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koinonia@koinonia.org.br
G899c
Gualberto, Ana; Chagas, Camila.
Caminhos abertos para superar o ódio e a intolerância na Bahia. Ana
Gualberto, Camila Chagas. – Salvador [Bahia]: KOINONIA Presença
Ecumênica e Serviço; Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2019.
50 p.
ISBN 978-85-99416-13-6.
1. Intolerância religiosa. 2. Liberdade religiosa. 3. Religião Matriz Africana.
4. Discurso de ódio. I. Gualberto, Ana. II. Chagas, Camila. III. Título.
CDD 261.7
INTOLERÂNCIA
RELIGIOSA COMO
CRIME Pg. 16
INSTITUIÇÕES
DO PODER
PÚBLICO Pg.20
ORGANIZAÇÕES
E INICIATIVAS DA
SOCIEDADE CIVIL Pg. 32
AÇÕES DAS
COMUNIDADES
DE TERREIRO
EM SEUS ESPAÇOS Pg. 40
CONCLUSÃO Pg. 48
APRESENTANDO
O CADERNO
RELIGIÃO E POLÍTICA
A história da luta das negras e negros das mais variadas, é o que nos conta
no Brasil pela sua liberdade e igualdade Ana Gualberto e Camila Chagas, au-
começa quando os primeiros aqui che- toras da publicação digital “Caminhos
garam vindos escravizados nos tum- abertos para superar o ódio e a into-
beiros, como eram chamados os navios lerância na Bahia”, que @ leitor@ tem
que trouxeram cerca de três milhões em suas telas. Protagonista de sua his-
de pessoas para as terras brasileiras. tória, o povo de santo, vem resistindo
O legado histórico de tantos homens e às tentativas de demonização, ao des-
mulheres amalgamou o Brasil de hoje. respeito, violências simbólicas, físicas
Mas o processo de escravização deixou e psicológicas. Para falar sobre esse
sua raiz perversa na formação da so- tema a Fundação Heinrich Böll e KOI-
ciedade brasileira. Entendê-lo e superá NONIA Presença Ecumênica e Serviço
-lo é tarefa com a qual nos debatemos lançam o Caderno Religião e Política,
todos os dias. Em muitas arenas houve que nesta edição mapeia iniciativas da
avanços, conseguidos a partir da re- sociedade civil e do Estado contra a in-
sistência, das alianças, da rebelião, do tolerância e o racismo religioso.
convencimento, da justiça, da política, Agradecemos as autoras Ana Gual-
da reza, do canto, da dança. berto e Camila Chagas e a toda equipe
As religiões afro-brasileiras foram e são de KOINONIA. Às autoras agradecemos
o sustentáculo dessa herança visível em especial pela dedicação e cuida-
nos rostos de um pouco mais de 50% da do em nos trazer informações sobre os
população. Atacados por grupos reli- caminhos pelos quais Estado e socie-
giosos cristãos fundamentalistas, mães dade civil têm atuado para que seja
e pais de santo, filhos e filhas das comu- cada vez mais realidade o respeito a
nidades de terreiro, hoje se articulam todas as crenças e religiões, a todas as
em um sem número de organizações, vozes que buscam reforçar a em cons-
comunidades e movimentos que lutam tante disputa e construção, democra-
por respeito e garantia de seus direitos. cia brasileira.
O racismo, em sua versão religiosa, fez
aumentar o número de casos de vio-
lência contra terreiros, centros e roças
de candomblé e umbanda ao longo do Marilene de Paula
território brasileiro. A resposta também Coordenadora de Programa
está sendo dada, a partir de iniciativas da Fundação Heinrich Böll
A Organização das Nações Unidas edi- A partir deste excerto, verifica-se a am-
tou a Declaração Sobre a Eliminação plitude da liberdade religiosa, ponde-
de Todas as Formas de Intolerância e rando-se quando houver interseções a
Discriminação Fundadas na Religião salvaguarda dos direitos e liberdades
ou nas suas Convicções, proclamada fundamentais dos demais.
