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FEMINISMO

EM MOVIMENTO

Apoio:

www.marchamundialdasmulheres.org.br | marchamulheres@sof.org.br CADERNO DE APRESENTAÇÃO DA


www.sof.org.br
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES
FEMINISMO EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!
Este caderno apresenta um panorama da história da Marcha Mundial das Mu-
lheres a partir dos processos que marcaram sua construção, especialmente no Bra-
sil, em diálogo com o acúmulos de análises e ações das mulheres em movimento. A
Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista internacional, com atu-
ação em mais de 60 países . Estamos em marcha permanente pela autonomia eco-
nômica das mulheres, pela paz e desmilitarização, pelos bens comuns e a natureza e
pelo fim da violência contra as mulheres
Mudar o mundo e mudar a vida das mulheres em um só movimento. Igualda-
de para todas. Fortalecimento de espaços coletivos das mulheres: populares, autô-
nomos e diversos. Ações com criatividade para enfrentar o capitalismo patriarcal,
racista e lesbofóbico. Construção de alianças com os movimentos sociais em luta
para transformar o mundo. Vincular o trabalho permanente em âmbito local com
os temas e processos globais. Solidariedade e internacionalismo.
São estas as principais características que levaram à construção da Marcha Mun-
dial das Mulheres como um movimento permanente no Brasil e em todo o mundo.
Esse texto está organizado a partir dos registros, notícias e relatos de nossas
agendas, ações e elaborações enquanto movimento, que se atualizam a partir de
nossos processos e práticas políticas.

NOSSOS PRINCÍPIOS E PROCESSOS cotidianamente através de um processo


simbólico contínuo. A música nos une,
Na Marcha vivemos a diversidade não
mesmo com a variedade de letras com-
apenas do ponto de vista internacional,
postas por cada país. Colocamos o logo-
mas também entre as próprias brasilei-
tipo em nossas roupas, e quando vemos
ras. Somos tão diferentes e tão iguais. Te-
esse símbolo sabemos que ali tem gente
mos uma identidade política construída
lutando para transformar o mundo.
Aprendemos a envolver um grande
Elaine Campos

número de mulheres que chegam com


FEMINISMO EM MOVIMENTO

suas histórias de vida e militância, de-


mos conta de promover uma interação
e aprendizagem mútua e, a partir disso,
construir novas sínteses e pontos de par-
tida na busca de uma utopia comum, no
que queremos vir a ser. Nossa unidade
se dá através da ação. Todas as mulheres
marcham, se organizam e estão nas ruas, 1
nos enfrentamentos. E assim criamos

Elaine Campos
uma relação de confiança entre nós.
Compreendemos que a igualdade
só existirá de fato se alcançar o conjun-
to das mulheres. Por isso nos definimos
como um movimento feminista anti-
capitalista e antirracista, enfrentando o
conjunto das formas de opressão e dis-
criminação que vivem as mulheres em
relação à sexualidade e à idade.

SOMOS TODAS FEMINISTAS!


Para nós, não existe uma separação Arquivo MMM

ou hierarquia entre um movimento de


mulheres e um movimento de feminis-
tas. É a partir de um forte movimento
de base, popular, do campo e da cidade
que poderemos construir uma prática
feminista que seja parte das lutas por
mudanças. Com a participação, forma-
ção e radicalização, o conjunto das mu-
Arquivo MMM

lheres vai incorporando de forma mais


consciente e explícita o feminismo.
A experiência feminista é de cons-
trução de uma nova identidade coletiva
das mulheres e de seu reconhecimento
como sujeitos. Isso significa também
forjar uma nova subjetividade, de des-
mercantilização da sexualidade e de au-
tonomia. E é como parte dessa visão que
FEMINISMO EM MOVIMENTO

o feminismo se posiciona sobre a neces-


sidade de coerência entre vida privada e SE CUIDA, SE CUIDA SEU MACHISTA:
pública, e de construção de novas rela- A AMÉRICA LATINA VAI SER
ções. A existência de contradições entre TODA FEMINISTA!
o que defendemos na esfera pública Questionamos as estruturas do atual
e nossa vida pessoal, nosso cotidiano, modelo. A utopia do feminismo antica-
precisa ser reconhecida e enfrentada de pitalista aponta para a construção de no-
2 forma crítica. vas práticas que buscam superar as falsas
Arquivo MMM
Elaine Campos

dicotomias, que opõem razão e emoção, cia e apresentar a proposta de criar uma
objetivo e subjetivo, público e privado. campanha global de mulheres. O primei-
Fazem parte da estratégia da Marcha ro contato no Brasil foi com as mulheres
ações com muita criatividade que par- da Central Única das Trabalhadoras e Tra-
tem da experiência concreta e do conhe- balhadores (CUT). Foram elas que marca-
cimento das mulheres. É fundamental a ram as reuniões para discutir a proposta e
utilização de outras formas de expressão, definir as representantes brasileiras para o
para além da linguagem verbal. A combi- primeiro encontro internacional da MMM,
nação das práticas de educação popular que aconteceu em 1998, em Quebec, e
e dos grupos de reflexão feminista é a teve a participação de 145 mulheres de
base para a construção da MMM. 65 países e territórios. Nesse encontro foi
Não só a globalização de nossas lutas, elaborada uma plataforma com 17 reivin-
mas também a construção de uma força dicações para a eliminação da pobreza e
mundial, com ações enraizadas em cada da violência contra as mulheres. E ali foi
local, poderá ser capaz de garantir um convocada a Marcha Mundial das Mulhe-
processo emancipatório irreversível. res como uma grande campanha a ser
desenvolvida ao longo do ano 2000.
MULHERES EM MARCHA: ANOS 90
A inspiração para a criação da Marcha
Arquivo MMM

Mundial das Mulheres (MMM) partiu de


uma manifestação realizada em 1995, em
Quebec, no Canadá, quando 850 mulhe-
res marcharam 200 quilômetros, pedindo,
FEMINISMO EM MOVIMENTO

simbolicamente, “Pão e Rosas”. No final


desta ação, diversas conquistas foram
alcançadas, como o aumento do salário
mínimo, mais direitos para as mulheres
imigrantes e apoio à economia solidária.
As mulheres do Quebec buscaram
contatos com organizações em vários
países para compartilhar essa experiên- 3
Arquivo MMM

1A AÇÃO INTERNACIONAL
Arquivo MMM
2000 RAZÕES PARA MARCHAR
CONTRA A POBREZA E
A VIOLÊNCIA SEXISTA
A convocatória para a campanha rea-
lizada no ano 2000 teve um largo alcan-
ce e deu origem à construção da MMM
como um movimento internacional. A A Marcha das Margaridas reuniu 20 mil mulheres
ação mobilizou milhares de grupos de em Brasília, em agosto de 2000.
mulheres em mais de 150 países e territó-
rios, em atividades de educação popular dia de luta pela erradicação da pobreza,
e manifestações públicas de apoio às 17 com marchas simultâneas em 40 países,
reivindicações mundiais. e atos em frente à sede do Banco Mun-
No Brasil, entre 8 de março e 17 de dial e do Fundo Monetário Internacional,
outubro, foram realizadas atividades em em Washington, nos Estados Unidos. As
todos os estados. O grande momento mulheres denunciaram os efeitos devas-
nacional desta ação foi a realização da tadores do neoliberalismo em seus países
Marcha das Margaridas, proposta pelas e em suas vidas. Em um ato simbólico em
mulheres da Confederação Nacional dos frente à sede da Organização das Nações
FEMINISMO EM MOVIMENTO

