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Nós levantamos muitas hipóteses a respeito do que é texto. Será que alguma
das perguntas acima seria a sua real definição?
Fiorin (1996, p.16) diz que texto “é um todo organizado de sentido”, ou seja,
nós não podemos entender que o texto seja apenas um conjunto de palavras ou
frases que se juntam de forma aleatória para constituí-lo, mas, sim, que essas
palavras e frases devam estar ligadas entre si para que haja uma continuidade
entre elas, a fim de que a sua totalidade forme uma unidade de sentido. Talvez,
você esteja dizendo: “mas isso é óbvio!”, entretanto, não é essa a noção de texto
que boa parte dos estudantes emprega na prática.
Na escola, quando o professor ou a professora pede para que seja elaborada
uma redação é comum os alunos lhe perguntarem: “com quantas linhas?” ou “em
quantas palavras?”. Perguntas desse tipo demonstram mais preocupação em
atender às exigências de números de linhas ou palavras, do que construir um texto
que faça sentido para quem o lê.
A produção textual, nesse caso, não é concebida como um todo com unidade
de sentido, isto é, uma organização de ideias com começo, meio e fim, mas como
uma somatória de linhas, um amontoado de palavras sucessivas. Pior é que essa
concepção de texto também está presente nas atividades de leitura. Muitas vezes,
lemos apenas parte de um texto e achamos que o entendemos em sua completude.
É isso o que ocorre quando o professor nos dá um romance para ler e lemos
apenas o resumo ou partes de capítulos, imaginando que a leitura parcial seja
suficiente para ter sucesso na avaliação. Veja o texto de Ricardo Ramos:
Circuito Fechado
Ricardo Ramos1
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água
fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras,
calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,
chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.
Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo
com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída,
vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.
Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis.(...)
1
Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos
exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda,
professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos,
romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira.
Apesar do texto, em uma primeira leitura não aparentar relação entre as
palavras, se você observar atentamente, poderá perceber que se trata do cotidiano
de um indivíduo, e é possível perceber sua rotina e até mesmo seu gênero: se é
masculino ou feminino. Leia o restante do texto que complementa nossa análise e
tente buscar outras informações importantes que o texto passa para o leitor:
a) Se você observar apenas o primeiro quadro, abaixo, qual o sentido que você
depreende?
Edson Baeta
http://naweb.wordpress.com/.
Acesso em 11/11/2009
Texto verbal
(http://centralrocknet.com.br/index.php?news=677)
Texto e Contexto
(http://www.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf)
Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no
último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois
são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós
exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os
elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de
um CONTEXTO IMEDIATO.
O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse
contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias,
para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma
postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de
mundo, a fim de depreender o sentido exigido.
Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a
nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para
entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura,
assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos
acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e
retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será
muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes,
reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge:
Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a
charge?
Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que
estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o
logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas
pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a
pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma
charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o
Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à
segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se
preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos
estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso
conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de
mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL.
A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos
nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é
preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do
leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem
subliminarmente impressos na mensagem textual.
Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em
que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de
fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas
informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na
situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões),
a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo
construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em
vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas
situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os
seguintes fatores:
De onde eu escrevo?
Caro aluno,
Como tem sido as suas leituras? Você lê com frequência? Quando lê, você
consegue entender claramente o que o texto quer dizer?
Uma das maiores dificuldades encontradas pelos alunos, em relação ao
aprendizado de um conteúdo, é a deficiência na leitura e compreensão do sentido
dessa leitura. Isto quer dizer que muitos não conseguem entender o que leem ou
apenas reproduzem, com as mesmas palavras, o que está escrito na superfície
textual, ou seja, naquilo que está escrito ”literalmente” ou mostrado. Abaixo segue
uma crônica de Ignácio de L. Brandão, publicada no jornal O Estado de São Paulo.
Leia-a atentamente, para entender o que acabamos de falar:
Na infância, ele era diferente. Acreditava nos outros, acreditava nas coisas.
