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Revisão/review
Camylla Vidal Macena ¹, Maria Gabriela de Souza Pedrosa¹, Danielle Pimentel Ribeiro¹, Aline Miranda¹, Luciana
Maria Xavier¹
Resumo
tecidos que perderam a sua função no organismo por outro órgão funcional proveniente de um
doador. Tem sido cada vez mais comum a prática de transplantes na medicina veterinária, assim
como as técnicas e os estudos para desenvolver novas alternativas de tratamentos para doenças
que muitas vezes não tem cura. Neste trabalho, compilou-se informações como o histórico e a
aplicação dos transplantes realizados em várias áreas da medicina veterinária, a sua eficácia,
seus resultados, conduta terapêutica e seu uso como uma alternativa segura e eficaz do
Abstract
Transplantation is a surgical procedure used to replace organs or tissues that have lost their
body function by another functional organ from a donor. Organs transplantation in veterinary
medicine has become increasingly common, as have techniques and studies to develop new
treatment alternatives for diseases that often have no cure. This review aims to gather
information about the history of transplants and its applications in various areas of veterinary
medicine.
1
INTRODUÇÃO
2 por objetivo a reposição de órgãos ou tecidos que perderam a sua função no organismo por
9 Podem ser classificados, de acordo com o tipo de doador, como autólogos, alogênicos
13 queimaduras pouco extensas. Nesse tipo de transplante não há risco de rejeição do órgão ou
14 tecido uma vez que o organismo reconhece-os como sendo próprios. (KANENO, 2015). Isso é
15 uma grande vantagem pelo fato de a rejeição ser um dos principais problemas no que se refere
16 a esse tipo de terapêutica. Uma variante desse tipo de transplante são os chamados singênicos
17 ou isogênicos, que ocorre entre irmãos gêmeos, onde o organismo não reconhece o enxerto
19 entre indivíduos diferentes pertencentes à mesma espécie. Para isso os doadores precisam ser
20 geneticamente compatíveis com o receptor afim de evitar a rejeição do órgão. Nos xenogênicos,
23 babuíno. Foram feitas diversas tentativas, em que o receptor sobreviveu por um curto período
1
24 de tempo (179 dias) e o recorde atingido foi a de um transplante realizado em 2014, cujo
25 receptor viveu por três anos. Um estudo publicado em agosto de 2017 na revista Science
26 também indica que o xenotransplante de coração entre suínos e humanos está cada vez mais
27 possível. Esse procedimento seria inviável por conta da presença nas células suínas de diversos
28 retrovírus (PERV) que poderiam contaminar os seres humanos. Esse estudo afirma que a
29 empresa eGenesis, através da edição de genes, obteve sucesso em produzir embriões suínos
30 livres desses retrovírus, podendo assim viabilizar esse tipo de transplante no futuro.
31 Histórico
35 lesões no nariz) (GARCIA, 2015). Em uma dessas técnicas de rinoplastia, o nariz seria
36 costurado a um dos braços do paciente, na base anterior do terço superior da face interna do
37 braço, para posterior reconstrução nasal. (CINTRA, 2013). No século XVIII, por volta de 1780,
38 foram relatados diversos transplantes dentários que eram feitos de doadores pobres para
39 receptores ricos, no entanto notou-se que esses procedimentos quase nunca eram bem
40 sucedidos. No século XIX, em 1807, o italiano Giuseppe Baronio publicou o tratado “Sobre
41 enxerto em animais”. Nessa obra, ele divulgou pesquisas sobre auto e xenoenxerto e verificou
42 que nos procedimentos realizados em ovelhas, em que o enxerto era transplantado de uma
43 região para outra no próprio corpo do animal, a pele sempre se curava. Enquanto que no mesmo
44 procedimento, quando realizado em animais de diferentes espécies, a pele era sempre destruída.