Trabalhadores na Agricultura (Contag). Unidas (ONU), em Nova York, foram apre-


O nome desta Marcha, uma referência a sentadas mais de 5 milhões de assinatu-
Margarida Alves, tornou visível a trajetória ras recolhidas em apoio às demandas da
de lutas das mulheres rurais que, desde Marcha. Logo após esse ato público, as
os anos 1980, atuam de forma organizada delegadas de diferentes países se reu-
no Brasil. niram no 2º Encontro Internacional da
As mobilizações desta ação interna- MMM e ali decidiram que era necessário
4 cional culminaram em 17 de outubro, continuar o movimento.
Fernanda Estima
É O QUERER DAS MARGARIDAS
Desde 2000 até agora, já aconte-
ceram 5 Marchas das Margaridas. É
a maior manifestação de mulheres
rurais da América Latina. As prin-
cipais bandeiras das mulheres dos
campos, das águas e das florestas

Simone Bruno
são: justiça social, democracia, au-
tonomia, igualdade e liberdade.
As Margaridas elaboram plata-
formas políticas pautando: refor-
ma agrária; soberania alimentar;
valorização do trabalho das mu-
lheres; direitos trabalhistas, sociais
e previdenciários; valorização do
salário mínimo; educação e saú-
de pública no campo; combate à “COM ESSA MARCHA
violência;agroecologia e sustenta-
bilidade; economia solidária etc. MUITA COISA VAI MUDAR”:
Em 2019, a Marcha das Marga- UM MOVIMENTO PERMANENTE
ridas tem sua 6ª edição. A Marcha Aqueles eram tempos de pensamen-
acontece em agosto, mas sua pre- to único, o neoliberalismo era forte-
paração e mobilização se inicia mente hegemônico e parecia não haver
muitos meses antes, em um pro- alternativa. As mulheres propuseram
cesso amplo e contínuo por todo ir além do possível e ousaram seguir
o país. A Margarida que os pode- atuando juntas para construir a Marcha
rosos quiseram calar espalhou sua Mundial das Mulheres como um movi-
semente. mento permanente, uma consequência
das novas forças e sinergias mobilizadas
Helena Zelic

em cada local.
FEMINISMO EM MOVIMENTO

Desde então, a MMM desenvolveu


um método para a definição de consen-
sos e uma forma de atuação que implica
a construção permanente da relação en-
tre o local, o nacional e o internacional.
A preparação das ações internacionais,
a cada cinco anos, marca processos de
sínteses políticas da nossa plataforma. 5
EM ALIANÇA
PARA MUDAR O MUNDO
A construção de alianças com ou-
tros movimentos sociais é um prin-
cípio que caminha junto com nossa
auto-organização em um movimento
autônomo de mulheres.
O Fórum Social Mundial foi um pro-
cesso central nessa construção. Desde
sua primeira edição, em 2001, já afir-
mávamos: “o outro mundo possível”
que queremos construir também pre-
cisa ser feminista para que homens e
mulheres sejam livres e iguais. A MMM A NOSSA LUTA É TODO DIA!
passou a se articular de forma crescen- SOMOS MULHERES
te e convergente com outras organi- E NÃO MERCADORIA!
zações e movimentos sociais. Entre Foi nesse processo que, em 2002,
estes, estão a Rede Latino-americana a MMM elaborou a consigna “O mun-
Mulheres Transformando a Economia do não é uma mercadoria! As mulheres
(REMTE), a Via Campesina e Amigos também não!”. Depois, veio o grito da
da Terra Internacional. Essas articula- batucada feminista: “A nossa luta é todo
ções se ampliaram na Assembleia dos dia: somos mulheres e não mercadoria!”
Movimentos Sociais, que impulsionou Essa posição política tem como
lutas e campanhas comuns, como na ferramentas de luta a mobilização, a
luta contra a guerra e o livre comércio. ocupação dos espaços públicos, os
Nossas agendas vão se “contaminan- processos organizativos e enraiza-
do” umas com as outras e, nessa mes- mento em nível local. Como parte
cla, as organizações se fortalecem e da recuperação da radicalidade e da
contribuem com as elaborações umas rebeldia feminista, a Marcha desen-
das outras. volveu várias formas de intervenção
FEMINISMO EM MOVIMENTO

Construímos alianças feministas em e comunicação. Ocupar as ruas é uma


nossa luta contra a Área de Livre Co- das características do feminismo da
mércio das Américas (ALCA), o que nos MMM. O sentido político desta ocupa-
permitiu consolidar uma visão crítica ção envolve não apenas a visibilidade
sobre como o trabalho das mulheres é do nosso movimento, mas também a
explorado todo o tempo pelo sistema, nossa própria organização e reconhe-
6 que é patriarcal e capitalista. cimento como coletivo.
FORA JÁ! FORA JÁ DAQUI: A ALCA, O MACHISMO E O FMI!
A CAMPANHA CONTINENTAL No Brasil, a MMM convocou, no dia
12 de agosto de 2002, um dia de ação
CONTRA A ALCA das mulheres contra a ALCA. Entre fei-
A Campanha contra a ALCA foi
ras de informação, apresentações de
um processo de grande mobilização
teatro, panfletagens, oficinas, pintura
popular que conseguiu derrotar a
de painéis, mostra de plantas medi-
proposta imperialista dos Estados
cinais e produtos orgânicos, atos pú-
Unidos para as Américas. A ALCA era
blicos e caminhadas, divulgação em
um tratado de livre comércio que, na
rádios, shows e tribunais populares,
prática, fortalecia os Estados Unidos e
as ações das mulheres contra a ALCA
suas empresas em toda a região.
foram marcadas por criatividade e
A campanha se organizou em
muita informação, e pela presença
todo o continente. A unidade em
feminista nas ruas de 14 estados, de-
torno do “não à ALCA” representou a
nunciando as consequências da ALCA
radicalização da luta contra o neoli-
para a vida das mulheres.
beralismo e a recusa do livre merca-
Em setembro de 2002, 10.149.542
do como paradigma.
pessoas participaram do Plebiscito
As ações e análises feministas so-
sobre a ALCA, sendo que mais de 95%
bre o neoliberalismo nesta campa-
votou contra a assinatura do acor-
nha colocou as mulheres como um
do. No mesmo Plebiscito, milhões de
sujeito político importante na disputa
pessoas votaram contra a concessão
da agenda econômica, e foi funda-
da base de Alcântara para os Estados
mental para a recomposição de um
Unidos - que, no início de 2019, o go-
campo feminista e anti-capitalista no
verno de Bolsonaro, em sua postura
movimento de mulheres na América
subserviente, entregou a Trump.
Latina e Caribe.
Arquivo MMM

FEMINISMO EM MOVIMENTO

7
A Campanha Continental contra a ALCA
Elaine Campos

NO BATUQUE DO TAMBOR!
A Batucada Feminista é um instru- clados ou que fazem parte do nosso
mento político de luta que expressa cotidiano. Quando tocamos na batu-
nossa ação feminista. Na MMM, a ba- cada estamos dizendo que queremos
tucada começou no FSM em 2003, a outras práticas e que não aceitamos a
partir da experiência das mulheres do cultura musical machista e preconcei-
Rio Grande do Norte. No 8 de março tuosa que ouvimos todos os dias. Esta-
do mesmo ano, a batucada já apare- mos denunciando o machismo e afir-
ceu em alguns estados. Desde então, mando nossas alternativas coletivas.
somou e inovou uma linguagem pró- Olhando em retrospectiva, é evi-
pria da MMM. dente a influência da política e mesmo
Com a batucada, buscamos demo- da estética da Marcha na configura-
cratizar a fala nas ruas. O ritmo ajuda ção do feminismo massivo que tem
a gerar concentração, unidade e força tomado as ruas em todo o país.
nos momentos de ação coletiva. Tocar
Julia Palandi Gayoso

