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Manejo Integrado de Pragas (MIP)

"Manejo Integrado de Pragas é o sistema de manejo de pragas que no contexto associa o


ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utiliza todas as técnicas apropriadas e
métodos de forma tão compatível quanto possível e mantém a população da praga em
níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico." FAO
O MIP tem como ferramentas de trabalho, basicamente, o monitoramento da população de
insetos, pragas e doenças; o controle biológico de pragas com o intuito de favorecer o
aparecimento de inimigos naturais; utilização de controle químico somente quando o
ataque à lavoura atinge o nível de dano econômico, ou seja, para um inseto ser chamado
de praga é necessário que haja prejuízo para a lavoura.
Atualmente, o controle biológico de alguns insetos considerados pragas tem sido utilizado
para o cultivo da cana-de-açúcar, sendo que o emprego desta técnica tende a aumentar, já
que com o corte da cana verde ocorre o aumento da infestação de insetos no solo, como
a cigarrinha-da-raiz.

https://www.cpt.com.br/calendario-agricola/cana-de-acucar-manejo-integrado-de-pragas
DINARDO-MIRANDA, L. L.; GIL, M. A. Estimativa do nível de dano econômico de Mahanarva
fimbriolata (Stäl) (Hemiptera: cercopidae) em cana-de-açúcar. Bragantia, Campinas, v. 66, n. 1,
p. 81-88, 2007.

Cana-de-açúcar - Foto:
LANZETTA, Paulo

Uma praga de grande destaque na cultura é a broca-dacana-de-açúcar, Diatraea saccharalis


(Lepidoptera: Crambidae), que durante a fase de lagarta abre galerias ascendentes e
transversais no interior do colmo da planta; esse fato resulta em danos diretos, como a morte
da gema apical e o enraizamento aéreo; e danos indiretos, como a podridão vermelha, que é
resultante da ação de microrganismos oportunistas que penetram no colmo por meio do
orifício aberto pela lagarta, prejudicando a fabricação de açúcar e álcool (GALLO et al., 2002;
PINTO et al., 2006).

Devido ao fato de a lagarta ficar a maior parte dessa fase protegida no colmo, o controle
químico não é eficiente nessa situação, e dessa forma, o controle biológico da broca com o uso
de parasitoides é o método mais utilizado. Contudo, práticas adequadas de manejo e
condições ambientais favoráveis são fundamentais para o sucesso do controle biológico e, por
isso, o produtor deve estar atento ao momento e à maneira de fazer liberações de inimigos
naturais nos canaviais.

Após o acasalamento, a fêmea faz a postura dos ovos preferencialmente na face dorsal das
folhas da cana-de-açúcar. As lagartas se alimentam inicialmente do parênquima das folhas,
convergindo a seguir para a bainha e depois da primeira ecdise penetram no colmo, abrindo
galerias que resultam em injúrias à planta e, consequentemente, danos à produtividade
(GALLO et al., 2002).

A duração do ciclo biológico desse inseto depende da temperatura e pode variar de 4 a 12 dias
na fase de ovo, de 20 a 90 dias no estágio larval, de 7 a 14 dias no pupal e de 3 a 15 dias no
estágio adulto (BOTELHO, 1985; GALLO et al., 2002; PINTO et al., 2009) (Figura 1).

Existem basicamente duas formas de controlar a brocada-cana-de-açúcar: o controle químico


e o biológico.

Controle químico

Uso de inseticidas para controlar lagartas de primeiro e segundo ínstar. Ressalta-se que para
lagartas a partir do terceiro ínstar esse método de controle não tem se mostrado eficiente,
pois as mesmas já se encontram protegidas no interior do colmo da planta. Atualmente,
dentre os produtos químicos registrados para a broca-da-cana-de-açúcar destacam-se:
clorantraniliprole, triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam e fipronil (AGROFIT..., 2003).

Controle biológico

Entre os principais inimigos naturais para controle de D. saccharalis, destacam-se os


parasitoides Cotesia flavipes (Hymenoptera: Braconidae) e Trichogramma galloi
(Hymenoptera: Trichogrammatidae), que têm sido utilizados com sucesso no controle da
broca-da-canade-açúcar. O parasitoide larval C. flavipes é um dos maiores casos de sucesso de
controle biológico no mundo e tem sido largamente utilizado em plantios comerciais da cana-
de-açúcar (Figura 2 A e B). Já o parasitoide de ovos T. galloi é um dos mais estudados e
apresenta a vantagem de controlar a praga antes da eclosão da lagarta (Figura 2 C) (BOTELHO
et al., 1995; PINTO, 2010; PINTO et al., 2006).

