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sentidos e a brisa no
rosto de quem pedala.
JAQUES BRAND
Ali por 1910, 1911, 1912, o noticiário dos jornais curitibanos já refletia, como
problema, a gradual introdução do automóvel no quadro urbano.
Uns noventa anos mais tarde, enquanto espero meu sanduíche na lanchonete
do Billy, contemplo de uma mesa posta na calçada, junto à complicada esquina
de Martim Afonso com Desembargador Mota, junto à praça 29 de Março, em
Curitiba, o desfile de colunas maciças de carros, que se alternam nos ritmos
do semáforo, avançando uns e parados outros na expectativa do sinal verde.
Essa esquina é interceptada por uma via diagonal, a Fernando Moreira, que
abriga a canaleta do ônibus Expresso – o que faz dela quase uma estrela: além
das ruas em cruz, a diagonal corta a cruz pelo vértice.
Outros danos, de imensa monta, nem aparecem na paisagem organizada das Em recente crise financeira, quando ruiu o castelo de cartas das aplicações
cidades: as guerras invisíveis que se travam do outro lado do planeta pelo derivativas, e a conta foi apresentada secamente às populações estupefatas,
controle das jazidas de petróleo, o transporte perigoso e a incessante poluição o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, um bom sujeito, apressou-se a
dos oceanos, os oleodutos que interrompem a continuidade dos espaços garantir crédito e recursos públicos às montadoras de automóveis...para que
naturais, o passivo ambiental do refino... pudessem continuar vendendo tanto como nos dias da farra financeira. Uma
semana depois, o então governador José Serra, de São Paulo, sem dúvida
Mas há também aquilo que os economistas chamam o custo-oportunidade, um bom sujeito, repetiu o gesto: botou à disposição das montadoras, para
isto é, as preciosas alternativas de uso do espaço urbano que poderiam ensejar que não parassem de vender no mesmo frenético andamento, bilhões de
novas formas de sociabilidade, ou preservar as antigas, e que, necessariamente, reais do erário do Estado. E isso incondicionalmente, sem sequer extraírem
são descartadas, para que as frotas possam enfim se deslocar... São as alguma concessão desses grandes trustes, como o melhoramento dos filtros
oportunidades históricas perdidas, das quais desembarcamos, para embarcar, de emissão, ou dos recursos de segurança pessoal dos passageiros...
aflitos ou docemente inscientes, na Bolha.
Nossa conclusão não deve ser moralista. Ambos os estadistas, diferentes que
Estranho paradoxo, o que se traduz no fenômeno da multiplicação dos sejam os seus estilos, comportaram-se como prisioneiros da mesma lógica: o
veículos automotores a cifras absurdas: a maravilha do engenho humano volta- motor da economia, a indústria automotiva, não pode parar. Nossa conclusão
se contra o seu criador. Conseguimos banir da superfície da Terra os animais deve ser política: não vamos esperar iniciativa alguma dessas lideranças,
no sentido de uma mudança de rumo, por menor que seja. Eles são meros também pela educação dos motoristas de toda índole, no sentido de respeitar
operadores do sistema, com uma interface sorridente e bem-falante para o sujeito que segue pedalando a caminho de casa, do trabalho, da escola ou de
melhor persuadir e arrastar as multidões, sem que nisso vá alguma censura. É qualquer outro destino. É lei, tanto quanto pagar o IPTU ou votar para prefeito
como as coisas funcionam dentro do sistema... e vereador, devolver o troco ou respeitar a autoridade. Seu cumprimento não
depende de disposição psicológica favorável dessa autoridade, nem é favor
Donde virão as mudanças? O pessoal da Bicicletada tem muito a propor, neste político nem nada. Cumpra-se!
sentido. Quem são eles? São guerreiros do bem, armados apenas de suas
bikes e de uma idéia central brilhante: a bicicleta é a melhor crítica à cultura A Bicicletada de Curitiba, saudada por alguns analistas como a grande
do automóvel. novidade política dos últimos anos, nada tem de movimento político
organizado. Move-se por impulso, por agregação voluntária, por amor à vida,
E olha que ela tem pedigree e ascendentes tão bons ou melhores, do sem chefes, sem comandos, sem carimbos nem cartórios, em direção a uma
ponto-de-vista histórico e tecnológico, do que o seu fumacento “colega” e das condições da plena cidadania, o simples direito de ir-e-vir.
“concorrente”.
Depois de todos os argumentos em favor de uma política pública em favor
Está nos livros: assim como o motor à combustão, a bicicleta surge no Ocidente da difusão e viabilização da bicicleta no dia-a-dia da cidade, exaustiva e
como produto industrial de uso massivo nos anos que Barraclough define incansavelmente apresentados às autoridades curitibanas, em diversas e
como o grande salto tecnológico das economias do Oeste – entre 1867 e 1881. reiteradas ocasiões ao longo de anos de atuação da Bicicletada, continuam
Em vez das descobertas e inventos pontuais da Primeira Revolução Industrial, falando mais alto, para os ciclistas, em favor das nossas magrelas, aqueles
era agora o tempo da aplicação sistemática dos métodos laboratoriais outros argumentos menos persuasivos em política ou administração: a brisa
de descoberta, de pesquisa e desenvolvimento, a resultar na invenção do no rosto, a luz natural, o equilíbrio elegante e atrevido, a pedalada que vai mais
telefone, do microfone, do gramofone, da telegrafia sem-fios, da lâmpada além...e a certeza de que a História está do nosso lado.
elétrica, do transporte público mecanizado, dos pneumáticos, da máquina de
escrever, das tintas para a impressão em massa de jornais, das primeiras fibras
sintéticas, da seda artificial, dos primeiros plásticos sintéticos... Curitiba, agosto de 2010
Tão genial foi a invenção da bicicleta que, adentrando o novo milênio, ela
conserva quase integralmente as linhas originais. Ficou ainda mais leve e
resistente com a aplicação de novas ligas metálicas, de fibras desenvolvidas
pela pesquisa astronáutica, freios excelentes, dispositivos de iluminação ágeis
e eficazes...
Desde os seus primeiros dias, a bicicleta fundiu sua história com a história da
classe trabalhadora. Resulta incompreensível, por isso mesmo, a hostilidade
que podemos dizer sistemática dos motoristas de ônibus de Curitiba para
com seus irmãozinhos de rua, os ciclistas. Verdadeiros homicídios têm sido
cometidos nas canaletas do sistema Expresso. Culpa dos “caroneiros”
irresponsáveis? Onde está a ciclo-faixa que a lei manda escrever no chão do
asfalto de todas as vias de circulação pública de veículos?
Cleverson Salvaro DACH Conde Baltazar e Guilherme Sant´Ana Guilherme Soares Gustavoprafrente
2010 Mascaramentos Cintia Ribas guilherme@macedosantana.com Jardim de Volts
cl_salvaro@yahoo.com.br mascara de solda fios eletri- Novas Miradas http://devolts.org/
cos plastico derretido 2010 organismo@gmail.com
2003 condebaltazar.blogspot.com/
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Dulce Osinski Fabianne Balvedi (Fabs) Fernando Franciosi Jaime Vasconcelos Maikel da Maia Michele Micheletto
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cuito Barreirinha. Remix tinta sobre apropriação de Fotografia
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Pedro Giongo Raphael Fernandez de Rimon Guimarães
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Thiago Syen
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