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Transplante de órgãos na Medicina Veterinária: revisão de literatura

[Transplantation of Organs in Veterinary Medicine: literature review]

Revisão/review

Camylla Vidal Macena ¹, Maria Gabriela de Souza Pedrosa¹, Danielle Pimentel Ribeiro¹, Aline Miranda¹, Luciana
Maria Xavier¹

¹ Alunas de Graduação - Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE

Resumo

O transplante é um procedimento cirúrgico que tem como objetivo a reposição de órgãos ou

tecidos que perderam a sua função no organismo por outro órgão funcional proveniente de um

doador. Tem sido cada vez mais comum a prática de transplantes na medicina veterinária, assim

como as técnicas e os estudos para desenvolver novas alternativas de tratamentos para doenças

que muitas vezes não tem cura. Neste trabalho, compilou-se informações como o histórico e a

aplicação dos transplantes realizados em várias áreas da medicina veterinária, a sua eficácia,

seus resultados, conduta terapêutica e seu uso como uma alternativa segura e eficaz do

tratamento de diversas doenças.

Palavras- chave: transplantes, ovário, rins, oftalmologia, córnea, cinomose.

Abstract

Transplantation is a surgical procedure used to replace organs or tissues that have lost their

body function by another functional organ from a donor. Organs transplantation in veterinary

medicine has become increasingly common, as have techniques and studies to develop new

treatment alternatives for diseases that often have no cure. This review aims to gather

information about the history of transplants and its applications in various areas of veterinary

medicine.

Keywords: transplants, ovary, kidneys, ophthalmology, cornea, distemper.

1
INTRODUÇÃO

1 O transplante é um método terapêutico que, através de um procedimento cirúrgico, tem

2 por objetivo a reposição de órgãos ou tecidos que perderam a sua função no organismo por

3 outro órgão ou tecido normal proveniente de um doador vivo ou morto. Atualmente, na

4 medicina humana o transplante de órgãos e tecidos é alternativa segura e eficaz no tratamento

5 de diversas doenças, determinando melhoria na qualidade e na perspectiva de vida. Na medicina

6 veterinária, a transplantação ainda é pouco utilizada, mas um grande número de procedimentos

7 bem sucedidos vêm cada vez mais sendo relatados.

8 Classificação dos transplantes

9 Podem ser classificados, de acordo com o tipo de doador, como autólogos, alogênicos

10 ou xenogênicos. Nos autólogos, também chamados de autotransplantes, o tecido enxertado é

11 originário do próprio receptor. Como é o caso dos procedimentos de tratamento de problemas

12 cardiovasculares, através da ponte de safena ou de transplantes de pele no tratamento de

13 queimaduras pouco extensas. Nesse tipo de transplante não há risco de rejeição do órgão ou

14 tecido uma vez que o organismo reconhece-os como sendo próprios. (KANENO, 2015). Isso é

15 uma grande vantagem pelo fato de a rejeição ser um dos principais problemas no que se refere

16 a esse tipo de terapêutica. Uma variante desse tipo de transplante são os chamados singênicos

17 ou isogênicos, que ocorre entre irmãos gêmeos, onde o organismo não reconhece o enxerto

18 como estranho. O alotransplante (alogênico) é o tipo mais comum e consiste no transplante

19 entre indivíduos diferentes pertencentes à mesma espécie. Para isso os doadores precisam ser

20 geneticamente compatíveis com o receptor afim de evitar a rejeição do órgão. Nos xenogênicos,

21 ou xenotransplantes, o doador e receptor são indivíduos pertencentes a espécies distintas.

22 (KANENO, 2015). Foi o caso do transplante de coração de um doador suíno e um receptor

23 babuíno. Foram feitas diversas tentativas, em que o receptor sobreviveu por um curto período

1
24 de tempo (179 dias) e o recorde atingido foi a de um transplante realizado em 2014, cujo

25 receptor viveu por três anos. Um estudo publicado em agosto de 2017 na revista Science

26 também indica que o xenotransplante de coração entre suínos e humanos está cada vez mais

27 possível. Esse procedimento seria inviável por conta da presença nas células suínas de diversos

28 retrovírus (PERV) que poderiam contaminar os seres humanos. Esse estudo afirma que a

29 empresa eGenesis, através da edição de genes, obteve sucesso em produzir embriões suínos

30 livres desses retrovírus, podendo assim viabilizar esse tipo de transplante no futuro.

