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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

APOSTILA

Disciplina: Ornitologia Básica

Prof. Dr. Luís Fábio Silveira

Museu de Zoologia da USP


ORNITOLOGIA BÁSICA
Prof. Luís Fábio Silveira

CRONOGRAMA E INFORMAÇÕES GERAIS DO CURSO


Total de Créditos: 05
Aulas Teóricas: 03
Aulas Práticas: 01
Seminários e Trabalho: 01
Carga Horária: 60 horas
Número de Alunos: 60
Pré-Requisito: BIZ 212 – Vertebrados
Dia Da Semana: segunda-feira
Horário: 8:00 às 12:00 horas (aulas teóricas e práticas)
Duração do Curso: 16 semanas
Docente Responsável: Luís Fábio Silveira

Objetivos

Apresentar os princípios básicos da ornitologia; discutir temas atuais da disciplina; apresentar e


discutir os caracteres anatômicos e a sua importância na sistemática do grupo; caracterizar os
principais grupos de aves da região Neotropical, discutindo suas relações sistemáticas e taxonômicas,
além de problemas de conservação.

Conteúdo

Origem e evolução das aves; anatomia e reconhecimento da morfologia externa das aves;
fisiologia, penas e voo; histórico sistemático das aves e importância das coleções zoológicas;
comportamento – comunicação visual e vocal; migração; reprodução; padrões de especiação, com
ênfase no Neotrópico; estudo e reconhecimento das principais famílias de aves do Brasil; conservação;
métodos de estudo das aves em campo.

Métodos

Aulas teóricas e práticas, incluindo dissecção de material previamente coletado e fixado e análise
de esqueletos e material preparado em via seca.

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Atividades Discentes

Participação nas aulas práticas e teóricas, prova. Os alunos devem trazer consigo material de
dissecção (bisturi, lâminas, tesoura, pinça) e usar avental nas aulas práticas.

Critérios de Avaliação de Aprendizagem

Participação nas aulas e prova.

Cronograma

05/03 – Semana 01 – Origem e evolução das aves.


12/03 – Semana 02 – Anatomia e reconhecimento da morfologia externa das aves (T/P).
19/03 – Semana 03 – Fisiologia, penas e voo (T/P).
26/03 – Semana 04 – Reprodução.
02/04 – Semana 00 – Semana Santa – não haverá aula.
09/04 – Semana 05 – Aula prática no IBUSP.
16/04 – Semana 06 – Comportamento – comunicação visual e vocal.
23/04 – Semana 07 – Migração e outros movimentos anuais das aves.
30/04 – Semana 00 – Recesso – não haverá aula.
07/05 – Semana 08 – Taxonomia, conceitos de espécie e suas implicações.
14/05 – Semana 09 – Padrões de especiação no Neotrópico.
21/05 – Semana 10 – Diversidade de Aves Brasileiras 1.
28/05 – Semana 11 – Diversidade de Aves Brasileiras 2.
04/06 – Semana 12 – Diversidade de Aves Brasileiras 3.
11/06 – Semana 13 – Métodos de estudo das aves em campo.
18/06 – Semana 14 – Conservação de aves.
25/06 – Semana 15 – Estudos de caso sobre conservação.
02/07 – Semana 16 – Avaliação final da disciplina.

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INTRODUÇÃO
As aves vêm fascinando o homem desde a antiguidade, seja pelo seu voo, por seus diferentes
cantos, ou por seus variados comportamentos, marcando profundamente diversas culturas ao redor
do mundo. Estes atributos também contribuíram para que as aves se tornassem o grupo de
vertebrados mais bem conhecido e popular. A maioria das pouco mais de 11.000 espécies conhecidas
possui hábitos diurnos, sendo facilmente localizadas (muitas vezes através do canto) e observadas,
permitindo estudos detalhados sobre o seu comportamento e sua ecologia. De fato, muito do que se
sabe nestas áreas hoje em dia é resultado do estudo em campo com as aves, e muitas das teorias
vigentes tiveram como base os trabalhos desenvolvidos com este grupo.

Apesar das espécies atuais serem bem conhecidas (em relação aos outros grupos de vertebrados),
ainda existe controvérsias sobre a história evolutiva deste grupo. Aceitava-se, até recentemente, o
icônico fóssil Archaeopteryx lithographica como o registro fóssil mais antigo atribuído a uma ave. Este
fóssil data do final do Período Jurássico (cerca de 150 milhões de anos atrás). Contudo, um novo
estudo sugeriu que Archaeopteryx não deve ser classificado como uma ave, mas sim como um
Deinonicossauro (Deinonychosauria), um dos muitos grupos de dinossauros não avianos que foram
extintos no final do período Cretáceo. Desta forma, os possíveis candidatos a ancestrais das aves
devem ser os gêneros ainda muito pouco conhecidos Epidexipteryx, Jeholornis ou Sapeornis (Figura 1).

Diversas hipóteses já foram propostas para explicar as relações filogenéticas das aves com os
demais grupos de vertebrados. As aves já foram consideradas até mesmo como grupo-irmão dos
mamíferos, embora o seu grupo-irmão atual sejam os Crocodylia, com os quais compartilham diversos
caracteres osteológicos. Aves, crocodilos e jacarés são répteis componentes do grande grupo
Archosauromorpha, que inclui também os pterosauros e outros dinossauros que não são aves. A
hipótese que atualmente conta com o maior suporte filogenético sugere que as aves são répteis
pertencentes à grande irradiação dos Dinosauria, mais estreitamente relacionados aos
Deinonychosauria (Figuras 2 e 3). Desta forma, é lícito considerar que os dinossauros, ao contrário do
que se acredita, não foram extintos, sendo as aves são os representantes atuais deste grupo cujos
representantes mais conhecidos e famosos extinguiram-se no final do Período Cretáceo.

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Figura 1: Proposta de relações filogenéticas das aves baseada em caracteres osteológicos (Fonte: Nature 475, 2011,
pag. 469). Observar a posição de Archaeopteryx e das demais aves, no clado Avialae.

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Figura 2: Relações filogenéticas dos Amniota, incluindo grupos fósseis. Observe a posição das aves como
Archosauromorpha e Dinosauria (Fonte – arquivo pessoal).

Figura 3: Relações filogenéticas das aves e dinossauros, mostrando a que as aves são apenas um dos muitos grupos de
Dinosauria (Fonte: http://biology.unm.edu/ccouncil/Biology_203/Summaries/Phylogeny.htm).

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ASPECTOS GERAIS
A característica mais notável e que permite a qualquer pessoa identificar e reunir as aves em um
grupo distinto dos outros animais atuais é a presença de penas recobrindo o corpo. Contudo, esta não
é uma característica exclusiva das aves, pois diversos dinossauros terópodes não-avianos também
possuem penas, conforme amplamente demonstrado no registro fóssil. Alguns destes dinossauros
também podiam voar, possuindo penas com vexilos assimétricos (veja abaixo).

As aves também apresentam um bico córneo, e os representantes atuais não possuem dentes.
Deve-se lembrar, entretanto, que algumas espécies como os patos-mergulhões, Mergus spp.,
apresentam pequenas projeções de queratina serrilhadas nos bordos das maxilas que servem para
prender os peixes dos quais se alimentam, e que não são homólogas aos dentes.

O pescoço é longo e fino, com um número variável de vértebras cervicais (até 25 nos cisnes). A
cintura escapular (esterno, coracóide, escápula e fúrcula) e os membros anteriores (úmero, rádio, ulna,
carpometacarpo e falanges) foram grandemente modificados para permitir o voo. A cintura pélvica
(íleo, ísquio e púbis) e os membros posteriores (fêmur, tibiotarso, tarsometatarso e falanges) também
sofreram modificações que permitiram às aves ocupar com sucesso os mais variados tipos de
ambientes.

