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Ciência Política
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Introdução à Ciência Política
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Política (definição)
Actividade humana que tem por objecto a conquista, a manutenção e o exercício do
poder, no âmbito do Estado.
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Conceitos
De entre os conceitos utilizados na Ciência Política distinguem-se os nominais onde se
organizam grupos de características directamente observáveis (descritivos) e os opera-
cionais que assentam na abstracção da realidade e se justificam nas operações de classi-
ficar, comparar e quantificar, desempenhando um papel essencial na aproximação à
realidade e na compreensão científica.
Política/Político
Política (Politics)
A competição pelo poder (quer a conquista quer a sua manutenção) que se trava entre
partidos políticos e candidatos.
Político (Policy)
Conjunto de medidas levada a cabo para atingir objectivos declarados e considerados de
interesse comum. Ex. Política de Educação, Saúde, Ambiente, etc.
Nota: Os dois conceitos andam sempre juntos sendo, por vezes, difícil diferencia-los, na
medida em que frequentemente a política se mascara de policy surgindo como estando
acima da competição pelo poder e demonstrando querer apenas o bem estar de todos
para tentar obter maior credibilidade.
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Perante a impossibilidade quase total de separar na política os actos políticos dos de
administração pública, Batista Machado avança com a hipótese “neocorporativa”, se-
gundo a qual é sistemática a articulação da actividade dos titulares de cargos políticos
com os interesses organizados. Face a esta teoria a articulação e negociação é sistemáti-
ca com entidades sociais o que faz com que o Estado soberano se transforme em Esta-
do-parceiro ou Estado-interlocutor, surgindo assim a “Democracia neocorporativa”.
Face a esta “hipótese” impõe-se sublinhar 3 questões:
1. O Estado negociador não deixa de ser soberano (decide em última instância)
2. O facto de negociar não o remete para uma situação neutral e arbitral
3. A admissão de uma margem para governar mediante negociação não exclui a
conflitualidade social
Peter Self avança com outra tese que assenta no critério das “carreira e vocações”. Para
este investigador a política está relacionada com as actividades dos representantes elei-
tos ou não e com a daqueles que os elegem ou influenciam, enquanto que a administra-
ção liga-se com as actividades dos funcionários e agentes administrativos profissionais e
com os seus conselheiros.
Um outro critério de análise é a caracterização da política como o campo de actividade
não racional, de mudança, da indeterminação e da instabilidade e a administração como
o campo da estabilidade e da rotina.
A distinção pode ainda ser feita com base na ideia de que a política é essencialmente o
campo da organização e definição de estratégias a nível institucional do domínio de
homens sobre homens e das acções para a conservação desse domínio, bem como o
campo das lutas para a sua alteração (Max Weber chama-lhe o “ monopólio da violência
legítima). O campo administrativo aparece essencialmente como subordinado a essa
estratégia situando-se ao nível da sua execução.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro é a “inovação política essencial” e a fun-
ção administrativa é “executar prévias escolhas políticas”.
Sistema Político
A expressão “Sistema Político” está conectada com algumas correntes da Ciência Polí-
tica que é acusada de querer “suprimir tudo o que possa haver de político na política”
numa expressão de François Châtelet e Evelyne Pisier-Kouchener. Esta corrente ini-
ciou-se com Robert Darl, Karl Deutsch e David Easton entre outros adeptos do ameri-
can way of thinking e assenta no estudo de comportamentos através da procura de regu-
laridades e uniformidades, proclamando como sendo necessário à objectividade cientifi-
ca a rejeição de valores.
De uma forma geral pode-se dizer que o conceito de sistema político refere-se a qual-
quer conjunto de instituições, grupos ou processos políticos caracterizados por um certo
grau de interdependência reciproca.
Partindo da noção geral de sistema, ou seja, de um conjunto de elementos interdepen-
dentes que se relacionam e interagem entre si, quer seja em complementaridade, con-
vergência ou conflito, há que ter sempre em linha de conta os inputs trazidos nas exi-
gências de diferentes entidades dirigidas a quem produz as decisões. As decisões políti-
cas são então os outputs que condicionam a vida das populações. Normalmente estes
outputs dão origem a novas exigências criando um fluxo infindável de inputs-outputs-
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inputs.
Ao resultado de outputs com inputs chama-se efeito de retroacção (the feed-back loop).
O sistema político tem como centro o Estado. É este que produz a maioria dos outputs e
é em seu torno que um conjunto de elementos estão organizados, quer seja para exercer
o “poder político”, para o influenciar, participar, submeter ou para o combater. O Estado
é, portanto, o elemento central de um sistema político.
Estado
Em termos jurídicos o Estado, dotado de soberania, na acepção lata configura-se como
“a pessoa colectiva de direito internacional” e na acepção restrita é uma “pessoa colec-
tiva de direito público interno”.