pela Assembleia Geral, em 25 de no- Regulando o quanto disposto no artigo
vembro de 1991, através da Resolução
retromencionado, ainda no mesmo do-
36/55, da qual destaca-se os artigos 1º
cumento, em seu artigo 6º, explana-se
e 6º in verbis:
de modo especial as liberdades, mere-
cendo destaque o item a, por tratar da
liberdade de culto, celebração de reu-
niões, criação e manutenção dos luga-
6. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positi-
vo, 27ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 249. res para esses fins:
Instrumentos de Proteção
1° Diálogo 10.11.2017 Terreiro Tumba Junsara
e Salvaguarda
Regularização de Associações
3° Diálogo 15.12.2017 Terreiro Pilão de Prata
e Imunidade Tributária
Ameaça 13 15 11 6 17 6 11
Calúnia 0 1 0 1 2 1 1
Constrangimento Ilegal 4 0 0 0 0 0 1
Difamação 2 5 4 9 4 4 0
Estupro de Vulnerável 2 0 0 0 0 1 0
Homicídio Doloso 0 0 0 0 0 1 0
Injúria 6 6 1 3 4 5 6
Tentativa de Homicídio 0 0 1 0 0 0 0
Vias de Fato 0 0 1 1 1 1 1
03 crianças/adolescentes;
1 LGBTQI+; 01 pessoa com deficiência, 2 Candomblé; 1 Matriz Africana;
2012 09
01 pessoa idosa e 3 não se 6 não informado
enquadram em nenhuma categoria
2 Candomblé; 1 Católico;
4 crianças/adolescentes; 2 Evangélico; 1 Católica Apostólica
2013 01 pessoa idosa; 12 não se Brasileira; 2 de Matriz Africana, 17
enquadram em nenhuma categoria 1 Rastafari, 1 Testemunha de Jeová,
7 não informado
1 Candomblé, 1 Católica
2014 01 LGBTQI+ e 03 outros 04
e 2 não informado
4 Candomblé, 1 Católico,
01 criança/adolescente; 3 Espírita/Católica/Evangélica, 1
2015 02 LGBTQI+, 02 pessoas com Islã; 2 Matriz Africana, 1 Muçulmana; 23
deficiências; 03 idosos; 15 outros 01 Testemunha de Jeová, 1
Umbanda; 9 não informado
05 criança/adolescente;
13 Candomblé; 5 Evangélico,
06 igualdade racial; 04 LGBTQI+,
3 Matriz Africana, 01 Rastafári,
2016 02 pessoas idosas, 01 pessoa com 37
3 Testemunha de Jeová,
deficiência, 01 pessoa com restrição
12 não informado
de liberdade; 18 outros
2013 8 2 4 14
2014 31 22 19 72
2015 44 29 19 92
2016 58 32 5 95
2017 45 21 - 66
2018 71 35 09 115
3% 7%
Acerca do perfil das demandas, a partir
18 %
de dados e ações registradas até no- 4% 4%
vembro de 2017, nota-se que a maioria
dos casos tem relação com o racismo
7%
institucional, relações de vizinhança, 5% 16 %
de consumo e de trabalho. Essas in- 4%
formações se alinham também com
6% 12 %
o Relatório do Ministério de Direitos
Humanos. Este, ao traçar o perfil dos
8%
7%
suspeitos, em linhas gerais, identificou
além dos “desconhecidos”, registros de
pessoas que possuem relação de pa-
rentesco, vínculos afetivos e profissio-
nal com a vítima.
Dialogando com os dados apresenta-
dos pela Sepromi, no qual há percen-
tual considerável de registros com vizi-
nhos (16%), o relatório da Secretaria de
Direitos Humanos também evidencia o
local em que há mais registros de vio-
lação por mês: a casa da vítima. Dados extraídos do Ofício CPIR n° 106/2018
Em fase de diagnóstico
Revitalização das Fontes para identificação dos A Prefeitura tem conhecimento
e Mananciais nos Terreiros nomes e locais para de que há 23 (vinte e três) fontes
vistoria.
Equipamento público de
acolhimento e monitoramento
Observatório Permanente
de denúncias/casos de racismo
da Discriminação Racial
e intolerância religiosa ocorridos
em Salvador e nas redes sociais
Caminhada contra a
violência e a intolerância Engenho Velho da Federação Coletivo de comunidades
religiosa - Cardeal da Silva - Manuel de terreiros localizados no
Bonfim - Engenho Velho Engenho Velho da Federação
(2004-2018)
RESULTADO
DO PROJETO:
Até o final de 2009 foram
promovidas ações que
contemplaram diretamente
mais de duas mil pessoas, entre
elas mais de mil mulheres.
Indiretamente, essas atividades
alcançaram cerca de 17.500 pessoas.
Foram alcançadas mais de 78
comunidades de candomblé, com
as várias dinâmicas de intervenção,
comunicacionais e de capacitação.
TERREIROS PARCEIROS:
• Ilê Axé Opô Afonjá
• Ilê Axé kalé Bokun
• Ilê Alafumbi
• Ilê Axé Ewa Olodumare
• Ilê Axé Oya Bagan Baba Ala Efurun
• Unzó Sasaganzuá Kanjoânlojolo
Kangunga Kiasapalakanuá
• Unzó Mayala
• Kwe Vondun Zò
• Terreiro São Roque
• Ilê Axé Torrun Gunan
• Ilê Axé Iya Nasso Oká – Casa Branca
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