As cerca de 11.000 espécies de aves estão amplamente distribuídas por todo o globo terrestre,
ocorrendo nos mais variados tipos de hábitats, desde os gelados polos e topos de montanhas até os
desertos, passando por florestas, formações abertas e nos diversos ambientes aquáticos. A maior
diversidade de aves é encontrada nas Florestas Tropicais da América do Sul, África e Ásia. A América
do Sul é o continente onde se encontra o maior número de espécies (cerca de 4.000), ocorrendo, no
Brasil, aproximadamente, 1.800 destas.

Desde o minúsculo beija-flor de Cuba (Melisuga helenae), a menor de todas as espécies, com 5 cm
de comprimento e 2 g de massa até a gigantesca avestruz (Struthio camelus), que atinge 2,5 m de altura
e 135 kg, as aves apresentam uma grande variação morfológica, que as permitiu ocupar com sucesso
praticamente todos os nichos ecológicos disponíveis. Estas variações são encontradas principalmente
nos formatos dos bicos, asas e pés, estruturas responsáveis pela capacidade de explorar o ambiente e
pela captura e apreensão do alimento. Com a transformação dos membros anteriores em asas, cuja
função é proporcionar o voo, os bicos e pés tornaram-se os grandes responsáveis para a obtenção dos
alimentos.

Desta forma, observa-se uma grande variedade de formatos de bicos, cada um deles relacionado a
determinado hábito alimentar. Aves granívoras (que se alimentam de grãos) possuem o bico cônico,

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onde as bordas cortantes descascam as sementes. Este é o tipo de bico encontrado, por exemplo, no
canário doméstico (Figura 4). Outras aves, como os patos e flamingos, possuem o bico revestido
internamente com numerosas lamelas córneas, que servem como filtro, separando as partículas
alimentares da água (Figura 4). Os papagaios possuem o bico bastante curvado e forte, típico de aves
que quebram frutos e sementes duras como as do coco. Os beija-flores são notáveis pelo bico longo,
que penetra na corola das flores em busca do néctar (Figura 4). Algumas espécies de beija-flores como
o Ensifera ensifera, constituem-se em um caso clássico de evolução convergente, onde o longo bico
desta espécie adapta-se perfeitamente ao comprimento da corola da flor da qual ele retira o néctar.
Este mesmo fenômeno pode ser observado em outras aves de diferentes famílias, como os pássaros
havaianos da família Drepanididae.

O bico de muitas espécies de aves insetívoras é achatado e largo na sua base. Além disso, observa-
se em volta dele um grande número de vibrissas, que podem atuar como uma “rede”, auxiliando na
captura de insetos. Outras espécies insetívoras possuem um pequeno gancho na ponta do bico, que
serve para quebrar a resistente carapaça quitinosa dos insetos e outros artrópodes. As aves
carnívoras, como os gaviões e falcões, possuem o bico adunco, próprio para rasgar e dilacerar a carne
de suas presas (Figura 4).

Figura 4: Diferentes formas de bicos encontradas nas aves (Fonte: Proctor & Lynch, 1993, Ornithology).

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Os pés também apresentam várias modificações. O próprio arranjo dos dedos, onde o dedo I
(hálux) é voltado caudalmente e os outros três dedos voltam-se cranialmente, pode variar. Este tipo de
pé, chamado de anisodáctilo (Figura 5), é o mais encontrado entre as espécies de aves, mas ainda
existem tipos de arranjo de dedos conhecidos como zigodáctilos (os dedos I e IV voltam-se
caudalmente, e o II e III cranialmente), típico dos papagaios e anus (Figura 5), sindáctilo (uma
membrana une os dedos II e III na sua base, Figura 5), que é observado, por exemplo, nos martins-
pescadores, pamprodáctilo (tanto o dedo I quanto o dedo IV podem ser revertidos, orientando-se
cranialmente, Figura 5), encontrado nos andorinhões, e o heterodáctilo, semelhante ao zigodáctilo,
mas com os dedos I e II voltados caudalmente e os dedos III e IV voltados cranialmente, típico dos
surucuás (Figura 5).

Figura 5: Tipos de pés, segundo o arranjo dos dedos (Fonte: Proctor & Lynch, 1993, Ornithology).

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Espécies de aves aquáticas podem apresentar uma membrana que une as falanges (membrana
interdigital), permitindo uma propulsão mais eficiente no ambiente aquático (Figura 6). Existe uma
grande variação neste sentido, com os representantes de algumas ordens (e.g. Pelecaniformes) com
todos os dedos do pé unidos, outros com apenas três deles (e.g. Anseriformes), e ainda espécies cuja
membrana une as falanges apenas parcialmente, como no caso do ganso-do-Havaí (Branta
sandvicensis). Outras espécies de aves aquáticas apresentam os dedos dos pés muito longos, que
auxiliam na locomoção entre as macrófitas. Este é o caso da jaçanã (Jacana jacana, Figura 6), por
exemplo. Aves de rapina (falcões, gaviões, corujas, etc.) possuem garras fortes, longas e afiadas que
auxiliam a capturar e matar suas presas (Figura 6). O pé dos papagaios (zigodáctilo), aliado ao
diminuto tarsometatarso, permite que o mesmo possa segurar o alimento e levá-lo ao bico. Esse
mesmo arranjo digital permite aos pica-paus escalar verticalmente os troncos das árvores (Figura 6).
As grandes aves ratitas (emas e avestruzes, entre outros) sofreram a redução do número de dedos,
sendo que a avestruz possui apenas dois e a ema três (Figura 6). Este número reduzido de dedos está
relacionado ao hábito cursorial destas espécies.

Figura 6: Diferentes formas de pés encontrados em vários representantes das aves (Fonte
http://www.arthursclipart.org/birdsodds/odds/page_01.htm).

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Biologia

A maioria das espécies de aves é ativa durante o dia. Desta forma, muitas e detalhadas
observações puderam ser feitas sobre a biologia das mesmas. O conhecimento acumulado sobre este
tópico, nas aves, suplanta em muito do que se sabe sobre os outros grupos de vertebrados. Serão
apresentados brevemente alguns pontos mais conhecidos e interessantes.

Talvez um dos aspectos mais peculiares sobre a biologia das aves seja o fenômeno da migração. A
migração pode ser definida como o movimento sazonal de uma determinada população ou espécie,
periodicamente, entre uma área de alimentação e uma área de reprodução. Mais de 400 espécies
migram do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul, e destas, cerca de 200 deixam a América do Norte
em direção às Américas Central e do Sul. Para que estas longas viagens possam ser realizadas com
sucesso, uma série de adaptações fisiológicas são necessárias. Um bom exemplo pode ser encontrado
em uma espécie de andorinha-do-mar (Sterna paradisaea), que voa cerca de 25.000 km (ida e volta)
entre o Oceano Ártico e os Pampas Argentinos. As aves migratórias geralmente apresentam, em
determinadas regiões do corpo, um grande acúmulo de gordura, que serve de reserva para os longos
voos entre as duas áreas. Outra característica das aves migratórias é o seu preciso senso de orientação,
que as permite traçar rotas precisas. Este precisão as permite também voar até mesmo em noites
escuras.

Migrações são mais facilmente observadas em regiões onde há uma marcada diferença entre as
estações do ano, como observado em boa parte do Hemisfério Norte. Na região Neotropical, onde o
Brasil está inserido, este fenômeno é notado em poucas espécies, como a tesourinha (Muscivora
tyrannus) e o suiriri (Tyrannus melancholicus). Outro tipo de migração, mais frequente na região
Neotropical, é conhecido por migração altitudinal. Espécies que vivem em uma determinada altitude,
em épocas mais frias, podem descer até as altitudes menores (algumas vezes até próximo do nível do
mar). Contudo, ainda são escassos os estudos sobre este assunto.