Quando alguém dizia:
- Por que não vai ver se estou na esquina?
Ele corria até a esquina, olhava, esperava um pouco, reconfirmava e voltava:
- Não tem ninguém na esquina.
- Quer dizer que voltei.
- Por que não me avisou que voltou?
- Voltei por outro caminho.
- Que outro caminho?
- O caminho das pedras. Não conhece o caminho das pedras?
- Não.
- Então não vai ser nada na vida.
Outra vez, numa discussão, alguém foi imperioso:
- Quer saber? Vá plantar batatas.
Ele correu no armazém, comprou um quilo de batatas e foi até o quintal, plantou
tudo. Não é que as batatas germinaram! Houve também aquele dia em que um
amigo convidou:
- Vamos matar o bicho?
- Onde o bicho está?
- Ali no bar.
- Que bicho? É perigoso? Me dê um minuto, passo em casa, pego a espingarda
do meu pai ...
- Espingarda? Venha com a sede.
- Não estou com sede.
- Matar o bicho, meu caro, é beber uma pinga.
Em outra ocasião, um primo perguntou:
- Você fez alguma coisa para a Mercedes?
- Não. Por quê?
- Ela passou por mim, está com a cara amarrada.
- Amarrada com barbante, com corda, com arame? Por que uma pessoa amarra
a cara da outra?
- Nada, esquece! Você ficou com a cara de mamão macho, me deixou com cara
de tacho. É um cara-de-pau e ainda fica aí me olhando com a mesma cara.
Outra vez, uma menina, que ele queria namorar, se encheu:
- Pára! Não me amole! Por que não vai pentear macaco?
Naquela tarde ele foi surpreendido no minizoológico do bairro, com um pente na
mão e tentando agarrar um macaco, a quem procurava seduzir com bananas. Uma
noite combinaram de jogar baralho e um dos parceiros propôs:
- Vai ser a dinheiro ou a leite de pato?
- Leite de pato, propuseram os jogadores.
Ele se levantou:
- Então, esperem um pouco. Trouxe dinheiro, mas não leito e de pato. Vou
providenciar.
- E onde vai buscar leite de pato?
- A Mirela, ali da esquina, tem um galinheiro enorme, está cheio de patos. Vou
ver o que arranjo.
Voltou meia hora depois:
- Não vou poder jogar. Os patos, me disse a Mirela, não estão dando leite faz
uma semana.
Riram e mandaram ele sentar e jogar. Em certo momento, um jogador se irritou,
porque o adversário, apesar de ingênuo e inocente, tinha muita sorte.
- Vou parar. Você está jogando com cartas marcadas.
- Claro que tem marca! É Copag, a melhor fábrica de baralhos. Boa marca, não
conheço outra.
- Está me fazendo de bobo, mas aí tem dente de coelho.
- Juro que não! Por que haveria de ter dente de coelho? Quem tirou o dente do
coelho?
- Além do mais, você mente com quantos dentes tem na boca. A gente precisa
ficar de orelha em pé.
- Não estou fazendo nada. Estou na minha, com meu joguinho, vocês é que
implicam.
- Desculpa de mau jogador.
- Não devo nada a ninguém aqui.
- Deve os olhos da cara.
- Devo? Não comprei os meus olhos. Nasceram comigo. Só se meus pais
compraram e não pagaram.
Todos provocaram, pagavam para ver.
- Não venha com conversa mole, pensa que dormimos de botina?
- Não penso nada. Aliás, nunca vi nenhum de vocês de botina.
- Melhor enrolar a língua, se não se enrosca todo.
- Não venha nos fazer a boca doce, que bem te conhecemos!
As conversas eram sempre assim. Pelo menos foram até meus 20 anos, quando
deixei a cidade. A essa altura, vocês podem estar pensando que ele era sonso,
imbecilizado. Garanto que não. Tanto que, hoje, é um empresário bem-sucedido,
fabrica lençóis, fronhas e edredons, é dono de uma marca bem conhecida, a Bem
Querer & Bem-Estar. Não sei se um de vocês já comprou. Se não, recomendo.