é uma forma direta de ação política,


de levar o feminismo para os olhares
FEMINISMO EM MOVIMENTO

e ouvidos da rua, expressando nossas


lutas e ocupando plenamente o espa-
ço público.
Latas, mulheres, tambores e ba-
quetas em ritmo contra o machismo.
Os instrumentos da batucada são fei-
tos prioritariamente de materiais reci-
8
mia feminista. A economia não é apenas
Arquivo CF8

um conjunto de fórmulas e números,


mas é integrada por todas as atividades
que garantem a produção do viver. A
economia vai além daquilo que pode
ser medido por valores do mercado, da
mesma forma que o trabalho vai além
do emprego.
Ao questionar a divisão sexual do tra-
balho queremos reconhecer e valorizar
o trabalho realizado pelas mulheres. O
atual modelo econômico reconhece
JOÃO, JOÃO, COZINHE O SEU FEIJÃO! apenas o trabalho realizado na esfera
Na sociedade capitalista, racista e pa-
do mercado. E, no mercado, nossa força
triarcal, a divisão sexual do trabalho se ar-
de trabalho é explorada com menores
ticula com o racismo e com a exploração
salários e condições precárias, especial-
de classe, criando e reproduzindo hierar-
mente entre as mulheres negras.
quias e desigualdades. A divisão sexual do
Lutamos pelo compartilhamento do
trabalho separa o trabalho dos homens e
trabalho doméstico e de cuidados com
o das mulheres, e define que um trabalho
os homens e o Estado, e por mudanças
vale mais do que o outro. O trabalho dos
na organização do mercado de traba-
homens é associado ao produtivo (o que
lho, com a redução da jornada e a ga-
se vende no mercado) e o trabalho das
rantia de todos os direitos trabalhistas.
mulheres ao reprodutivo (a produção dos
Propomos uma economia centrada no
seres humanos e suas relações). As repre-
bem estar de todas e todos, que valorize
sentações do que é masculino e feminino
e reorganize a reprodução, o trabalho
são duais e hierárquicas, assim como a
doméstico e de cuidados -, construindo
associação entre homens e cultura, e mu-
um novo paradigma de sustentabilida-
lheres e natureza. Na Marcha Mundial das
de da vida humana. O espaço da REF
Mulheres lutamos para superar a divisão
sexual do trabalho e, ao mesmo tempo,
Arquivo MMM

pelo reconhecimento de que o trabalho


FEMINISMO EM MOVIMENTO

reprodutivo, doméstico e de cuidados


está na base da produção do viver.

A ECONOMIA
NA AGENDA FEMINISTA
A Marcha avançou em análises e pro-
postas tendo como referência a econo- 9
(Rede Economia e Feminismo) foi fun- zendo novos sentidos para as práticas de
damental para esse processo coletivo de autogestão e solidariedade. As mulheres
elaboração política. colocam a reprodução da vida na agenda
Mais do que uma proposta teórica, a política da economia solidária. Nos espa-
economia feminista é uma ferramenta ços de encontro e ações da MMM, por
política para construir, na prática, alter- todo o país, nos organizamos para dar
nativas ao modelo hegemônico. Com a visibilidade a essa outra forma de orga-
auto-organização das mulheres, fazemos nizar a economia, garantindo espaços de
uma economia solidária e feminista, tra- comercialização e debate político.

A CAMPANHA
PELA VALORIZAÇÃO
DO SALÁRIO MÍNIMO
A autonomia econômica das mulhe-
res é uma condição para transformar a
vida das mulheres. Mas a autonomia
não é apenas uma conquista individu-
al e passa por mudanças na economia
como um todo.
Por isso, em 2003, a Marcha do Brasil
iniciou uma Campanha pela Valoriza-
ção do Salário Mínimo, como uma estra-
tégia para distribuir a renda, combater a porcentagem é equivalente à dos países
pobreza, diminuir as desigualdades sa- onde há uma distribuição de renda mais
lariais entre homens e mulheres, brancos justa. Ou seja, em nações com uma con-
e negros. centração de renda menor que a nossa,
A campanha propunha dobrar o valor o valor do salário mínimo corresponde à
do mínimo em quatro anos, promoven- divisão de 60% do PIB desses países pelo
do a cada ano um reajuste integral da in- total de trabalhadores.
flação mais um aumento de 19% em seu Durante os governos Lula e Dilma,
FEMINISMO EM MOVIMENTO

valor. Depois, numa segunda etapa, ele- uma política de valorização do salário
var o salário para R$ 730,00 (em 2006). mínimo foi implementada. Ainda que
O cálculo para chegar a esse valor foi a com valores abaixo da proposta da Mar-
divisão de 60% do PIB (Produto Interno cha, a valorização do salário mínimo
Bruto) pelo número dos e das que traba- contribui muito para o enfrentamento a
lham com remuneração – descontando pobreza e para melhorar as condições de
do total as crianças de 10 a 14 anos. Essa vida da classe trabalhadora.
10
Isadora Mendes

Arquivo MMM
nização a partir de agendas fragmentadas
CONTRA A POBREZA E A OPRESSÃO e articulamos as dimensões, de classe,
DO CAPITALISMO PATRIARCAL: gênero e raça, em uma luta anti-sistêmica.
VAMOS PROVOCAR UMA Explicitamos em nossas ações que, en-
REVOLUÇÃO MUNDIAL! quanto se reconheciam os direitos das
mulheres nas declarações das conferên-
A luta para mudar o mundo e mudar
cias da ONU, o mercado reorganizava
a vida das mulheres se dá como parte de
a vida das mulheres em nossos países,
um só movimento. Não basta identificar aprofundando a violência e a exploração
que os impactos deste sistema são piores do trabalho das mulheres.
para as mulheres. Partimos de uma análise
de que o capitalismo faz uso de estruturas
patriarcais no seu processo de acumula-
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
ção, que avança sobre os territórios, o tra- NÃO É O MUNDO QUE A GENTE QUER!
balho e o corpo das mulheres. Não busca- A violência contra a mulher é estrutu-
mos apenas diminuir impactos negativos rante do patriarcado. A ideia geral sobre
deste modelo na vida das mulheres, mas a violência contra as mulheres é que se
sim organizamos uma luta para transfor- trata de uma situação extrema ou lo-
mar as estruturas que organizam todas as calizada, envolvendo pessoas individu-
relações de desigualdade e poder. almente. Mas, na verdade, ela nos toca
Buscamos recolocar a luta anticapi- a todas, pois todas já tivemos medo,
talista e antipatriarcal no momento em mudamos nosso comportamento, limi-
FEMINISMO EM MOVIMENTO

que o movimento de mulheres estava tamos nossas opções pela ameaça da


sob a hegemonia da despolitização do violência. Apesar de ser mais comum na
conceito de gênero, em meio a um pro- esfera privada, como violência domésti-
cesso de institucionalização e de perda ca, a ameaça, o medo da violência ou a
de radicalidade. violência em si são utilizados para excluir
A Marcha consolidou em sua estraté- as mulheres do espaço público.
gia um feminismo não institucionalizado As leis e medidas punitivas são ne-
e militante. Isso porque recusamos a orga- cessárias, mas insuficientes para acabar 11
Arquivo MMM/BA