O comportamento social das aves também apresenta alguns pontos interessantes. Algumas
espécies de aves, especialmente na América do Sul, agrupam-se em bandos mistos, que vagueiam pelas
diversas formações vegetais em busca de alimento. As aves que compõem estes bandos podem, desta
maneira, otimizar a busca de alimento e conseguir uma proteção adicional contra os predadores, já
que a chance de ser predado diminui consideravelmente, e um número maior de indivíduos pode
detectar o predador com antecedência. Muitos bandos mistos de aves seguem as formigas de
correição, que, viajando pelo solo da floresta, espantam todos os insetos e pequenos vertebrados que
estão à sua frente. Estes animais que fogem destas formigas são então consumidos pelas aves.

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Os diversos tipos de sons emitidos pelas aves sempre chamaram a atenção, tanto do público leigo
quanto dos cientistas. A maioria dos sons emitidos pelas aves tem a sua origem em um órgão situado
na bifurcação dos brônquios, a siringe. Na maioria das vezes os machos cantam mais que as fêmeas, e o
fazem também de uma maneira mais elaborada. Normalmente as aves cantam para delimitar o seu
território, defendido com mais rigor durante o período reprodutivo.

Hábitat

As aves ocupam praticamente todos os hábitats disponíveis. Merece destaque as espécies que
vivem em ambientes bastante inóspitos, como as que vivem em ambientes marinhos, como os
albatrozes. Estas aves bebem água salgada e possuem uma bem desenvolvida glândula de sal, situada
acima das órbitas. Esta glândula excreta eficientemente o excesso de sal ingerido. Por outro lado, as
aves que vivem em ambientes áridos, como os representantes da família Pteroclidae, voam longas
distâncias (às vezes, mais de 30 km) para obter água; estas aves também possuem modificações nas
penas da região ventral, que permitem que a água seja armazenada e transportada até o ninho, para
matar a sede dos filhotes.

A maior diversidade de espécies de aves é encontrada nas regiões tropicais da África, Ásia e
especialmente a América do Sul. O clima mais favorável, aliado à grande diversidade e abundância de
alimentos (frutas e insetos) permite a existência de muitos nichos ecológicos que foram prontamente
preenchidos pelas aves. De fato, muitas espécies só são encontradas em determinado tipo de hábitat, e
muitas vezes são consideradas como indicadoras de boa qualidade ambiental. Estas “espécies
indicadoras” podem dar respostas bastante rápidas às alterações ambientais, desaparecendo dos seus
hábitats assim que qualquer alteração mais drástica aconteça.

Alimentação

As aves, graças a especializações morfológicas e comportamentais, são capazes de explorar os


mais diversos tipos de alimento.

Urubus e abutres consomem carne em decomposição, enquanto que os outros membros da Ordem
Falconiformes caçam ativamente as suas presas. Para isso, estas espécies possuem bicos e garras
fortes, próprios para apreender e dilacerar a carne dos animais dos quais se alimentam. As corujas
(Ordem Strigiformes) caçam as suas presas, que consistem principalmente de pequenos vertebrados,
durante a noite, graças a uma audição e visão bem desenvolvidas. Diferentemente dos Falconiformes,
as corujas não têm a capacidade de digerir ossos e outras partes mais duras do esqueleto. Algumas

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horas após ter ingerido a presa, as corujas regurgitam uma pequena pelota contendo vários ossos, bem
como pelos e penas. Muitos estudos sobre a dieta das corujas são baseados apenas nestas pelotas
regurgitadas. Algumas espécies de falcões, gaviões e corujas também consomem insetos e outros
invertebrados, muitas vezes capturados quando os mesmos estão acompanhando as formigas de
correição. A águia pescadora (Pandion haliaetus) e algumas espécies de gaviões e corujas também
caçam peixes.

Muitas espécies alimentam-se principalmente de peixes, como os albatrozes, pinguins, biguás,


atobás, gaivotas, garças, martins-pescadores e alguns mergulhões. As técnicas para a obtenção dos
peixes variam entre as famílias e entre as espécies. Os atobás capturam o peixe frequentemente
através de um mergulho, de maneira semelhante aos martins-pescadores. Nos locais onde várias
espécies de garças se concentram, cada uma delas possui uma especialização morfológica e
comportamental que as permite explorar um micronicho e capturar um tipo de presa mais específica,
diminuindo a competição das diversas espécies pelo recurso alimentar. O pelicano possui uma prega
de pele extensível entre os ramos da mandíbula, que mantêm o peixe preso, antes de ser deglutido. Os
biguás podem se reunir em grandes grupos e cercar um cardume, mesma técnica utilizada pelos
pelicanos.

As espécies da família Scolopacidae (maçaricos) alimentam-se de pequenos vermes e moluscos


encontrados nas praias e brejos. Eles são localizados através de um bico longo e dotado de muitas
terminações sensoriais. As aves penetram o bico no solo, e estas terminações são capazes de detectar
as presas.

Uma outra fonte de alimento consumida por um grande número de espécies de aves pode ser
encontrada nos insetos e outros pequenos invertebrados. Para capturar estes pequenos animais, as
aves desenvolveram uma série de adaptações morfológicas e comportamentais. Muitas espécies
insetívoras possuem, lateralmente ao bico, uma série de vibrissas, que são penas modificadas, que
servem como uma “rede”, auxiliando na captura das presas. Estas estruturas são particularmente
notáveis nos representantes das famílias Tyrannidae (bem-te-vis) e Caprimulgidae (curiangos e
bacuraus). Muitos representantes destas famílias também apresentam o bico bastante largo, que
também auxilia na captura dos insetos e outros pequenos invertebrados. Outras espécies, como
aquelas pertencentes à família Thamnophilidae (chocas-da-mata) possuem, na ponta do bico, um
pequeno gancho, que serve para quebrar a carapaça quitinosa de muitos invertebrados. As estratégias
para a captura dos insetos variam grandemente entre as espécies de aves. Muitas delas são
especialistas em procurar por entre as folhas mortas ou entre as bromélias e outras epífitas, nas copas
das árvores, enquanto outras levantam as folhas que caem no solo. Muitos representantes da família
Tyrannidae realizam pequenos voos para capturar os insetos, enquanto que os andorinhões (família
Apodidae) o fazem em pleno voo, durante os seus deslocamentos.

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Outras espécies filtram as partículas alimentares encontradas em suspensão na água. Para isso
elas contam com pequenas lamelas dispostas lateralmente no interior do bico. Estas lamelas, aliadas a
uma língua musculosa, separam da água todo o alimento, que fica retido no interior do bico enquanto a
água sai pelas lamelas. Os patos e os flamingos são os representantes das aves mais conhecidos dentre
os que possuem este sistema para obter os alimentos.

Representantes de várias famílias (e.g. Emberizidae, Estrildidae, Passeridae) alimentam-se


principalmente de sementes. A proporção de sementes diminui apenas durante o período de
reprodução, onde a necessidade de proteína de origem animal é maior, para assegurar o crescimento
dos filhotes. O bico destas espécies é adaptado para separar a casca das sementes, através de
movimentos laterais. Algumas espécies de Emberizidae, na América do Sul, apresentam uma
preferência pelas sementes das taquaras, sendo possível encontrar grandes concentrações destas
espécies durantes o período de frutificação desta planta. Outras se adaptam à presença de gramíneas
exóticas introduzidas no Brasil, como é o caso dos papa-capins (Sporophila spp.).

Os papagaios (Família Psittacidae), graças a uma articulação especial entre a maxila superior e a
caixa craniana, que garante grande mobilidade e força, conseguem se alimentar de sementes duras,
como as do coco. Estas espécies também se alimentam de frutos, folhas e brotos. Os psitacídeos são
considerados predadores de sementes, contribuindo pouco para a dispersão destas na floresta.

