andamento de obras, os AHM e a assistência
psiquiátrica estadual como um todo, constituía-se na oportunidade que a direção do SNDM tinha
para entrar em entendimentos a serem mantidos com os governos estaduais para o
estabelecimento dos convênios de obras, manutenção e praxiterapia89. Além disso, aproveitavam
também para manter entendimentos com os inspetores do órgão nos estados visitados e com as
Delegacias Federais locais. Através dos acertos entre essas partes se definiam os planos de ação
nos estados visitados90. Observa-se ainda que, mesmo que excepcionalmente, a realização dessas
visitas poderiam ocorrer por meio da ajuda de outros órgãos como ocorreu em 1956, quando a
viagem de inspeção ao sul do país foi realizada em avião cedido pelo Departamento Nacional de
Endemias Rurais (DNERu)91.
Portanto, a partir das informações acima é possível afirmar que durante o governo JK,
houve um aumento no investimento das ações relacionadas à assistência psiquiátrica em todo
território nacional, em consonância com a ideia central e mestra deste governo que defendia a
interiorização das ações estatais a fim de possibilitar uma significativa melhora da condição de
vida da parcela de brasileiros que não moravam na parte sul do território, tampouco no seu vasto
litoral. Embora a ideia da centralização normativa e descentralização executiva engendrada no
primeiro governo Vargas (1930-1945) ainda estivesse funcionando no governo JK, é preciso
refletir sobre até que ponto a parte executiva da assistência psiquiátrica continuava sendo feita de
forma indireta por meio das unidades federativas. Ao construir Ambulatórios de Higiene Mental
nos estados a União complementava os espaços das unidades federativas que recebiam o doente
mental atendendo-o diretamente. Visavam diminuir, com isso, a movimentação dos hospitais
psiquiátricos locais. Portanto, tal mecanismo assistencial corresponde a uma ação executiva
direta exercida pelo próprio SNDM nos estados. Isto nos faz refletir sobre a ideia de que no
89
Fundo Dinsam, Acervo IMASJM. Cx. 417 / Env. 3106. Relatório de Atividades do SNDM. p.01. 1957 ().
90
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 442 / Env. 3298. Relatório ao Dr. Oswaldo Camargo (chefe do Setor de
Planejamento e Obras da S.C do SNDM). p. 01. 1956.
91
SNDM. Viagem ao Sul. In Revista Brasileira de Saúde Mental. Vol. II, Nº 2. pp. 143-144. 1956.
110
campo psiquiátrico público, durante a administração Kubitschek, a assistência direta não era
realizada apenas pelos estados e à União não cabia apenas o papel de normatizador. Neste
sentido, o governo federal também agia de forma direta nos estados por meio desses
ambulatórios.
111
CAPÍTULO 3
92
Diplomado em medicina pela Universidade do Paraná, estado onde nasceu, Manfredini muda-se para a cidade do
Rio de Janeiro após ser aprovado no concurso para oficiais do exército. Inicia suas atividades acadêmicas na década
112
Embora não fosse citada por Jurandyr Manfredini quando da definição do tripé
supracitado no qual as ações do SNDM deveriam basear-se, a assistência hospitalar não fora
esquecida ou mesmo secundarizada pelo órgão. Em julho de 1954, durante a realização do I
Congresso Latino Americano de Saúde Mental, tendo em uma das mesas de debates
justamente o tema “Hospitais Psiquiátricos”, presidida pelo então diretor da Colônia Juliano
Moreira, Heitor Péres, foram aprovadas recomendações a serem adotadas visando a
racionalização dos serviços psiquiátricos nos hospitais especializados. As propostas
apresentadas por esta mesa eram abrangentes: orientação aos hospitais psiquiátricos para
que fomentassem a formação de novos profissionais para atuarem em suas dependências,
como médicos psiquiatras, enfermeiros e auxiliares de enfermagem e técnicos em serviços
de 1930, como voluntário e posteriormente assistente militar do prof. Henrique Roxo na Faculdade de Medicina da
Universidade do Brasil. Nesta mesma década atua como psiquiatra da Seção Nina Rodrigues do Hospital
Psiquiátrico da Praia Vermelha (Seção Militar de Observação Mental). No início da década de 1950, torna-se
assistente de Maurício de Medeiros, então diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB).
Quatro anos mais tarde assume o posto de diretor do SNDM após a saída o primeiro diretor do órgão Adauto
Botelho. O presente trabalho não se aprofunda no estudo deste personagem, devido ao foco (Vidal & Amorim, 2008,
pp. 2-3).
93
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 566 / Env. 4530; Relatório do SNDM 1955, p. 17.
94
Idem.
95
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 566 / Env. 4530; Relatório do SNDM 1955, p. 2.
113
auxiliares; melhoria das condições de trabalho dos profissionais do setor; criação de padrões
para permitir credenciamentos de hospitais psiquiátricos; adotar, para intensificação da
assistência, o tipo de unidade compreendendo hospital pequeno e ambulatório de
funcionamento amplo e intenso; condensar no menor número possível, os organismos
assistenciais, de modo a não dispersar recursos técnicos e financeiros; atualizar as leis
referentes aos doentes mentais, de maneira a tornar flexível a assistência, com a criação de
serviços de internação e tratamento livre; diferenciar nos serviços especializados, os setores
destinados à assistência psiquiátrica ao menor, com a separação entre seus dois grupos
principais: infantil e juvenil; promoção da formação de enfermeiros e auxiliares de
enfermagem especializados no tratamento em doenças mentais, bem como a técnicos para
os serviços auxiliares dos hospitais psiquiátricos; considerar necessária e indispensável a
criação de unidades psiquiátricas nos hospitais gerais; instituir o seguro de invalidez para
profissionais de hospitais psiquiátricos, especificando como invalidez os acidentes surgidos
por agressões dos doentes mentais96.
96
PÉRES, Heitor. Normas para a Racionalização de Serviços Psiquiátricos. In: Revista Brasileira de Saúde Mental.
1955, vol. I, Nº 1. pp. 177-179.
97
Conforme fontes consultadas, embora tenha ocorrido a inauguração do Pavilhão de pesquisa da CJM, inaugurado
em 1958, depois de apresentar grande atraso na obra de sua construção, não foi localizada nenhuma informação
acerca deste pavilhão.
98
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 975/ Env. 8291; Súmula do Relatório de 1958, p. 8.
99
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627/ Env. 5126; Proposta Orçamentária para 1960, s/p.
114
combater o pior mal de uma casa sem estudo, a rotina”100. Entretanto, nos relatórios
posteriores a 1958 analisados para esta dissertação não foi localizada nenhuma referência
sobre a implementação, de fato, deste centro de estudos.
Outro indício de que não havia grande ímpeto no trabalho de pesquisa realizado pelo
SNDM, encontra-se nas publicações da Revista Brasileira de Saúde Mental, veículo de
divulgação científico do SNDM. Entre 1955 e 1961 foram publicados em todas as edições
artigos técnicos de psiquiatras que compunham o quadro do Ministério da Saúde, tais como
Jurandyr Manfredini, Adauto Botelho, Deusdedit Araújo, Maria Pereira Manhães, Heitor
Péres, Nise da Silveira, Maurício de Medeiros, além do sociólogo Florestan Fernandes.
Porém, em nenhuma dessas edições há relato sobre possíveis órgãos internos, subordinados
ao SNDM que de forma sistemática realizasse pesquisas. Segundo instruções de Jurandyr
Manfredini (1955) tais trabalhos, que compunham este periódico, deveriam ser originais e
incidir no material clínico e de pesquisa dos órgãos, hospitais, serviços, ambulatórios e
escolas do SNDM102. A pesquisa se realiza assim pelos interesses específicos dos médicos
psiquiatras, sem que houvesse qualquer processo coletivo, profissionalizado e sistemático,
que planejasse a elaboração de projetos de pesquisas, financiamento para pesquisas,
100
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 975/ Env. 8291; Súmula do Relatório de 1958, p. 8.
101
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627/ Env. 5126; Proposta Orçamentária para 1960, s/p.