Claro, recomendo a quem não dorme de touca, quem não tem conversa mole para
boi dormir, quem não dorme no ponto, quem não dorme na portaria, para aqueles
que não dormem sobre louros. Enfim, para quem não dorme com um olho aberto e
o outro fechado.
(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Estado de São Paulo, 8 jul. 2005. Caderno 2, p.
D14.)
No texto, podemos dizer que existem dois planos: aquilo que está mostrado
mediante as letras, palavras, figuras e gestos; e aquilo que está implícito, oculto,
ou seja, aquilo que está além dessas letras, palavras, figuras e gestos. É o que
acontece na crônica. Quando foi dito “Vai ver se eu estou na esquina” a pessoa não
queria que o sujeito que recebeu essa informação fosse até à esquina a fim de
verificar essa informação, porque não haveria necessidade, uma vez que ela já
estava bem à sua frente. Na realidade, por meio desses dizeres, o desejo dessa
pessoa é que o outro parasse de perturbá-la.
No entanto, deverá surgir uma nova pergunta: “Será que eu tenho essas
mesmas atitudes em relação à interpretação dos textos?”
Infelizmente, muitos ainda têm. Quer fazer um teste? Leia a seguir a fábula
de Millôr Fernandes:
A RAPOSA E AS UVAS
Observe que essas questões estão nos fazendo olhar não apenas para
aquilo que está dito, mas buscarmos significados que estão além do texto. Isso
deve ocorrer na interpretação de todo texto.
Ao analisar a fábula “A Raposa e as Uvas”, devemos primeiramente ter o
conhecimento de que uma fábula é uma narrativa figurada, na qual as personagens
são geralmente animais que possuem características humanas.
Pode ser escrita em prosa ou em verso e é sustentada sempre por uma lição
de moral, constatada na conclusão da história. Ela é muito utilizada com fins
educacionais. Muitos provérbios ou ditos populares vieram da moral contida nesta
narrativa alegórica, como por exemplo: “A pressa é inimiga da perfeição” na fábula
A lebre e a tartaruga e “Um amigo na hora da necessidade é um amigo de verdade”
em A cigarra e as Formigas. Portanto, sempre que alguém redige uma fábula ele
deve ter em mente um ensinamento. Além disso, observamos que na fábula a
raposa não tem procedimentos próprios de um animal, mas de ser humano, pois ela
falou, empurrou a pedra, armou toda uma estratégia para pegar as uvas etc.
Diante disso, uma vez que a fábula sempre procura trazer um ensinamento,
devemos analisar a relação que existe entre a narrativa e a moral. Num primeiro
momento, o texto parece ter um caráter
ingênuo, de uma narrativa aparentemente
infantil, conforme apontamos naquela
interpretação literal. Contudo, quando
observamos alguns elementos textuais que
estão presentes na fábula, ampliamos a
nossa leitura. Logo no início da narrativa é
colocada não uma necessidade fisiológica (a
fome da raposa), mas uma questão comportamental (a gula da personagem), dado
importante para reforçar a conclusão. Além
disso, aparecem várias tentativas do animal
em obter o objeto de desejo que alimentaria
sua gula, mesmo depois de vários fracassos.
Só então a raposa emite um juízo “Ah,
também não tem importância. Estão muito
verdes.” (É bom ressaltar que esse
enunciado é precedido das expressões
“entre dentes, com raiva”, que evidenciam as condições da raposa no momento em
que diz).
A partir daí, novos dizeres se apresentam no texto em virtude da intenção de
sentido. Ao se deparar com uma enorme pedra, a raposa é reanimada e tenta
novamente atingir seu objetivo, ignorando o que havia afirmado anteriormente,
premida pelas circunstâncias. Isso, aparentemente, comprova que as palavras da
personagem eram apenas tidas como desculpas por não ter conseguido a fruta
para saciar sua gula. Contudo, a raposa consegue, com muito esforço, o que
pretendia - apanhar as uvas - mas, ao contrário do que desejava, as uvas estavam
realmente verdes, expelindo-as de sua boca de tal forma que não as consumisse.
