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Robótica assistiva para ensino de educação ambiental

de alunos com deficiência

Adriano Fiad Farias Patricia Alejandra Behar


Centro Interdisciplinar de Novas Tec. na Educação Centro Interdisciplinar de Novas Tec. na Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, RS Porto Alegre, RS
adriano.fiad@gmail.com pbehar@terra.com.br

Evandro Preuss Liliana Maria Passerino


Centro Interdisciplinar de Novas Tec. na Educação Centro Interdisciplinar de Novas Tec. na Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, RS Porto Alegre, RS
evandro.preuss@gmail.com

Renato Ventura Bayan Henriques


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, RS
renato.bayan@gmail.com

Abstract— A Robótica Educacional é uma tecnologia numa fase precoce da educação (VIRNES, 2008). Segundo
emergente no ambiente escolar por possuir um caráter Salazar (2014), o uso de plataformas robóticas são métodos
interdisciplinar. O seu uso em ambientes de inclusão, interessantes para articular com crianças com autismo.
proporciona um maior interesse do aluno com deficiência. Este
Portanto, no contexto educacional, a utilização da robótica
artigo apresenta o desenvolvimento de um robô sapo para
promover o envolvimento e a interação dos alunos com
pode ampliar significativamente a gama de atividades que
deficiência junto a educação ambiental. podem ser desenvolvidas e promover a integração entre
diferentes áreas do conhecimento.
Keywords-component; formatting; style; styling; insert (key O uso da Assistência em Robótica começou como uma
words) sub-área de robótica que visava, através da interação física,
ajudar pessoas com algum tipo de deficiência. A definição
I. INTRODUÇÃO) mais apropriada para um robô de cuidado, segundo Feil-
seifer e Matarić (2005) [1], é aquela que fornece ajuda ou
A Robótica Educacional é uma tecnologia emergente no
suporte a um usuário humano, incluindo robôs de
ambiente escolar e tem sido aplicada como ferramenta de
reabilitação, robôs sociais, robôs manipuladores e robôs de
ensino por possuir um caráter interdisciplinar e permitir a
mobilidade.
utilização de atividades concretas para explorar conceitos
Conforme Adams et. al. (2018) [2], robôs assistivos para
abstratos, através de uma metodologia interativa e divertida
manipulação aumentativa podem ser fundamentais para
(CONCHINHA, 2015). A robótica deixou de ser restrita aos
proporcionar às crianças com deficiência física
pátios da indústria e passou a exercer um novo papel no
oportunidades de brincar. Assim é necessária adotar uma
processo de ensino e aprendizagem, com paradigmas de
abordagem baseada em princípios e centrada no usuário para
hardware livre de baixo custo ou reutilização de peças (DE
inovações técnicas.
MELO, 2016).
Fornecer às crianças portadoras de deficiência
Estudos têm demonstrado que esta tecnologia pode
ferramentas para ajudar na manipulação e oportunidades de
desempenhar um papel importante tanto na capacitação
usá-las pode promover exploração e descoberta e promover o
quanto na construção da autoestima de alunos com
desenvolvimento. Os sistemas robóticos podem ser
necessidades especiais, uma vez que estes passam a poder
programados para executar uma ampla variedade de ações e
controlar dispositivos eletrônicos e eletromecânicos ao
são capazes de manipular objetos reais no ambiente [2].
mesmo tempo em que exploram o ambiente ao seu redor
A educação ambiental é um processo de formação
(CONCHINHA, 2015).
dinâmico, permanente e participativo que permite que as
A Robótica Educacional pode permitir ao educador
pessoas envolvidas sejam agentes transformadores,
identificar necessidades individuais do estudante e buscar
participando ativamente da busca de alternativas para a
formas de compensar as necessidades diagnosticadas, ainda
redução de impactos socioambientais e para o controle social fornecer meios para participar de atividades lúdicas e
do uso dos recursos naturais. acadêmicas que envolvam a exploração e a manipulação do
Com esse foco, de promover exploração e descoberta e ambiente.
promover o desenvolvimento, trabalhando em conjunto com Alguns autores em Cook et. al. (2010) [7] demonstram
o Projeto PITAIA [3], é utilizado como base para preparação que os robôs foram usados com sucesso para permitir que as
do ambiente de educação ambiental, para crianças com crianças participem de tarefas escolares que de outra forma
deficiência, o Parque Estadual de Itapeva, no município de seriam fechadas para eles. Um protótipo de dispositivo
Torres, RS. O artigo apresenta o desenvolvimento de um robótico interativo foi utilizado para uso por dois grupos de
protótipo robótico do sapinho-de-barriga-vermelha crianças, quatro da pré-escolares (2 a 4 anos) e cinco do
(Melanophryniscus dorsalis), que promoverá o envolvimento ensino fundamental (5 a 9 anos), todos com deficiências
e a interação dos usuários com o ambiente. físicas moderadas a graves, e cinco também com atrasos
cognitivos.
II. REFERÊNCIA DE ROBÓTICA ASSISTIVA
B. Educação ambiental com crianças com deficiências
A tecnologia assistiva constitui-se em um fator
fundamental para a inclusão de pessoas deficientes, seja no O potencial do uso de robôs para revelar e desenvolver
ambiente escolar ou no dia-a-dia, de modo a superar habilidades cognitivas, em crianças com deficiência, tem
situações de segregação e exclusão social. No Brasil [4], está sido apresentado por autores mundo afora [6, 7, 8].
A robótica assistiva é uma ferramenta capaz de trabalhar
área é definida como interdisciplinar, englobando estratégias,
a interdisciplinaridade e a transversalidade na promoção dos
metodologias, recursos, práticas, produtos e serviços para a temas ambientais. A aplicação do método como ferramenta