Várias espécies de aves alimentam-se de frutos, especialmente na América do Sul. Os frugívoros


possuem um papel extremamente importante em seu ambiente, pois as sementes ingeridas junto com
o fruto são geralmente defecadas ou regurgitadas longe da planta-mãe, contribuindo para a dispersão
destas espécies vegetais, bem como para a regeneração dos ambientes. As aves frugívoras exploram
todos os microhábitats dentro dos seus ambientes, ocorrendo desde o solo até as copas das árvores.
De fato, muitas espécies podem exibir especializações morfológicas que as auxiliam a obter o seu
alimento. Talvez uma das mais conhecidas pode ser encontrada nos tucanos (Família Ramphastidae),
cujo bico descomunal (embora muito leve) é usado com muita eficiência para coletar frutos nas pontas
dos galhos, que não suportariam o peso da ave. É importante lembrar que os tucanos podem se
alimentar também de pequenos vertebrados. Outras, como os tangarás e os anambés (Famílias
Pipridae e Cotingidae, respectivamente) que tem um bico relativamente fraco, possuem uma grande
boca, que os permite engolir os frutos inteiros ou em grandes pedaços.

Outro recurso alimentar bastante explorado é o néctar. Rico em açúcares, que são muito
energéticos, o néctar é utilizado principalmente por representantes da família Trochilidae (beija-
flores). O seu bico longo, que age como uma bomba de sucção, permite que estas aves alcancem o
interior das flores, onde está localizado o nectário. Muitas vezes, ao inserir o bico nestes locais, os
beija-flores ficam com o bico ou a cabeça impregnados de pólen e, ao atingir outra flor, acabam

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contribuindo para a polinização. Contudo, alimentar-se de néctar não é privilégio apenas dos beija-
flores. Na América do Sul algumas espécies de emberizídeos (sanhaços, saíras e mariquitas, entre
outros) também podem se aproveitar deste recurso, enquanto que nas áreas tropicais do Velho Mundo
os representantes da família Nectariniidae (“sunbirds”, nectarinas) também se alimentam de néctar.
Em todos os casos, o néctar é um recurso sazonal, e que é defendido com vigor principalmente pelas
espécies de beija-flores.

A onivoria é conhecida em um grande número de espécies de aves. Pode-se citar as grandes aves
ratitas (emas, avestruzes), os inhambus, perdizes, codornas e macucos (Família Tinamidae), os
galiformes (galinhas, faisões, mutuns, jacus e aracuãs) e as saracuras (Família Rallidae) consomem
uma gama variada de alimentos, que inclui desde folhas e brotos, sementes e frutos até pequenos
vertebrados, como ratos, apanhados oportunisticamente.

Reprodução

Este é um dos aspectos mais fascinantes da biologia das aves. Existe uma enorme variação, que vai
desde a escolha do número de parceiros ou parceiras até o modo de construção do ninho e cuidados
com os filhotes. A monogamia é o sistema mais encontrado entre as aves. Neste sistema o macho e a
fêmea formam par pelo menos durante o período reprodutivo. Algumas espécies, inclusive, podem
formar um par por toda a vida, independente do período reprodutivo, como os papagaios e alguns
anseriformes. A poligamia, encontrada em cerca de 3% das espécies de aves, é praticada por alguns
maçaricos, por exemplo. Neste sistema tanto os machos quanto as fêmeas podem ter vários parceiros
durante a reprodução. No sistema conhecido como poliginia, que ocorre em cerca de 2% das espécies
de aves, o macho pode ter duas ou mais parceiras durante o período reprodutivo. Algumas espécies de
corruíras e pássaros-pretos são conhecidas por possuírem este sistema de acasalamento. Na
poliandria ocorre o contrário – são as fêmeas que possuem dois ou mais parceiros durante o período
reprodutivo. Este sistema, embora raro (ocorre em menos de 1% das espécies), é conhecido em
representantes de diferentes famílias, muitas das quais não são relacionadas filogeneticamente, como
algumas espécies de gaviões (Accipitridae), pica-paus (Picidae) e frangos d’água (Rallidae). A
poliginandria (encontrado em menos de 1% das espécies de aves) ocorre quando uma fêmea acasala-
se com vários machos, que, por sua vez, acasalam-se com outras diferentes fêmeas. Este sistema está
presente nas aves ratitas (emas, avestruzes etc.) e nos tinamídeos (inhambus, macucos, perdizes e
codornas). Neste sistema são os machos que incubam os ovos e cuidam dos filhotes. Por último, mas
não em último lugar, a promiscuidade (6% das espécies), onde as relações são indiscriminadas e de
curta duração, e qualquer fêmea receptiva pode se acasalar com qualquer macho. os tangarás (Família
Pipridae) e os beija-flores (Trochilidae) estão entre os representantes das aves mais conhecidos que
praticam este sistema de acasalamento (Gill, 1995). Os machos de muitos representantes destas

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famílias costumam se apresentar em arenas (“leks”, em inglês) coletivas, onde os machos apresentam
danças e cantos característicos de cada espécie, sendo a escolha dos melhores machos sendo feita
pelas fêmeas.

Outro aspecto interessante da biologia reprodutiva das aves diz respeito à construção dos ninhos.
Podem-se dividir os ninhos em dois grandes grupos, que consistem de ninhos abertos, geralmente com
forma de taça, e os ninhos fechados, geralmente encontrados em cavidades.

Dentre os ninhos abertos, existem tipos bem simples, encontrados entre as ratitas, tinamídeos,
aves marinhas e alguns maçaricos e narcejas, onde o ninho é apenas uma ligeira depressão no solo,
onde as fêmeas realizam a postura. Outras espécies que constroem ninhos no solo podem incluir uma
maior quantidade de material, como o observado nos Anseriformes (patos, cisnes e marrecos), onde
penas são arrancadas da região peitoral e depositadas no ninho, funcionando como um bom isolante
térmico e auxiliando na manutenção da temperatura ideal para incubação.

As aves aproveitam diversos substratos para construir os seus ninhos. Muitas espécies da ordem
Falconiformes (urubus, gaviões e falcões) procuram locais altos e com escarpas, onde podem construir
os ninhos longe do alcance dos predadores. Contudo, a maioria das espécies de aves constrói os seus
ninhos em árvores ou arbustos, utilizando diversos materiais e modos de construção. Dentre os ninhos
construídos em árvores, os mais simples estão certamente entre os representantes das espécies da
família Columbidae (pombos e rolinhas). Este ninho consiste em um grupo de gravetos amontoado e
mal-arranjado, onde, algumas vezes, pode-se observar até mesmo o número de ovos postos. Ninhos
mais elaborados podem ser encontrados entre os membros da família Cracidae (mutuns, jacus, aracuãs
e jacutingas), onde o par constrói uma grande cesta trançada com os galhos e ramos próximos, o que
confere uma grande resistência a este tipo de construção. Entre os Apodiformes (beija-flores e
andorinhões) observa-se uma grande diversidade de formas de ninhos. Muitas espécies de
andorinhões constroem o ninho apenas com saliva, que endurece em contato com o ar. Estes ninhos
são considerados como uma iguaria gastronômica em alguns países da Ásia, causando um sério
impacto nas populações destas espécies. Os beija-flores aproveitam diversos materiais, como paina,
pedaços de liquens e teias de aranha, construindo ninhos delicados. Contudo, os ninhos mais
elaborados estão entre os representantes da Ordem Passeriformes. Estas espécies utilizam os mais
diversos materiais, como raízes, gravetos, folhas e barro. Dentre os passeriformes, os mais hábeis
construtores estão entre os representantes das famílias Ploceidae (tecelões) e Icteridae (pássaros-
pretos, japus e corrupiões). Muitas espécies constroem ninhos bastante complexos, tecidos habilmente
tanto com as fibras do local escolhido para a construção quanto com fibras trazidas de outros locais.
São bastante conspícuas as colônias de japus na região sudeste do Brasil, podendo ser facilmente
avistadas em locais habitados, como as fazendas do interior, geralmente em uma palmeira no meio de

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uma pastagem. Já os tecelões não são encontrados em vida livre no Brasil, mas os seus ninhos são
bastante conhecidos do público em geral.