Nesse ponto, o texto amplia os horizontes do significado, determinando a
moral, cujo sentido está em confirmar a questão comportamental e não a
necessidade fisiológica. As uvas já se mostravam verdes e a raposa já havia
percebido, tanto que já o havia declarado anteriormente, mas o estado de gula era
tal, que se sobrepôs à razão. Somente no momento em que provou as uvas e
houve a confirmação do que já sabia é que veio a
consciência de não poder desfrutar daquela fruta,
daí, então, ocorre a frustração.
É claro que para fazer essa leitura e
interpretação, é necessário que o leitor comece a
perceber que aquilo que é visível num texto não é a
única leitura, mas a partir desses aspectos visíveis
associados a outros aspectos que já fazem parte da
vivência do leitor, essa leitura será ampliada.
Portanto, para compreender o que está além daquilo
que é visível, precisamos ativar o que chamamos de
conhecimento de mundo.
Repasto-me em trouxas
douradas de ovos moles
Degusto ostras
ovadas de luar
e empanturro-me
em iguarias às quais
não ofereço resistência
E confesso-me pecadora
e escrava desta gula,
que leva à mesa,
o banquete que me sacia,
meu regozijo e conforto,
prova das minhas fraquezas.
Nesse poema, como é vista a gula? É vista como algo aceito ou condenado
pelo eu-lírico, ou seja, por aquele que está dizendo o poema? O que o faz ter esse
posicionamento?
Ao analisarmos o poema, vemos uma pessoa que se declara pecadora e
escrava da gula. Embora consciente de que a gula é algo condenado socialmente,
ela sente prazer no que faz. E parece não ligar por estar transgredindo os valores
sociais. Ela sabe que a gula é uma fraqueza dela, todavia, ela se sente confortável.
Essa consciência e esse conforto vêm marcados no poema pelos verbos
“sorvo”, “repasto”, “degusto” e “empanturro”, pois estão todos ligados a ação de
saborear algo. Esse posicionamento se mostra diferente da fábula e da empresa de
alimentos.
Então, o que nos leva a ter essas três visões diferenciadas da gula? São os
chamados pressupostos ideológicos de cada sujeito constituído no texto. Dessa
forma, cabe-nos ver um pouco sobre a questão da ideologia e a linguagem.
Segundo Marilena Chauí (O que é ideologia, p. 113),
Leia novamente essa definição e pense no que Marilena Chauí quer dizer.
Esse é um bom teste para ver o seu nível de leitura.
Se você for a um dicionário ou a um livro de filosofia, verá outras definições
de ideologia, todavia, essa definição dada por Chauí está bem apropriada ao que
estamos falando.
Um indivíduo, durante a sua formação vai adquirindo valores sociais, regras
de conduta que vão direcionar a sua vida. Ele buscará interpretar os fatos e se
expressar de acordo com essas ideias.
Por exemplo, se um indivíduo é de uma família em que certas palavras não
podem ser ditas porque são proibidas, esse indivíduo sempre as verá dessa forma,
por isso, procurará evitá-las.
Isso é o que ocorre nos textos, cuja temática é sobre a gula. O modo de ver
a gula e falar dela dependerá dessa questão de valores.
Esses valores, essas regras e normas são o que formam a ideologia,
portanto, o seu significado está ligado a um conjunto de ideias, de pensamentos,
das experiências de vida de um indivíduo e é por meio desta ideologia que o
indivídio interpreta seu mundo, os textos que lê e as informações que recebe por
meio de suas ações e linguagem.
Todavia, muitas vezes, a ideologia é utilizada dentro de um aspecto negativo,
porque ela pode ser usada como uma forma de mascarar a verdade. Por exemplo,
quando o patrão diz aos empregados que quanto mais eles produzirem, mais
pessoas dignas e de sucesso serão; na realidade, esse patrão está se utilizando
dos aspectos ideológicos nessa fala, pois, o que de fato deseja é a grande
produção para um maior faturamento. Na sua fala há uma intenção implícita que
não é condizente com o que ele está transmitindo. Isso é muito comum na
propaganda. Com o propósito de
vender um produto, a empresa
mostra todas as qualificações desse
produto, nos passando a ideia de que
ele é importantíssimo para o
consumidor e nós somos persuadidos
de tal forma que queremos adquiri-lo.