31 Histórico

32 São muitos os relatos referentes a transplantes de tecidos durante o curso da história.

33 Em 1570, o professor italiano Gaspare Tagliacozzi, considerado pai da cirurgia plástica e

34 reconstrutiva, publicou técnicas de autotransplantes de tecidos (enxerto da pele e correções de

35 lesões no nariz) (GARCIA, 2015). Em uma dessas técnicas de rinoplastia, o nariz seria

36 costurado a um dos braços do paciente, na base anterior do terço superior da face interna do

37 braço, para posterior reconstrução nasal. (CINTRA, 2013). No século XVIII, por volta de 1780,

38 foram relatados diversos transplantes dentários que eram feitos de doadores pobres para

39 receptores ricos, no entanto notou-se que esses procedimentos quase nunca eram bem

40 sucedidos. No século XIX, em 1807, o italiano Giuseppe Baronio publicou o tratado “Sobre

41 enxerto em animais”. Nessa obra, ele divulgou pesquisas sobre auto e xenoenxerto e verificou

42 que nos procedimentos realizados em ovelhas, em que o enxerto era transplantado de uma

43 região para outra no próprio corpo do animal, a pele sempre se curava. Enquanto que no mesmo

44 procedimento, quando realizado em animais de diferentes espécies, a pele era sempre destruída.

45 (GARCIA, 2015). Já na década de 1920, o cirurgião Emile Holman fez transplantes de pele em

46 crianças com extensas queimaduras utilizando tanto a pele do próprio indivíduo como também

47 a pele da respectiva mãe. Observou que no autoenxerto a pele sempre se regenerava, enquanto

2
48 que os enxertos proveniente das mães eram destruídos, o que avançou o estudo sobre a

49 importância de fatores individuais no sucesso dos transplantes (GARCIA, 2015).

50 Já os processos de transplantação de órgãos tiveram início efetivamente no começo do

51 século XX e foram viabilizados pelos trabalhos do cirurgião Alexis Carrel (GUILHERMANO

52 et al., 2015). Até 1902 não havia nenhuma técnica que fosse adequada para a sutura de vasos

53 sanguíneos. Nesse ano, Carrel publicou o artigo “La technique operatoire des anastomoses

54 vasculaires et la transplantation des viscères”, onde descrevia o método de triangulação de

55 sutura desenvolvido por ele que até hoje é utilizado em suturas vasculares (GARCIA, 2015).

56 Consiste em converter os orifícios redondos nos vasos em triangulares afim de facilitar a sutura

57 (GUILHERMANO et al., 2015). A partir do desenvolvimento desse método, foi possível iniciar

58 efetivamente os procedimentos de transplante.

59 A partir daí, os transplantes começaram a ser realizados em animais como forma de

60 aprimoramento de técnicas para posterior utilização em pacientes humanos. Em 1902, o médico

61 austríaco Emerich Ullmann realizou o primeiro transplante alogênico considerado bem

62 sucedido para a época, onde transplantou os rins de um cão para outro. O animal sobreviveu à

63 cirurgia e os órgãos funcionaram durante 5 dias (GARCIA, 2015). Em 1906, o cirurgião

64 Mathieu Jaboulay, utilizando as técnicas de sutura de vasos de Carrel, realizou o primeiro

65 xenotransplante de órgãos da história, transplantando rins de um ovelha e de um porco para

66 dois pacientes com falência renal. No entanto, houve rejeição dos órgãos e o procedimento não

67 funcionou (WATSON, 2012). Em 1909, o cirurgião Ernest Unger realizou um transplante renal

68 em um cão da raça boxer usando rins provenientes de um cão da raça Terrier. Nesse caso, os

69 órgãos se mantiveram em funcionamento por 14 dias (GARCIA, 2015). No período entre

70 guerras, os estudos em relação a transplantes sofreram estagnação e só foram retomados em

71 1933 através do cirurgião Ucraniano Yurii Voronoy, que realizou o primeiro transplante

72 alogênico em paciente humano. Foi a primeira vez que se usou um órgão de um doador falecido.
3
73 O rim foi retirado 6 horas após a morte e então transplantado para uma mulher com lesão renal

74 irreversível, mas não houve sucesso e a paciente faleceu após 48 horas (GUILHERMANO et

75 al., 2015).

76 Até a década de 50, foram registradas muitas tentativas de transplantes renais, mas em

77 todas elas houve problemas decorrentes da rejeição pelo paciente (GARCIA, 2015). O primeiro

78 transplante bem sucedido na medicina humana aconteceu apenas em 1954. Foi um transplante

79 renal entre dois irmãos gêmeos idênticos em que o rim esquerdo do doador saudável foi

80 transplantado para a fossa ilíaca esquerda e o ureter implantado na bexiga do paciente. Houve

81 drenagem imediata de urina pelo enxerto e não houve rejeição. O paciente morreu oito anos

82 após o procedimento por uma glomerulonefrite no rim transplantado (GUILHERMANO et al.,

83 2015). Depois desse caso, diversos transplantes renais foram realizados entre gêmeos idênticos,

84 com casos muito bem sucedidos. Viu-se, então que o transplante era um efetivo método

85 terapêutico para salvar vidas, mas que era preciso ultrapassar barreiras imunológicas e de

86 compatibilidade para que fosse viável para todas as pessoas (GUILHERMANO et al., 2015).

