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FORA DA ÁREA DE COBERTURA

By Poliana Paiva

-Amiga, tá podendo falar?


-Tô aqui vendo um filme na TV, mas diga lá!
-Olha a situação: tava aqui no Mineiro com Clarinha, tomando umas, daí chega Alexandre
naquele esquema “não é porque a gente não namora mais que eu não posso ser seu amigo
nem ficar me lamentando com suas amigas, como bom coitadinho que sou”, sabe assim?
-Ui, sei.
-Pois então, sentou na nossa mesa e não vai embora nem fudendo, tanto que foi até pegar
um casaco no carro.
-Vixe, quem pega casaco no carro quer ficar até de manhã...
-Então, só preciso de um telefonema seu urgente daqui a 5 minutos, do tipo “se você não
vier agora me ver, eu me mato”!
-Pode deixar, mas porra, toda vez que você vai ao Mineiro o mala do Alexandre aparece!
Não sei por que insiste em ir praí! Na boa, parece até que tá querendo encontrar com o
cara!
-Bonita, isso não vem ao caso agora, ok? Me liga, que depois de escapar dele, a gente
compra umas latinhas e vai pra sua casa, pode ser?
-Lógico!

Em 10 minutos, Clarinha, na maciota, começa a encenação:

-Acho que seu celular tá vibrando, Anita.


-Ih é! Gente, nem percebi.
-Não atende não! Que saco, deve ser esse povo do seu trabalho!
-Deixa eu ver. Ih, é a Fê.
-Então atende, né? Posso pedir mais uma?

Em uníssono, Anita (já com o aparelho no ouvido) e Alexandre, concordam:

-Pede!
Clarinha só levanta o dedo indicador, num gesto universal indicativo de que a cerveja
precisa ser reposta na mesa.

Nisso, Fernanda, que teve de deixar seu filmezinho lavagem cerebral de lado pra participar
do joguinho da amiga, cumpre com o combinado de tirá-la daquela situação. Sem, é claro,
perder a chance de dar aquela sacaneada básica:

-E aí, Anita, tô ligando na hora combinada, viu?


-Oi, Fêzinha, que que mandas, amiga?
-Você sabe o que eu mando, vaca! Faz cara de sofredora agora, pra ver se convence
alguém!
-Jura? Mas quando foi isso?
-Quando foi o que, sua falsa? Se vira, inventa uma história decente!
-Não, querida, não chora, que ele não vale isso tudo.
-Gente, você é uma atrizinha de quinta, hein, vou te falar!
-Ai, amiga, se você quiser que eu vá praí agora, eu vou!
-Vem, e vê se traz uma vodca decente dessa vez!
-Não, não vai atrapalhar nada, tô tomando uma aqui com a Clarinha. O Alexandre até
apareceu, acredita?
-Que coincidência né, menina? Manda um beijo presse péla-saco!
-Não, querida, eles vão entender, fica tranqüila! Em meia hora tô aí, é só o tempo de fechar
a conta e deixar Clarinha em casa, tá bem? Ou você quer que ela vá também?

Logo depois, desliga e, com o semblante compassivo, dá sua grande fala:

-Fernanda mandou um beijo pra vocês. Gente, desculpa, mas preciso ir, ela acabou de
terminar com o namorado, tá péssima. Vou comprar uma vodka e dar uma assistência até
ela vomitar e capotar, saca?

Clarinha, em busca do Oscar de coadjuvante, completa:


-Será que ela quer me ver também?
-Não amiga, infelizmente, essa eu que vou ter que segurar sozinha...
-Força, então, vai dar tudo certo!
-Quer uma carona?
-Quero.

Alexandre, num misto de entendimento e perplexidade, leva as moças até o carro. Como
candidato à vaga de péla-saco do século, dá sua cartada final:

-Se você quiser, Anita, eu posso levar Clarinha em casa, pra você chegar logo na Fê. Nessas
horas, quanto mais rápido se age, melhor, né? Vai que ela faz alguma besteira...

-Precisa não, querido, mas obrigada pela força, viu?

Alexandre voltou pro bar, provavelmente à caça de alguma ex-namorada pra impregnar
antes de ir pra casa assistir ao Fantástico e bater uma punhetinha pensando em Anita.

Já as meninas, foram encontrar com a Fê, pra beber mais, falar mal dos homens e tentar
entender porque moças como elas não gostam de rapazes como Alexandre, sempre
dispostos a dar carona, a pegar casacos no carro e a pagar a conta.

Para moços assim, estavam sempre fora da área de cobertura.

Ou desligadas.

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