tendo como base a divisão sexual do tra-


balho, o controle sobre o corpo das mu-
lheres, a imposição da família patriarcal e
da heteronormatividade como modelos.
O capitalismo também incorporou o ra-
cismo e o utiliza inclusive para organizar
uma hierarquia e desigualdade entre as
Ação pela punição de integrantes da banda mulheres, mesmo no interior da classe
New Hit, acusados de estuprar duas adolescentes trabalhadora.
A globalização criou uma dualidade
com essa realidade. É necessário pautar
entre as mulheres: pela primeira vez na
de forma permanente o enfrentamento
história do capitalismo, algumas mulhe-
à violência a partir da auto-organização
res tiveram acesso ao capital por elas
das mulheres, do compromisso político
dos movimentos sociais e do Estado mesmas, e não apenas em função de
com a erradicação da violência sexista. suas relações de parentesco e herança
Para organizar o enfrentamento à vio- como filhas ou esposas. Há uma parte
lência, atualizar e visibilizar esse debate, muito pequena das mulheres em pro-
fizemos em 2017 uma campanha nacio- fissões valorizadas como advogadas ou
nal chamada “Sem culpa, nem desculpa! médicas, ao mesmo tempo em que, para
Mulheres livres da violência”. O título é a grande maioria, o trabalho remunera-
resultado da reflexão coletiva de que do é precário e sem direitos, e o trabalho
não somos as culpadas pela violência não remunerado, doméstico e de cuida-
contra nós e não há desculpa para justi- dos, se intensificou com a diminuição
ficar a agressão dos homens. Para a cam- dos direitos sociais no neoliberalismo.
panha, publicamos diversos materiais A crítica à mercantilização nos possi-
de formação e reflexão e organizamos bilitou refletir sobre as conexões entre
atividades de discussão em várias partes
do país. Nossa estratégia para combater
Arquivo MMM

a violência é fortalecer a autonomia e a


auto-organização das mulheres.
FEMINISMO EM MOVIMENTO

MUDAR O MUNDO
PARA MUDAR A VIDA DAS MULHERES
PARA MUDAR O MUNDO
O capitalismo incorporou a domina-
ção patriarcal como estruturante de seu
12 modelo econômico e de suas práticas,
OFENSIVA CONTRA
A MERCANTILIZAÇÃO DO CORPO

Carolina Caleffi
E DA VIDA DAS MULHERES
As jovens da MMM se colocaram
como objetivo articular e intensificar
as ações que já eram realizadas nos es-
tados. Sua estratégia inclui a reflexão e
elaboração de ações feministas contra
o machismo na sociedade de mercado
e se materializa em colagem de carta-
zes, intervenção em cartazes publicitá-
rios, ações de rua com batucada, deba-
tes sobre letras de música, publicidade
na TV, revistas e padrões de beleza.
A ofensiva, lançada em 2004 como
uma ação permanente, organizou uma
crítica ao controle do corpo e da sexua-
lidade das mulheres pelo mercado, en- Intervenção direta em outdoors, na Av. Paulista,
em São Paulo, como parte das ações do
tendendo que este é também um dos 17 de outubro de 2004.
pilares de sustentação do patriarcado.
Carolina Caleffi

Questionamos a naturalização e idea-


lização do “ser mulher”, que impõe um
padrão de mulher que é branca, flexí-
vel, plastificada, feliz e mãe. Para alcan-
çar este modelo, as farmácias vendem
livremente medicamentos de labora-
tórios transnacionais que prometem
alívio imediato e soluções milagrosas
para adequar nossos corpos e compor-
tamentos às exigências da sociedade
machista em geral, e dos homens em
FEMINISMO EM MOVIMENTO

particular.

globalização, empresas transnacionais da reprodução também atuam na pro-


e o controle sobre o trabalho, os corpos dução de sementes transgênicas. Existe,
e os territórios. Por exemplo, as mesmas ainda, uma conexão entre o aumento da
transnacionais que atuam em tecnolo- militarização e controle dos territórios
gias baseadas no controle do corpo e com a violência racista e sexista. 13
Arquivo MMM
2A AÇÃO
INTERNACIONAL
MULHERES EM
MOVIMENTO
MUDAM O MUNDO!
Para a ação de 2005,
elaboramos a Carta
Mundial das Mulheres
para a Humanidade após um amplo de-
bate e construção coletiva de uma posi-

Arquivo MMM
ção comum entre mulheres, com diferen-
tes experiências e culturas políticas.
A Carta apresenta o mundo que que-
remos construir, baseado em cinco valo-
res: liberdade, igualdade, solidariedade,
justiça e paz.
No dia 8 de março de 2005, durante
uma passeata com a participação de 30
mil mulheres de todo o Brasil em São
Paulo, a Carta iniciou sua viagem ao redor um dos países mais pobres do mundo.
do mundo. Até 17 de outubro, ela passou Enquanto isso, ações foram realizadas
por 53 países e territórios. Nestes países, em 17 de outubro, ao meio-dia, em cada
as Coordenações Nacionais da Marcha meridiano, em uma vigília de 24 horas de
expressaram as suas lutas e propostas em Solidariedade Feminista. A “onda” come-
um retalho de tecido. Estes retalhos foram çou nas ilhas do Pacífico (Nova Caledônia,
sendo costurados em uma Colcha da So- Samoa e outras), foi para a Ásia, Oriente
lidariedade, que foi concluída na última Médio, África e Europa simultaneamente,
parada em Ouagadougou, Burkina Faso, terminando nas Américas.

O 8 de março é uma data muito importante para nós mulheres. Como dia de luta, é resultado
FEMINISMO EM MOVIMENTO

da articulação internacionalista das mulheres socialistas. E marca um momento histórico do qual


temos muito orgulho, que é a organização das mulheres revolucionárias russas por pão e paz, em
manifestações que deram potência ao processo da revolução de 1917.
É um dia em que estamos sempre nas ruas, visibilizando o caráter de luta da data e a nos-
sa ideia feminista de sociedade. Costuma ser, também, o primeiro grande ato do ano, onde as
feministas colocam pautas que são urgentes da sociedade, e que continuarão aparecendo nas
mobilizações posteriores. Em nossa organização, o 8 de março não começa nem acaba em si:
14 sua preparação nos bairros, praças, escolas e roçados mobiliza as mulheres para a luta diária e
permanente; e, depois do ato, o movimento se fortalece para atuar durante todo o ano.]
1O ENCONTRO NACIONAL
O I Encontro Nacional da MMM aconteceu entre 25 e
28 de agosto de 2006, em Belo Horizonte, reunindo 500
mulheres. Com uma programação que mesclou formação
política, debates estratégicos e intercâmbios de práticas
feministas, o Encontro teve o papel de fortalecer a auto-
-organização das militantes brasileiras e preparar para o
desafio de assumir a tarefa de coordenar o Secretariado In-
ternacional da Marcha. A transferência do Secretariado In-
ternacional do Quebec para o Brasil havia sido definida um
mês antes, no 6º Encontro Internacional da MMM, no Peru.