102
MANFREDINI, Jurandyr. Fundação da Revista Brasileira de Saúde Mental. In: Revista Brasileira de Saúde
Mental. 1955, vol. I, Nº 1. p. 188.
115
formação de equipe para as investigações, etc. Ao que parece estes trabalhos eram
realizados de forma isolada por cada psiquiatra e de acordo com os casos clínicos com os
quais tinham contato ao longo de sua vida profissional.
103
Botelho, 1955C, p. 43.
116
Até o ano de 1958 a Seção de Cooperação não tinha ainda caráter de órgão apenas
nacional, já que o órgão administrava os ambulatórios de higiene mental de Jacarepaguá e
104
Realizações do SNDM em 1956 (relatório da diretoria). In: Revista Brasileira de Saúde Mental. Vol. III, Nº 1,
1957, p. 167.
105
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 417/Env. 3106. Relatório de atividades do SNDM ao diretor do DNS. p.
10.
106
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 681/Env. 5641. Saudações. s/p.
107
Tal auxílio era restrito ao campo técnico, sem que houvesse, portanto, nenhuma verba federal utilizada nessas
obras (Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 570/Env.4554. Relatório Anual do SNDM de 1957; P. 7).
108
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 920/Env.7738.Ofício da Diretora da EEAP ao Chefe da Seção de
Cooperação do SNDM. 1957, s/p.
117
Por sua vez, o outro órgão central do SNDM, a Seção de Administração, conforme
descrito no capítulo anterior, era responsável pelas medidas referentes à administração e
burocracia do SNDM, tais como: produção de ofícios, formulação dos contratos para a
realização dos convênios entre o SNDM e os estados, realização de possíveis inquéritos com
o objetivo de apurar irregularidades e aquisição de materiais que eram enviados à Seção de
Cooperação que, por sua vez, os repassariam aos ambulatórios de higiene mental nos
estados.
109
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 282/Env.2066. Relatório das Atividades da Seção de Cooperação: Vol.
II. s/p. 1956.
110
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 154/Env.1605. Relatório da Secção de Cooperação- Vol. I., 1958. pp. 4-
5.
111
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 283/Env. 2069. Relatório da Seção de Cooperação. s/p, 1961.
112
Idem.
113
Ibidem.
118
Contudo, independente das ações realizadas pelos órgãos centrais e locais, é possível
afirmar com base nas fontes consultadas que o próprio SNDM, por meio provavelmente de
algum departamento, realizava assistência jurídica aos internos nos seus hospitais
localizados em todo o Distrito Federal. Em relatório do SNDM de 1951114 é descrito que tal
serviço era prestado apenas quando solicitado. No relatório do órgão referente a 1955115 há
uma lista com a movimentação desta assistência prestadas aos doentes, que na Colônia
Juliano Moreira somavam-se 73 casos , enquanto que no Centro Psiquiátrico Nacional
foram 366, sendo 190 solicitados por meio de um único órgão, o Instituto de Psiquiatria.
Além disso, este documento revela que esta assistência jurídica auxiliava os internados em
conseguir registros de nascimento, retificação em termos de nascimento, casamento,
testamenteiro e prestavam-se a ser em alguns casos tutores judiciais.
Fonte: Acervo do IMASJM / Revista Brasileira de Saúde Mental/ Arquivos do Serviço Nacional de Doenças
Mentais116.
114
BOTELHO, Adauto. Relatórios do SNDM em 1951, 1952 e 1953. In: Arquivos do Serviço Nacional de Doenças
Mentais. 1955A, vol. IV, nº 4, p. 245.
115
Fundo DINSAM/ Acervo IMASJM. Cx. 566/Env.4530. Relatório Apresentado pelo Dr. Jurandyr Manfredini
1955 – SNDM; P. 36 .
116
Documento consultado para a pesquisa realizada para a formulação do presente trabalho.
119
Quadro 17: Organograma da Assistência Psiquiátrica Brasileira (1958 até o final do governo JK)
Fonte: Acervo do IMASJM / Revista Brasileira de Saúde Mental/ Arquivos do Serviço Nacional de
Doenças Mentais117.
O SNDM recebia, por vezes, auxílio de outros órgãos para a realização de medidas
pontuais nas instituições de sua responsabilidade na cidade. Assim como seus diretores
utilizaram, pelo menos uma vez durante o ano de 1956, um avião cedido pelo Departamento
Nacional de Endemias Rurais (DNERu) para a realização de inspeções do quadro
assistencial nos estados da federação, este departamento também auxiliou o SNDM na
profilaxia realizada na CJM118, em 1957, fornecendo amostras de malária e possibilitando a
malarização de 42 pacientes, e de doentes de outros estabelecimentos hospitalares, mediante
solicitação do médico responsável119. O DNERu também, a partir de 1958, auxiliou o
117
Idem.
118
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env. 8291. Súmula do Relatório de 1958 (CJM); p. 3.
119
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 570/Env.4554. Relatório do SNDM – 1958. p. 21.
120
SNDM com a operação de DDT’s120, também na CJM. Outra ajuda solicitada, ou pelo
menos indicada como necessária pela diretoria da Colônia, também em 1958, era a retomada
do contato com a Secretaria de Educação da Prefeitura do Distrito Federal no intuito de dar
continuidade a obra de uma escola municipal121 de tipo rural, a ser construída dentro da
instituição. Até janeiro de 1959, “já havia sido liberada a verba municipal para a obra, além
do plano aprovado e o terreno cedido e locado, restando apenas finalizar os termos da
cessão”122.
Outra característica presente na assistência prestada pelo SNDM na cidade do Rio de
Janeiro eram acordos firmados com outras instituições, militares e da sociedade civil, nos
quais eram oferecidos atendimentos aos seus afiliados ou associados. Em 10 de junho de
1954, o presidente da Comissão de Readaptação dos Incapazes das Forças Armadas
(CRIFA), através de um ofício123 que autorizava a assistência aos psicóticos e neuróticos
dessa comissão através de seus ambulatórios, pedia que fosse assistido um sargento da
Força Expedicionária Brasileira (FEB)124. Em 15 de junho de 1957, outro acordo125
envolvendo o CPN foi concretizado, desta vez seu Instituto de Psiquiatria (IP/CPN)
prestaria assistência aos segurados pelo Instituto de Aposentadoria e Pensão dos
Comerciários (IAPC). Reservava-se, assim, 100 leitos no 4º pavimento do IP/CPN, em troca
de uma quantia paga pelo contratante, que por sua vez seria usada em melhorias das
respectivas enfermarias126.
120
Contudo, como não foi possível localizar os relatórios escritos pela própria direção da CJM direcionado à direção
do SNDM relativos aos anos seguintes a 1958, não é possível afirmar que este auxílio tenha, de fato, se
concretizado.
121
Em funcionamento até os dias atuais com o nome de Escola Municipal Juliano Moreira.
122
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env. 8291. Súmula do Relatório de 1958 (CJM); p. 8.
123
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 715/Env. 5912. Ofício 238/S.T./91 – Do presidente da CRIFA ao chefe
da Seção de Cooperação do SNDM. 1954, s/p. Este documento cita outro ofício, nº 624 de 22/10/1953 de autoria da
diretoria do CPN, o qual, entretanto, não foi localizado na pesquisa realizada no Centro de Documentação do
IMASJM.
124
Força militar brasileira que lutou na segunda Guerra ao lado dos chamados países aliados, tais como União
Soviética, Inglaterra, França , Estados Unidos e outros.
125
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 579 /Env. 4659 . Relatório do CPN – 1959. p. 3.
126
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 579 /Env. 4659 . Relatório do SNDM – 1957. p. 15.
121
127
Embora, nenhum documento tenha qualquer referência a dinâmica ou mesmo a organização dos serviços
prestados pelo IPUB, presumi-se que, se a instituição enviou ao SNDM nos anos de 1957 e 1958 seus mapas de
movimentações de pacientes, e que nestes, continha números que comprovem a existência de seus serviços de
internação, certamente constituía-se numa das opções da população na busca de cuidados psiquiátricos.