Outro grande grupo de espécies constrói um ninho fechado, muitas vezes em cavidades. Estas
espécies podem utilizar vários tipos de cavidades, que vão desde um oco em uma árvore até utensílios
abandonados, como latas e canos. Dentre os ninhos fechados mais notáveis pode-se citar o dos
representantes da família Furnariidae (joão-de-barro e afins). De fato, o joão-de-barro constrói um
grande e pesado ninho com barro, pequenos pedaços de capim e gravetos. Este ninho é composto por
duas “salas”, sendo a mais interna o local onde a fêmea realiza a postura e cuida dos filhotes. O ninho
desta espécie é utilizado também por outras aves, como os tuins e os canários da terra. O joão-graveto
(Phacellodomus rufifrons) é outra espécie desta família que é bem conhecida. Os seus ninhos,
construídos em árvores isoladas, chamam a atenção pela enorme quantidade de gravetos, chegando a
alcançar mais de um metro de comprimento. Esta espécie escolhe gravetos com espinhos, uma forma
eficiente de se proteger dos predadores. Mas, na verdade, o ninho desta espécie é bem pequeno,
estando localizado em uma pequena câmara no interior deste emaranhado de gravetos, sendo forrado
com folhas macias e penas. As espécies de pica-paus abrem cavidades nas árvores, que são utilizadas
posteriormente por outras aves como tucanos, corujas e papagaios. Os papagaios podem ainda alargar
estas cavidades, graças ao seu bico forte. Ocos naturais nas árvores são também utilizados por muitas
outras espécies, de diversas famílias, que não estão relacionadas filogeneticamente, como em algumas
espécies de Anatidae (patos) e de papa-moscas (Tyrannidae).

Tanto as espécies que constroem ninho aberto quanto as que o fazem fechado podem formar
colônias. Esta estratégia reduz o risco de predação do próprio ninho, e, em algumas espécies, todos os
membros da colônia ajudam a criar os filhotes, aumentando a chance de sobrevivência destes. São bem
conhecidas as colônias de garças (ninhais), que podem congregar várias espécies de diferentes
famílias. Outras espécies que nidificam e criam os seus filhotes em colônias incluem os flamingos e
muitas espécies de aves marinhas.

Outro aspecto interessante da biologia reprodutiva das aves diz respeito ao parasitismo. Algumas
espécies, principalmente aquelas pertencentes às famílias Cuculidae (almas-de-gato, anus e cucos) e
Icteridae (vira-bosta) apresentam este comportamento. As fêmeas destas espécies colocam os seus
ovos nos ninhos de outras espécies, que os chocam juntamente com os seus. Os filhotes das espécies
parasitas podem nascer mais cedo ou, como normalmente são maiores que os seus “irmãos”, pedem
comida com mais energia do que eles, que acabam morrendo de fome. Os filhotes do cuco também
possuem o instinto de expulsar qualquer coisa que compartilhe o ninho no qual ele nasceu, seja um
ovo ou um filhote de poucos dias, ficando sozinho e com todo o alimento trazido pelos pais.

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Os filhotes de aves podem ser divididos em dois grandes grupos ao nascer. Filhotes que nascem
com pouca ou sem a cobertura de penas, com os olhos ainda fechados e que dependem ainda de serem
alimentados pelos pais por um grande período de tempo são conhecidos como nidícolas. A maioria das
espécies de aves possui filhotes deste tipo, sendo exemplificados pelos passeriformes e por grande
parte das aves que nidificam em cavidades. Os filhotes da maioria das aves que nidificam no solo
nascem com uma densa camada de plumas (algumas vezes até mesma penas), com os olhos abertos e
são capazes de seguir os seus pais, sendo chamados de nidífugos. A galinha, o pato, a codorna e a ema
são exemplos de espécies de aves cujos filhotes são nidífugos. A única família de ave que não incuba os
seus ovos e não cuida dos seus filhotes é a família Megapodiidae (Ordem Galliformes), da região
Australiana. Os pais constroem um grande amontoado de folhas e terra, onde a fêmea deposita os seus
ovos e os enterra. Através de um sofisticado esquema de controle de temperatura realizado pelos pais,
que aumentam ou diminuem a quantidade de material sobre os ovos, os filhotes nascem e são
independentes desde este momento, já com penas nas asas.

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MORFOLOGIA EXTERNA
A presença de penas é uma característica que permite a qualquer pessoa reunir as aves atuais em
um grupo distinto dos outros vertebrados. Entretanto, esta estrutura, formada principalmente por
queratina, não é exclusiva das aves, sendo encontrada também em outros dinossauros. As penas
surgiram a partir da modificação das escamas presentes em alguns destes grupos, provavelmente com
a função de isolante térmico. Não se sabe, contudo, se estas primeiras penas possuíam cor. Nas aves
atuais, contudo, são conhecidos vários tipos de penas, que realizam várias funções como a de auxiliar
no voo, a de isolamento térmico e da água, reconhecimento interespecífico, camuflagem e na natação,
auxiliando na flutuando e repelindo a água circundante.

Figura 7: Diferentes tipos de penas encontrados nas aves. Fonte: Handbook of Avian Anatomy (Baumel et al. 1993) e
Handbook of the birds of the World, vol. 1 (del Hoyo et al. 1992, introdução), ambos modificados.

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Uma pena típica consiste das seguintes estruturas: um eixo central e firme, composto pelo cálamo
(que está em contato com o tegumento), cujo limite superior e inferior é marcado pelos umbílicos
superior e inferior, respectivamente (Figuras 7 e 8). Distal ao umbílico superior observa-se, contínua
ao cálamo, a raque, que apresenta ramificações laterais chamadas vexilos (interno e externo),
formados por sua vez pelas barbas. As barbas prendem-se umas às outras através das bárbulas, que
são providas de pequenos ganchos (Figura 8). As penas podem distribuir-se em regiões definidas no
corpo da ave (Figura 9), sendo estas regiões (tratos) conhecidas como pterilas. As áreas de pele onde
não se observam as penas são conhecidas como aptérias. Em algumas espécies, como os pingüins, não
se observam aptérias. As penas são usualmente trocadas uma vez por ano, em um processo conhecido
como muda, que pode variar entre as famílias.

Figura 8: Estrutura típica de uma pena de Ave, neste caso, uma pena de vôo (rêmige). Fonte: Handbook of the birds of the
World, vol. 1 (del Hoyo et al. 1992, introdução).

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Figura 9: Distribuição das penas no corpo das aves. Observar Pterílias e Aptérios. Fonte Handbook of the birds of the
World, vol. 1 (del Hoyo et al. 1992, introdução).

São descritos pelo menos cinco tipos diferentes de penas (Figura 7). As penas de contorno
incluem as penas que recobrem o corpo da ave e as penas de voo, conhecidas como rêmiges
(localizadas na asa) e rectrizes (localizadas na cauda). A descrição apresentada no parágrafo anterior
se refere a este tipo de pena. As rectrizes e rêmiges são mais desenvolvidas que as outras penas de
contorno e são modificadas para o voo (Figura 8). As rêmiges ainda são divididas em primárias, que
estão implantadas no carpometacarpo e nos dedos, e as secundárias, que estão implantadas na ulna.
São ainda descritas as plúmulas, onde a raque é pouco desenvolvida ou ausente, com pouca coesão
dos vexilos (Figura 7). Estas penas são encontradas tanto nos filhotes quanto nas aves adultas. As
semiplumas apresentam uma estrutura intermediária entre as penas de contorno e as plúmulas.
Nas semiplumas pode-se observar uma raque distinta das barbas. Estas penas fornecem isolamento
térmico. As cerdas possuem uma raque rígida e as barbas são ausentes. Estas penas podem ser
observadas mais facilmente em volta do bico, sendo particularmente desenvolvidas nos
representantes das famílias Caprimulgidae (curiangos e bacuraus) e Tyrannidae (papa-moscas). As
cerdas podem auxiliar na captura dos insetos, agindo como uma “rede”, ampliando a área para a
coleta dos mesmos. O último tipo descrito corresponde às filoplumas, que são caracterizadas por
possuir uma raque fina, com barbas apenas na sua porção distal. Estas penas podem transmitir à ave,
por meio de terminações nervosas, informações sobre a posição das penas de contorno, mantendo-as
no lugar.