um processo central em suas vidas. Em


ESSA HIPOCRISIA conjunto com vários coletivos e organi-
GERA HEMORRAGIA! zações, a Marcha no Brasil participou da
O aborto é um direito fundamental criação da Frente Nacional contra a Cri-
para as mulheres decidirem sobre suas minalização das Mulheres e pela Legaliza-
vidas e garantir o livre exercício da sexua- ção do Aborto, uma resposta organizada
lidade. Lutamos pela legalização do abor- à ofensiva dos setores conservadores que
to, ou seja, para que a interrupção de uma se expressou no fechamento de clínicas
gravidez indesejada não seja crime e que clandestinas e na perseguição e conde-
esse direito seja garantido pelo serviço nação de mulheres que recorreram à prá-
público de saúde, gratuitamente. tica do aborto.
Desde 2008, vivemos uma ofensiva de Hoje, a Frente é um espaço de conver-
criminalização do aborto no Brasil, base- gência de vários setores do movimento
ada numa visão misógina das mulheres feminista, já organizou ações (como a
como seres moralmente incapazes de Virada Online Pela Legalização do Aborto
tomar uma decisão consciente sobre e o Festival pela vida das mulheres), atos
(o 28 de setembro, Dia Latino-americano
Carolina Caleffi

e Caribenho de Luta pela Legalização do


Aborto, é um dia de estar nas ruas) e um
FEMINISMO EM MOVIMENTO

dossiê que expõe o processo de criminali-


zação do aborto entre 2007 e 2014.
Na luta pela autonomia e direito ao
aborto, afirmamos que a maternidade
deve ser uma decisão livre e desejada e
não uma obrigação das mulheres, e que
nenhuma mulher deve ser presa, maltra-
tada ou humilhada por ter feito aborto. 15
EM LUTA POR SOBERANIA ALIMENTAR
plia-se no diálogo com os povos indí-
genas, que aportam a noção de ter-
ritório, e nos instiga a construir uma
agenda em torno do tema da repro-
dução, concebida como um assunto
de todos, não somente das mulheres.
Cada vez mais se reconhece o traba-
lho e conhecimento das mulheres na
produção de alimentos desde a agri-
cultura até seu preparo e conservação
em casa, em grupos comunitários e
cantinas escolares.
Em conjunto com a Via Campesi-
na, Amigos da Terra Internacional,
entre outras organizações, foi orga-
A Soberania Alimentar é o direito nizado em 2007 o Fórum Nyéleni de
dos povos, países ou união de Estados Soberania Alimentar, em Selingué, no
de definir suas políticas agrícolas e Mali. Foram realizadas oficinas pre-
alimentares e proteger sua produção paratórias no Brasil e América Latina
e cultura alimentar. Esse conceito ar- com mulheres camponesas, pescado-
ticula lutas pelo acesso à terra, água, ras e também urbanas para aprofun-
sementes e condições de produção, dar uma visão feminista sobre a sobe-
usando práticas agroecológicas. Am- rania alimentar.
Arquivo MMM
FEMINISMO EM MOVIMENTO

16
SEM FEMINISMO

Arquivo MMM
NÃO HÁ AGROECOLOGIA!
A Marcha Mundial das Mulheres
participa da construção do GT de
Mulheres da Associação Nacional
de Agroecologia (ANA), que organi-
za os Encontros Nacionais de Agro-
ecologia (ENA). Até agora foram 4
edições do ENA e, através da luta
das mulheres, cada vez mais o femi-
nismo aparece nesse espaço como
elemento crucial para a prática da
MULHERES LIVRES, agroecologia.
A agroecologia se propõe a atu-
POVOS SOBERANOS ar no enfrentamento da exploração
A defesa da autonomia das mulhe-
das grandes empresas sobre os ter-
res e da soberania dos povos orienta a
ritórios, na produção e consumo de
construção de alternativas ao modelo
alimentos saudáveis a partir do uso
de produção, reprodução e consumo
e manejo sustentável dos agroecos-
capazes de gerar igualdade. Em agosto
sistemas e na promoção de relações
de 2008, as mulheres da MMM e da Via
justas, igualitárias e equilibradas
Campesina Brasil organizaram o Encon-
entre as pessoas e a natureza. Para
tro Nacional de Mulheres em Luta por
modificar as relações, é preciso que
Soberania Alimentar e Energética. Esse
a agroecologia se some na luta femi-
foi um momento no qual afirmamos a
nista para alterar a divisão sexual do
crítica à concepção de desenvolvimen-
trabalho, valorizando e reconhecen-
to baseada na ideia de crescimento eco-
do as atividades produtivas e repro-
nômico ilimitado, onde o mercado e o
dutivas das mulheres, e, mais do que
lucro privado são priorizados em detri-
isso, buscando diminuir a sobrecar-
mento da dignidade e sustentabilidade
ga de trabalho das mulheres, com o
da vida. As mais de 500 mulheres urba-
compartilhamento do trabalho do-
nas e rurais presentes deram visibilidade
FEMINISMO EM MOVIMENTO

méstico e de cuidados.
às alternativas construídas em práticas
Helena Zelic

populares nos territórios, pautadas pela


afirmação da agroecologia como proje-
to político para alcançar a Soberania Ali-
mentar, pela defesa do direito dos po-
vos ao território e bens comuns e pela
igualdade como princípio organizador
da sociedade. 17
núcleos feministas pelas universidades
FEMINISMO TRANSFORMANDO do país, que atraem mulheres para atu-
A UNIVERSIDADE ar no combate ao machismo no movi-
Uma das grandes contribuições que mento estudantil e na vida universitária.
o movimento feminista traz ao movi- Até 2019, foram realizados 7 EMEs, e a
mento estudantil é a proposta e a vivên- cada edição o número de mulheres par-
cia de uma nova forma de organização ticipantes marca um novo recorde.
e socialização. O EME é um espaço importante para
A partir de 2003, a diretoria de mu- proporcionar encontros e trocas entre
lheres da UNE cumpre um papel im- jovens de diversas partes do país, e tam-
portante no fortalecimento do femi- bém para organizar a agenda de luta
nismo nas universidades brasileiras, e das mulheres estudantes, sempre tendo
o Encontro de Mulheres Estudantes da em vista que o machismo na universi-
UNE (EME-UNE) é um momento chave dade não está desconectado das estru-
para essa organização. Desde o primei- turas do capitalismo patriarcal e racista.
ro EME, em 2005, as militantes da MMM Hoje em dia, as mulheres estudantes já
contribuem para essa construção. Na- avançaram muito em temas como o as-
quele ano, o Encontro antecedeu o 8 de sédio e a violência nas universidades e
março que lançou a Carta das Mulheres a maior participação em espaços políti-
para a Humanidade, o que possibilitou a cos. Mas, diante da conjuntura de retro-
participação das estudantes nessa ma- cessos e de avanço do neoliberalismo,
nifestação histórica. têm uma grande tarefa: garantir que as
Desde então, se ampliou o acesso universidades estejam livres da precari-
às universidades, ao mesmo tempo em zação, privatização, elitização e mesmo
que surgiram e cresceram os coletivos e da censura e perseguição política!
Helena Zelic
FEMINISMO EM MOVIMENTO

18
ção marcou as ações regionais na Tur-
3A AÇÃO quia, especialmente pela contribuição
INTERNACIONAL das mulheres dos Bálcãs e das curdas,
SEGUIREMOS EM nas Filipinas e na Colômbia, onde ocor-
MARCHA reram mobilizações diante das bases
ATÉ QUE TODAS militares dos Estados Unidos. O ato de
SEJAMOS LIVRES encerramento da ação em Bukavu, na
República Democrática do Congo, foi
A Terceira Ação Internacional foi rea-
uma experiência única da diplomacia
lizada em 2010. No Brasil, 3 mil mulheres
popular e da solidariedade internacio-
marcharam entre as cidades de Campi-
nal. Dez anos após a entrega das 17 de-
nas e São Paulo. Os quatro campos de
mandas internacionais à ONU, a MMM
ação: Trabalho e autonomia econômica
questionou esta instituição no terreno
das mulheres; violência; bens comuns
em que atua, afirmando que os direitos
e serviços públicos; e paz e desmilitari-
das mulheres inscritos em convenções,
zação – concretizaram a plataforma da
tratados e resoluções da ONU só fazem
MMM.
sentido quando são reais para todas as
Esta ação teve três focos: expressar
mulheres do mundo.
demandas nacionais por meio de mar-
chas e/ou caravanas; marcar o 100º ani-
João Zinclar

versário do Dia Internacional de Luta


das Mulheres, por meio da recuperação
da história de mulheres lutadoras; am-
plificar a voz das mulheres que sofrem
violência em situações de conflito ar-
mado, e apoiá-las em seus esforços para
expor as causas dos conflitos e encon-
trar soluções para superá-las. Mais de
100 mil mulheres de 75 países partici-
param em ações nacionais, regionais e
João Zinclar