O controle biológico, se utilizado adequadamente, apresenta inúmeras vantagens, tais como


especificidade em relação às espécies-alvo de insetos e menor risco de impacto ambiental, já
que não contamina o solo, as águas superficiais e subterrâneas (OLIVEIRA; ÁVILA, 2010), além
de não oferecer risco à saúde humana. Dados do Centro de Tecnologia Canavieira mostraram
que com o controle da broca-da-cana-de-açúcar, usando C. flavipes, entre os anos de 1980 a
2005, deixou-se de utilizar 951 mil litros de inseticidas (BUENO, 2010). Além disso, inúmeras
biofábricas podem ser encontradas produzindo inimigos naturais, o que facilita a adoção dessa
tática de controle.

Além dos inseticidas, outros produtos fitossanitários também são utilizados na cultura da cana-
de-açúcar, com destaque para os herbicidas que são usados no controle de plantas daninhas
(CARVALHO et al., 2010) e os reguladores de crescimento de plantas, que têm como principal
finalidade antecipar a maturação da cana, visando ao planejamento da safra (CAPUTO et al.,
2008).

Liberação dos inimigos naturais

Segundo Pinto (2010), as liberações devem ser realizadas pela manhã ou entardecer, tentando
evitar as horas mais quentes do dia. Oliveira et al. (2012) demonstraram que a idade ideal para
liberação dos parasitoides seria para aqueles recém-emergidos ou com 24 horas de idade, pois
nesse período as taxas de mortalidade são menores.

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/71896/1/COT2012181.pdf
http://www.esalq.usp.br/departamentos/leb/disciplinas/Casimiro/LFN/Agricultura,%20Pragas,
%20manejo%20integrado%20e%20produtos%20fitossanitarios%20-%20agosto%202016.pdf

Livro
Principais pragas:
- Broca-da-cana-de-açúcar
- Cigarrinha-das-raízes
- Gorgulho-da-cana-de-açúcar
- Cupins
- Formigas cortadeiras saúvas e quenqués
- Migdolus
- Broca-gigante
- Cigarrinha das-folhas (não causa prejuízo no estado de São Paulo)
- Nematoides (Pratylenchus zeae; Meloidogyne incógnita; M. javanica)

O monitoramento das pragas é efetuado apenas para as duas pragas-chave, as formigas