87 Com o lançamento das bombas atômicas no Japão, em 1945, iniciou-se o estudo do efeito da

88 radiação no corpo humano, observando-se que o sistema imunológico era afetado na

89 dependência da quantidade de radiação. Essa descoberta levou à suposição de que a radiação

90 poderia ser utilizada para vencer a barreira imunológica aos transplantes. A partir disso, foram

91 realizadas alguns transplantes com prévia terapia de irradiação corporal e reposição de medula

92 como preparo para o procedimento. Em 1959, utilizando a técnica da irradiação, foi feita a

93 primeira transplantação bem sucedida em que a barreira imunológica foi rompida, quando um

94 paciente recebeu o rim do irmão. O órgão não sofreu rejeição e o paciente só faleceu em 1979

95 por insuficiência cardíaca (GARCIA, 2015). Em 1960 se iniciou o uso da imunossupressão

96 química através de drogas. Essas deveriam atuar de forma que suprimisse o sistema

97 imunológico o suficiente para permitir o transplantes sendo ao mesmo tempo adequadamente


4
98 específico de modo que outras respostas imunes protetoras permanecessem. A princípio foi

99 utilizada a 6-mercaptopurina a qual foi substituída posteriormente pela azatioprina

100 (GUILHERMANO et al., 2015). Foram desenvolvidos outros fármacos que são utilizados até

101 hoje, como ciclosporina, prednisona, tacrolimo, entre outros (WATSON, 2012).

102 A partir de 1965, o transplante renal já estava consolidado. Nesse mesmo ano ocorreu o

103 primeiro transplante renal no Brasil. A partir daí, foram iniciadas tentativas para outros

104 transplantes de diversos órgãos, como fígado, coração, pulmões, intestinos. Esses

105 procedimentos só começaram a ter êxito na década de 80 com o emprego da ciclosporina como

106 imunossupressor, iniciando a fase moderna dos transplantes de órgãos (GARCIA, 2015).

107 No Brasil, o primeiro transplante realizado na Medicina Veterinária aconteceu

108 experimentalmente 1970. A técnica cirúrgica de transplante renal foi executada pelo professor

109 Ney Luis Pippi da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul durante dissertação de

110 mestrado. No entanto, apenas em 2003 o transplante renal em animais de estimação começou a

111 ser realizado. O método possibilita o retorno da função renal do paciente, com aumento da

112 qualidade e tempo de vida do animal.

113 TRANSPLANTES NA OFTALMOLOGIA

114 Na oftalmologia alguns transplantes também puderam ser realizados, obtendo resultados

115 satisfatórios como é o caso do artigo publicado em 2011, por alunos da Faculdade de Medicina

116 Veterinária e Zootecnia- UNESP Botucatu- SP que aborda o transplante de glândulas salivares

117 menores no tratamento da ceratoconjuntivite seca em cães.

118 A ceratoconjutivite seca (CCS) é uma oftalmopatia grave e progressiva que pode se

119 tornar crônica e comprometer a visão (ANGÉLICO et al., 2011) além de ser bem comum na

120 oftalmologia veterinária, ela acomete principalmente cães e algumas raças possuem uma

121 predisposição para essa afecção como Shihtzu, Lhasa Apso, Pequinês, Buldog Inglês, Yorkshire
5
122 Terrier, Pug, Cocker Spaniel Americano, West Highland White Terrier e Schnauzer miniatura.

123 Uma das características principais é diminuição da porção aquosa da lágrima resultando em

124 ressecamento e inflamação da córnea e da conjuntiva, desconforto ocular, diminuição da

125 acuidade visual (DEFANTE JUNIOR, 2006) além do comprometimento no deslizamento das

126 pálpebras, tornando deficiente ou nula a função protetora da lágrima, afetando assim a córnea

127 e a conjuntiva, propiciando infecções secundárias que evoluem com a destruição tecidual

128 (NEVES, 2011).

129 Não se conhece ainda a sua etiologia, mas acredita-se que é multifatorial. O diagnóstico

130 pode ser obtido através da observação dos sinais clínicos e pelo resultado de exames específicos

131 como: tempo de quebra do filme lacrimal, corantes da superfície ocular (fluoresceína, rosa

132 bengala, lissamina verde) e teste lacrimal de Schirmer (ANGÉLICO et al., 2011). O tratamento

133 pode ser com o uso de medicamentos tópicos, transplantes das glândulas salivares menores,

134 tarsorrafia parcial, oclusão do ponto lacrimal e transposição do ducto parotídeo.

135 O objetivo do artigo foi relatar o efeito do transplante de glândulas salivares menores

136 (TGSM) nos pacientes com CCS, e avaliar se a secreção dessas glândulas poderia ser usada

137 como alternativa de lubrificação ocular. O resultado foi satisfatório e os pacientes apresentaram

138 uma melhora no quadro clínico oftalmológico.