45 (GARCIA, 2015). Já na década de 1920, o cirurgião Emile Holman fez transplantes de pele em
46 crianças com extensas queimaduras utilizando tanto a pele do próprio indivíduo como também
47 a pele da respectiva mãe. Observou que no autoenxerto a pele sempre se regenerava, enquanto
2
48 que os enxertos proveniente das mães eram destruídos, o que avançou o estudo sobre a
52 et al., 2015). Até 1902 não havia nenhuma técnica que fosse adequada para a sutura de vasos
53 sanguíneos. Nesse ano, Carrel publicou o artigo “La technique operatoire des anastomoses
55 sutura desenvolvido por ele que até hoje é utilizado em suturas vasculares (GARCIA, 2015).
56 Consiste em converter os orifícios redondos nos vasos em triangulares afim de facilitar a sutura
57 (GUILHERMANO et al., 2015). A partir do desenvolvimento desse método, foi possível iniciar
62 sucedido para a época, onde transplantou os rins de um cão para outro. O animal sobreviveu à
66 dois pacientes com falência renal. No entanto, houve rejeição dos órgãos e o procedimento não
67 funcionou (WATSON, 2012). Em 1909, o cirurgião Ernest Unger realizou um transplante renal
68 em um cão da raça boxer usando rins provenientes de um cão da raça Terrier. Nesse caso, os
71 1933 através do cirurgião Ucraniano Yurii Voronoy, que realizou o primeiro transplante
72 alogênico em paciente humano. Foi a primeira vez que se usou um órgão de um doador falecido.
3
73 O rim foi retirado 6 horas após a morte e então transplantado para uma mulher com lesão renal
74 irreversível, mas não houve sucesso e a paciente faleceu após 48 horas (GUILHERMANO et
75 al., 2015).
76 Até a década de 50, foram registradas muitas tentativas de transplantes renais, mas em
77 todas elas houve problemas decorrentes da rejeição pelo paciente (GARCIA, 2015). O primeiro
78 transplante bem sucedido na medicina humana aconteceu apenas em 1954. Foi um transplante
79 renal entre dois irmãos gêmeos idênticos em que o rim esquerdo do doador saudável foi
80 transplantado para a fossa ilíaca esquerda e o ureter implantado na bexiga do paciente. Houve
81 drenagem imediata de urina pelo enxerto e não houve rejeição. O paciente morreu oito anos
83 2015). Depois desse caso, diversos transplantes renais foram realizados entre gêmeos idênticos,
84 com casos muito bem sucedidos. Viu-se, então que o transplante era um efetivo método
85 terapêutico para salvar vidas, mas que era preciso ultrapassar barreiras imunológicas e de
86 compatibilidade para que fosse viável para todas as pessoas (GUILHERMANO et al., 2015).
87 Com o lançamento das bombas atômicas no Japão, em 1945, iniciou-se o estudo do efeito da
90 poderia ser utilizada para vencer a barreira imunológica aos transplantes. A partir disso, foram
91 realizadas alguns transplantes com prévia terapia de irradiação corporal e reposição de medula
92 como preparo para o procedimento. Em 1959, utilizando a técnica da irradiação, foi feita a
93 primeira transplantação bem sucedida em que a barreira imunológica foi rompida, quando um
94 paciente recebeu o rim do irmão. O órgão não sofreu rejeição e o paciente só faleceu em 1979
96 química através de drogas. Essas deveriam atuar de forma que suprimisse o sistema
100 (GUILHERMANO et al., 2015). Foram desenvolvidos outros fármacos que são utilizados até
101 hoje, como ciclosporina, prednisona, tacrolimo, entre outros (WATSON, 2012).
102 A partir de 1965, o transplante renal já estava consolidado. Nesse mesmo ano ocorreu o
103 primeiro transplante renal no Brasil. A partir daí, foram iniciadas tentativas para outros
104 transplantes de diversos órgãos, como fígado, coração, pulmões, intestinos. Esses
105 procedimentos só começaram a ter êxito na década de 80 com o emprego da ciclosporina como
106 imunossupressor, iniciando a fase moderna dos transplantes de órgãos (GARCIA, 2015).