FEMINISMO EM MOVIMENTO

internacionais.
A grande contribuição desta ação foi
convidar as mulheres de todos os países
a refletir sobre a militarização da vida
cotidiana e sua relação com o modelo
capitalista e patriarcal, bem como a visi-
bilizar os interesses que existem por trás
dos conflitos. O eixo paz e desmilitariza- 19
Alojamento na ação internacional de 2010
PARA O FEMINISMO, Desde a articulação da Cúpula dos
Povos na Rio+20, a resistência à mercan-
O CAPITALISMO NÃO TEM ECO! tilização e financeirização da natureza
O novo discurso capitalista, que hoje
ganhou cada vez mais relevância, princi-
se traduz nas propostas da “economia
palmente porque as propostas do capita-
verde”, é o mesmo que mercantiliza nos-
lismo verde se ampliaram em nosso país
sas vidas, nossos corpos e nossos terri-
e no mundo. Nosso acúmulo na crítica à
tórios. Resistimos à utilização da nature-
economia verde e na defesa dos comuns
za como um recurso a serviço do lucro
nos orientam nas articulações com os
de empresas, visto como inesgotável ou
movimentos sociais por justiça climática
como mercadorias mais caras à medida
e ambiental. Em 2018, o Fórum Alternati-
que se esgotam, pela má utilização.
vo Mundial da Água (FAMA) foi um ponto
A experiência de invisibilidade e des-
de encontro que unificou a luta contra a
valorização do trabalho das mulheres no
apropriação privada da água, dos bens
cuidado das pessoas é muito similar ao
comuns e dos serviços públicos.
que acontece com a natureza. O tempo
e a energia de cuidar das pessoas, que
Arquivo MMM

inclui desde o preparo da comida e a re-


alização das tarefas de manutenção da
casa até a disponibilidade para a escuta,
não são visíveis e são elásticos. As mu-
lheres são as primeiras a se levantar e as
últimas a dormir na maioria das famílias.
O tempo e a energia dos processos de
regeneração da natureza são ocultados
e tratados como impedimentos a serem
Arquivo MMM

superados para que a máquina do con-


sumo funcione a todo vapor. As mulhe-
res continuam sendo pressionadas para
ajustar lógicas e tempos opostos – o da
vida e o do lucro- assumindo a sobrecar-
ga de trabalho que a tensão entre essas
FEMINISMO EM MOVIMENTO

esferas gera.
A luta feminista por um novo pa-
Arquivo MMM

radigma de sustentabilidade da vida


amplia a visão sobre a sustentabilidade
ambiental que, muitas vezes, não incor-
pora as relações humanas como parte
dos conflitos e relações de poder que
20 devem ser alteradas.
Sonia Coelho

manifeste de diferentes formas em cada


país, território ou região.
Uma ação que organizamos interna-
cionalmente chama-se 24 horas de Soli-
dariedade Feminista. Contra o poder das
empresas transnacionais que exploram
o corpo e o trabalho das mulheres em
todo o mundo, vamos às ruas no dia 24
de abril, data de solidariedade interna-
cional que marca o dia do desabamento
PALESTINA LIVRE! do edifício Rana Plaza, em Bangladesh.
Em 2012, a MMM participou da orga- O edifício era uma indústria têxtil que
nização do Fórum Social Palestina Livre, produzia roupas para muitas marcas fa-
em Porto Alegre. O maior número de mosas às custas do trabalho precário das
refugiados do planeta é formado por pa- mais de mil mulheres que ficaram feridas
lestinos e palestinas, que ocupam hoje ou perderam suas vidas.
apenas 2% de seus territórios originais. A Por isso, nesse dia, as militantes da
ação do Estado genocida de Israel conta Marcha Mundial das Mulheres saem às
com a conivência, apoio e financiamen- ruas nos cinco continentes, das 12h às
to de outros Estados poderosos como os 13h, em uma ação que acompanha o ci-
Estados Unidos e gera muito lucro para clo do sol, do Oceano Pacífico ao Atlânti-
a indústria armamentista. Ser militante, co, totalizando 24 horas de solidariedade
neste contexto, é um processo que altera e denúncia das empresas transnacionais.
profundamente a vida de cada uma das Já em 2012, antes da tragédia de Ban-
mulheres. A repressão, a prisão e até a tor- gladesh, a Marcha Mundial das Mulheres
tura estão no horizonte de quem decide realizou a ação das 24 horas. No Brasil,
resistir a essa ocupação violenta e lutar realizamos ações de solidariedade com
pela Palestina livre. as companheiras da Chapada do Apodi,
O Fórum foi um espaço fundamental
para conhecer a realidade e a experiência
Arquivo MMM

das nossas companheiras palestinas, e


FEMINISMO EM MOVIMENTO

para fortalecer na MMM do Brasil a solida-


riedade ativa com esta luta.

24 HORAS DE SOLIDARIEDADE
O que motiva nossa solidariedade in-
ternacional é a compreensão de que to-
das compartilhamos uma história e uma
situação de opressão, ainda que esta se 21
na região Nordeste, que resistem ao agro
e hidronegócio em seus territórios. COLETIVO DE COMUNICADORAS
Em 2014, aderimos à Campanha Rou- O coletivo de comunicadoras é um
pas Limpas, que exerce pressão junto às grupo nacional de mulheres que deba-
marcas transnacionais para que deposi- te e produz a comunicação da Marcha
tem a parte que lhes cabe do seu fundo Mundial das Mulheres. O coletivo foi
de apoio às vítimas do acidente, e a Mar- criado a partir da experiência de comu-
cha de Bangladesh, Turquia e Filipinas nicação colaborativa construída duran-
fizeram manifestações. Em 2015, com as te o 9º Encontro Internacional da Mar-
tags #QuemFezSuaRoupa e #VidasPrecá- cha. Nos nutrimos das experiências da
rias, fizemos ações dentro do Wal Mart, convergência de comunicação dos mo-
supermercado que comercializa roupas vimentos sociais em espaços de alian-
produzidas a partir de trabalho escravo. ças, onde construímos práticas contra-
Nesse dia, denunciamos a proposta de -hegemônicas de comunicação popular.
terceirização irrestrita do trabalho no No coletivo, somos todas comuni-
Brasil, que depois foi ampliada com a cadoras: algumas são especialistas no
reforma trabalhista. Em 2017, algumas assunto, outras não, mas o importante
cidades organizaram rodas de conversa é que todas somos capazes de produzir
e panfletagens, e aconteceu um debate comunicação. Nossa comunicação se
nacional online, que colocou nossa crí- esforça para mostrar a diversidade da
tica ao militarismo e às suas expressões Marcha: regional, geracional, política,
no Brasil. Em 2018, ocupamos a Riachue- a diversidade do campo e da cidade.
lo, marca de roupas que apoiou o golpe Queremos construir uma comunicação
e a Reforma Trabalhista e já foi denuncia- popular, sem cercas, que colabore para
da por trabalho análogo à escravidão. integrar redes, ruas e roçados.