139 As glândulas salivares menores possuem uma secreção seromucosa bem parecida com

140 a lágrima, por isso o uso do transplante seria interessante segundo os autores porque essa

141 secreção iria substituir a lágrima. Não há relatos desse tipo de transplante na literatura Médico

142 Veterinária, apenas em medicina humana.

143 O transplante foi realizado em 16 cães da raça Cocker Spaniel, portadores da CCS e que

144 não respondiam ao tratamento clínico e estavam em intenso sofrimento ocular, eles passaram

145 por avaliação no serviço de oftalmologia veterinária do Hospital Veterinário Escola e os

6
146 animais foram submetidos a alguns exames oftalmológico específicos. As glândulas salivares

147 menores foram retiradas da mucosa oral, localizada na região mandibular próximo à comissura

148 bucal dos próprios animais, que segundo (ANGÉLICO et al, 2011) após o mapeamento

149 histológico, constatou-se maior número glandular na região do lábio lateral inferior próximo à

150 comissura bucal, indicando o local ideal para a coleta, além de ter fácil acesso. O transplante

151 de glândula foi realizado bilateralmente em todos os cães e a área receptora foi o fórnice

152 superior do olho. Os animais foram acompanhados semanalmente, por meio de anamnese e

153 exame clínico oftalmológico, desde o momento da cirurgia até o último retorno, aos 60 dias

154 pós-cirúrgicos (ANGÉLICO et al, 2011) e percebeu que houve uma significativa melhora dos

155 sinais clínicos oftalmológicos dos pacientes transplantados com CCS, observando um alívio

156 dos sintomas na segunda semana do pós operatório, traduzido pela recuperação do brilho da

157 superfície ocular acompanhado de grande diminuição do quadro irritativo (ANGÉLICO et al,

158 2011). Observou algumas complicações como a presença de ceratite ulcerativa em três olhos

159 na avaliação de sete dias, que provavelmente aconteceu em razão do contato do fio com a

160 superfície córnea e foi resolvido no período médio de sete dias. Na área doadora no lábio,

161 verificou-se aparência semelhante à de um leve trauma cirúrgico no período inicial da avaliação,

162 sem dor ou incômodos, com rápida cicatrização (ANGÉLICO et al, 2011). Concluindo então

163 que a aplicação do TGSM seria uma alternativa de tratamento viável, fácil e de rápida execução

164 para os pacientes portadores de CCS.

165 TRANSPLANTES DE MEDULA ÓSSEA

166 A cinomose é uma doença infectocontagiosa, causada por um Morbilivirus da Família

167 Paramyxoviridae, semelhante ao vírus do sarampo e da peste bovina (SHERDING,2008). A

168 doença pode ser de forma aguda, subaguda ou crônica, com manifestações neurológicas,

169 cutâneas, gastroentéricas, oftálmicas e respiratórias (SWANGO LJ, 1957). Na maioria das

170 vezes o vírus da cinomose canina atinge o encéfalo, causando lesões degenerativas e/ou
7
171 inflamatórias ao Sistema Nervoso Central, e o animal vai apresentar sintomas como: paraplegia,

172 hiperestesia, tremores, deambulação em círculos, convulsões parciais e generalizadas e

173 mioclonias com prognóstico reservado para os casos agudos com sinais neurológicos. Segundo

174 SHERDING RG (2008), não existe tratamento para as sequelas neurológicas e alguns animais

175 podem ser eutanasiados.

176 O objetivo do transplante alógeno de células mononucleares da medula óssea de cães é

177 desenvolver uma alternativa de tratamento aos cães com o vírus da cinomose canina que

178 apresentam sinais clínicos com distúrbio neurológico, na hipótese da recuperação neurológica

179 destes animais. Foram selecionados 11 cães com o vírus da cinomose canina e 5 cães saudáveis

180 doadores de medula óssea. Foram obtidas células mononucleadas da medula óssea extraída por

181 punção do escudo ilíaco dos cães doadores, após anestesia. Depois de um processo de

182 purificação essas células mononucleadas foram injetadas, por via intravenosa nos cães

183 selecionados para o tratamento (BRITO HFV, et al 2010).

184 Dos 7 animais que possuíam a cinomose aguda ou recente, 5 apresentaram melhora

185 completa dos sinais clínicos e 2 não, que alguns dias após o transplante foram eutanasiados.

186 Dos animais com sinais crônicos, 3 apresentaram uma melhora visível dos sinais clínicos 1

187 semana após o transplante, contudo 2 deles após curto período de estabilidade, apresentaram

188 novamente os mesmos sinais clínicos vistos antes do transplante e 1 animal que apresentava

189 ablepsia teve melhora dos outros sinais, mas não recuperou a visão. Concluindo então que o

190 transplante alogênico de células mononucleares da medula óssea é uma alternativa eficiente,

191 promissora e segura no tratamento das sequelas neurológicas de cinomose em cães.