108 experimentalmente 1970. A técnica cirúrgica de transplante renal foi executada pelo professor
109 Ney Luis Pippi da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul durante dissertação de
110 mestrado. No entanto, apenas em 2003 o transplante renal em animais de estimação começou a
111 ser realizado. O método possibilita o retorno da função renal do paciente, com aumento da
114 Na oftalmologia alguns transplantes também puderam ser realizados, obtendo resultados
115 satisfatórios como é o caso do artigo publicado em 2011, por alunos da Faculdade de Medicina
116 Veterinária e Zootecnia- UNESP Botucatu- SP que aborda o transplante de glândulas salivares
118 A ceratoconjutivite seca (CCS) é uma oftalmopatia grave e progressiva que pode se
119 tornar crônica e comprometer a visão (ANGÉLICO et al., 2011) além de ser bem comum na
120 oftalmologia veterinária, ela acomete principalmente cães e algumas raças possuem uma
121 predisposição para essa afecção como Shihtzu, Lhasa Apso, Pequinês, Buldog Inglês, Yorkshire
5
122 Terrier, Pug, Cocker Spaniel Americano, West Highland White Terrier e Schnauzer miniatura.
123 Uma das características principais é diminuição da porção aquosa da lágrima resultando em
125 acuidade visual (DEFANTE JUNIOR, 2006) além do comprometimento no deslizamento das
126 pálpebras, tornando deficiente ou nula a função protetora da lágrima, afetando assim a córnea
127 e a conjuntiva, propiciando infecções secundárias que evoluem com a destruição tecidual
129 Não se conhece ainda a sua etiologia, mas acredita-se que é multifatorial. O diagnóstico
130 pode ser obtido através da observação dos sinais clínicos e pelo resultado de exames específicos
131 como: tempo de quebra do filme lacrimal, corantes da superfície ocular (fluoresceína, rosa
132 bengala, lissamina verde) e teste lacrimal de Schirmer (ANGÉLICO et al., 2011). O tratamento
133 pode ser com o uso de medicamentos tópicos, transplantes das glândulas salivares menores,
135 O objetivo do artigo foi relatar o efeito do transplante de glândulas salivares menores
136 (TGSM) nos pacientes com CCS, e avaliar se a secreção dessas glândulas poderia ser usada
137 como alternativa de lubrificação ocular. O resultado foi satisfatório e os pacientes apresentaram
139 As glândulas salivares menores possuem uma secreção seromucosa bem parecida com
140 a lágrima, por isso o uso do transplante seria interessante segundo os autores porque essa
141 secreção iria substituir a lágrima. Não há relatos desse tipo de transplante na literatura Médico
143 O transplante foi realizado em 16 cães da raça Cocker Spaniel, portadores da CCS e que
144 não respondiam ao tratamento clínico e estavam em intenso sofrimento ocular, eles passaram
6
146 animais foram submetidos a alguns exames oftalmológico específicos. As glândulas salivares
147 menores foram retiradas da mucosa oral, localizada na região mandibular próximo à comissura
148 bucal dos próprios animais, que segundo (ANGÉLICO et al, 2011) após o mapeamento
149 histológico, constatou-se maior número glandular na região do lábio lateral inferior próximo à
150 comissura bucal, indicando o local ideal para a coleta, além de ter fácil acesso. O transplante
151 de glândula foi realizado bilateralmente em todos os cães e a área receptora foi o fórnice
152 superior do olho. Os animais foram acompanhados semanalmente, por meio de anamnese e
153 exame clínico oftalmológico, desde o momento da cirurgia até o último retorno, aos 60 dias
154 pós-cirúrgicos (ANGÉLICO et al, 2011) e percebeu que houve uma significativa melhora dos
155 sinais clínicos oftalmológicos dos pacientes transplantados com CCS, observando um alívio
156 dos sintomas na segunda semana do pós operatório, traduzido pela recuperação do brilho da