128
Fase anterior à puberdade.
122
Gustavo Riedel (HGR), que trabalhava sob o regime de internação mista. Por fim, os casos
classificados como agudos eram enviados ao Hospital Pedro II (HPII), que tinha como
funções a observação e o tratamento de doentes mentais de ambos os sexos com
perturbações mentais agudas. Se ao longo de sua internação no CPN o indivíduo
apresentasse diagnóstico de cronificação de seu estado mental, seu destino era a Colônia
Juliano Moreira (CJM), direcionada apenas a receber pacientes crônicos.
O Manicômio Judiciário Heitor Carrilho (MJHC), por sua vez, diferenciava-se dos
outros órgãos locais devido a sua dinâmica de funcionamento de obedecer a lógica da
punição judiciária e não apenas a da assistência psiquiátrica129. Embora recebesse pacientes
encaminhados por órgãos do CPN, o manicômio judiciário, conforme o regimento do
SNDM, deveria atender também determinações jurídicas e não somente médicas, ainda que
nos relatórios do MJHC as referências utilizadas por seus profissionais passassem a idéia de
que a instituição era um hospital, auto referindo-se como tal130, inclusive lançando mão do
uso do termo leito hospitalar131. Por outro lado, também utilizavam a palavra cela132
referindo-se aos quartos onde dormiam os presos/pacientes. Além disso, a dualidade de suas
funções é reforçada através da existência de dois setores no manicômio, o de praxiterapia e
o de recuperação. O primeiro tinha foco exclusivamente terapêutico, através da terapia
ocupacional, com objetivo e função similares aos setores homônimos de outros órgãos do
SNDM. O segundo, embora com viés de “tratamento emocional”133, pois visava a
permissão de liberação de alguns pacientes, em média 6 vezes por semana com fins
terapêuticos, também servia como teste para os peritos que avaliavam a condição de
periculosidade do indivíduo “delinqüente portador de doença mental”134.
129
Esta dualidade estrutural de instituições do tipo “manicômio judiciário é muito bem analisada em Carrara,
Sérgio. Crime e loucura: O aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século. 1. ed. Rio de Janeiro:
Eduerj/Edusp, 1998.
130
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env. 8290. Relatório Referente a 1958 – MJHC. p.1.
131
Idem.
132
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env. 4530. Relatório Apresentado Pelo Dr. Jurandyr Manfredini –
SNDM/1955. p.4.
133
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 473/Env. 3559. Síntese do relatório do Manicômio Judiciário Heitor
Carrilho, apresentado em 20-11-1957, ao diretor do SNDM. p. 2.
134
Embora no seu cotidiano estivesse presente todos esses fatores de caráter médico sobre as reclusões no MJHC,
pelo fato desses indivíduos estarem cumprindo pena em suas dependências e não terem entrado no sistema
123
Quadro 18: Cargos de direção de instituições públicas relativas à área psiquiátrica (1956-
1960)
Ministério da Seção de
Período Saúde SNDM Cooperação CPN CJM
Maurício de Lysanias Marcelino Fernando Nogueira Humberto Mathias Walter
1956
Medeiros da Silva de Souza Costa Antunes
Maurício de Lysanias Marcelino Humberto Mathias Walter
1957 Oswaldo Camargo
Medeiros da Silva Costa Antunes
Maurício de Lysanias Marcelino da Humberto Mathias
Medeiros Silva (até outubro) Costa
Ignácio da Cunha
1958 Mário Pinotti Heitor Péres
Lopes Rodrigues (a Humberto Mathias Lopes
(03/07/1958 -
partir de outubro) Costa
31/07/1960)
Humberto Mathias Ignácio da Cunha
1959 Mário Pinotti Lopes Rodrigues Heitor Péres
Costa Lopes
Pedro Paulo Penido
Humberto Mathias Ignácio da Cunha
1960 (01/08/1960 - Lopes Rodrigues Heitor Péres
Costa Lopes
31/12/1960)
Como é possível observar no quadro acima, os dirigentes destes órgãos, em grande medida,
permaneceram os mesmo, denotando que havia uma regularidade e manutenção dos mesmos
pensadores e formuladores das políticas psiquiátricas no Brasil.
assistencial oferecido pelo SNDM por critérios, exclusivamente, médicos, não me debruçarei em analisar o
manicômio, tal como farei com o Centro Psiquiátrico Nacional e a Colônia Juliano Moreira.
124
através de casas habitadas por funcionários que cuidariam de doentes postos sob sua guarda
domiciliar135; o Instituto de Profilaxia Mental; por fim, a criação, em 1923, do Laboratório
de Psicologia Experimental da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro que, em 1932,
se transforma no Instituto de Psicologia, uma extensão do curso de Psicologia e Psiquiatria,
“trazendo o saber para junto da prática” (Oliveira, 2004, p. 51). Toda esta ordenação
assistencial vai fazer esta instituição ocupar um lugar de destaque na assistência psiquiátrica
do Rio de Janeiro.
135
Este serviço teve duração efêmera (Oliveira, 2004, p. 42). Embora não tenha sido localizado nenhum documento
referente à informação de quando, de fato, tenha sido fechado.
125
serviço aliado aos dos ambulatórios tinha o objetivo de evitar internações salvando o CPN
de maiores sobrecargas136.
O Hospital Pedro II era composto na segunda metade da década de 1950, por 14 seções
para alojamentos de doentes mentais, uma seção para tratamento ambulatorial dos pacientes
egressos, gabinete dentário, várias dependências médico-administrativas, uma secretaria e
uma portaria. Conforme já descrito, tinha como competência receber, sob o regime de
internação mista, para observação e tratamento, psicopatas de ambos os sexos, com
perturbações mentais agudas.
Tal depoimento demonstra que, sua direção estava, neste momento, travando alguma
luta política para que os órgãos formuladores das políticas públicas de saúde mental vissem
136
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.579 /Env. 4659. Relatório do CPN – 1959. p. 1.
137
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.674 /Env. 5583. Justificativa da Proposta Orçamentária Para o Exercício
de 1961 – 2º via. p.1.
138
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.674 /Env. 5583. Relatório do CPN – 1959. p. 1.
126
a importância do trabalho realizado no HNS, e não classificar a sífilis no rol das doenças
controladas que não requeriam atenção demasiada.
Por fim, o Hospital de Neuro Psiquiatria Infantil, que recebia para observação e
tratamento, até a fase prepuberal, crianças anormais sob o ponto de vista neuro-psiquiátrico.
A instituição mantinha uma escola médico pedagógica para educação e instrução de
menores anormais, com classes separadas por três categorias de alunos: os perfectíveis,
imperfectíveis ou ineducáveis. Sua organização interna compreendia, além de enfermarias
para ambos os sexos, ambulatórios, a escola médico pedagógica, serviço de praxiterapia,
gabinete dentário e outras dependências médico administrativas, além de uma zeladoria.
139
Dias, 2003, p. 54.
140
Idem.
141
SILVEIRA, Nise. No Reino das Mães: um caso de esquizofrenia estudado através da expressão plástica. Revista
Brasileira de Saúde Mental. Rio de Janeiro, v. 9, p. 11- 19, 1966b. apud DIAS, 2003, p. 54.
142
DIAS, 2003, p. 54-55.
127
pintura, e no decorrer dos anos seguintes foram abertos mais setores de terapia ocupacional,
ao ponto de 1961 estarem em atividades 19 setores diferentes143.
143
Idem, p. 56.
144
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.975 /Env. 8289. Relatório que apresenta o Dr. Ignacio da Cunha Lopes,
diretor do CPN, ao exmo Sr. professor H. Lopes Rodrigues Ferreira, diretor do SNDM, concernente ao período de
01 de janeiro a 31 de dezembro de 1958. p. 5.
145
Idem, p. 6.