promoção da participação de pessoas com deficiências, pedagógica e de apoio permite que os estudantes
objetivando maior autonomia, independência, qualidade de desenvolvam as suas capacidades quanto à elaboração de
vida e inclusão social. hipóteses e trabalho em equipe [9].
Neste processo, os aspectos comuns entre objetos ou
fenômenos são identificados e generalizados para poderem III. PROJETO ROBÓTICO DO SAPINHO-DA-BARRIGA-
ser mentalmente representados e participar da construção de VERMELHA
conceitos. Assim, através da linguagem a capacidade de O protótipo desenvolvido é baseado no sapinho-de-
abstração encontra-se com a conceituação pela elaboração de barriga-vermelha (Melanophryniscus dorsalis), que tem seu
atividades mentais complexas. Para as crianças com habitat em restingas da planície costeira do extremo sul do
deficiências, outras informações oriundas do tato, da visão Brasil, incluindo o Parque Estadual de Itapeva, na cidade de
ou da audição, auxiliam para representação mentalmente Torres, RS, Brasil. A espécie atualmente está ameaçada de
imagens de objetos ou signos, conteúdos simbólicos extinção. Os exemplares adultos dessa espécie são bem
substituem objetos ou fenômenos, possibilitando a pequenos, possuindo apenas de 2 a 2,5 centímetros de
elaboração de uma visão mental do mundo empírico. comprimento (Fig. 1).
É importante ressaltar que não podemos considerar o Baseado nesse contexto utilizou-se o sapinho-de-barriga-
processo de aprendizagem restrito unicamente à produção de vermelha como um agente de interação, o qual apresenta o
linguagem oral ou escrita, uma vez que a interação também Parque Estadual de Itapeva aos alunos, interagindo com eles.
implica na construção de significados e na formação de Como um elemento para auxiliar na educação ambiental de
conceitos científicos. Para a teoria sócio-histórica o aprender alunos com deficiências, o protótipo foi desenvolvido
é uma ação que se estabelece a partir de um processo social utilizando técnicas de colagem e pontos para simular as
rugosidades do sapinho original, tornando a interação uma
e, sendo o conceito um ato real e complexo de pensamento
ação tátil também.
que não pode ser aprendido por meio de simples
memorização ou associação [5].
Para Vygtosky (2001) [5], a formação de conceitos é um
processo produtivo e não reprodutivo (de imitação). “...o
conceito surge e se configura no processo de uma operação
complexa voltada para a solução de um problema, e que só a
presença de condições externas e o estabelecimento
mecânico de uma ligação entre a palavra e o objeto não são
suficiente para a criação de um conceito”.
A. Usando robôs para auxiliar as funcionalidades de
crianças com deficiências Figure 1. Exemplar de Melanophryniscus dorsalis.
Fonte: Natália D. Vargas
O trabalho pioneiro de Seymour Papert apud Cook et. al.
(2005) [6] mostraram que os robôs podem aumentar a O protótipo (Fig. 2a, 2b), nesta primeira fase interage
motivação e fornecer uma gama de teste para “aprender com o aluno através de sons, explicando e brincando,
fazendo”. Já para crianças com deficiências, os robôs podem promovendo exploração e descoberta do parque, promover o
desenvolvimento do aluno com deficiências. O protótipo do continua andando na trilha até encontrar a próxima tag
robô é coberto com uma carcaça com uma textura e RFID.
aparência semelhante à do sapo. O uso do robô no ambiente educacional envolve um
mapa impresso com uma representação do parque (Fig. 3).
O robô percorre uma trilha impressa nesse mapa e apresenta
o parque, reproduzindo os áudios gravados com as
informações, de acordo com sua localização na trilha,
identificadas por tags RFID. O mapa é formado por várias
trilhas interconectadas e com várias tags RFID.
O aluno pode tocar no robô, sentindo sua textura e
interagir com o mesmo, escolhendo o caminho que o robô
vai percorrer, ouvindo as informações e conhecendo o
(a) (b)
parque. O robô com a forma de sapo atua como um guia do
Figure 2. Protótipo do sapinho-de-barriga-vermelha (a, b)
Fonte: autores
parque e serve como um mediador para ensinar os conceitos
de ciências, como a questão ecológica com o parque e o
sapo servindo de cenário.
IV. CONSIDERAÇÕES E TRABALHOS FUTUROS
O uso de robótica educacional pode ser usado num
contexto educacional inclusivo, oferecendo uma ferramenta
interativa e atrativa para todos os alunos, mas com um
potencial ainda maior para autistas ou crianças com
deficiências na comunicação.
A robótica serve como uma ferramenta de ensino capaz
de potencializar os processos de ensino e aprendizagem
quando é usada para proporcionar a formação de conceitos
Figure 3. Pista de simulação do Parque Estadual de Itapeva. científicos e não apenas para o ensino e uso da própria
Fonte: autores tecnologia e seu uso em competições de robótica.
Este trabalho apresentou o desenvolvimento de um robô
Para o desenvolvimento do protótipo robótico (Fig. 2), educacional que atua sobre um mapa de um parque seguindo
foram utilizados para primeira fase, alguns sensores
as trilhas e apresentando as informações e conceitos
atuadores controlados por arduino uno r3. Os sensores são
científicos relacionados ao parque, para ser usado em aulas
rfid MFRC522, com tags cartão S50, servo motor SM-
S4306R, auto falante de 1W 8Ω, módulo de áudio de ciências num contexto inclusivo.
WTV020-SD com cartão SD 1Gb, sensor infravermelho qti, Como trabalhos futuros, pretende-se estender a interação
módulo amplificador som estéreo 3w PAM8403 e alguns do robô, para que possa interagir com crianças de múltiplas
leds. deficiências, onde além dos estímulos já trabalhados,
tenham interações com tablets, fantoches ou mesmo
ambientes imersivos.
AGRADECIMENTOS
This study was financed in part by the Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), Brasil.
REFERÊNCIAS