157 superfície ocular acompanhado de grande diminuição do quadro irritativo (ANGÉLICO et al,
158 2011). Observou algumas complicações como a presença de ceratite ulcerativa em três olhos
159 na avaliação de sete dias, que provavelmente aconteceu em razão do contato do fio com a
160 superfície córnea e foi resolvido no período médio de sete dias. Na área doadora no lábio,
161 verificou-se aparência semelhante à de um leve trauma cirúrgico no período inicial da avaliação,
162 sem dor ou incômodos, com rápida cicatrização (ANGÉLICO et al, 2011). Concluindo então
163 que a aplicação do TGSM seria uma alternativa de tratamento viável, fácil e de rápida execução
168 doença pode ser de forma aguda, subaguda ou crônica, com manifestações neurológicas,
169 cutâneas, gastroentéricas, oftálmicas e respiratórias (SWANGO LJ, 1957). Na maioria das
170 vezes o vírus da cinomose canina atinge o encéfalo, causando lesões degenerativas e/ou
7
171 inflamatórias ao Sistema Nervoso Central, e o animal vai apresentar sintomas como: paraplegia,
173 mioclonias com prognóstico reservado para os casos agudos com sinais neurológicos. Segundo
174 SHERDING RG (2008), não existe tratamento para as sequelas neurológicas e alguns animais
177 desenvolver uma alternativa de tratamento aos cães com o vírus da cinomose canina que
178 apresentam sinais clínicos com distúrbio neurológico, na hipótese da recuperação neurológica
179 destes animais. Foram selecionados 11 cães com o vírus da cinomose canina e 5 cães saudáveis
180 doadores de medula óssea. Foram obtidas células mononucleadas da medula óssea extraída por
181 punção do escudo ilíaco dos cães doadores, após anestesia. Depois de um processo de
182 purificação essas células mononucleadas foram injetadas, por via intravenosa nos cães
184 Dos 7 animais que possuíam a cinomose aguda ou recente, 5 apresentaram melhora
185 completa dos sinais clínicos e 2 não, que alguns dias após o transplante foram eutanasiados.
186 Dos animais com sinais crônicos, 3 apresentaram uma melhora visível dos sinais clínicos 1
187 semana após o transplante, contudo 2 deles após curto período de estabilidade, apresentaram
188 novamente os mesmos sinais clínicos vistos antes do transplante e 1 animal que apresentava
189 ablepsia teve melhora dos outros sinais, mas não recuperou a visão. Concluindo então que o
190 transplante alogênico de células mononucleares da medula óssea é uma alternativa eficiente,
8
194 A oftalmopatia mais comum em cães é a úlcera de córnea. Úlceras profundas podem
195 levar a déficits visuais ou até mesmo perda ocular por endoftalmite, glaucoma ou Pthisis bulbi
196 (GELATT, 1991; TOGNOLI et al. 2008). As etiologias para a deficiência das células tronco
198 TOGNOLI et al. 2008)) geralmente são as queimaduras por base (NISHIWAKI-DANTAS et
199 al., 2001; TOGNOLI et al. 2008), cicatriz ocular penfigóide, pterígio extenso recorrente (TI et
200 al., 2002; TOGNOLI et al. 2008) neoplasias de superfície ocular, condições imunológicas e
201 lesões por radiação (SANGWAN, 2001; TOGNOLI et al. 2008). As úlceras profundas são
202 agressivas e perigosas para a visão requerendo uma terapia mais invasiva (GONÇALVES,
203 2000; TOGNOLI et al. 2008). Os tratamentos sugeridos apresentam complicações pós-
204 operatórias. A pesquisa com células tronco abre perspectivas para terapias regenerativas que
205 podem alterar o tratamento das doenças (NEIVA, 2005; TOGNOLI et al. 2008) melhorando o
206 pós-operatório e a corrigindo falhas. A fonte mais acessível para a terapia com CT são as células
208 Apesar da realização de pesquisas com essas células, ainda faltam estudos sobre
209 métodos de purificação e expansão em cultura (ZAGO & COVAS, 2004; TOGNOLI et al.