Diogo Freitas do Amaral, partindo desta definição, considera que o Estado não é uma
pessoa colectiva, mas sim, “a comunidade constituída por um povo que, a fim de reali-
zar os seus ideais de segurança, justiça e bem-estar, se assenhoria de um território e nele
institui, por autoridade própria, o poder de dirigir os destinos nacionais e impor as nor-
mas necessárias à vida colectiva”.
Marcelo Rebelo de Sousa aproxima-se desta definição considerando que o Estado é “um
povo fixado num determinado território que institui, por autoridade própria, dentro des-
se território, um poder político relativamente autónomo”. No entanto, se do ponto de
vista jurídico esta abordagem é de discutível adequação, mais o é na perspectiva da
ciência política, onde falta conjugar os conflitos, as contradições e a diferença entre o
que está legislado e o que é efectivamente vivido.
A abordagem do Estado deve pois jogar com as perspectivas jurídica e sociológica, na
medida em que o Estado é normativo regulado e produz normas e, igualmente, um facto
social constituído por factos políticos. Dado que o Estado evoca e discute valores, justi-
fica-se também uma abordagem filosófica. Aliás, em ciência política é essencial receber
uma multiplicidade tão ampla quanto possível de contribuições de outras áreas científi-
cas.
Em resumo, o Estado é um aparelho que exerce o poder e autoridade numa sociedade
instalada num território com o objectivo de garantir um determinado modo de produzir
bens e a resolução de problemas gerais, numa correlação de forças que assegura a
continuidade do seu domínio evitando a desorganização/divisão do “bloco social” do-
minado.
Os estados podem classificar-se em função de vários critérios (conceitos):
- Sistema económico (feudal, capitalista, etc)
- Nível de desenvolvimento
- Designação dos órgãos superiores (PR, Rei, Parlamento, etc)
- Forma de governo (poderes e relacionamento entre os vários órgãos)
- Determinação autónoma de decisão
- Regime político (autoritário, ditadura, democrático)
- Estrutura do estado ou forma de unidade estatal (divisão de parcelas
territoriais, estado federal)
O Estado Português
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Actualmente pode ser classificado como correspondendo a um tipo dominante capitalis-
ta, com uma forma de governo mista-parlamentar-presidencial aproximando-se, nos
últimos anos, do presidencialismo do PM com uma estrutura centralizada mas, parcial-
mente regionalizada (Açores e Madeira) e um regime democrático.
Sistemas Partidários
Pode-se definir como o conjunto de partidos, as relações que estabelecem entre si e com
o poder, as suas características, dimensão e funções que desempenham num determina-
do sistema político.
A classificação tradicional distingue 3 tipos de sistemas (tendo em conta o nº de parti-
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dos e o seu peso no funcionamento do sistema):
1. Bipartidários (bipolares)
2. Multipartidários (multipolares)
3. de partido dominante
Jean Bondel propõe ainda a inclusão do conceito dos “2 partidos e meio”, nas situações
em que, apesar da alternância de poder entre dois grandes partidos existe um terceiro
com dimensão e características que o impedem de participar no governo, mas não de
influenciar o seu exercício.
Segundo Sartori é condição para que um sistema seja multipartidário que nenhum parti-
do se aproxime, ou que pelo menos mantenha, a maioria absoluta.
No sentido de qualificar os critérios qualitativos pode-se fazer a distinção entre sistemas
de partido rígido e sistemas de partido maleável ou leve (souple):
- Rígido: forte coesão interna, desempenhando um papel central no fun-
cionamento dos sistemas políticos
- Maleável: com uma estrutura menos coesa e mais débil, sendo frequente
a não disciplina de voto, e não desempenhando por vezes um papel cen-
tral no funcionamento dos sistemas políticos
Financiamento dos partidos políticos
É uma questão que tem levantado várias polémicas, nomeadamente no que se refere ao
financiamento privado que poderá conduzir à dependência dos partidos políticos em
relação ao poder económico, bem como à verificação de desigualdades de meios entre
os diversos partidos.
No caso português são estabelecidos limites máximos para donativos provenientes de
pessoas singulares ou colectivas (empresas), sendo excluída a possibilidade de donativo
de empresas públicas ou de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos.
Há, no entanto, um financiamento público dos partidos com representação na AR
destinado a campanhas eleitorais.
Ao Tribunal Constitucional compete a verificação da regularidade das conta anuais dos
partidos, cabendo, igualmente, à Comissão Nacional de Eleições analisar a legalidade
das receitas e despesas.
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final do órgão do Estado.
A partir daqui pode-se concluir que todos os grupos de pressão são grupos de interesse
mas, nem todos os grupos de interesse são grupos de pressão.
Os grupos de pressão são objecto de estudo privilegiado da C.P., sendo os grupos de
interesse que não são grupos de pressão alvo de estudo por outras ciências sociais.
Como exemplos de grupos de pressão pode-se falar em sindicatos, associações patro-
nais, de trabalhadores, de agricultores, ambientais, de consumidores, etc.
Quanto à sua classificação, poderão ser vários os critérios de acordo com os interesses
que defende: económicos, sociais, culturais, ecológicos, religiosos, etc.