Figure 4. Circuito eletrônico protótipo. [1] D. Feil-Seifer and M. J Matarić, “Defining Socially Assistive
Fonte: autores Robotics” Proc IEEE 9th Intern. Conf. on Rehabilitation Robotics,
Set 2005, 465-468, DOI: 10.1109/ICORR.2005.1501143.
O funcionamento do robô baseia-se num seguidor de [2] Adams K, Encarnação P, Rios-Rincón AM, Cook AM. “Will artificial
intelligence be a blessing or concern in assistive robots for play?”
linhas que vai acionar os motores para percorrer uma trilha Journal of Human Growth and Development. 2018; 28(2):213-218.
até que encontre uma tag RFID. Ao encontrar uma tag RFID DOI: 10.7322/jhgd.147242.
o robô pára e reproduz um áudio pré-gravado com as [3] Projeto Pitaia, “Proposta Inovadora de Tecnologia Assistiva para
informações do parque e os conceitos de ciências Inclusão e Aprendizagem (PITAIA) em Ciências para alunos com
relacionadas àquele local. Ao final da gravação, o robô deficiência na comunicação”, Teias, CINTED, UFRGS, 2019,
https://www.ufrgs.br/teias/?page_id=149.
[4] BRASIL, “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da [8] I. Werry, K. Dautenhahn, B. Ogden, W. Harwin, “Can Social
Educação Inclusiva” Sec. Educ. Esp., Brasília, DF, jan 2008, Interaction Skills Be Taught by a Social Agent? The Role of a Robotic
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Mediator in Autism Therapy”, Proceedings of Fourth International
[5] L. S. Vygtosky, “Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na Conference on Cognitive Technology: Instruments Of Mind, August
idade escolar”. In: L. S. Vygtosky, A. R. Luria, A. N. Leontiev, 6–9, 2001, University of Warwick, United Kingdom; Springer Verlag,
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 7. ed. São Paulo: Lecture Notes in Computer Science, subseries Lecture Notes in
Ícone, 2001. p. 103-119. Artificial Intelligence.
[6] A.M. Cook, B. Bentz, N. Harbottle, C. Lynch and B. Miller, “School- [9] W. N. Soares,F. C. W. Vasconcelos, “As contribuições da robótica
Based Use of a Robotic Arm System by Children with Disabilities”, para a promoção da Educação Ambiental”, Anais do Simpósio
IEEE Transactions on Neural Systems and Rehabilitation Engineering Tecnologias e Educação a Distância no Ensino Superior, UFMG, Belo
13(4) (2005), 452–460. Horinte, 1(1), 2018,
http://revista.uemg.br/index.php/Simposioteceedadistnoenssuperior/
[7] Al, Cook, P. Encarnação, K. Adams, “Robots: Assistive technologies
for play, learning and cognitive development” Journal Technology [10]
and Disability 2010,22(1), 127-145, DOI: 10.3233/TAD-2010-0297

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