210 2008). O impasse da identificação após o implante começou a ser resolvido com o avanço da
214 pois esse número celular supera a quantidade mínima de 2x106 células preconizadas para a
215 pega (GENGOZIAN, 2000; TOGNOLI et al. 2008). Conjuntamente, a utilização da via
216 intralesional aumenta a proliferação celular na lesão e evita a quimiotaxia das células
9
218 Foram utilizados 16 cães machos ou fêmeas, submetidos à úlcera experimental de
219 córnea com papel filtro embebido em hidróxido de sódio (NaOH). Após as lesões, os animais
221 nanocristais. Para a avaliação das células marcadas com nanocristais foi utilizada a técnica de
223 histopatológica que revelou que as CM colaboram como mediadores da inflamação ocular por
224 diminuição deste processo nos animais tratados, porém, influencia negativamente a regeneração
225 do epitélio corneano. Quando as CM foram administradas pela via subconjuntival em cães, elas
226 não sofrem processo de quimiotaxia para o olho lesado contra-lateral e não auxiliam no
231 conjuntivo de granulação no sítio da anastomose (SMITH et al., 1990; NAKANISHI et al.,
232 1998; TOJO et al., 1998; CONTESINI, E. A. et al, 2001) e a constrição/estenose (SABÁS et
233 al., 1977; PETROIANU & BARBOSA, 1993; MUKAIDA et al., 1998; CONTESINI, E. A. et
234 al, 2001). Por esse motivo, a reparação de defeitos ou lesões traqueais e o desenvolvimento de
235 novas técnicas para a diminuição desses efeitos tem sido de interesse de cirurgiões veterinários.
236 Para ECKERSBERGER et al. (1987), para o sucesso do procedimento com longa
240 neovascularização e ser estruturalmente rígido para que durante a ventilação ele consiga manter
10
242 Para a experimentação, foram utilizados doze cães, adultos, divididos em grupo I e II os
243 quais foram submetidos a enxerto autógeno de cartilagem da pina e implante hemógeno
245 demonstrou invasão por tecido de granulação e a lâmina própria com moderado infiltrado
246 netrofílico e fibrose com focos de hiperplasia epitelial. Nos animais do grupo II, apareceu
247 discreta invasão de macrófagos e vasos neoformados, com inflamação moderada na lâmina
248 própria, e epitélio sem alteração. Dessa forma, conclui-se que o implante de cartilagem da pina
249 conservada em glicerina a 98%, induz resposta menos agressiva pelo leito receptor compatível
252 A insuficiência renal crônica é a doença renal mais comumente observada em cães e
253 gatos. É difícil determinar a causa da doença, que pode ser congênita, adquirida ou decorrer de
256 crônica é conservativo e tem como objetivo minimizar as lesões renais, combater as
257 consequências da uremia e retardar a progressão da doença. Em muitos casos esse tratamento
258 não é suficiente, sendo necessário optar por outras terapias, como hemodiálise e transplante
259 renal.
260 A insuficiência renal crônica (IRC), é uma síndrome clínica caracterizada pela
261 incapacidade dos rins de realizar a função excretora e reguladora devido a uma perda de néfrons
262 num período que pode variar de meses a anos. Esse declínio da função renal causa retenção da
263 uréia, creatinina, fósforo e outras substâncias que, em condições normais, são eliminadas por
264 meio da filtração glomerular (FORRESTER, 2003). Esta é a doença mais comum que acomete
265 cães e gatos e é caracterizada por lesões estruturais irreversíveis e progressivas (FORRESTER,
11
266 2003; POLZIN et AL., 2004; WERE, 2006). Segundo Were (2006), esta enfermidade é
269 do IRC incluem um histórico de perda de peso, caquexia, poliúria, polidipsia, anemia não-
271 WERE, 2006). A sintomatologia clínica associada a uremia inclui anorexia, vômito, diarreia,
273 coma (POLZIN et tal., 2004; WERE, 2006). Em gatos é comum ocorrer constipação.
274 Com o avanço da Medicina Veterinária, o transplante renal em cães e gatos tornou-
275 se a melhor opção terapêutica para tratar a IRC (SALOMÃO et tal., 2000), pois garante aos
276 pacientes, qualidade de vida e tempo de sobrevida de 1 a 3 anos (QUÉRIOS & SPREA, 2003).