128
146
Botelho, 1955A, 197-244; Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.370 /Env. 2558. Mapa de Movimentação de
Doentes – 1956. s/p; Cx.566 /Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação – 1960, Vol. II. s/p. Tais números
representam os pacientes internados no último dia dos respectivos anos e hospitais. Porém, não foi computado, por
não ter sido localizado nas fontes, o número de pessoas internados nestes mesmos períodos no Bloco Médico
Cirúrgico, o que poderia alterar ou não (caso já estejam computados em uma das instituições descriminadas acima) a
quantidade total de internados no CPN.
129
147
Não foi localizada nenhuma informação sobre os números relativos ao ano de 1956.
148
Número muito acima dos encontrados nos anos seguintes. Portanto, é possível que esteja errado. Porém, como
está contido num documento oficial do SNDM decidi mantê-lo no quadro 20, a título de informação.
149
Botelho, 1955A, 197-244; Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.370 /Env. 2558. Mapa de Movimentação de
Doentes – 1956. s/p; Cx.566 /Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação – 1960, Vol. II. s/p.
150
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 775/Env.6482. Documento referente ao ano de 1957. s/p.
130
assistência aos doentes mentais crônicos, sobretudo os que podiam ser beneficiados pela
praxiterapia. Outra diretriz assistencial central da CJM era a assistência hétero-familiar,
implantada naquela instituição desde sua criação a partir da instalação de seus funcionários
em casas, construídas no interior da colônia para que os mesmos pudessem receber
pacientes para o convívio doméstico e saudável.
O modelo de isolamento dos pacientes em área rural, longe dos centros urbanos era
considerado uma medida terapêutica, buscando-se com isso prevenir o contato do doente
com os excessos da vida urbana “moderna” (Venancio, 2011, p. 36). Contudo, o tratamento
não se compunha apenas no isolamento, mas também no trabalho, basicamente rural151, no
qual sua produção era vendida e o lucro destinado ao custeio da própria instituição. Ainda
no final da década de 1930 a Colônia Juliano Moreira foi alvo de um processo de expansão
de sua estrutura física e das terapias disponíveis aos seus internos, transformando-a de
colônia agrícola em hospital-colônia. Dentro desse novo contexto de política assistencial
psiquiátrica formulada na gestão de Adauto Botelho no SNDM, o padrão ‘hospital-colônia’
foi amplamente instituído em diferentes estados brasileiros: quatorze das vinte unidades
federativas (incluindo-se o Distrito Federal) foram contempladas com a construção ou
ampliação de hospital-colônia ou colônia (Venancio, 2011b, p. 46).
151
Além da venda de leite de vaca, verduras, leitões e carne de boi, também eram comercializados cestas e cadeiras
de vime fabricadas pelos internos da CJM (Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 414/Env.3076. Mapa
Demonstrativo dos Produtos Consumidos, Vendidos e Respectiva Renda – CJM/1955. s/p.
131
Em 1957, o então diretor da Colônia relata de forma sucinta como era a instituição
naquele ano, dando uma visão panorâmica da vida em seu interior:
152
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env.8291. Súmula do Relatório de 1958 – CJM. p.2.
153
Idem.
154
Idem. p. 9.
155 Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 473/Env. 3560. Síntese do relatório da CJM apresentado em 21/11/1957
ao diretor do SNDM. p.3.
132
Além dos pacientes havia toda uma população de funcionários da Colônia que ali
moravam com seus parentes. Segundo documento oficial os familiares dos funcionários
ajudariam no relacionamento entre doentes e funcionários. Ao longo de seu funcionamento,
ao menos até o final da década de 1950, foram realizadas diversas melhorias na instituição,
em muitos casos não relacionadas necessariamente à assistência aos doentes, mas às
condição de vida desses “habitantes sãos”, tais como: a inauguração de órgãos auxiliares
como uma escola municipal, centro de puericultura dirigidos aos filhos dos empregados, a
cooperativa de consumo, curso de educação de adultos e o Clube Atlético da CJM, parque
infantil e igreja (Venancio, 2011, p. 311). A estruturação da Colônia como uma pequena
cidade encravada na zona rural da cidade do Rio de Janeiro contribuiu, por um lado, para o
isolamento dos pacientes lá internados. Mas por outro, criou condições para a criação de
uma dinâmica própria dos relacionamentos interpessoais e sociais que envolviam todos os
seus moradores, funcionários e seus familiares, além dos doentes, possibilitando a formação
de uma comunidade especifica (idem, p. 312).
Embora desde sua fundação a CJM tivesse como carro-chefe de suas diretrizes
assistenciais o trabalho agrícola (Venancio, 2011b, p.41), pelo menos durante a segunda
metade da década de 1950, sua Seção de Praxiterapia também mantinha setores de atividade
não rurais, como artes plásticas, serviços de tecelagem em todos os núcleos, olaria e setor de
recreação ocupacional. Entre 1948 e 1958, a taxa máxima de ocupação de doentes
trabalhando foi de 39,18% em relação ao número total de internos (ver quadro 21). Contudo,
156
Idem.
157
Idem.
133
Quadro 21: Situação ocupacional da CJM no último dia de cada ano: 1948 a 1958.
Fonte: Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env.8291. Súmula do Relatório de 1958 – CJM. p. 35,
1958.
Por outro lado, é possível afirmar que não houve abandono da diretriz assistencial do
SNDM de oferta de praxiterapia. Durante a década de 1950 todos os relatórios por mim
pesquisados fazem referência regular a esta prática. Somado a isso, neste período a
134
publicidade em torno das atividades da psiquiatra Nise da Silveira no CPN garantia que tal
terapêutica continuasse com ótima reputação; prova disso é que em 1958 o CPN tinha 588
pacientes realizando trabalhos praxiterápicos, num total de 1709, portanto 34,40% da
população total. Ademais, deste total, 502 estavam internados no Instituto de Psiquiatria,
órgão que além de ser porta de entrada da assistência do SNDM era também lugar de
triagem e não de tratamento como eram os outros órgãos do CPN; ou seja, de maneira geral
seus pacientes não permaneciam muito tempo em suas dependências, ao contrário da
Colônia, onde pacientes podiam ficar anos ou até mesmo passar todo o restante da vida na
instituição. Portanto, descontando os internados no IP, em 1958 têm-se o total de 1207
internados no CPN, o que aumenta a porcentagem de internos que tinham ocupação
terapêutica na instituição para 41,59%, mais do que o número alcançado pela CJM entre
1948 e 1958.
Além disso, em outubro de 1958, foi inaugurado o Pavilhão de Pesquisas, após três
anos de obras, localizado no Centro de Pesquisas Praxiterápicas da própria CJM, composto
por oficinas de carpintaria, vassoura, tipografia, móveis de vime, ateliê de pintura, cerâmica,
escultura, sapataria e etc. Subordinado a Seção de Praxiterapia, objetivava estabelecer no
local “um estágio superior da terapêutica ocupacional”158. Embora, inicialmente só
comportasse 50 internos, sua inauguração daria continuidade à valorização dos métodos
praxiterápicos no tratamento psiquiátrico. Portanto, diante de todos esses fatos, é possível
afirmar que a queda do número de internos em atividades praxiterapêuticas na Colônia tenha
se dado a partir das suas próprias vicissitudes administrativas e assistenciais, representando
uma diminuição na qualidade dos serviços prestados pela instituição.
158
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env.8291. Súmula do Relatório de 1958 – CJM. p. 3.
135
Quadro 22: Disposição dos doentes em trabalho na CJM, por sexo (1957-1958)
Percentagem relativa
Percentagem relativa ao número de
ao total de doentes doentes do
em trabalho respectivo sexo
lotado na CJM
Anos 1957 1958 1957 1958
Homens 58% 54% 32% 27%
Mulheres 42% 46% 22% 22%
159
Idem, p.36.
160
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 775/Env.6482. Relatório do CPN, s/p.
161
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 417/Env. 3106 . Relatório do SNDM Referente ao Ano de 1957. p. 18.
136
antigo Hospital da Praia Vermelha162, tal fato também contribuiu para o aumento de internos
do CPN. Por fim, cabe destacar a abertura em 1958 de 300 novos leitos no CPN contra
apenas 140 na CJM, embora a previsão fosse de pelo menos 400 leitos com a inauguração
dos Pavilhões de triagem e de Adolescentes em Jacarepaguá163.