192 TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE CÉLULAS MONONUCLEARES DA MEDULA ÓSSEA

193 EM ÚLCERA DE CÓRNEA EXPERIMENTAL EM CÃES

8
194 A oftalmopatia mais comum em cães é a úlcera de córnea. Úlceras profundas podem

195 levar a déficits visuais ou até mesmo perda ocular por endoftalmite, glaucoma ou Pthisis bulbi

196 (GELATT, 1991; TOGNOLI et al. 2008). As etiologias para a deficiência das células tronco

197 límbicas (responsáveis pela transparência e a funcionalidade corneana (SANGWAN, 2001;

198 TOGNOLI et al. 2008)) geralmente são as queimaduras por base (NISHIWAKI-DANTAS et

199 al., 2001; TOGNOLI et al. 2008), cicatriz ocular penfigóide, pterígio extenso recorrente (TI et

200 al., 2002; TOGNOLI et al. 2008) neoplasias de superfície ocular, condições imunológicas e

201 lesões por radiação (SANGWAN, 2001; TOGNOLI et al. 2008). As úlceras profundas são

202 agressivas e perigosas para a visão requerendo uma terapia mais invasiva (GONÇALVES,

203 2000; TOGNOLI et al. 2008). Os tratamentos sugeridos apresentam complicações pós-

204 operatórias. A pesquisa com células tronco abre perspectivas para terapias regenerativas que

205 podem alterar o tratamento das doenças (NEIVA, 2005; TOGNOLI et al. 2008) melhorando o

206 pós-operatório e a corrigindo falhas. A fonte mais acessível para a terapia com CT são as células

207 mononucleadas obtidas da medula óssea.

208 Apesar da realização de pesquisas com essas células, ainda faltam estudos sobre

209 métodos de purificação e expansão em cultura (ZAGO & COVAS, 2004; TOGNOLI et al.

210 2008). O impasse da identificação após o implante começou a ser resolvido com o avanço da

211 nanotecnologia, permitindo a marcação celular através de nanocristais (NC) (DUBERTRET et

212 al., 2002; TOGNOLI et al. 2008).

213 Os valores de 0,63 a 1,24.108 células permitem o estudo do autotransplante em cães

214 pois esse número celular supera a quantidade mínima de 2x106 células preconizadas para a

215 pega (GENGOZIAN, 2000; TOGNOLI et al. 2008). Conjuntamente, a utilização da via

216 intralesional aumenta a proliferação celular na lesão e evita a quimiotaxia das células

217 transplantadas (VAQUERO et al., 2006; TOGNOLI et al. 2008).

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218 Foram utilizados 16 cães machos ou fêmeas, submetidos à úlcera experimental de

219 córnea com papel filtro embebido em hidróxido de sódio (NaOH). Após as lesões, os animais

220 foram submetidos a transplante subconjuntival de CM da MO, previamente marcadas com

221 nanocristais. Para a avaliação das células marcadas com nanocristais foi utilizada a técnica de

222 imunofluorescencia e para a avaliação da lesão pós-operatório foi utilizada a técnica

223 histopatológica que revelou que as CM colaboram como mediadores da inflamação ocular por

224 diminuição deste processo nos animais tratados, porém, influencia negativamente a regeneração

225 do epitélio corneano. Quando as CM foram administradas pela via subconjuntival em cães, elas

226 não sofrem processo de quimiotaxia para o olho lesado contra-lateral e não auxiliam no

227 processo de cicatrização corneana da úlcera.

228 REPARAÇÃO TRAQUEAL EM CÃES: TRANSPLANTE AUTÓGENO VS IMPLANTE

229 HOMÓGENO CONSERVADO EM GLICERINA A 98% DE CARTILAGEM DA PINA

230 A traqueoplastia causa efeitos cicatriciais indesejáveis como a proliferação de tecido

231 conjuntivo de granulação no sítio da anastomose (SMITH et al., 1990; NAKANISHI et al.,

232 1998; TOJO et al., 1998; CONTESINI, E. A. et al, 2001) e a constrição/estenose (SABÁS et

233 al., 1977; PETROIANU & BARBOSA, 1993; MUKAIDA et al., 1998; CONTESINI, E. A. et

234 al, 2001). Por esse motivo, a reparação de defeitos ou lesões traqueais e o desenvolvimento de

235 novas técnicas para a diminuição desses efeitos tem sido de interesse de cirurgiões veterinários.

236 Para ECKERSBERGER et al. (1987), para o sucesso do procedimento com longa

237 durabilidade de um substitutivo de segmento traqueal é necessária estabilidade mecânica,

238 completa capacidade de repitelização e ausência de tecido de granulação. Já para

239 COSTANTINO et al. (1992), o substitutivo precisa ser vascularizado ou permitir a

240 neovascularização e ser estruturalmente rígido para que durante a ventilação ele consiga manter

241 o lume traqueal aberto.