277 O uso e o sucesso desta técnica em humanos têm estimulado os proprietários de animais de
278 companhia a considerarem essa opção no tratamento de seus animais (MATHEWS et tal.,
279 2000). Porém, o fato desta terapêutica não estar disponível em todos os estados brasileiros e o
280 custo é relativamente alto do procedimento são considerados fatores limitantes no emprego da
281 técnica. Apenas no Estado de Minas Gerais e na cidade de Santa Maria no RS, esta técnica foi
284 ideal é a existência de algum grau de parentesco entre doador e receptor para minimizar os
286 linfócitos totais para selecionar o doador com melhor perfil de histocompatibilidade. Este teste
287 determina se o receptor tem anticorpos pré-formados contra as células do doador. Se o resultado
288 for positivo, contraindica-se o transplante, pois há sérios riscos de ocorrer rejeição (SAVASSI-
12
290 O transplante renal é indicado para pacientes portadores de IRC, decorrente de
291 nefropatia bilateral não responsiva ao tratamento convencional. Dentre as doenças que
293 fibrose renal, doença renal policística e displasia renal (NÈMETH et tal ., 1997). O animal não
294 deve estar em fase terminal da doença nem apresentar outra enfermidade grave concomitante
295 (SASSAVI, 2008). Antes da realização do transplante, pacientes muito debilitados devem
296 realizar sessões de hemodiálise para estabilizar o quadro clínico (POLZIN et tal., 2004). As
297 situações que contraindicam as cirurgias de transplantes renal são: neoplasias malignas,
298 pacientes de doenças pulmonares crônicas avançadas, portadores de doenças cardíacas crônicas
299 graves, portadores de insuficiência hepática (POLZIN et tal., 2004; NORONHA et tal., 2006;
300 SAVASSI, 2008), portadores de Leishmaniose, FIV OU FELV e animais com inflamação
301 aguda e com idade acima de 10 anos (POLZIN et tal., 2004; SAVASSI, 2008).
302 No dia em que antecede o procedimento cirúrgico, o paciente receptor deve receber a
304 transfusão sanguínea para manter o hematócrito entre 25-30% em cães e 15-20% em gatos
305 (PEREIRE & RAMALHO, 2000). O protocolo imunossupressor com ciclosporina (10mg/kg
306 VO ou IV, BID) e prednisolona (1,5mg/kg, VO, BID) (POLZIN et tal., 2004), deve ser iniciado
307 no paciente receptor, alguns dias antes da cirurgia (SAVASSI-ROCHA et tal., 2003).
310 três primeiros dias após o transplante, já se observa um aumento gradativo na densidade urinário
312 A maioria dos rins transplantados retorna às suas funções 72 horas após a cirurgia,
313 porém, os níveis de creatinina sérica e a densidade urinária somente atingem seus índices
13
314 normais, em aproximadamente 15 dias após o transplante. O paciente deve permanecer
315 internado por até 15 dias após a realização da cirurgia, para receber monitoração constante.
316 Após receber alta, o animal continua sob acompanhamento, devendo realizar exames
319 órgão. Para minimizar isso, é importante o uso de medicação imunossupressora para diminuir
321 (SAVASSI-ROCHA et tal., 2003: POLZIN et tal., 2004). Pode-se utilizar como protocolo de
323 (2,0mg/kg, VO, BID). Em cães, pode se incluir no protocolo azatioprina (0,5-1,0mg/kg, VO,
325 A hemodiálise e o transplante renal em pacientes com IRC está sendo muito
326 satisfatório pela recuperação dos animais e uma sobrevida excelente, mas o custo, a falta de
327 profissionais e as limitações terapêuticas impedem o avanço desta técnica. Dentro do atual
328 contexto, pode-se afirmar que estudos mais detalhados sobre a aplicabilidade destas técnicas
329 em animais precisam ser realizados. Os resultados obtidos certamente serão utilizados para
332 O ovário inteiro ou parte dele pode ser transplantado de uma doadora para uma
333 receptora, que pode ser o próprio indivíduo ou outro ser, para diferentes locais no corpo,
334 próximo (ortotópico) ou distante (heterotópico) da sua posição anatômica normal (MACEDO
335 et al., 2011). O transplante ovariano, seja de ovários inteiros ou fragmentos, vem a ser uma
336 opção para um sistema de cultivo in vivo onde será possível o desenvolvimento de folículos
337 pré-antrais e posteriormente fecundação (SALLE et al., 2002). Segundo PETROIANU et al.,
14
338 (2004), o transplante ovariano tem como finalidades além do cultivo, a manutenção da função
340 com infertilidade adquirida (CAMPPBELL et al., 2000). Tais finalidades se encaixam em
341 diversos panoramas desde a manutenção da fertilidade em pacientes com câncer (DONNEZ et
342 al., 2004) até a conservação de animais ameaçados de extinção (DEMIRCI et al., 2003).