As maxilas das aves são recobertas por um estojo de queratina, constituindo a ranfoteca. Esta
estrutura pode ser brilhantemente colorida, como no caso dos tucanos ou pode ainda apresentar

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pequenas projeções semelhantes aos dentes, como observado nos patos-mergulhões (Mergus spp.). O
tarsometatarso também é recoberto por escamas de queratina, que podem assumir vários padrões;
muitas vezes estas escamas podem ser coloridas, como no caso de algumas espécies de mutuns.

As várias regiões do corpo das aves recebem nomes específicos, que são importantes sobretudo
para a correta identificação das espécies (Figuras 10 e 11).

Figura 10: Nomenclatura das diferentes regiões do corpo das aves. Fonte: Handbook of the birds of the World, vol. 1 (del
Hoyo et al. 1992, introdução), modificado.

Figura 11: Nomenclatura das diferentes regiões da cabeça de uma ave. Fonte: Handbook of the birds of the World, vol. 1
(del Hoyo et al. 1992, introdução), modificado.

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MORFOLOGIA INTERNA
O esqueleto das aves é grandemente modificado para permitir o voo. Os ossos são pneumatizados,
tornando-os mais leves. Os ossos que compõem o crânio são fusionados precocemente, tornando-se
indistinguíveis nas aves adultas. Auxiliam também na diminuição do peso da ave um conjunto de sacos
aéreos, que podem se conectar com os ossos pneumatizados. Contudo, as aves que mergulham
possuem uma pneumatização menor que a encontrada nas aves voadoras. A cintura escapular e os
membros anteriores são transformados em asas. As aves apresentam um esterno com uma quilha
muito desenvolvida, onde se originam os músculos responsáveis pelo voo. Com exceção das aves
ratitas, todas as outras aves apresentam esta quilha no esterno. As clavículas da maioria das espécies
de aves são fundidas medialmente, formando uma estrutura conhecida como fúrcula (osso da sorte).
Este osso serve como ponto de ancoragem para a volumosa musculatura peitoral. O coracóide articula-
se firmemente ao esterno, e a escápula é semelhante a uma fina lâmina. Entre a articulação da
escápula, coracóide e úmero nota-se um destacado forâmen, o forâmen triósseo, por onde passam os
tendões que se inserem no úmero e que são responsáveis pelo levantar e abaixar de asas. Observa-se,
nos membros anteriores, a fusão dos carpometacarpos e a redução do número de dedos. As costelas
apresentam um pequeno processo lateral, o processo uncinado, que torna a caixa torácica mais
resistente. Este processo está ausente nas aves da família Anhimidae (anhumas e tachãs). A coluna
vertebral é bastante rígida, e em algumas espécies as vértebras dorsais são fundidas. Na cintura
pélvica também se observa a fusão de vértebras que, unidas ao íleo e ao ísquio, formam o sinsacro. As
últimas vértebras caudais são fundidas, formando uma estrutura conhecida como pigóstilo, que
sustenta as rectrizes. Alguns ossos dos membros posteriores também são reduzidos, como a fíbula,
que se apresenta com forma de um espinho, lateralmente ao tibiotarso. Existem quatro dedos, sendo
que o dedo I (hálux) direciona-se caudalmente aos demais. Algumas espécies podem apresentar
redução no número de dedos, como a avestruz, que possui apenas dois e a ema, que possui três dedos
no pé.

O desenvolvimento da musculatura está relacionado ao modo primário de locomoção das aves,


sendo que a musculatura da região peitoral é mais desenvolvida nas aves que são consideradas como
boas voadoras, enquanto que a musculatura dos membros posteriores é mais desenvolvida nas
espécies cursoriais.

O sistema digestivo das aves apresenta algumas características peculiares. Uma das mais notáveis
é a presença de uma dilatação no esôfago, conhecida como papo. Como em muitas vezes as aves
ingerem uma quantidade maior de alimentos do que elas podem digerir no momento, o excesso fica
armazenado nesta estrutura. Contudo, o papo está ausente em algumas espécies de aves, como os
gaturamos e os beija-flores. A digestão dos alimentos nas aves é processada em duas câmaras

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distintas, uma anterior, o proventrículo, onde são secretadas enzimas digestivas, e uma posterior, a
moela, onde as suas paredes musculares esmagam o alimento. Eventualmente as aves podem ingerir
pequenas pedras e outros objetos duros, que ficam armazenados na moela, auxiliando na moagem dos
alimentos. Adicionalmente, a moela pode estar situada no centro de gravidade da ave, contribuindo
para o seu equilíbrio. O intestino delgado realiza a digestão química. Na região de contato entre o
intestino grosso e delgado pode-se observar, em algumas espécies, expansões laterais saculiformes
conhecidas como cecos.

As aves possuem um sistema respiratório sem paralelos dentre os outros grupos de vertebrados.
Existe um sistema de parabrônquios conectado aos sacos aéreos, e o ar possui um sentido único,
diferente do que ocorre nos mamíferos. O coração possui quatro cavidades, dois átrios e dois
ventrículos, completamente separados.

A audição e a visão são os órgãos dos sentidos mais desenvolvidos nas aves. Estes dois sentidos
permitem o reconhecimento interespecífico e são muito importantes para a localização do alimento
para a maioria das espécies de aves. O olfato, contudo, é mais desenvolvido apenas nas espécies que se
alimentam de carne em decomposição, piscívoras ou que se alimentam de vermes, como os kiwis
(Apteryx spp.). Os kiwis, diferentemente das outras espécies de aves, possuem a narina situada na
extremidade do bico, localizando os vermes dos quais se alimenta através do olfato.

As fêmeas das espécies de aves apresentam redução no número de gônadas, sendo encontrado
apenas o ovário esquerdo. O ovário direito é muito reduzido ou atrofiado. Contudo, algumas fêmeas de
gaviões podem apresentar ambos desenvolvidos. Já os machos possuem um par de testículos
funcionais. As gônadas dos machos e das fêmeas ficam maiores e mais desenvolvidas durante o
período reprodutivo.

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IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
Há muito tempo algumas espécies de aves vêm sendo domesticadas. Os exemplos mais conhecidos
são o da galinha doméstica (Gallus gallus), que já era criado em cativeiro há cerca de 3.000 anos antes
de Cristo. Marrecos, patos e gansos também possuem uma longa história de domesticação, fornecendo
carne, ovos e penas. A importância econômica resultante da domesticação destas espécies é inegável.

Outras espécies de aves também foram domesticadas com outros propósitos. O canário-do-reino
ou belga (Serinus canaria) é mantido em cativeiro por muitos séculos, não se capturando mais
exemplares selvagens. Diversas mutações desta espécie foram selecionadas, escolhendo-se
características como tamanho, coloração da plumagem e tipo de canto. Anualmente são realizados
muitos campeonatos em todo o mundo para se verificar quais são os melhores dentre diversos
critérios, e muitos campeões alcançam preços elevados. Situação semelhante ocorre com algumas
espécies de psitacídeos, como o periquito-australiano (Melopsittacus undulatus), a calopsita
(Nymphicus hollandicus) e as diversas espécies de agapornis (Agapornis spp.). O pombo-doméstico
(Columba livia) é outra espécie domesticada e que é mantida em cativeiro por diversos criadores.