Hoje, em muitos casos, os grupos de pressão, grupos de interesse, lobby ou lobbying
são encarados com naturalidade e como uma componente do próprio sistema político,
falando-se mesmo na época do “corporativismo democrático ou liberal” ou em “neocor-
porativismo”.
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Cada vez fala-se e pratica-se mais a propaganda política e técnicas de persuasão políti-
ca, assim como em “marketing político”, conceito que já foi definido como “um conjun-
to de teorias e de métodos de que podem servir-se as organizações políticas e os pode-
res políticos, simultaneamente para definir os seus objectivos e os seus programas e
para influenciar os comportamentos dos cidadãos”. Fala-se igualmente em marketing
eleitoral que implica estratégias específicas e objectivos eleitorais.
Os inquéritos de opinião ou sondagem representam um dos métodos essenciais para o
marketing político, sendo a forma mais usual de observação directa extensiva com apli-
cação na investigação em ciências sociais.
A selecção da amostra é importante numa sondagem. Quanto maior é a amostra, maior é
a probabilidade da sondagem reflectir a realidade, porque a sua margem de confiança
aumenta. Chama-se intervalo técnico de confiança ao valor máximo e mínimo, entre o
qual oscila uma determinada tendência da opinião pública.
Normalmente, o conhecimento dos resultados de uma sondagem, por um partido ou
candidato, permite organizar posteriormente as campanhas, determinar comportamentos
políticos e até mesmo adequar a linguagem política ao ‘consumidor’.
As sondagens podem, no entanto, ter grande influência na opinião pública: procura-se
votar em quem aparece na sondagem como sendo o vencedor, há quem opte pela abs-
tenção porque os partidos ou candidatos em quem votariam não têm hipóteses de ven-
cer, ou alteram o seu sentido de voto.
Ultimamente tem-se generalizado uma prática na comunicação social, que vai no senti-
do de indicar números fixos em matéria de votações previsíveis, não revelando quais as
percentagens máximas e mínimas que poderão ser obtidas. Uma sondagem não pode, do
ponto de vista técnico, conduzir a mais do que percentagens de votações previsíveis, por
menor que seja o intervalo de confiança existente. Este facto é tanto mais verdadeiro
quando surgem, por vezes, entrevistados que declaram estar indecisos ou que não sa-
bem/não respondem, sendo eles que muitas vezes decidem na última hora, o resultado
de determinada votação.
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Tripartição Weberiana
1. Legitimidade do Poder Tradicional – Crença de que se deve respeito ao poder
consagrado pela tradição e à pessoa(s) que o detêm. Existem variantes do Poder
Tradicional no poder político, com legitimação religiosa, aristocrática ou a
transmitida hereditariamente.
2. Legitimidade do Poder Legal – Crença que são legais as normas do regime esta-
belecidas racionalmente. Esta forma de legitimação é a mais frequente, nomea-
damente, através de eleições competitivas.
3. Legitimidade do Poder Carismático – Assenta nas qualidades reais ou imaginá-
rias atribuídas a um chefe (este tipo de legitimidade tem, normalmente, uma
existência efémera, que coincide com a própria existência do chefe/líder).
Existem ainda situações de legitimação revolucionária do poder, ou por via militar, sen-
do frequente que se transformem em formas de poder carismático ou de poder legal.
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A representação traduz aquele que está presente em vez do outro. É uma das caracterís-
ticas marcantes da abstracção política e da institucionalização do poder.
A CRP refere, no seu artº. 152º. Nº. 2 que “os deputados representam todo o país e não
os círculos por que são eleitos”.
A existência dos Parlamentos é tida como uma garantia contra o autoritarismo bem co-
mo instrumento que controla o exercício do poder, sendo a expressão máxima da demo-
cracia representativa. A importância destes não invalida, contudo, um certo declínio na
medida em que, frequentemente, os sistemas parlamentares ou mistos parlamen-
tar/presidenciais acabaram por se converter de acordo com Adriano Moreira, em «sis-
temas de predominância governamental» ou de «presidencialismo de primeiro-
ministro». A reforçar este declínio não é possível ignorar a supremacia do executivo.
Independentemente da importância que se possa atribuir ou tenha efectivamente o
Parlamento, dele não se pode separar o princípio da representação política, que tem co-
mo suporte eleições concorrenciais e directas.
A par da maior intervenção do poder executivo na sociedade e, consequentemente, a
fuga dos grandes debates políticos para fora do Parlamento, há que ter em conta a alte-
ração do estatuto de deputado. Isto é, do político livre, independente, que estava estri-
tamente ligado ao círculo que o elegia, passou-se para um outro tipo de deputado sujeito
a uma rígida disciplina partidária, dependente do partido por onde concorre e respectivo
Grupo Parlamentar. Por outras palavras, os deputados que representam o partido políti-
co no Parlamento «estão dependentes dos seus partidos de múltiplas facções e encon-
tram-se subordinados senão a uma disciplina de voto, pelo menos a uma estrita solida-
riedade » como analisou Friedrich Koja.