Quadro 23: Comparação de internados no CPN e na CJM no último dia dos respectivos
anos (1953-1959)
Diferença
ANO CPN CJM em %
1953 1243 3853 209%
1954 1106 3723 236%
1955 1129 3752 232%
1956 1387 3963 185%
1957 1494 3964 165%
1958 1603 4107 156%
1959 1709 4145 142%
162
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 570/Env. 4554. Relatório de Atividades do SNDM do Ano de 1956. p. 8.
163
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env.4530. Relatório Apresentado Pelo Dr. Jurandyr Manfredini –
SNDM – 1955. pp. 5-6.
164
Botelho, 1955A, p.219; Idem, pp. 233-234; Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 370/Env.2558. Mapa de
Movimentação de Doentes 1956. s/p; Idem, 1956; Idem, IMASJM. Cx. 566/Env.4528. Relatório da Seção de
Cooperação 1960, Vol. II, s/p.
137
165
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 715/Env. 5912. Órgãos do SNDM/Mapa de Movimentação de Doentes.
s/p; Idem, Cx. 975/ENV. 8289. Relatório do CPN – 1958, pp.14-19; Idem, Cx. 775/ENV. 6482. Relatório do CPN –
1959, pp.12-17.
138
166
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598/Env. 4837. Mapas de Movimentos de Doentes – 1956-1967. s/p;
Idem, Cx. 975/ENV. 8291. Relatório da CJM – 1958, s/p; Idem, Cx. 567/ENV. 4535. Relatório da S.C – 1960, Vol.
I, s/p.
167
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.975 /Env. 8289. Relatório que apresenta o Dr. Ignacio da Cunha Lopes,
diretor do CPN, ao exmo Sr. professor H. Lopes Rodrigues Ferreira, diretor do SNDM, concernente ao período de
01 de janeiro a 31 de dezembro de 1958. P.6.
168
Para tal análise levei- em consideração apenas os números de admissões e não das readmissões na CJM, pois
entende-se esta última categoria como referente a de indivíduos que em período pretérito receberam alta, passando a
ser atendidos pelo seu ambulatório de higiene mental, mas que posteriormente apresentaram recaída em seus
quadros de saúde e que, portanto, tiveram que ser reinternados.
139
O AHM de Jacarepaguá, por sua vez, iniciou suas atividades em 11 de agosto de 1948,
e tinha como uma de suas funções a promoção da readaptação de egressos da Colônia, bem
como todos os pacientes passíveis de tratamento ambulatorial, além de orientar as famílias
dos matriculados, de modo que as mesmas não só cooperassem na assistência prestada a
seus parentes, mas que também ficassem sob a influência “benéfica e esclarecedora do
ambulatório”170. Sua outra função, fundamental para esta análise, concernia na assistência e
o tratamento dos candidatos à internação na Colônia e não a triagem de pacientes para o
CPN. Desse modo, consubstanciou-se como outra porta de entrada da assistência
psiquiátrica na cidade, embora, de menor envergadura, pois tinha função específica agir
como órgão auxiliar da CJM.
Neste sentido, o AHM da CJM tinha assim uma tríplice finalidade: a) intensificar as
altas; b) evitar ao máximo a internação indiscriminada dos pacientes que superlotariam
desnecessariamente a Colônia; c) servir de modelo de veículo de orientação e propaganda
psico-higiênica junto à população. Para tanto, a instituição cedia gratuitamente exame
clínico, laboratoriais, medicamentos, tratamentos psicoterápicos e tratamento somáticos171.
Localizava-se a 4,5 KM de distância da sede da CJM, e estava instalada no Largo do
Tanque, onde funcionava das 08:00 às 12:00, nas segundas, quartas e sextas. Tinha como
outras funções em sua sede, servir de posto de vigilância da Seção de Assistência aos
Evadidos e um posto de informações da CJM.
169
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx.975 /Env. 8291. Súmula do Relatório de 1958 – CJM. s/p.
170
Idem.
171
Idem.
140
Pelo ofício nº 673, de 03/09/56 da Colônia foi solicitada ao então diretor geral do
SNDM a transferência deste AHM para a Seção de Cooperação, ficando a ela subordinada.
Do ponto de vista do diretor da CJM, Tratava-se de desastrosa estratégia, pois “esse
ambulatório, uma tradição da Colônia, era de real valia aos serviços da Colônia, e servia,
sobretudo, para a assistência aos nossos egressos, e para frear o alto índice de pedidos de
internação”172. Além disso, documentos do próprio ambulatório produzidos entre os anos de
1956 e 1958173, demonstram que a qualidade da assistência prestada declinou
significativamente, devido a problemas estruturais do prédio e à grave falta de
medicamentos, já que todo o material indispensável para o funcionamento do ambulatório
era fornecido pela CJM. Porém, em outubro de 1958, através do ofício 667 da própria
Colônia, foi pedida a reintegração do Ambulatório de Jacarepaguá a gama de unidades de
atendimentos que compunham a instituição. Tal solicitação foi aceita uma semana depois
pelo então diretor do SNDM, Dr. Lopes Rodrigues174 e também pelo chefe da Seção de
Cooperação, que possibilitou que este órgão central ficasse focado, a partir de então, apenas
na assistência em nível nacional, abrindo espaço para a exclusividade das ações dos órgãos
locais na cidade do Rio de Janeiro. A volta do AHM de Jacarepaguá para a subordinação da
CJM foi justificada sob dois pontos de vista: o primeiro da proximidade com a Colônia, e o
segundo da vantagem em desonerar a Seção de Cooperação de mais uma atividade.
Por outro lado, a diminuição dos atendimentos no ambulatório não representou uma
sobrecarga na assistência prestada pela Colônia, ao contrário, é possível que tenha ocorrido
o inverso, pois mesmo com o número de transferências entre o CPN e a CJM ter crescido
29% entre 1956 e 1958 ou 7% entre 1956 e 1959, o número de admissões na Colônia
cresceu 7% no primeiro período, enquanto que no segundo período apresentou queda de 5%.
Desse modo, a partir da análise de tais números em conjunto com uma de suas obrigações
legais – a de tratar e assistir candidatos a internação na CJM sem passar pelo Instituto de
175
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598/Env.4837. Resposta da Seção de Cooperação sobre o pedido de
cessão do AHM à Colônia Juliano Moreira. S/p.
176
Não foi localizado nenhum mapa de movimentação de doentes do Ambulatório de Higiene Mental de
Jacarepaguá anterior ao ano de 1953.
142
1954 1955
Consultas Homens Mulheres Crianças Total Consultas Homens Mulheres Crianças Total
Primeira 41 95 31 167 Primeira 37 101 36 174
Segunda 307 1020 277 1604 Segunda 336 1122 234 1692
TOTAL 348 1115 308 1771 TOTAL 373 1223 270 1866
1956 1957
Consultas Homens Mulheres Crianças Total Consultas Homens Mulheres Crianças Total
Primeira 36 77 29 142 Primeira 9 43 14 66
Segunda 412 1063 258 1733 Segunda 349 756 163 1268
TOTAL 448 1140 287 1875 TOTAL 358 799 177 1334
1958 1959
Consultas Homens Mulheres Crianças Total Consultas Homens Mulheres Crianças Total
Primeira 19 47 17 83 Primeira 27 58 13 98
Segunda 338 762 145 1245 Segunda 309 592 72 973
TOTAL 357 809 162 1328 TOTAL 336 650 85 1071
1960
Consultas Homens Mulheres Crianças Total
Primeira 42 83 10 135
Segunda 333 711 74 1118
TOTAL 375 794 84 1253
177
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598/Env.4837. Mapa de Movimentação de Doentes 1954– AHM/CJM.
S/p.; Idem - 1955; Idem – 1956; Idem – 1957; Idem – 1959; Cx. 975/Env. 8291. Súmula do Relatório de 1958 -
CJM. S/p; Cx. 567/Env. 4535. Relatório da Seção de Cooperação de 1960. S/p.