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242 Para a experimentação, foram utilizados doze cães, adultos, divididos em grupo I e II os

243 quais foram submetidos a enxerto autógeno de cartilagem da pina e implante hemógeno

244 conservado em glicerina a 98%, respectivamente. A análise da região transplantada do grupo I

245 demonstrou invasão por tecido de granulação e a lâmina própria com moderado infiltrado

246 netrofílico e fibrose com focos de hiperplasia epitelial. Nos animais do grupo II, apareceu

247 discreta invasão de macrófagos e vasos neoformados, com inflamação moderada na lâmina

248 própria, e epitélio sem alteração. Dessa forma, conclui-se que o implante de cartilagem da pina

249 conservada em glicerina a 98%, induz resposta menos agressiva pelo leito receptor compatível

250 com a análise microscópica.

251 TRANSPLANTE RENAL

252 A insuficiência renal crônica é a doença renal mais comumente observada em cães e

253 gatos. É difícil determinar a causa da doença, que pode ser congênita, adquirida ou decorrer de

254 um processo normal de envelhecimento orgânico. O diagnóstico é baseado em exames

255 clínicos, exames físicos e complementares. O tratamento tradicional da Insuficiência renal

256 crônica é conservativo e tem como objetivo minimizar as lesões renais, combater as

257 consequências da uremia e retardar a progressão da doença. Em muitos casos esse tratamento

258 não é suficiente, sendo necessário optar por outras terapias, como hemodiálise e transplante

259 renal.

260 A insuficiência renal crônica (IRC), é uma síndrome clínica caracterizada pela

261 incapacidade dos rins de realizar a função excretora e reguladora devido a uma perda de néfrons

262 num período que pode variar de meses a anos. Esse declínio da função renal causa retenção da

263 uréia, creatinina, fósforo e outras substâncias que, em condições normais, são eliminadas por

264 meio da filtração glomerular (FORRESTER, 2003). Esta é a doença mais comum que acomete

265 cães e gatos e é caracterizada por lesões estruturais irreversíveis e progressivas (FORRESTER,

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266 2003; POLZIN et AL., 2004; WERE, 2006). Segundo Were (2006), esta enfermidade é

267 considerada a principal causa da morte em cães e gatos.

268 Os sinais clínicos dependem da severidade da doença e da causa subjacente. Os sintomas

269 do IRC incluem um histórico de perda de peso, caquexia, poliúria, polidipsia, anemia não-

270 regenerativa, hiperparatireoidismo secundário (FORRESTER, 2003; POLZIN et al., 2004;

271 WERE, 2006). A sintomatologia clínica associada a uremia inclui anorexia, vômito, diarreia,

272 hemorragia gastrointestinal, estomatites ulcerativas, letargia, tremores musculares, convulsões,

273 coma (POLZIN et tal., 2004; WERE, 2006). Em gatos é comum ocorrer constipação.

274 Com o avanço da Medicina Veterinária, o transplante renal em cães e gatos tornou-

275 se a melhor opção terapêutica para tratar a IRC (SALOMÃO et tal., 2000), pois garante aos

276 pacientes, qualidade de vida e tempo de sobrevida de 1 a 3 anos (QUÉRIOS & SPREA, 2003).

277 O uso e o sucesso desta técnica em humanos têm estimulado os proprietários de animais de

278 companhia a considerarem essa opção no tratamento de seus animais (MATHEWS et tal.,

279 2000). Porém, o fato desta terapêutica não estar disponível em todos os estados brasileiros e o

280 custo é relativamente alto do procedimento são considerados fatores limitantes no emprego da

281 técnica. Apenas no Estado de Minas Gerais e na cidade de Santa Maria no RS, esta técnica foi

282 colocada em prática.

283 A escolha do doador é de fundamental importância para o sucesso da operação. O

284 ideal é a existência de algum grau de parentesco entre doador e receptor para minimizar os

285 riscos de rejeição. É importante a realização do exame de prova cruzada (crossmatch) de

286 linfócitos totais para selecionar o doador com melhor perfil de histocompatibilidade. Este teste

287 determina se o receptor tem anticorpos pré-formados contra as células do doador. Se o resultado

288 for positivo, contraindica-se o transplante, pois há sérios riscos de ocorrer rejeição (SAVASSI-

289 ROCHA et tal., 2003).

12
290 O transplante renal é indicado para pacientes portadores de IRC, decorrente de

291 nefropatia bilateral não responsiva ao tratamento convencional. Dentre as doenças que

292 justificam a realização deste procedimento, estão a glomerunefrite ou pielonefrite crônica,

293 fibrose renal, doença renal policística e displasia renal (NÈMETH et tal ., 1997). O animal não

294 deve estar em fase terminal da doença nem apresentar outra enfermidade grave concomitante

295 (SASSAVI, 2008). Antes da realização do transplante, pacientes muito debilitados devem

296 realizar sessões de hemodiálise para estabilizar o quadro clínico (POLZIN et tal., 2004). As

297 situações que contraindicam as cirurgias de transplantes renal são: neoplasias malignas,

298 pacientes de doenças pulmonares crônicas avançadas, portadores de doenças cardíacas crônicas

299 graves, portadores de insuficiência hepática (POLZIN et tal., 2004; NORONHA et tal., 2006;

300 SAVASSI, 2008), portadores de Leishmaniose, FIV OU FELV e animais com inflamação

301 aguda e com idade acima de 10 anos (POLZIN et tal., 2004; SAVASSI, 2008).