A partir daqui os Parlamentos passaram a ficar «dependentes» dos Grupos Parlamenta-
res que se tornaram em autênticos «órgãos parlamentares». A este propósito referem
Gomes Canotilho e Vital Moreira que os grupos «não são uma simples forma de organi-
zação dos deputados sem poderes parlamentares autónomos. São verdadeiras entidades
parlamentares, com poderes parlamentares próprios».
Para Adriano Moreira «O grupo parlamentar deixou de ser a expressão de uma opinião
individual (...) para ser com frequência a expressão do acordo que as negociações entre
os partidos, fora do Parlamento, conduziram (...) a disciplina de voto pode ser rígida ou
flexível, mas é geral». A dependência dos deputados não permite negar a tendência para
o mandato imperativo de partido. Serão os responsáveis pelo Grupo Parlamentar que
vão deixar que os representantes do povo possam intervir de forma mais ou menos
acentuada. A realidade e o poder dos Grupos Parlamentares nos Parlamentos vão co-
locar-nos perante «a existência de deputados «empresários» e deputados «peões (...)
senhores e vassalos» no dizer de Maria Rosa Rippollés Serrano.
Por tudo isto, o Governo tem grande poder no sentido de subalternizar o Parlamento,
dando origem à governamentalização do sistema político, através do qual encontra su-
porte estável na justificação dos seus actos.
Sistemas Eleitorais - Conjunto de normas jurídicas que regulam a conversão dos votos
em mandatos. O conceito deve ser entendido como o que define sistema eleitoral em
sentido restrito.
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Em sentido amplo, quando se fala em sistema eleitoral tem-se em vista todas as normas
jurídicas que regulam a eleição de representantes do povo. Deve desde já referir-se que
aquele conjunto de normas não deveria ser mais do que o instrumento jurídico de medi-
da e de conversão da vontade política dos eleitores, expressa em votos, em mandatos no
poder político.
Os sistemas eleitorais dividem-se basicamente em sistemas maioritários, onde é eleito o
candidato com maior número de votos e sistemas proporcionais, onde se verifica uma
equivalência, maior ou menor consoante as variantes, entre a percentagem dos votos e a
percentagem dos mandatos atribuídos a determinada força política.
Características específicas
Presidente da República
O sistema eleitoral da eleição para Presidente da República é inevitavelmente o sistema
maioritário, até pelo facto de se tratar de um órgão uninominal. Exige-se, no entanto,
maioria absoluta, prevendo-se a realização de uma segunda volta entre os dois candida-
tos mais votados no caso de nenhum deles obter maioria absoluta na primeira volta. É o
chamado sistema de ballottage ou de duas voltas.
Assembleia da República
A importância que o sistema eleitoral da eleição da Assembleia da República tem no
ordenamento jurídico-político português pode ser aferida pelo facto de apenas um dos
seus elementos constitutivos não ser definido constitucionalmente, a definição geográ-
fica dos círculos, a qual não pode, no entanto, desvirtuar o sistema de representação
proporcional consagrado em vários preceitos constitucionais e erigido como um dos
limites materiais de revisão constitucional. Os deputados à Assembleia da República
são assim eleitos segundo o sistema proporcional e o método da média mais alta de
Hondt, com circunscrições plurinominais. A Constituição prevê a possibilidade, não
concretizada na lei ordinária, de um círculo eleitoral nacional.
Autarquias Locais
O sistema eleitoral dos órgãos autárquicos directamente eleitos, câmara municipal, as-
sembleia municipal e assembleia de freguesia é, por imposição constitucional, o sistema
de representação proporcional, sendo a conversão dos votos em mandatos, por opção do
legislador ordinário, através do método da média mais alta de Hondt. O eleitor dispõe,
também nestas eleições, de um voto singular de lista por cada órgão autárquico a ele-
ger, sendo as listas plurinominais, fechadas e bloqueadas. O círculo eleitoral equivale à
área territorial da autarquia correspondente ao órgão a eleger.
Parlamento Europeu
O sistema eleitoral da eleição dos deputados ao Parlamento Europeu não é igual em
todos os 15 Estados membros da União Europeia.
Embora esteja previsto, inclusive nos tratados que instituíram as Comunidades, a adop-
ção de um sistema e um processo eleitoral uniforme a todos os Estados membros, en-
quanto tais procedimentos não são adoptados, a legislação comunitária manda aplicar
as disposições nacionais em vigor nesses Estados, sem prejuízo de disposições comuni-
tárias avulsas entretanto aprovadas e transpostas para a legislação interna.
Em Portugal, o sistema eleitoral da eleição da sua quota de deputados é, por aplicação
subsidiária, o sistema eleitoral da eleição da Assembleia da República.
Notas
1. Autores como Duverger sempre afirmaram que não há sistema eleitoral perfeito, e
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que este serve para dar peso desigual aos sufrágios expressos pelos diferentes eleito-
res.