343 Os primeiros relatos acerca de transplantes ovarianos foram em 1895 e 1896 por Morris
345 os níveis hormonais após o climatério, porém apenas no século XX é que o interesse sobre o
348 que diz respeito ao receptor de transplantes ovarianos (AUBARD 2003) sugere 3 caminhos
350 espécie que doador) e o xenotransplante (doador e receptor de especies diferentes) e ainda
352 autotransplante tem as melhores respostas no que diz respeito à restauração rápida e espontânea
355 autotransplante é estar livre de questões éticas como transmissão de agentes infecciosos e risco
356 de alteração do genoma do receptor como pode ocorrer no xenotransplante (MACEDO et al.,
357 2011).
359 fragmento deste uma vez que este local deve haver suprimento vascular necessário para o
360 período de isquemia-reperfusão do tecido, como citado por DISSEN et al. (1995) e ISRAELY
361 et al. (2003). Estudos experimentais realizados a respeito da técnica e locais que permitam
362 melhor desenvolvimento do tecido, demonstraram que o transplante de ovários íntegros para
15
363 bolsa omental de ratas não obteve sucesso, levando a a morte tecidual, propondo uma melhor
365 contrapartida, muitos estudos obtiveram sucesso, podendo citar transplantes de tecido ovariano
367 humanos (SCHMIDT et al., 2005), cápsula renal (LEE et al., 2005), tecido subcutâneo e
368 muscular de camundongos (ISRAELY et al., 2003), omento maior de coelhas (ALBERTI et al.,
369 2002), retroperitônio de ratas (D’ACAMPORA et al., 2004), região inguinal de ratas
370 (CESCHIN et al., 2004) e ortotopicamente sem anastomose vascular para coelhas
371 (PETROIANU et al., 2004). Podem-se citar ainda xenotransplantes ovarianos heterotópicos
372 como descrito por CANDY et al. (1995) de macacas para a cápsula renal de camundongos
377 evitando assim rejeição do tecido transplantado por resposta imune e diminuição da produção
379 endócrinas, como alterações na função gonadal causadas pela administração de CyA em ratos
381 Um estudo feito por PETROIANU et al. (2004) com coelhas das raças Nova Zelândia e
382 Califórnia, mostrou que a maioria das coelhas transplantadas obtiveram sucesso na aceitação
383 do tecido ovariano fatiado ou íntegro transplantado sem anastomose vascular. O grupo
384 transplantado voltou a ter atividade endócrina ovariana, ocorreu desenvolvimento dos folículos
385 e após três meses do transplante, colocadas em contato diariamente com machos férteis, 50%
386 das coelhas concluiu gestação em quatro a oito meses após o procedimento com o número de
387 filhotes variando de um a três. Das vinte e quatro coelhas que receberam o transplante, apenas
16
388 cinco tiveram resultados insatisfatórios como aderências, hemorragias, calcificação e
390 ciclosporina na dose de 10mg/kg durante nove meses afim de evitar rejeição ao tecido. De
391 acordo com os resultados, além da viabilidade dos ovários transplantados, preservando suas
392 funções pode-se constatar a ação preventiva da ciclosporina, em 10mg/kg/dia neste estudo, no
393 que diz respeito a rejeição ao ovário transplantado uma vez que, em estudo piloto, a privação
394 do fármaco levou à rejeição do tecido transplantado com degeneração e fibrose além de atrofia
395 uterina e tubária. Não foi observado efeito inibitório do fármaco na ovulação como descrito por
399 perpassando pela sua introdução na medicina veterinária ainda que restrita a experimentação
400 com animais para execução na medicina humana até relatos de casos de transplantes em
402 estudos no que diz respeito às técnicas, aplicações e condutas terapêuticas contra rejeição, uma
403 vez que este vem sendo o maior desafio para o sucesso dos transplantes alógenos e xenógenos.
404 Este último vem despertando interesse na comunidade científica por poder beneficiar a saúde
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