143
1954 1955
Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total
Eletrochoque 28 59 7 94 Eletrochoque 28 36 3 67
Cardiazol 0 Cardiazol 0
Insulina 8 26 34 Insulina 7 37 44
Malária 1 3 4 Malária 0
Piretógenos 0 Piretógenos 0
Curativos/Fisioterapia 13 71 3 87 Ondas Curtas 17 17
Injeções 364 1514 71 1949 Injeções 449 1597 60 2106
TOTAL 414 1673 81 2168 TOTAL 484 1687 63 2234
1956 1957
Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total
Eletrochoque 63 66 52 181 Eletrochoque 33 69 23 125
Insulina 31 0 0 31 Cardiazol 0 0 0 0
Fisioterapia
(infravermelho) 29 23 7 59 Insulina 0 0 0 0
Injeções 890 1722 133 2745 Malária 0 0 0 0
TOTAL 1013 1811 192 3016 Piretógenos 0 0 0 0
Diversos
1958 (infravermelho) 43 10 0 53
Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total Fisioterapia 0 20 9 29
Eletrochoque 30 29 7 66 Injeções 705 1167 93 1965
Cardiazol 0 0 0 0 TOTAL 781 1266 125 2172
Insulina 0 0 0 0 1959
Malária 0 0 0 0 Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total
Piretógenos 0 0 0 0 Eletrochoque 10 32 1 43
Diversos 0 0 0 0 Cardiazol 0
Injeções 256 833 42 1131 Insulina 0
TOTAL 286 862 49 1197 Malária 0
1960 Piretógenos 0
Tratamentos Homens Mulheres Crianças Total Fisioterapia 8 22 0 30
Eletrochoque 36 32 0 68 Injeções 153 456 1 610
Cardiazol 18 8 0 26 TOTAL 171 510 2 683
Insulina 0 0 0 0
Malária 0 0 0 0
Piretógenos 0 0 0 0
Diversos 0 0 0 0
Injeções 208 301 1 510
TOTAL 262 341 1 604
178
Idem.
144
179
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598/Env.4837. Relatório Anual da S.C – 1955. s/p; Cx. 567/Env. 4535.
Relatório da S.C – 1960. s/p.
180
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598/Env.4837. Mapa de Movimentação de Doentes 1955– AHM/CJM.
S/p.; Idem – 1956; Idem – 1957; Idem – 1959; Cx. 975/Env. 8291. Súmula do Relatório de 1958 - CJM. S/p; Cx.
567/Env. 4535. Relatório da Seção de Cooperação de 1960. S/p.
145
181
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 598 /Env.4837. Mapa de Movimentação de Doentes - 1956. s/p; Idem,
1957, s/p; Cx. 975 /Env.8291. Súmula do Relatório de 1958 – CJM. s/p.
146
No caso do MJHC, as ações tomadas a fim de recuperá-lo ainda estavam no campo dos
acordos políticos e não da ação em si. Uma “longa” exposição de motivos, feita pela
182
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 540 /Env. 4321 . Relatório da Seção de Cooperação – 1955. p. 1.
183
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 2.
147
184
A existência dessa longa exposição é citada no seguinte documento: Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566
/Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 4. Entretanto, na busca realizada por mim no Acervo IMASJM não
consegui localizar a fonte primária que contém tal exposição de motivos.
185
Idem.
186
Contudo, não informa qual penitenciária ou presídio.
148
187
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 4-5.
188
Idem. pp. 5-6.
189
Idem.
190
BOTELHO, Adauto. Relatórios do SNDM em 1951, 1952 e 1953. In: Arquivos do Serviço Nacional de Doenças
Mentais. 1955A, vol. IV, nº 4, p. 199.
191
Idem. pp. 223-224.
149
192
Não foi localizado nenhum documento que contivesse tal estudo.
193
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 5-6.
150
assistência aos doentes mentais se desenvolvesse a passos largos no Brasil, esse crescimento
não era correspondido na mesma velocidade pela formação de mão de obra qualificada, o
que somado com os poucos recursos materiais e técnicos194, impossibilitavam o alcance da
excelência na assistência prestada a sua população mais necessitada que dependiam dos
serviços públicos psiquiátricos. Ainda em 1951, a oferta de mão de obra não era suficiente
para acompanhar o ritmo da oferta e demanda por leitos. Neste ano, somente na capital o
SNDM carecia de no mínimo mais 150 serventes, 100 guardas, 200 auxiliares de
enfermagem, 100 enfermeiros e 50 médicos, além de artífices, trabalhadores, auxiliares de
praxiterapia, dentistas, farmacêuticos, inspetores e professores195. Dessa forma, já se
alertava para o fato de que as novas unidades não poderiam funcionar por falta de
pessoal196. Quatro anos depois, em 1955 uma análise realizada pelo próprio SNDM
confirmava esse panorama:
Outro problema relatado nos documentos consultados, também com alto grau de
gravidade, estava relacionado especificamente aos serviços do SNDM no Distrito Federal.
194
BOTELHO, Adauto. Necessidades de Psiquiatras Para a Saúde Pública. In: Arquivos do Serviço Nacional de
Saúde Mental. 1955B, 1955, Vol. IV, Nº 1, p. 17
195
Botelho (1955B, p. 202).
196
Idem. p. 203
197
BOTELHO, Adauto. Necessidades de Psiquiatras Para a Saúde Pública. In: Arquivos do Serviço Nacional de
Saúde Mental. 1955B, 1955, Vol. IV, Nº 1. p. 18.
151
198
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 7.
199
O número datilografado originalmente era 1956, porém há uma correção feita a caneta indicando que o ano
realmente desta dotação orçamentária foi 1955.
200
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 7.
201
Idem.
152
serviço público também pessoas das classes mais altas. Indício das provas da superlotação
foi a inauguração, em agosto de 1955, 100 leitos novos no CPN (1º andar do Instituto de
Psiquiatria do CPN) que em pouco tempo foram todos ocupados, preocupando a direção do
órgão sobre qual destino se daria aos internos que chegassem ao serviço de admissão e
triagem a partir de então202.
Ainda neste relatório sobre as atividades do ano de 1955 é citado um estudo realizado
pelo próprio SNDM203, que conclui que o Distrito Federal precisaria, naquele momento, de
no mínimo de 10.000 leitos, o que corresponderia a 3 ou 4 leitos por mil habitantes.
Contudo esse número deveria ser elevado para 12.000, tendo em vista que os órgãos do DF
recebem pacientes de todas as regiões circunvizinhas do DF (cidades fluminenses limítrofes
e algumas paulistas e mineiras). Na realidade dispunha-se de apenas de 4000 leitos,
concluindo-se que estivessem com um déficit de 7000 a 8000 leitos, o que tenderia a
aumentar se não houvesse intervenção204. Desta forma, a partir deste estudo, concluiu-se que
algumas medidas deveriam ser tomadas no intuito de ampliar a capacidade quantitativa da
assistência na cidade, tais como: a expansão imediata da CJM, criando-se ali mais dois
núcleos pavilhonares, além dos quatro já existentes, de modo a aliviar o peso dos doentes
crônicos imobilizados no CPN; transformar definitivamente o HGR em hospital de agudos,
com iguais características e finalidades que as do Hospital Pedro II (neste momento o HGR
abriga massa considerável de crônicos, antigos pacientes do velho Hospício Nacional de
Alienados); e como última proposta, sugere-se também a criação de outra colônia, pois
previa-se que em breve a CJM teria sua capacidade esgotada e perderia suas características
coloniais se acumulasse um número excessivo de pacientes, a exemplo do que teria ocorrido
com o Hospital do Juquery em São Paulo205.
202
Idem. p. 10.
203
Não foi localizado nenhum documento que apresentasse na íntegra tal estudo.
204
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 11.
205
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566 /Env. 4530. Relatório do SNDM – 1955. p. 11.
153
206
Botelho, 1955b, p. 197.
207
Botelho, 1955b, pp. 192-193.