Talvez por isso se encontrem tantos sistemas eleitorais para além daquele que, pelo
menos em teoria, seria o mais justo se se pretendesse apenas e tão-somente que o le-
que de representantes correspondesse ao leque de opções politico-ideológicas do elei-
torado - o sistema proporcional puro - sem divisão territorial alguma e sem imposição
de qualquer cláusula barreira.
Não é isso que acontece, e por isso constata-se que em variadíssimos países, quer te-
nham sistemas maioritários ou proporcionais se desenvolvem adaptações ou mudan-
ças do sistema.
2. Existem várias classificações de sistemas eleitorais, sendo a fundamental a distinção
entre sistemas proporcionais e sistemas maioritários. Estes sistemas vão sofrendo alte-
rações à medida que se vão combinando sistemas vários, dando origem a sistemas
mistos.
Unicamaralismo e Bicamaralismo
De uma forma geral, os grandes países e os sistemas federais dispõem de parlamentos
bicamarários.
São muitos os parlamentos do mundo que se dividem em duas câmaras, geralmente com
as designações de “câmara alta” e “câmara baixa”, sendo a primeira geralmente não
eleita de uma forma directa e a segunda eleita directamente (excepção: Holanda).
Uma das virtudes do bicamaralismo é permitir a dupla revisão “para efeitos de lograr
decisões de maior qualidade e com maior ponderação”.
Lijphart propôs ainda a categoria “bicamaralismo assimétrico”, em que uma das câma-
ras tem consideravelmente mais poderes que a outra. Nestes casos há mesmo quem fale
em monocamaralismo de facto, para designar situações deste tipo.
Lijphart define ainda os “parlamentos híbridos” em que os cidadãos elegem os candi-
datos que posteriormente se irão dividir pelas duas câmaras (exemplo: Noruega, Islân-
dia). Neste caso não podemos considerar que exista um verdadeiro bicamaralismo, uma
vez que se verifica um trabalho conjunto entre as duas câmaras.
Tendências para o Bicamaralismo Actual
A Câmara Baixa é mais numerosa na sua composição e tem um mandato temporal-
mente menor;
Predominam situações em que a Câmara Baixa dispõe de maiores poderes;
Só as Câmaras Altas tendem a desempenhar um papel mais relevante;
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Representação Política e Democracia Directa
No séc. XX foram várias as experiências e cresceu o cepticismo em relação à capacida-
de decisória real do eleitorado, em especial nas situações em que a decisão política e
pública se alargou a domínios de uma crescente complexidade. Verificaram-se casos de
abuso da figura do referendo com um consequente cansaço e alheamento crescente do
eleitorado e predomínio dos apelos emocionais com simpatia pelos apologistas da de-
magogia. A estas situações somam-se as concepções autoritárias ou totalitárias que ins-
trumentalizaram uma figura aparentemente análoga, o plebiscito.
Pode-se caracterizar o referendo e o plebiscito como representando um apelo ao voto
dos eleitores, mas sendo o primeiro no quadro de um sistema e de uma ordem constitu-
cional vigente, enquanto o segundo tem carácter excepcional e rompe em geral com a
ordem constitucional.
Para Jorge Miranda “forma de governo é a forma de uma comunidade organizar o seu
poder, o seu governo, ou estabelecer a diferenciação entre governantes e governados.
Encontra-se a partir da resposta a quatro problemas fundamentais: o da legitimidade,
o da participação dos cidadãos (representação política), o do pluralismo ou da liber-
dade política e o da unidade ou divisão do poder.”
O sistema de governo, por sua vez seria “o sistema de órgãos da função política; ape-
nas se reporta à organização interna do governo e aos poderes e estatuto dos gover-
nantes”. A partir daqui estabelece 8 formas de governo modernas: monarquia absoluta,
governo representativo classico-liberal, democracia jacobina ou democracia radical,
governo cesarista, monarquia limitada, democracia representantiva, governo leninista e
governo fascista.
Gomes Canotilho e Vital Moreira acentuam que a parte organizatória da Constituição “é
tradicionalmente entendida como a parte onde se define a forma de governo.” A forma
de estado será então o complexo de estruturas económicas, sociais e políticas que carac-
terizam globalmente a articulação entre o poder político e a sociedade.
Por forma de estado entende-se, simultaneamente, o modo de designação de titulares de
órgãos de soberania e a repartição e articulação de poderes entre eles.
O estudo das formas de governo, situa-se mais ao nivel de Direito Constitucional, en-
quanto que o sistema de governo se coloca essencialmente ao nível da ciência política e
não pode prescindir, no entanto, do confronto da forma com o sistema de direito real-
mente existente.
Monarquia – É a forma de governo na qual a chefia do Estado é um cargo vitalício e
hereditário. Dependendo da tradição histórica do país, o monarca pode ter o título de rei,
príncipe, imperador, emir ou sultão. Actualmente existem monarquias no Reino da Ho-
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landa, no Principado de Mônaco e no Sultanato de Brunei, entre outros.