Algumas espécies de aves marinhas, como alguns biguás (Phalacrocorax spp.) vivem em imensas
colônias, e os seus dejetos são aproveitados como fertilizante. O guano, como são conhecidos estes
dejetos, responde por uma grande indústria, principalmente nos países da costa oriental da América
do Sul.

A caça esportiva também é uma atividade em que as aves desempenham um importante papel.
Algumas espécies de faisões (e.g. Phasianus colchicus) são criados com esta finalidade, sendo soltos em
fazendas de caça.

Contudo, muitas atividades humanas tiveram conseqüências trágicas para as aves. A procura por
plumas, para serem utilizadas na decoração de chapéus, muito em moda no século XIX e no inicio do
século XX, quase exterminou algumas espécies de garças, muito apreciadas para este tipo de
ornamento. Do mesmo modo, muitos beija-flores também foram coletados e preparados para serem
costurados aos chapéus das senhoras elegantes da época. Atualmente existe uma absurda pressão
sobre as populações de algumas espécies consideradas como aves ornamentais, de estimação ou que
são mantidas em cativeiro apenas para a apreciação do canto. Esta pressão é particularmente forte nas
espécies de psitacídeos, tucanos e passeriformes granívoros e frugívoros de pequeno e médio porte.
Muitas espécies hoje estão seriamente ameaçadas de extinção graças a este terrível comércio, que
opera quase sempre na clandestinidade. É bom lembrar que, no Brasil, a caça e o comércio de animais
silvestres é regulamentado e controlado pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis.

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CLASSIFICAÇÃO
A presença de penas, antes considerada como um caráter diagnóstico para as aves, já não se aplica
mais apenas a este grupo. Fósseis de dinossauros, descobertos recentemente na China, apresentam
parte do corpo revestido por penas. A presença de ossos ocos e pneumatizados também não se aplica
mais, pois é sabido que vários dinossauros (entre eles o Tyranosaurus) já possuíam ossos deste tipo.

Várias foram as tentativas de se classificar as aves. Foram usados diversos tipos de caracteres,
incluindo aí os oriundos da osteologia, miologia, das vísceras, etologia e fisiologia. Recentemente, com
os avanços das técnicas de biologia molecular, alguns novos arranjos foram propostos. Entretanto,
muitas das classificações que foram propostas acabaram não sendo aceitas por muitos dos
especialistas, não havendo consenso entre eles. O que se observa, desta maneira, é que ainda estamos
longe de uma classificação que reflita as relações entre as ordens de aves e que seja aceita por uma
grande parte dos ornitólogos.

A classificação apresentada aqui é a mais tradicional, sendo a que o leitor mais provavelmente
encontrará nas principais obras referenciais. Nesta seção serão apresentadas apenas algumas das
ordens mais conhecidas, selecionadas dentre as cerca de 26 ordens e 187 famílias reconhecidas.

As aves atuais podem ser divididas em duas grandes superordens, as Palaeognathae e as


Neognathae. A superordem Palaeognathae compreende duas ordens, consideradas por muitos autores
como as mais “primitivas” dentre as aves, a Ordem Struthioniformes e a Ordem Tinamiformes.

A Ordem Struthioniformes inclui 5 famílias atuais de grandes aves não-voadoras e que não
possuem quilha no esterno. Nos representantes desta ordem os machos assumem a incubação e o
cuidado com os filhotes. Estas aves se alimentam principalmente de material vegetal, mas podem
consumir pequenos vertebrados oportunamente. A avestruz é a maior ave atual, e é encontrada
naturalmente no continente africano. As outras espécies da ordem são encontradas na região
australiana e apenas a família Rheidae ocorre na América do Sul, sendo representada, no Brasil, pela
ema (Rhea americana). A ema é a maior ave brasileira, com os machos podendo pesar até 50 kg. Vivem
em bandos pelas regiões abertas do Brasil. Existe uma outra espécie (Pterocnemia pennata), de menor
porte e que é encontrada no Peru, Chile, Bolívia e Argentina.

A Ordem Tinamiformes inclui apenas uma família, Tinamidae, cujos representantes são
conhecidos popularmente como inhambus, macucos, perdizes e codornas. Possuem uma grande quilha
no esterno, mas voam mal. Esta família só é encontrada na região Neotropical, e as cerca de 50
espécies podem ser encontradas tanto em praticamente todos os ambientes terrestres desta região. As
fêmeas botam ovos brilhantemente coloridos, que são incubados pelo macho, que também cuida dos

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filhotes após o seu nascimento. São aves muito apreciadas pelo sabor da sua carne, o que faz com que
algumas espécies sejam hoje consideradas ameaçadas de extinção.

Dentre os membros da Superordem Neognathae, destaca-se a Ordem Pelecaniformes, que inclui


representantes distribuídos em 6 famílias. Uma característica comum a todas elas é a presença de
membrana unindo todos os dedos do pé. No Brasil, as espécies mais conhecidas são o biguá (Fam.
Phalacrocoracidae), o atobá (Fam. Sulidae), a fragata (Fam. Fregatidae) e a anhinga (Fam. Anhingidae).
São espécies essencialmente piscívoras, ocorrendo tanto em lagos e rios quanto no mar. Algumas
espécies de biguás são as maiores responsáveis pela produção de guano.

A ordem Anseriformes inclui cerca de quatro famílias, cujos representantes são encontrados em
todos os continentes. Os patos, gansos, cisnes e marrecos são os mais conhecidos, mas a ordem conta
com cerca de 170 espécies. Possuem apenas os três dedos que são voltados anteriormente unidos por
membrana, que auxilia na propulsão dentro d’água. Filtram partículas alimentares na água, com o
auxílio de pequenas lamelas situadas na face lateral do interior do bico. No Brasil podem ser
encontradas 28 espécies pertencentes a esta ordem.

Outra ordem bastante importante é a Ordem Galliformes. Esta ordem é composta por sete
famílias, duas das quais ocorrem no Brasil. A galinha doméstica, a codorna, o faisão e o pavão são os
representantes mais conhecidos da ordem, e pertencem à família Phasianidae. São aves de pequeno a
médio porte, que habitam tanto as florestas quanto as formações abertas de todos os continentes. A
família Cracidae só é encontrada na região neotropical, e entre os seus membros encontram-se os
mutuns, jacus, aracuãs e jacutingas. O Brasil é o segundo país com a maior diversidade de espécies
desta família (24 espécies), ficando atrás apenas da Colômbia. Muitos cracídeos, por possuírem uma
massa considerável (algumas espécies podem chegar a até 3 kg) são severamente caçados nas matas, e
muitas espécies correm o risco de serem extintas.

Os gaviões, falcões e urubus são os representantes mais conhecidos da Ordem Falconiformes. Das
cinco famílias correntemente alocadas nesta ordem, quatro são encontradas no Brasil. São aves que se
alimentam de carne, caçada habilmente por estas aves, com exceção dos urubus, que se alimentam de
carne em decomposição. Podem nidificar tanto em ninhos abertos quanto em cavidades, e os filhotes
são nidícolas. A maior ave de rapina conhecida é o gavião-real (Harpia harpyja), que antigamente
ocorria em todo o Brasil. No nosso país são registradas 67 espécies que pertencem a Ordem
Falconiformes.

A Ordem Columbiformes possui duas famílias (Raphidae e Columbidae), sendo que os


representantes da primeira (os dodos) foram extintos pelo homem no seculo XVII. Os Columbidae
possuem a cabeça pequena, pernas curtas e o bico coberto por cera. Os pombos são bons voadores, e
alimentam-se de frutos e sementes. A postura é de apenas dois ovos brancos, e os filhotes são

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alimentados pelos pais, nos primeiros dias, com uma secreção produzida no esôfago, conhecida como
“leite de pombo”. No Brasil podem ser encontradas 23 espécies desta família.