208
Idem. pp. 12-13
154
De acordo com as regulares queixas dos sucessivos diretores do SNDM e seus órgãos
subordinados, é possível afirmar que a falta de pessoal especializado era um problema
crônico dessa assistência, antes e durante a administração JK, pois estava presente em todos
os relatórios do SNDM211 e de sua Seção de Cooperação212 pesquisados para este trabalho.
No entender das autoridades do SNDM a dificuldade de alcançar um modelo de excelência
passava, sobretudo, pela dificuldade de se conseguir preencher de maneira minimamente
satisfatória o quadro de servidores. Tal problemática não foi solucionada, pelo menos até o
final do governo JK. Em justificativa orçamentária do SNDM para o ano de 1960, portanto,
elaborada em 1959, o item 7 desta proposta indicava que era necessário obter o pessoal
necessário (médico, técnico, administrativo e “subalterno”) para dar solução à grave crise
209
VENANCIO, A. T. A.: .Ciência psiquiátrica e política assistencial: a criação do Instituto de Psiquiatria da
Universidade do Brasil. História, Ciências, Saúde . Manguinhos, vol. 10(3): 883-900, set.-dez. 2003. p. 896.
210
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 417 /Env. 3106. Relatório do SNDM – 1956. p. 3.
211
Referente aos anos de 1955, 1956, 1957 e 1959.
212
Referente aos anos de 1955, 1958 e 1960.
155
. Ao longo do governo JK, os relatórios anuais produzidos pelo SNDM e seus órgãos
subordinados, demonstravam o estabelecimento de um quadro catastrófico, ou pelo menos,
que tal quadro estivesse se formando o que levaria o sistema assistencial psiquiátrico a
entrar em colapso futuramente. Em 1958, a falta de funcionários era generalizada. O MJHC
contava “apenas com uma guarda de 5 homens para manter a vigilância durante 24 horas,
a 160 internados. Torna-se necessário que esse número seja dobrado, para atender a
manutenção da ordem”214. No caso do corpo de enfermagem do manicômio o quadro era
ainda pior, pois não havia “corpo”, já que contavam com apenas “um enfermeiro para
atender o mesmo número de paciente, durante 24 horas”215. Faltava ainda pessoal na
secretaria e no setor pericial216.
Também em 1958, a o relatório anual da Colônia Juliano Moreira enviado ao SNDM,
ao definir suas “necessidades e aspirações” para o ano seguinte217, pontua como o mais
importante a situação do quadro de pessoal daquela instituição assistencial. Apontava ainda
213
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 616 /Env. 5014. Justificativa da Proposta Orçamentária – 1960. s/p.
214
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env. 8290. Relatório do Manicômio Judiciário Heitor Carrilho–
1958. p. 4.
215
Idem.
216
Ibidem.
217
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 975/Env. 8291. Súmula do Relatório da Colônia Juliano Moreira– 1958.
p. 6, 1958.
156
a incapacidade dos órgãos gestores da saúde pública na década de 1950 em solucionar esse
problema.
218
Idem.
219
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 366/Env. 2526. Relatório Anual da Clínica de Orientação da Infância –
1956. p. 1.
220
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 417/Env. 3106. Relatório Anual do SNDM – 1956. p. 9.
221
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 920/Env.7738.– 1957. Relatório da EEAP, referente aos meses de janeiro,
fevereiro e março de 1957. s/p.
157
individual222. Percebe-se, então, que esse modelo não poderia satisfazer as necessidades da
comunidade a qual assistiam caso não mudassem de orientação. Desse modo, ao invés de
somente atenderem os casos de desajustamento escolares, tomaram a iniciativa de não
recusarem os “pacientes” portadores de doenças mentais. Essa estratégia apoiava-se na
percepção de um quadro geral da assistência psiquiátrica infantil defeituosa na cidade, pois
a população não tinha opção ao buscar tratamento para seus filhos. Neste sentido, “se a
comunidade dispusesse de fartos recursos... seria compreensível tal tipo de clínica, digna
dos padrões universitários”223. No entanto, a realidade objetiva mostrava-se mais perversa
com os que mais necessitariam de ajuda estatal, pois ao recusar “tais doentes, ficavam eles
desprovidos de quaisquer possibilidades de tratar-se, pois nem mesmo os chamados
depósitos de loucos existiam para crianças doentes mentais”224. Entretanto, a concretização
desta nova política da COI, esbarrava exatamente no ponto que empobrecia a qualidade da
assistência prestada pelo SNDM, a falta de pessoal. No momento desta inflexão, a clínica
contava apenas com uma única médica que cumpria as funções de pediatra, psiquiatra, chefe
de clínica, supervisora “e, por que não dizer? De dona de casa encarregada que é da
conservação do material”225.
222
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 779/Env. 6501. Relatório Anual da Clínica de Orientação da Infância –
1958. p. 1.
223
Idem.
224
Ibidem.
225
Ibidem.
158
Como não poderia ser diferente, a crise de pessoal também atingia o Centro
Psiquiátrico Nacional (CPN) e suas diversas unidades de tratamento. A diversificação de
suas atribuições unida à especialização cada vez maior de cada setor que compõe o Centro,
e o afã de acompanhar os desenvolvimentos científicos e terapêuticos da psiquiatria, exigia
um número cada vez maior de servidores. A situação era mais desfavorável no Bloco
Médico Cirúrgico e em quase todas as clínicas especializadas nele contidas. O mesmo
ocorria aos diversos ambulatórios que compõem o CPN. Para melhor ilustrar a situação, em
relatório do CPN referente ao ano de 1957226, faz-se uma comparação do órgão com o
Hospital do IPASE, que dispunha naquele momento de 600 leitos e ambulatórios, 1700
servidores, 400 médicos e 40 médicos residentes. O CPN, por sua vez, disponibilizava 1700
leitos distribuídos por 6 hospitais, ambulatórios, serviço especializado de ocupação
terapêutica com 15 seções e pronto socorro psiquiátrico, mas que dispunha apenas de 750
servidores e 78 médicos, não contando com nenhum médico residente. Além da falta de
profissionais o CPN também apresentava um quadro de superlotação, criando uma
combinação trágica para o conjunto da população que fazia uso ou necessitava de tais
recursos públicos, pois, diminuía a qualidade do serviço aos já atendidos e dificultava ou
impossibilitava o atendimento daqueles que procuravam os serviços pela primeira vez. Em
1959, Dr. Ignácio da Cunha Lopes, diretor do CPN, diagnostica que estavam superlotados,
mais ostensivamente, o Hospital Pedro II, o Hospital de Neuro Psiquiatria Infantil e o
Pavilhão de isolamento (Pavilhão Braule Pinto) anexo ao Bloco Médico Cirúrgico (BMC).
Para Lopes, esta superlotação decorria do fato de que a região metropolitana do Rio de
Janeiro cresceu muito e “os órgãos locais de assistência não tiveram igual crescimento. E,
todavia, possuímos no Distrito Federal uma capacidade assistencial das maiores no
país”227.
226
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 779/Env. 6501. Relatório Anual do Centro Psiquiátrico Nacional – 1957.
s/p.
227
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 579/Env. 4659. Relatório Anual do Centro Psiquiátrico Nacional – 1959.
p. 7.
159
228
BOTELHO, 1955A, p. 203.
229
Portanto, já estava em processo de crescimento antes mesmo de 1951.
230
BOTELHO, 1955A, p. 192.
231
BOTELHO, 1955A, p. 218.
232
Ambos os números estão contidos nos Arquivos do Serviço Nacional de Doenças Mentais de 1955, Vol. IV, Nº 4.
Porém, na página 218 a informação consta como o total de internados em 31/12/1951 em todos os hospitais
psiquiátricos do Brasil 33.797. Já na página 248 do mesmo periódico o número é referente a mesma questão é
33.703. Portanto, sem a utilização de nenhum critério específico, apenas pela necessidade organizacional, sempre
que for necessário utilizar estes números ou o resultado de contas nas quais estejam inseridos, utilizarei como valor
de referência no texto o menor valor, ou seja, 33.703, sempre mencionando o maior valor, 33.797 e seus respectivos
resultados contábeis em notas de pé de página.