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lamentar e enfatização da representatividade do parlamento com supremacia do gabine-
te.
Ao contrário do sistema presidencial norte-americano, que pressupõe um governo e um
parlamento independentes quanto ao seu funcionamento e à sua fonte de legitimidade,
nas formas de governo parlamentares, a dependência do governo em relação ao
parlamento, assenta no pressuposto de necessidade de colaboração, coordenação e
interdependência entre os órgãos de soberania.
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únicas categorias utilizadas para designar estas complexas formas de governo. Há quem
opte por falar em parlamentarismo presidencial, em presidencialismo parlamentar, em
regimes parlamentares com correctivo presidencial, em semiparlamentarismo e em par-
lamentarismo dualista. Considera-se, no entanto, preferível utilizar a terminologia “sis-
tema misto parlamentar-presidencial”, indicando que se trata de uma forma de governo
misto de pendor parlamentar ou de pendor presidencial, de acordo com o peso da figura
central, a quem cabe definir as grandes linhas do rumo político do país.
A tendência dos sistemas mistos pode ser diversa, consoante exista ou não a coincidên-
cia da maioria com o governo e o presidente. No caso de não haver, pode reforçar-se a
função arbitral do presidente da república e de garante da constituição, podendo mesmo
verificar-se apelos directos à opinião pública, vetos políticos de diplomas, etc. No caso
de haver consonância, a situação é inversa, podendo diminuir o papel de fiscalização e
esvaziar-se a efectiva separação horizontal de poderes em favor do mesmo partido ou
bloco de partidos, que podem estar por detrás dos vários poderes. Neste último caso o
que se perde em fiscalização e balanceamento de poderes, ganha-se em harmonização e
em evitar conflitos institucionais.
Sobre o Parlamento
“O princípio da representação política assenta em eleições concorrenciais”
Ao parlamento são atribuídas várias funções: político-legislativas, fiscalização dos go-
vernos e da administração; competência financeira; tribuna de debate político com eco
na opinião pública e apresentação de alternativas e de exercício de direitos da oposição.
Na óptica da ciência política, o parlamento pode ser definido como uma assembleia, ou
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sistema de duas assembleias articuladas entre si, para o exercício das suas funções, as-
sentando a sua legitimidade na representação política decorrente de eleições competiti-
vas e que participa em processos de decisão política e com a qual o governo tem que
manter uma relação de confiança. Ficam de fora (obviamente) deste conceito os regimes
que não emergem de eleições concorrenciais onde não há oposição nem debate de alter-
nativas de poder.
Nos actuais parlamentos têm especial importância os grupos parlamentares, afirmando-
se mesmo que hoje os parlamentos funcionam mais como um conjunto de grupos do
que como um conjunto de deputados. Expressão deste facto é a existência da chamada
“Conferência de Líderes” ou Conferência dos Representantes dos Grupos Parlamenta-
res, a quem cabe a real direcção política do parlamento e fixar a ordem do dia.
Neste caso destaque ainda para a importância das comissões parlamentares do ponto de
vista da produção legislativa e da fiscalização e acompanhamento da actividade do go-
verno (comissão de agricultura, comissões de inquérito, comissão para o caso de Timor
Leste, etc)
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Liberdade e Poder
A evolução da história da humanidade traduz-se na transformação do ser humano, de
súbdito do poder em cidadão, implicando que pertença a uma comunidade na qual o
poder se exerce de forma a que seja titular de direitos fundamentais e de liberdades e
garantias pessoais, dispondo de condições mínimas para as fazer valer.
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ções.
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A diluição destes laços, em muitos dos aglomerados urbanos, em que assentam os pró-
prios órgãos autárquicos, provoca a falta de correspondência entre a autarquia e os mu-
nícipes impossibilitando o surgimento de ideias fortes de pertença e vontade de partici-
pação.
Há um conjunto de métodos políticos, no entanto, que procuram atenuar o desenraiza-
mento e alheamento, que apelam à identificação da população com os representantes do
poder (ou eles próprios procuram identificar-se com os eleitores), nomeadamente atra-
vés de promessas que exaltam a identidade da realidade social onde se inserem. São
ainda utilizados apelos à participação da população nas eleições, que assentam no estí-
mulo de sentimentos de pertença dos cidadãos ao aglomerado humano em causa.
Relacionado com os espaços de exercício do poder estão sempre os conceitos de socie-
dade, comunidade, povo, nação, população e território. Porém, o próprio poder político
desempenha um papel essencial no aparecimento destas realidades (caso da regionaliza-
ção) para assim justificar o exercício do poder sobre esses espaços.