diversas partes do Brasil. Além de refletir so-


9º ENCONTRO bre as trajetórias do feminismo neste conti-
INTERNACIONAL nente, as conferências realizadas no Encon-
DA MARCHA tro aprofundaram o debate sobre o avanço
A realização do 9º do capital sobre os territórios, trabalho e
Encontro Internacio- corpo das mulheres ao redor do mundo.
nal da Marcha Mundial Foi um dos objetivos do Encontro debater
FEMINISMO EM MOVIMENTO

das Mulheres no Brasil a contribuição da Marcha para reposicio-


tem uma grande re- nar o feminismo em um campo político
levância política para que tem como horizonte a superação do
pensar o combate às capitalismo patriarcal, racista e LGBTfóbico.
opressões que ameaçam a vida das mulhe- O último dia do encontro foi marcado por
res e dos homens. uma grande mobilização internacional, que
O Encontro reuniu 1300 mulheres vin- sintetizou, nas ruas de São Paulo, a política
22 das de dezenas de países e também de construída pela MMM.
Com os eixos do trabalho, do corpo e
AÇÃO INTERNACIONAL DE 2015 dos territórios das mulheres, os comitês
Em 2015, a estratégia da Ação Interna-
cional no Brasil foi diferente de 2010, que estaduais da MMM trabalharam a partir
reuniu 3 mil mulheres em uma grande das pautas urgentes em suas realidades:
marcha nacional. Nesse ano, a escolha o combate à violência em Pernambu-
foi descentralizar a Ação pelos estados co, Paraíba, Ceará e Alagoas, a luta pela
e regiões brasileiras. Isso colaborou na desmilitarização no Rio de Janeiro, o
mobilização por reivindicações locais das fortalecimento da auto organização no
mulheres em seus territórios. Tocantins, a defesa da água e dos bens
A 4ª Ação no Brasil resultou em um comuns, contra a exploração das mine-
mapa das resistências e alternativas, cons- radoras em Minas Gerais, a luta contra
truído coletivamente pelas militantes. O o agronegócio e o genocídio indígena
mapa evidencia a trajetória da Ação no no Mato Grosso do Sul, pela autonomia
Brasil, as reivindicações colocadas e a ne- econômica em São Paulo, pela legali-
cessária ligação entre todas elas, de norte zação do aborto no Rio Grande do Sul e
a sul, por um feminismo plural, diverso e pela agroecologia e cultura feminista no
combativo. Rio Grande do Norte.

FEMINISMO EM MOVIMENTO

23
Arquivo MMM
VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
A luta antirracista é essencial para a
luta feminista e anticapitalista: uma não
funciona sem a outra. Por isso, faz parte
da nossa agenda feminista a luta pelo
povo negro vivo, pela desmilitarização
nas periferias, pelo fim da guerra às dro-
gas, que na verdade é a guerra contra os
pobres.
O olhar sobre a raça é transversal em
nossa visão de mundo, uma vez que a his- MARCHA DAS MULHERES NEGRAS
tória das mulheres trabalhadoras no Brasil Em novembro de 2015, diversas or-
é, em sua maioria, a história das mulheres ganizações do movimento negro e
negras, que foram submetidas à escravi- feminista, partidos e movimentos
dão, ao desamparo, à violência, à discrimi- sociais organizaram a Marcha das
nação e, até hoje, ao trabalho precário e Mulheres Negras. Fora cerca de 50
mal-pago, onde são maioria. Além disso, mil mulheres negras marchando em
o Mapa da Violência de 2015 não trouxe Brasília, a partir do lema “contra o ra-
boa notícia: em dez anos, apesar dos as- cismo, a violência e pelo bem viver”.]
sassinatos de brasileiras brancas terem A MMM contribuiu na construção da
diminuído 9,8%, os assassinatos de brasi- Marcha das Mulheres Negras em di-
leiras negras cresceram 54%. Isto significa versos estados. Em estados como São
que o patriarcado avança por dentro do Paulo, as militantes negras da MMM
racismo, e que nossa luta feminista pre- participam na construção das ativi-
cisa alterar a sociedade como um todo dades permanentes da Marcha das
para, assim, garantir que todas as mulhe- Mulheres Negras e em datas como o
res tenham direito a uma vida que vale a 25 de julho, Dia da Mulher Negra La-
pena ser vivida. tino-americana e Caribenha. A MMM
também participa, em vários estados,
POR UMA SEXUALIDADE LIVRE! da construção das marchas de 20 de
FEMINISMO EM MOVIMENTO

Se queremos construir uma nova socie- novembro, Dia da Consciência Negra.


dade baseada na solidariedade, na igual-
dade e na liberdade, a sexualidade precisa mundo em que vivemos: o moralismo, o
fazer parte de nossa construção. Por isso, modelo de família tradicional, a violência
na Marcha Mundial das Mulheres, sempre e a imposição da heterossexualidade im-
pautamos o assunto da sexualidade como pedem o conjunto das mulheres de viver
parte de nossa luta feminista anticapitalista uma sexualidade livre, seja as heterossexu-
24 e antirracista. A sexualidade não é livre no ais, as bissexuais ou as lésbicas.
Na Marcha Mundial das Mulheres, en- cessos democráticos e a defesa da sobera-
tendemos que as lutas das mulheres lésbi- nia. O encontro teve como resultado a ar-
cas e bissexuais são lutas de todas as mu- ticulação da Jornada Continental pela De-
lheres. Por isso, participamos da construção mocracia e contra o Neoliberalismo como
de muitas edições da Caminhada de Lésbi- um espaço de permanente de construção
cas e Bissexuais de São Paulo, que aconte- de aliança e unidade programática.
ce todos os anos para visibilizar a luta das
mulheres LBT, que costuma ser ocultada A JORNADA CONTINENTAL
e despolitizada na Parada Gay. Organiza- PELA DEMOCRACIA E CONTRA
mos o Encontro Nacional de Lésbicas e O NEOLIBERALISMO
Bissexuais da Marcha, em 2018, um espaço A Jornada aglutina organizações sindi-
nacional de troca e reflexão das mulheres. cais, sociais e camponesas, regionais e de
Participamos ativamente da denúncia do vários países latino-americanos em torno
terrível assassinato de Luana Barbosa, mu- de uma agenda comum. Em 2017, o En-
lher lésbica, pelas mãos da Polícia Militar contro da Jornada aconteceu no Uruguai,
em São Paulo, e lutamos todos os dias por e a Marcha se mobilizou muito para estar
uma vida sem violência para as mulheres presente com 300 mulheres. Foram muitas
lésbicas e bissexuais. e muitas horas de estrada para participar,
construir novas sínteses e reafirmar nosso
PROCESSOS DE ARTICULAÇÃO E feminismo anticapitalista.
ALIANÇAS CONTINENTAIS Em 2019 acontece mais um encontro,
dessa vez em Cuba. Diante dos ataques a
2015: DEZ ANOS DA DERROTA DA ALCA Cuba e à Venezuela, do golpe no Brasil e,
além disso, da eleição de Macri, Piñera e
E OS NOVOS DESAFIOS CONTINENTAIS Bolsonaro, a Jornada Continental é uma
Dez anos depois de derrotar a ALCA,
ferramenta necessária para a articulação
movimentos sindicais, camponeses, de
anti-imperialista. Nesse momento de nova
mulheres, ambientalistas, articulações e
investida neoliberal, os movimentos defen-
organizações regionais se reuniram no En-
derão os pólos de resistência socialista da
contro Hemisférico em Havana, Cuba. Foi
América Latina e atualizarão eixos, debates
um espaço de convergência continental
e agenda de lutas.
FEMINISMO EM MOVIMENTO

importante para identificar uma agenda de


construção conjunta para a rearticulação
dos movimentos, dada a onda neoliberal GOLPE EM 2016 E
que começava a avançar na América Latina AS RESISTÊNCIAS FEMINISTAS
e Caribe. Os eixos da agenda ficaram em Em 2016, a elite brasileira, aliada ao
torno de três pontos: a luta contra o livre parlamento, à mídia hegemônica, ao judi-
comércio e as transnacionais, a integração ciário e a forças internacionais, impôs um
dos povos e o aprofundamento dos pro- impeachment que retirou Dilma Rousseff 25
centenas de milhares de pessoas.
Arquivo MMM