302 No dia em que antecede o procedimento cirúrgico, o paciente receptor deve receber a

303 administração intravenosa de fluidoterapia e, em alguns casos, se faz necessário a realização de

304 transfusão sanguínea para manter o hematócrito entre 25-30% em cães e 15-20% em gatos

305 (PEREIRE & RAMALHO, 2000). O protocolo imunossupressor com ciclosporina (10mg/kg

306 VO ou IV, BID) e prednisolona (1,5mg/kg, VO, BID) (POLZIN et tal., 2004), deve ser iniciado

307 no paciente receptor, alguns dias antes da cirurgia (SAVASSI-ROCHA et tal., 2003).

308 Após o término do procedimento, o paciente deve receber fluidoterapia,

309 antibioticoterapia e fármacos imunossupressores por tempo indeterminado. Geralmente, nos

310 três primeiros dias após o transplante, já se observa um aumento gradativo na densidade urinário

311 e redução na concentração sérica de creatinina (GREGORY & GOURLEY, 1992).

312 A maioria dos rins transplantados retorna às suas funções 72 horas após a cirurgia,

313 porém, os níveis de creatinina sérica e a densidade urinária somente atingem seus índices

13
314 normais, em aproximadamente 15 dias após o transplante. O paciente deve permanecer

315 internado por até 15 dias após a realização da cirurgia, para receber monitoração constante.

316 Após receber alta, o animal continua sob acompanhamento, devendo realizar exames

317 semanalmente, até a completa recuperação (SAVASSI, 2008).

318 O maior problema encontrado após a cirurgia de transplante renal é a rejeição do

319 órgão. Para minimizar isso, é importante o uso de medicação imunossupressora para diminuir

320 a eficiência do sistema imunológico do animal em reagir contra o órgão transplantado

321 (SAVASSI-ROCHA et tal., 2003: POLZIN et tal., 2004). Pode-se utilizar como protocolo de

322 imunossupressão, a associação entre ciclosporina (5-10mg/kg, VO, SID) e prednisolona

323 (2,0mg/kg, VO, BID). Em cães, pode se incluir no protocolo azatioprina (0,5-1,0mg/kg, VO,

324 SID) (POLZIN et tal., 2004).

325 A hemodiálise e o transplante renal em pacientes com IRC está sendo muito

326 satisfatório pela recuperação dos animais e uma sobrevida excelente, mas o custo, a falta de

327 profissionais e as limitações terapêuticas impedem o avanço desta técnica. Dentro do atual

328 contexto, pode-se afirmar que estudos mais detalhados sobre a aplicabilidade destas técnicas

329 em animais precisam ser realizados. Os resultados obtidos certamente serão utilizados para

330 assegurar a saúde animal.

331 TRANSPLANTE OVARIANO

332 O ovário inteiro ou parte dele pode ser transplantado de uma doadora para uma

333 receptora, que pode ser o próprio indivíduo ou outro ser, para diferentes locais no corpo,

334 próximo (ortotópico) ou distante (heterotópico) da sua posição anatômica normal (MACEDO

335 et al., 2011). O transplante ovariano, seja de ovários inteiros ou fragmentos, vem a ser uma

336 opção para um sistema de cultivo in vivo onde será possível o desenvolvimento de folículos

337 pré-antrais e posteriormente fecundação (SALLE et al., 2002). Segundo PETROIANU et al.,

14
338 (2004), o transplante ovariano tem como finalidades além do cultivo, a manutenção da função

339 endócrina e restauração da capacidade reprodutiva, além de restabelecer a fertilidade em fêmeas

340 com infertilidade adquirida (CAMPPBELL et al., 2000). Tais finalidades se encaixam em

341 diversos panoramas desde a manutenção da fertilidade em pacientes com câncer (DONNEZ et

342 al., 2004) até a conservação de animais ameaçados de extinção (DEMIRCI et al., 2003).

343 Os primeiros relatos acerca de transplantes ovarianos foram em 1895 e 1896 por Morris

344 e Knauer, respectivamente, cuja finalidade estava relacionada ao rejuvenescimento mantendo

345 os níveis hormonais após o climatério, porém apenas no século XX é que o interesse sobre o

346 assunto cresceu devido aos conceitos emergentes de endocrinologia e imunologia,

347 aperfeiçoando o estudo através de transplantes experimentais (PETROIANU et al., 2004). No

348 que diz respeito ao receptor de transplantes ovarianos (AUBARD 2003) sugere 3 caminhos

349 possíveis: o autotransplante (doador é também o receptor), o alotransplante (receptor de mesma

350 espécie que doador) e o xenotransplante (doador e receptor de especies diferentes) e ainda

351 segundo KROHN (1977) o isotransplante (doador e receptor geneticamente idênticos). O

352 autotransplante tem as melhores respostas no que diz respeito à restauração rápida e espontânea

353 da fertilidade em fêmeas ovariectomizadas, sem riscos de rejeição do transplante e

354 consequentemente sem necessidade de terapia imunossupressora. Outra vantagem do

355 autotransplante é estar livre de questões éticas como transmissão de agentes infecciosos e risco

356 de alteração do genoma do receptor como pode ocorrer no xenotransplante (MACEDO et al.,

357 2011).