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legado de tradição; a outra, o consenso actual, o desejo de viver junto, a vontade de
prosseguir fazendo valer a herança por todos recebida. O homem não se improvisa. A
nação - como o indivíduo - é consequência de longo passado de esforços, de sacrifícios
e de desenvolvimento. O culto dos antepassados, dentre todos, é o mais legítimo. Nos-
sos ancestrais nos moldaram o que hoje somos. Um passado heróico, de grandes ho-
mens, de glória, eis o capital social em que se assenta a ideia nacional. Possuir glórias
comuns no passado e vontade comum no presente; ter realizado grandes obras em con-
junto e querer realizá-las ainda, eis a condição para se ser um povo!". E prossegue:
"Ama-se a casa que se construiu e se transmite. O canto espartano: Somos o que fostes,
seremos o que sois é, na sua simplicidade, o hino abreviado de toda a pátria. O homem
não é escravo nem da sua raça, nem da sua língua, nem da sua religião, nem do curso
dos rios, nem da direcção das cadeias de montanhas. Uma grande agregação de homens,
sã de espírito e cálida de coração, cria uma consciência moral que se chama nação!". A
nação é, pois, uma realidade eminentemente sociológica, que se forma com o passar do
tempo, até que se sedimente aquele espírito nacional, oriundo das tradições e costumes
comuns.
Poder e Território
O conceito de povo está, na teoria clássica do estado, ligado à territorialização do fenó-
meno político, traduzida na correspondência entre a unidade do exercício do po-
der/autoridade e o substrato humano sobre o qual se exerce.
O território é, aliás, um elemento essencial para constituir o que no direito se chama de
“pessoas colectivas territoriais” para exprimir o facto de o exercício de poder e a comu-
nidade humana sobre que exerce serem delimitados em função da residencia numa de-
terminada área.
Também o conceito de população surge ligado ao conceito de território, mas com um
sentido de carácter mais demográfico e económico, englobando os que residem no terri-
tório de um certo estado independentemente da sua nacionalidade.
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Nesta relação poder/território, há que ter em atenção situações como o caso da UE em
que se pode falar mesmo em “desterritorialização” do exercício do poder, traduzida na
aplicação de normas no território de estados e na intervenção de representantes destes
em decisões que ultrapassam os limites do território que, em princípio, lhes caberia ad-
ministrar.
Federalismo e Regionalismo
A perda de poderes do estado-nação tem-se verificado por um lado para estruturas de
integração, como é o caso da UE, por outro para estruturas de um nível inferior, tais
como os estados federados, as regiões políticas ou as autarquias locais.
As razões que levam à regionalização são diversas e fundamentalmente de carácter in-
terno, existindo diferentes modelos de regiões:
quando o objectivo é resolver problemas de coexistência de várias nacionalidades
num estado unitário (Espanha)
quando se tem em conta realidades particulares de carácter cultural, étnico e linguís-
tico (Bélgica)
quando existem interesses específicos decorrentes de particularidades geográficas e
culturais que geram aspirações de autonomia (Açores e Madeira)
quando há necessidade de organizar a administração de forma descentralizada, ali-
viando o Estado-Administração Central (França)
As razões que estão na base da regionalização também são diversas, consoante os países
e até mesmo cada uma das regiões.
Luísa Torchia enumera quatro causas para a regionalização:
reequilibrar a responsabilidade entre eleitos e funcionários, garantindo mais órgãos
eleitos;
existência de identidades culturais, étnicas, linguísticas e geográficas;
aliviar a sobrecarga do estado-administração central
procurar a melhor localização das decisões.
Diferenças entre estados federados e regiões:
os estados federados foram historicamente estado soberanos que decidiram criar o
estado federal, enquanto as regiões são criadas ou reconhecidas por um estado unitá-
rio;
os estados federados estão representados numa das câmaras do parlamento (senado-
res), enquanto nos estados unitários podem existir segundas câmaras formadas a
partir de órgãos regionais e locais sem que os representantes tenham assento por di-
reito próprio;
os estados federados dispõem em geral de poder jurisdicional próprio, o que não se
verifica nas regiões políticas ou administrativas;
o estado federado dispõe, em geral, de uma margem de auto-organização que as
regiões não possuem, já que os aspectos essenciais relativos aos seus órgãos (forma
de eleição e competências) são estabelecidos pela constituição do estado unitário e
pelo estatuto aprovado pelo parlamento no exercício de um poder soberano.
Conceito de Região - “é a pessoa colectiva pública de população e território cujos
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órgãos são legitimados pelo sufrágio universal, cujo âmbito territorial corresponde ao
maior espaço de exercício do poder abaixo do estado-administração central e cujos
poderes e meios financeiros não resultam essencialmente de um poder de auto-
organização, mas sim de normas e deliberações emanadas dos órgãos de soberania”.
Em relação às regiões há que fazer a distinção entre regiões políticas, com poderes le-
gislativos e uma identidade forte subjacente, eventualmente de natureza próxima de
nacionalidades, e as regiões administrativas que não dispõem desses poderes (dispõem
apenas de competência meramente regulamentar) e têm subjacentes comunidades so-
ciais de outro tipo.