233
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env. 4528. Relatório Anual da Seção de Cooperação – 1959. p. 1.
234
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 370/Env. 2558. Mapas estatísticos Relativos ao Ano de 1956. p. 1.
235
Idem.
236
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 154/Env.1606. Relatório da Seção de Cooperação Vol.II - 1959. p. 1.
160
recorde foi superado em 1958 com 45.925237 doentes internados e novamente havendo
diminuição no ano seguinte. Embora durante a administração Kubitscheck tenha sido
estabelecido um processo de inconstância na oferta de leitos psiquiátricos em todo o
território nacional, a tendência certamente era de alta nesta oferta durante o período.
237
Idem.
238
Não foi possível localizar qualquer documento que se referisse ao número total de doentes internados no DF nos
anos de 1953 e 1954.
239
Sobre 1951 e 1952: Botelho, 1955A, p.219; Sobre 1953: Idem, p. 243-244; Sobre 1955 e 1956: Fundo:
Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 370/2558. Mapa de Movimentação de Doentes. s/p, 1956; Sobre 1958 e 1959: Idem.
Cx. 566/ Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação: Vol. II. s/p, 1960.
240
BOTELHO, 1955A, p. 219.
241
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 370/Env.2558. Mapas estatísticos Relativos ao Ano de 1956. s/p
242
Idem.
243
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação – 1960. s/p.
161
244
Botelho, 1955A, p. 219.
245
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação – 1960. s/p.
246
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 370/Env. 2558. Mapa Estatístico Relativo ao Ano de 1956 - SNDM. s/p.
247
Botelho, 1955A, p. 219.
248
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 566/Env. 4528. Relatório da Seção de Cooperação – 1960. s/p.
249
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 154/Env. 1606. Relatório da Seção de Cooperação, Volume II – 1959.
s/p.
162
250
Botelho, 1955a, p. 200.
251
Idem, p. 203.
252
Idem, p. 204.
253
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 417/Env. 3106. Relatório das Atividades do SNDM - 1956. P. 13.
254
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 570/Env.4554. Relatório das Atividades do SNDM - 1957. P. 2.
255
Esta mudança de paradigma do SNDM, aparentemente priorizando a promoção da saúde mental, seria apenas
uma mudança conceitual, pois na prática o SNDM já realizava este trabalho, desde sua criação não se detinham
apenas na tarefa de assistir, mas também de zelar pela proteção dos cérebros ainda não acometidos pelas doenças
mentais. sadios.
164
256
Botelho, 1955A, p. 207.
257
Idem, p. 225.
258
Idem.
259
Botelho, 1955C, p. 46.
260
Revista de Revistas. In: Revista Brasileira de Saúde Mental. 1957, Vol. II, Nº 1, p. 107.
261
Noticiário. In: Revista Brasileira de Saúde Mental. 1956, Vol. II, Nº 2, p. 143.
165
realizado em setembro de 1957, onde foi exibido um filme que mostrava o trabalho de
terapia ocupacional realizado na CJM e no CPN naquele momento. Ao obter grande
sucesso, este vídeo foi também exibido na Itália, França, Inglaterra, Suiça, Uruguai e
Rússia, além de ser solicitado por outros países262.
262
Noticiário. In: Revista Brasileira de Saúde Mental. 1957, Vol. III, Nº 1, pp. 161-163.
263
Ver Engel (2001, p.214) referente às oficinas existentes no antigo Hospício Pedro II, durante a segunda metade
do século XIX.
264
Botelho, 1955A, p. 223.
265
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 395/Env2862. Processo Nº 27 053/60 de 09 de junho de 1960. s/p.
266
Embora tais verbas já fossem utilizadas desde o final da década de 1940, quando a psiquiatra Nise da Silveira
assume a chefia do Setor de Psiquiatria Ocupacional do CPN, conforme veremos a seguir.
267
Fundo: Dinsam/Acervo: IMASJM. Cx. 395/Env2862. Quadro Demonstrativo do Suprimento de Cr$ 250.000,00,
Para ocorrer às Despesas de Salários a Presos, Internados e Educandos, Durante o Primeiro Quadrimestre de 1960.
s/p.
166
* * *
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das perguntas iniciais que motivaram este trabalho ganhou parte de sua resposta.
Ao nos dedicarmos a um período da história da psiquiatria no Brasil ainda não investigado
profundamente – o governo JK –, nos perguntávamos como a assistência psiquiátrica em
plena expansão na década de 1940, pode se deteriorar tão profundamente já no final da
década de 1970? Podemos responder agora, ao final deste trabalho, que no período JK a
expansão da assistência psiquiátrica pública além de manter-se, potencializou-se, tanto no
DF quanto em todo o Brasil. Porém, concomitantemente mantiveram-se suas mazelas: a
falta de mão de obra e a superlotação. Aumentava-se, portanto, a capilaridade assistencial
psiquiátrica do Estado brasileiro, mas não necessariamente seu nível de qualidade.
A filosofia pública do governo JK, assim como as ideias programáticas para a área
psiquiátrica tiveram raízes em governos anteriores, em especial o primeiro de Getúlio
Vargas (1930-1945). Esta filosofia pública nacionalista voltada para a defesa da integração
nacional, por meio de ações estatais nos campos econômico e social, permaneceu ativa na
segunda metade da década de 1950, ainda que apresentasse particularidades próprias. O
mesmo ocorreu com uma das principais ideias programáticas do governo Vargas –
centralização normativa e descentralização executiva – que se transformaram em políticas
públicas psiquiátricas também executadas na administração Kubitschek.
Para fiscalizar a aplicação dos recursos desses três tipos de convênios, o SNDM
mantinha profissionais médicos denominados inspetores psiquiátricos que, além da função
fiscalizadora, davam consultas à população nos ambulatórios de higiene mental mantidos
pelo órgão federal nessas unidades federativas. Esses ambulatórios tinham como principal
169
O trabalho executado pelo órgão na cidade do Rio de Janeiro obedecia a uma dinâmica
que consistia em dividir as funções assistenciais entre duas grandes instituições
psiquiátricas: o Centro Psiquiátrico Nacional (CPN) e a Colônia Juliano Moreira (CJM). À
primeira cabia realizar as triagens e a assistência aos doentes mentais adultos que
apresentassem casos agudos ou sub-agudos, ou de sífilis, bem como às crianças que
apresentassem algum distúrbio psíquico. Já a segunda, mantinha sua função original de
internar apenas doentes mentais crônicos, embora, por meio de seu AHM, também
realizava-se a triagem de pacientes, o que na prática representava também ser uma das
portas de entrada da assistência psiquiátrica pública na cidade. Tal estratégia de ação criava
uma interdependência entre a o CPN e a CJM. Se por um lado essa correlação poderia
aprimorar o serviço prestado à população, devido a um possível aperfeiçoamento do
intercâmbio entre ambas as instituições, por outro, criava dificuldades quando uma delas
apresentasse problemas em seu funcionamento. A superlotação na CJM poderia acarretar na
170
Embora este trabalho por meio dos dados apresentados no seu decorrer possa levar luz
a algumas informações até então desconhecidas e, portanto, responder de maneira inicial
algumas perguntas acerca do caminho percorrido pela assistência pública psiquiátrica
brasileira na década de 1950, faz-se necessário, entretanto, a realização de futuras pesquisas
acerca do tema e da temporalidade tratada aqui. Abre-se aqui, por exemplo, a possibilidade
de futuramente melhor compreendermos as especificidades dos acordos entre União e cada
estado. Fica também em aberto a possibilidade de compreendermos de modo mais
171
BIBLIOGRAFIA
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Fundo Dinsam; Acervo IMASJM; Cx. 627/Env 5126. Proposta Orçamentária do SNDM.
1961
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM. Cx. 560/Env. 4473. Quadro de Auxílios Concedidos aos
Estados nos Exercícios de 1956 a 1964. 1964.
179
Fundo Dinsam; Acervo IMASJM, Cx. 607/ Env. 4474. Quadro de Auxílios Concedidos aos
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• Periódicos
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