Hoje o movimento feminista é uma


força fundamental para o enfrentamento
ao governo Bolsonaro e ao seu projeto
que une o neoliberalismo ao conserva-
dorismo, ambos perversos para a vida das
mulheres e da classe trabalhadora.

FRENTE BRASIL POPULAR


da Presidência. A Marcha, junto a um am- A Marcha Mundial das Mulheres sem-
plo conjunto da esquerda, caracteriza pre participou de processos e alianças com
esse processo como um golpe. Há muitos movimentos sociais mistos, por entender
anos, o feminismo já vinha denunciando que a construção do feminismo tem que
a ofensiva conservadora e seus agentes. estar inserido em todos os processos e
A reação das mulheres a essa escalada ações de transformação da sociedade.
golpista foi rápida e ampla: desde a Mar- No Brasil, a Marcha atualmente é par-
cha das Margaridas de 2015, as mulheres te da Frente Brasil Popular, que foi criada
colocaram a campanha Fora Cunha no durante uma conferência nacional em se-
centro do debate. tembro de 2014 com a presença de movi-
O golpe implementou uma agenda de mentos sociais, sindicais e partidos. A FBP
privatizações, retrocessos em direitos tra- denunciou o golpe de 2016, organizou a
balhistas e sociais, desmonte das políticas resistência e tem sido uma referência na
públicas, desemprego, criminalização da mobilização das trabalhadoras e traba-
pobreza e dos movimentos sociais, além lhadores. Junto com o movimento sindical
de radicalizar o ódio e os ataques contra e a Frente Povo Sem Medo, organizou a
os mais pobres, as mulheres, a população Greve Geral de abril de 2017, que paralisou
negra indígena, imigrante, LGBT e as or- o país por um dia, com adesão de muitas
ganizações de esquerda. categorias. A MMM é parte da operativa
Esse rompimento com a democracia Nacional da FBP e de sua construção co-
é um dos fatores que permitiu o assassi- letiva e cotidiana na maioria dos estados
FEMINISMO EM MOVIMENTO

nato brutal de Marielle, a prisão injusta de brasileiros.


Lula, e levou à eleição de Jair Bolsonaro,
Arquivo MMM

em uma campanha movida pela mentira,


pelo moralismo, pela ameaça. Durante o
processo eleitoral, as feministas tiveram
um papel central na denúncia ao fascis-
mo que Bolsonaro representa. Por todo o
26 Brasil, atos com o mote “Ele não” reuniram
comuns de atuação, assim como assumir
COMO NOS ORGANIZAMOS NO BRASIL as tarefas nacionais, desdobrando-as para
Atualmente, a MMM está organizada
em 20 estados no Brasil. a realidade local. As reuniões nacionais,
Nos organizamos em núcleos e comi- com representações dos estados, são os
tês, nas cidades e estados, e há duas ma- espaços de debate sobre nossas pautas,
neiras para participar. desafios e tarefas nacionais. As militantes
Os grupos de mulheres que tenham que participam das reuniões nacionais
identidade política com a MMM, podem tem como tarefa socializar todas as in-
aderir coletivamente. Mas, as mulheres formações e materiais recebidos para as
que não são de nenhum grupo ou mo- demais militantes do estado. Além disso,
vimento podem entrar em contato direto uma coordenação executiva é responsá-
com os núcleos e comitês para se integrar vel por acompanhar o seguimento das
na dinâmica da Marcha. tarefas e processos.
A MMM não é filiada a nenhum par- Para ser militante da Marcha, não é
tido político, não pertence a nenhuma preciso chegar já com todas as informa-
corrente partidária e não é vinculada a ções na cabeça. Acreditamos nos proces-
nenhum governo. Nos estados, a MMM sos coletivos de formação e de transfor-
pode ter quantos comitês forem necessá- mação das pessoas, pois assim aprofun-
rios para a organização permanente e em damos reflexões, vencemos contradições
cada local. É importante que o estado rea- e nos organizamos enquanto militantes
lize plenárias estaduais para discutir eixos do movimento.

Os estados do
país onde a
Marcha Mundial
das Mulheres
está organizada. 
Nos demais
estados, temos
contatos
FEMINISMO EM MOVIMENTO

articulados.

27
RUMO À 5a AÇÃO INTERNACIONAL!

Arquivo MMM
Em 2020 acontece a 5ª Ação Interna-
cional da Marcha Mundial das Mulheres,
com o lema “Resistimos para viver, mar-
chamos para transformar”! Por todo o
mundo, as mulheres irão compor uma
agenda intensa de ações para confrontar
o contexto atual de recrudescimento do
neoliberalismo e do conservadorismo, e
reforçar o feminismo como resposta co-
letiva e antissistêmica. Unidas por uma
visão global e internacionalista, as mulhe-
res irão fortalecer a luta feminista a partir
de suas realidades e pautas locais.

NOSSO CANCIONEIRO Ó abre alas, que as mulheres vão passar


Com essa marcha muita coisa vai mudar
No batuque do tambor, a revolta social Nosso lugar não é no fogo ou no fogão
Nós somos as mulheres A nossa chama é o fogo da revolução!
Da Marcha Mundial
Contra a pobreza e a opressão Legaliza! O corpo é nosso!
Do capitalismo patriarcal É nossa escolha!
Nós vamos provocar uma revolução É pela vida das mulheres!
mundial!
Ê, mulheres! Mulheres libertárias! O estado é laico, não pode ser machista
Ê, mulheres feministas revolucionárias! O corpo é nosso, não da bancada mora-
lista
Mulheres contra a guerra As mulheres tão na rua por libertação
Mulheres contra o capital Os fundamentalistas não mandam na
Mulheres contra o racismo gente não!
E o capitalismo neoliberal!
FEMINISMO EM MOVIMENTO

E pra lutar contra o machismo,


Mulheres querem a terra venha com as feministas
Mulheres querem ser igual O Jair Bolsonaro ele nos indigna
Mulheres querem o feminismo O feto na barriga tá valendo bem mais
E o socialismo internacional! E a vida das mulheres tá ficando para trás!

SEGUIREMOS EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!


28 www.marchamundialdasmulheres.org.br | 11 38193876 | marchamulheres@sof.org.br
Publicação da SOF. São Paulo, abril de 2019 . Projeto gráfico e diagramação: Caco Bisol. Impressão: Az Gráfica.
Apoio para essa publicação: Fundação Luterana de Diaconia (FLD)
FEMINISMO
EM MOVIMENTO

Apoio:

www.marchamundialdasmulheres.org.br | marchamulheres@sof.org.br CADERNO DE APRESENTAÇÃO DA


www.sof.org.br
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES

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