A forma do bico e dos pés permite a qualquer um identificar rapidamente um representante da


Ordem Psittaciformes. Atualmente, duas famílias são reconhecidas dentro desta ordem, que engloba as
araras, cacatuas, lóris, periquitos, papagaios e tuins, entre outros. A família Cacatuidae só é encontrada
na região Australiana, enquanto que a família Psittacidae é encontrada em todas as regiões tropicais
do planeta, com algumas espécies chegando a ocorrer até mesmo em regiões temperadas. Os
representantes desta ordem alimentam-se de brotos, folhas, frutos e sementes, e algumas espécies
podem incluir alimentos de origem animal na sua dieta. Os psitacídeos nidificam em cavidades, e os
filhotes são nidícolas. O Brasil é o país que possui o maior número de espécies desta ordem; já foram
registradas aqui cerca de 75 espécies. Por possuírem uma plumagem colorida e por terem a
capacidade de imitar sons, os representantes desta ordem são muito procurados como aves de
estimação. De fato, muitas espécies, devido a esta procura, estão hoje ameaçadas de extinção.

As corujas estão entre as aves mais conhecidas e populares. Duas famílias são correntemente
consideradas como pertencentes à Ordem Strigiformes, Tytonidae e Strigidae, num total de 178
espécies. As corujas são facilmente reconhecíveis por possuírem uma cabeça grande e arredondada,
com grandes olhos e pés bastante fortes. A maioria das espécies possui hábitos noturnos e contam com
uma audição e visão muito desenvolvidas. As corujas nidificam em cavidades e no Brasil são
registradas cerca de 20 espécies.

A Ordem Piciformes inclui sete famílias, cujo relacionamento filogenético ainda é incerto. Um dos
caracteres que estas aves tem em comum é o arranjo dos dedos, que são zigodáctilos. A família
Picidae inclui os pica-paus, e é a maior da Ordem, com cerca de 215 espécies. Outras famílias incluídas
nesta ordem são os Capitonidae (capitães-de-bigode), Galbulidae (arirambas), Bucconidae (joão-bobo)
e Ramphastidae (tucanos e araçaris). As mais variadas dietas podem ser encontradas dentro dos
representantes desta ordem. Como exemplo, pode-se citar os tucanos, que são onívoros, enquanto que
as arirambas são insetívoras. Todos os piciformes nidificam em cavidades, podendo usar barrancos ou
ocos em árvores.

Mas, sem dúvida, a maior ordem conhecida entre as aves é a Ordem Passeriformes, onde são
incluídos os representantes de cerca de 55 famílias. De fato, mais de 60% de todas as espécies de aves
conhecidas. Alguns caracteres são comuns a todos os representantes desta ordem, como o arranjo dos
ossos que formam o palato e a musculatura dos membros posteriores. Como esperado, existe uma
enorme variação quanto ao tamanho e a massa dos diversos representantes da ordem, que vão desde o
corvo, que pode atingir cerca de 70 cm de comprimento até pequenos tiranídeos, que possuem apenas
6 cm de comprimento total. Entre as espécies de passeriformes incluem-se os pássaros canoros, como

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o canário. A dieta dos representantes desta ordem é muito variada, podendo ser insetívoros,
frugívoros, nectarívoros, granívoros ou onívoros. Possuem uma ampla distribuição, não ocorrendo
apenas no continente antártico. Podem construir ninhos abertos ou em cavidades, e os representantes
de algumas famílias são notáveis pela complexidade apresentada na construção destes. Todos os
filhotes são nidícolas.

Com base na quantidade e complexidade dos músculos que se inserem na siringe, são
reconhecidas duas Subordens dentre os representantes da Ordem Passeriformes: os Suboscines, cuja
complexidade muscular é menor, e os Oscines, cujo número de músculos e a complexidade são maiores
que o observado nos representantes da primeira Subordem. Os Suboscines são representados por
poucas famílias, a maioria delas ocorrendo na região neotropical. A mais diversa delas é a Tyrannidae
(bem-te-vis e afins), com cerca de 420 espécies em todo o neotrópico, sendo que no Brasil já foram
registradas 220 espécies.

Os Oscines são representados por cerca 41 famílias, com 4.500 espécies. Os representantes desta
subordem possuem o canto mais desenvolvido do que o encontrado nos Suboscines. O canário-da-
terra, o azulão, o sanhaço, o pássaro-preto, o pardal e o curió estão entre os representantes mais
conhecidos desta ordem.

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A COLEÇÃO DE AVES DO MUSEU DE ZOOLOGIA DA USP


As coleções zoológicas abrigadas nos museus servem como um testemunho da diversidade. Sem
dúvida, a visão antiga de que um museu era um local onde se guardavam coisas ultrapassadas, velhas
ou apenas curiosidades está cada vez mais distante. Atualmente mais e mais estudos sobre biologia
comparada e os trabalhos sobre taxonomia, sistemática e biogeografia são realizados em museus, a
partir do material depositado nestas instituições. O material acumulado nestes locais permite que se
conheça em detalhes aspectos como a distribuição dos organismos, uma ferramenta indispensável
para a conservação das espécies, por exemplo.

Como as aves são objeto de estudo há alguns séculos, o material colecionado e depositado em
museus é abundante, permitindo que a maioria das espécies seja razoavelmente bem conhecida e
identificada, diferentemente do que ocorre em outros grupos de vertebrados. As aves coletadas
usualmente podem ser preservadas de três maneiras diferentes: a mais tradicional e mais amplamente
difundida consiste em preservar a pele juntamente com as penas, retirando-se a carcaça do exemplar.
O interior do corpo é então preenchido com algodão ou outra fibra. As outras maneiras são a
preparação de esqueletos e a conservação em álcool, onde podem ser realizados estudos sobre a
musculatura, por exemplo. Mas uma coleção ornitológica não consiste apenas de aves empalhadas ou
conservadas. São coletados também ninhos e ovos, que fornecem informações importantes sobre a
história natural e os hábitos reprodutivos de muitas espécies.

A coleção de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) iniciou-se em


1897, sob a administração de Hermann von Ihering, médico e naturalista alemão que dirigiu o Museu
Paulista no período de 1894 a 1917. A coleção de aves do MZUSP cresceu rapidamente graças às várias
expedições realizadas pelos pesquisadores da seção de aves por todo o Brasil. Merecem destaque as
expedições de coleta realizadas por Olivério Pinto, que trabalhou na seção de aves entre 1929 e a data
da sua morte, em 1981. Olivério Pinto realizou várias expedições coroadas de sucesso, obtendo
exemplares únicos, como o mutum-do-nordeste, Pauxi mitu, redescoberto por ele em 1951. A coleção
de aves também cresceu bastante graças a colaboração de A. M. Olalla, coletor equatoriano que residiu
por muito tempo no Brasil. Olalla trouxe para o MZUSP grandes coleções, principalmente de aves
amazônicas (Pinto, 1945). Todo este inestimável material foi e ainda é base para muitos estudos sobre
taxonomia e sistemática, atestando a grande importância desta coleção.

Atualmente a coleção de aves do MZUSP conta com cerca de 100.000 exemplares conservados em
via seca, 2.000 exemplares conservados em meio líquido, 1.000 esqueletos e mais uma representativa
coleção de ninhos e ovos. Esta é a maior coleção ornitológica da América do Sul e a maior e mais
completa coleção de aves brasileiras em todo o planeta. Todo este material é intensamente utilizado
pelos diversos pesquisadores que frequentam a seção, cujos resultados ampliam o nosso
conhecimento sobre vários aspectos da vida das aves.

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UM GUIA PARA O ESTUDO DO ESQUELETO DAS AVES


Nas páginas seguintes você encontrará um pequeno guia relativo à osteologia das aves. É
figurados os ossos de representantes de Galliformes, onde são indicadas algumas estruturas
importantes. A diversidade osteológica das Aves é muito grande, e este guia deve ser considerado
apenas como um indicativo das principais estruturas no esqueleto das aves.

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