cortadeiras e para as pragas de solo, incluindo cupins, besouros e nematoides.
No manejo das pragas o controle biológico é utilizado em grandes áreas para as
principais pragas da cultura, ou seja, a broca-da-cana e as cigarrinhas. No caso da broca-
da-cana, desde a década de 1970, utiliza-se o parasitoide larval Cotesia flavipes, e
também o Trichogramma galloi, um eficaz parasitoide de ovos.
Para as cigarrinhas da cana-de-açúcar, utiliza-se o fungo-verde Metarhizium anisopliae,
contra as duas espécies, entretanto, o controle químico das cigarrinhas é bastante usual
entre os agricultores.
As demais pragas são controladas de forma química, principalmente pelo uso de
inseticidas nos sulcos de plantio ou sobre as soqueiras, pois as táticas de controle
biológico, apesar de potenciais, ainda estão em desenvolvimento.
As pragas de solo são manejadas de forma precária, com exceção das cigarrinha-das-
raízes, formigas cortadeiras e nematoides. Quase todas são colocadas em um único
“pacote” e tratadas como se fossem uma só praga. O controle é predominantemente
realizado de forma química no plantio ou após a colheita, sobre as soqueiras.
Besouros e Cupins
Os besouros de solo migdolus, gorgulho-da-cana e corós, bem como os cupins,
alimentam-se da base das touceiras e do sistema radicular da planta de cana-de-açúcar e
os destroem, podendo causar morte das plantas e elevados prejuízos econômicos. Os
cupins subterrâneos atacam os toletes-sementes, danificando as gemas e causando falhas
na germinação. Em geral, o ataque é maior em solos arenosos.
As espécies mais importantes de cupins são H. tenuis e Procornitermes triacifer. O
primeiro tem como característica não levar solo para o interior das galerias, ao contrário
de P. triacifer. Para reconhecer o gênero de cupim, pode-se observar a cabeça deles.
A amostragem desses besouros e cupins é feita em touceiras após a última colheita,
antes da renovação da área, cavando-se de duas a quatro covas. Nessas covas, contam-se
as larvas, as pupas ou os adultos de besouros encontrados.
O migdolus também pode ser monitorado por meio de armadilhas de feromônio sexual
sintético de M. fryanus. Os cupins também podem ser monitorados com iscas Termitrap.
O nível de controle de besouros não está bem definido, mas o controle de migdolus
deve ser feito quando forem capturados mais do que dois machos por armadilha de
feromônio, por hectare, por dia.
Os cupins devem ser controlados quando mais de 30% das covas ou mais de 20% das
armadilhas Termitrap apresentarem nota superior a 1 (1 a 10 cupins).
O controle de besouros de solo e cupins é feito com o uso de inseticidas nos sulcos de
plantio ou sobre as soqueiras, após a colheita. Existem alguns inseticidas registrados, e
as recomendações nas bulas devem ser seguidas.
Para o gorgulho-da-cana, são recomendadas também a rotação de culturas e a
eliminação de soqueiras atacadas por meio de aração e três gradagens, alguns meses
antes do plantio, coincidindo com o período de maior porcentagem de larvas na
superfície (20 a 30 cm), ou seja, de março a agosto.
O controle biológico com os fungos M. anisopliae e Beauveria bassiana, ambos
produzidos de forma comercial, é uma prática viável para a maioria das pragas de solo.
Os dois fungos tem mostrado alta eficiência de controle do gorgulho-da-cana, quando
aplicados nas soqueiras, após a colheita, incorporados por meio de um disco de corte.
Os nematoides entomopatogênicos são uma boa opção para controle biológico de
besouros, lagartas e cigarrinhas, mais ainda não são comercializados no Brasil.
Formigas cortadeiras
Se alimentam de folhas de plantas novas, causando desfolha muito característica. Após
45 dias da colheita, toda a área deve ser percorrida em busca de “olheiros” (orifícios de
entrada dos formigueiros) de saúvas ou quenquéns e de sinais de desfolha.
As formigas podem ser controladas com inseticidas em formulação com pó seco, com
iscas tóxicas ou com inseticidas aplicados via terrmonebulização, sendo o último o mais
eficiente.

Nematoides
Atacam as raízes da cana-de-açúcar, prejudicando a absorção de água e nutrientes pela
planta, e injetam toxinas, que podem produzir galhas (Meloidogyne) ou causar necroses
(Pratylenchus).
O controle é feito com nematicidas registrados para a cultura, com rotação de cultura
não hospedeiras ou culturas armadilhas (crotalaria) ou com matéria orgânica. A rotação
de cultura pode ser feita com Crotalaria Juncea.

Cigarrinha-das-raízes
Com o ataque dessa praga, as folhas podem apresentar manchas amareladas, que se
tornam avermelhadas e secam posteriormente. Há redução no tamanho e na grossura
dos entrenós (gomos), que ficam curtos e fibrosos. O fluxo de água e nutrientes dentro
da planta fica comprometido, ocorrendo morte das raízes. Também podem ocorrer
brotações e enraizamento laterais.
O monitoramento é imprescindível para se decidir sobre a estratégia de controle da
praga, pois, quando realizado na primeira geração, ele permite controle mais eficiente.
O fungo verde M. anisopliae, é o principal controlador dessa praga. Embora o emprego
de inseticidas no controle da cigarrinha-das-raízes seja recomendado.

Broca-da-cana-de-açúcar
O controle químico pode ser utilizado, mais é prejudicado devido ao hábito de a lagarta
permanecer, a maior parte de seu desenvolvimento, dentro dos colmos, mais deve ser
evitado pela questão ambiental.
O controle biológico da broca-da-cana a partir de liberações inundativas do parasitoide
larval C. flavipes é o método mais utilizado no Brasil.
O parasitoide T. galloi é é outra opção viável para o controle de ovos da broca-da-cana.
A associação dos parasitoides C. flavipes e Trichogramma garante excelente controle ,
visto que estes atuam em diferentes fases de desenvolvimento da praga.

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