Conceito de Ideologia - sistema mais ou menos coerente de ideias que um grupo social
apresenta como uma exigência da razão, mas cujo fundamento se encontra nas aspira-
ções desse grupo social; quando considerada sob um ponto de vista pejorativo a ideolo-
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gia é tida como um sistema racional baseado em abstracções preconceituosas, alheias às
realidades sociais e espirituais mais profundas.
O termo ideologia surge associado à ciência, no quadro da Revolução Francesa. Subja-
cente a ele estão os positivistas, entre os quais Augusto Comte, que defendiam a neces-
sidade da observação empírica dos factos presidir ao funcionamento da sociedade, em
vez de quimeras ou divagações.
Para Marx a ideologia é o simples reflexo das relações de classe: a moral, a religião, a
metafísica são parte da ideologia e esta é uma forma de consciência; para Marx a ideo-
logia é uma falsa crença.
Em oposição, as teorias elitistas afirmam que a ideologia é um sistema de pensamento
com a função essencial de defender um grupo social.
Hoje, a expressão ideologia refere-se a um conjunto de ideias acerca do mundo, parti-
lhada por um grupo social mais ou menos amplo.
A ideologia está normalmente associada ou próxima da teoria política, nos casos em que
ela é partilhada por agentes políticos relevantes e assume peso social e político signifi-
cativo. Entre as grandes correntes ideológicas encontram-se a democracia, o fascismo, o
liberalismo, o conservadorismo, o socialismo; todas elas passíveis de variações, sendo
difícil encontrar uma única definição para as mesmas.
Exemplo desta dificuldade é a democracia. Tendo o conceito de democracia, e bem as-
sim o regime que o enforma, tido por berço a Grécia Antiga - embora a democracia ate-
niense revestisse carácter restrito, uma vez que contemplava apenas quem dispunha de
cidadania, o que, desde logo, excluía largos estratos da população -, o termo "democra-
cia" (demos-povo + kratia-poder) é igualmente de origem grega e significa "o poder do
povo".
Ao longo dos tempos e consoante as épocas, os regimes e mesmo as doutrinas e os auto-
res, várias foram as expressões, algumas das quais contraditórias entre si, usadas para
definir o conceito de democracia.
A mais conhecida, talvez por mais abrangente e extensiva, mas seguramente por revelar
melhor capacidade de síntese e facultar perceptibilidade instantânea, é a fórmula usada
pelo antigo presidente dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln, para quem
"Democracia é o poder do povo, pelo povo e para o povo".
Dentro dos adeptos da democracia há os que entendem que o povo só estará em condi-
ções plenas de exercer as suas escolhas se tiver assegurados os seus direitos fundamen-
tais (económicos, sociais e culturais) devendo para isso contar-se com o apoio do Esta-
do. Outros defendem que a intervenção do Estado é fonte de autoritarismo e burocracia
(um entrave à democracia) considerando no entanto que a sua intervenção é necessária
na medida em que é uma verdadeira salvaguarda dessa mesma democracia.
Há quem defenda a democracia directa, devendo as decisões políticas essenciais ser
tomadas por via do referendo, e há quem se contraponha a esta posição alegando que os
referendos são passíveis de manipulação por forças políticas e sociais dominantes.
Estes são apenas alguns exemplos das contradições de ideias dentro de uma mesma
ideologia.
Critérios de Avaliação das Ideologias
• A sua atitude face ao poder, no que respeita à adopção de posturas mais ou menos
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autoritárias e de admissão ou exclusão de outras ideologias.
• A adopção de uma postura de transformação social através de rupturas políticas ou
defesa da conservação/restauração das estruturas existentes.
• A exigência da intervenção do Estado na realização de objectivos e resolução de
problemas públicos/sociais ou, ao contrário, reclamam o máximo de abstenção do
Estado nestas matérias.
Giovanni Sartori faz ainda uma distinção entre ideologia e pragmatismo. Segundo este
autor, a ideologia de crenças seria caracterizada por uma mentalidade rígida e doutriná-
ria, que fariam o apelo aos princípios e à argumentação dedutiva. A ideologia assumiria
uma dimensão emotiva e mesmo passional, resultando em forte dedicação e activismo.
Os fortes conflitos políticos tinham assim explicação nesta emotividade.
As rápidas mudanças do nosso tempo, e essencialmente as mudanças políticas que mar-
caram a segunda metade do séc. XX, levaram ao declínio de muitas ideologias. Por ou-
tro lado esse declínio dá-se também pelo cada vez maior afastamento dos cidadãos rela-
tivamente à classe política e aos órgãos de poder, afastamento esse que se deve em
grande medida à frustração e decepção que sentem em relação a essa classe. O povo
recusa, cada vez mais, identificar-se com aqueles que dizem uma coisa e fazem outra
completamente diferente (aqueles que não são coerentes com a ideologia que defen-
dem). Poucos líderes têm o carisma e o condão de “contagiar” uma multidão. Os líderes
de hoje, perderam a “paixão” pelos ideais.
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