358 O sucesso do transplante será dependente do local de implantação do ovário íntegro ou

359 fragmento deste uma vez que este local deve haver suprimento vascular necessário para o

360 período de isquemia-reperfusão do tecido, como citado por DISSEN et al. (1995) e ISRAELY

361 et al. (2003). Estudos experimentais realizados a respeito da técnica e locais que permitam

362 melhor desenvolvimento do tecido, demonstraram que o transplante de ovários íntegros para
15
363 bolsa omental de ratas não obteve sucesso, levando a a morte tecidual, propondo uma melhor

364 revascularização para transplante de fragmentos ovarianos (BRITO et al., 2005). Em

365 contrapartida, muitos estudos obtiveram sucesso, podendo citar transplantes de tecido ovariano

366 heterotópico para antebraço (WOLNER-HANSSEN et al., 2005) e parede abdominal em

367 humanos (SCHMIDT et al., 2005), cápsula renal (LEE et al., 2005), tecido subcutâneo e

368 muscular de camundongos (ISRAELY et al., 2003), omento maior de coelhas (ALBERTI et al.,

369 2002), retroperitônio de ratas (D’ACAMPORA et al., 2004), região inguinal de ratas

370 (CESCHIN et al., 2004) e ortotopicamente sem anastomose vascular para coelhas

371 (PETROIANU et al., 2004). Podem-se citar ainda xenotransplantes ovarianos heterotópicos

372 como descrito por CANDY et al. (1995) de macacas para a cápsula renal de camundongos

373 imunodeficientes ovariectomizados e de wombats para a cápusla renal de ratos

374 imunodeficientes, descrito por WOLVEKAMP et al. (2001).

375 Segundo CORNIER et al. (1985), a ciclosporina (CyA) é usada no pós-operatório de

376 pacientes transplantados. O peptídeo, derivado de fungos, possui ação imunossupressora,

377 evitando assim rejeição do tecido transplantado por resposta imune e diminuição da produção

378 de linfócitos T dependentes de anticorpos. Porém, foram descritos casos de disfunções

379 endócrinas, como alterações na função gonadal causadas pela administração de CyA em ratos

380 e humanos (SEETHALAKSHMI et al., 1990 e RÁMIREZ et al., 1991).

381 Um estudo feito por PETROIANU et al. (2004) com coelhas das raças Nova Zelândia e

382 Califórnia, mostrou que a maioria das coelhas transplantadas obtiveram sucesso na aceitação

383 do tecido ovariano fatiado ou íntegro transplantado sem anastomose vascular. O grupo

384 transplantado voltou a ter atividade endócrina ovariana, ocorreu desenvolvimento dos folículos

385 e após três meses do transplante, colocadas em contato diariamente com machos férteis, 50%

386 das coelhas concluiu gestação em quatro a oito meses após o procedimento com o número de

387 filhotes variando de um a três. Das vinte e quatro coelhas que receberam o transplante, apenas
16
388 cinco tiveram resultados insatisfatórios como aderências, hemorragias, calcificação e

389 inflamações. Os animais receberam cefadroxila como antibioticoprofilaxia e fez-se uso de

390 ciclosporina na dose de 10mg/kg durante nove meses afim de evitar rejeição ao tecido. De

391 acordo com os resultados, além da viabilidade dos ovários transplantados, preservando suas

392 funções pode-se constatar a ação preventiva da ciclosporina, em 10mg/kg/dia neste estudo, no

393 que diz respeito a rejeição ao ovário transplantado uma vez que, em estudo piloto, a privação

394 do fármaco levou à rejeição do tecido transplantado com degeneração e fibrose além de atrofia

395 uterina e tubária. Não foi observado efeito inibitório do fármaco na ovulação como descrito por

396 outros autores (Gallagher et al., 1995).

397 CONSIDERAÇÕES FINAIS

398 No presente trabalho foram abordados desde a contextualização do transplante de órgãos

399 perpassando pela sua introdução na medicina veterinária ainda que restrita a experimentação

400 com animais para execução na medicina humana até relatos de casos de transplantes em

401 diversas áreas da veterinária atualmente. Pode-se constatar a necessidade da continuidade de

402 estudos no que diz respeito às técnicas, aplicações e condutas terapêuticas contra rejeição, uma

403 vez que este vem sendo o maior desafio para o sucesso dos transplantes alógenos e xenógenos.

404 Este último vem despertando interesse na comunidade científica por poder beneficiar a saúde

405 humana já sendo possível encontrar pesquisas e matérias sobre o assunto.

17
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