Veja esta propaganda antiga.
Em meados do século XX, a
enceradeira surgiu como uma
inovação tecnológica importante para
a dona de casa, pois muitas mulheres
enceravam a sua casa com um
escovão ou de joelho com um pano
na mão. Procure observar essa
propaganda e veja como ela procura
vender o produto “enceradeira”.
Se você nunca passou uma enceradeira, pergunte para sua mãe se era
dessa forma que ela encerava a casa: salto, cabelo escovado, saia e blusa, como
se fosse uma princesa. Tenho certeza de que não era assim.
Observe que a propaganda quer vender a ideia de que quem comprasse a
Enceradeira Arno Super iria ter prazer em fazer a faxina de casa e nem sentiria
cansaço. Todavia, essa ideia não é verdadeira. Portanto, a empresa se apropriou
dos aspectos ideológicos para camuflar a verdade.
Dessa forma, a realidade é distorcida a partir de um conjunto de
representações pelo qual os homens se utilizam para explicar e compreender sua
própria vida individual e social. Isso ocorre com todos os indivíduos, porque nós
somos governados por uma ordem social.
A ideologia, portanto, é um sinal de significação que está presente em
qualquer tipo de mensagem, pois, em toda mensagem sempre há por trás uma
intenção que normalmente não é claramente dita.
Desta forma podemos afirmar que todos nós deixamos nossa marca de visão
de mundo, dos nossos valores e crenças, e de INTENÇÃO, ou seja, de nossa
ideologia, no uso que fazemos da linguagem, pois nós recorremos a ela para
expressar nossos sentimentos, opiniões e desejos. E é por meio da linguagem que
interpretamos a realidade que nos cerca.
Porém, essa interpretação não é totalmente livre, pois ela é construída
historicamente a partir de uma série de aspectos ideológicos que todos nós temos,
mesmo sem nos darmos conta de sua existência.
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...
Elis Regina
Composição:Belchior1976
Você percebeu que essas músicas foram compostas em três décadas
diferentes? A primeira em 1967, a segunda em 1976 e a terceira em 1985. Nelas,
encontramos diferenças nos perfis dos jovens que está intimamente ligada com a
ideologia dominante da época. Veja a análise!!!
Na primeira música, temos um jovem que vive a opressão sofrida nas ruas,
nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país na década
de 60. A letra denuncia o abuso de poder de forma metafórica: “caminhando contra
o vento/sem lenço e sem documento”; expressa a violência praticada pelo regime:
“sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil”; denuncia a
precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria
pessoas alienadas: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e
preguiça/quem lê tanta notícia?”.
Na segunda música, a canção fala sobre o tempo e a juventude, a
maturidade e a impotência, a ilusão e a decepção, sobre ganhar e perder. Embora
as pessoas sejam tão previsíveis e as histórias, inclusive políticas, costumem
acabar praticamente sempre “em pizza”, como se costuma dizer no Brasil, o autor
nos alerta do quão é importante que façamos a nossa parte. É importante não
desistir.
Na terceira, temos uma geração marcada pelo consumismo, que procuram
para si a praticidade e os produtos importados. É uma juventude que se deixa
envolver pelo caminho mais fácil, deixando de lado ideais revolucionários.
Como se vê, as idéias produzidas num determinado tempo, numa dada
época estão sempre presentes no texto. Por isso, é preciso verificar as concepções
e fatos correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para
ajudar-nos a entender os aspectos ideológicos, ou seja, as crenças, valores e
pensamentos relacionados à época e, consequentemente, fazermos uma leitura
além da superfície de um texto.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras estabelecidas pela Gramática Normativa. A mesma compõe-
se de algumas particularidades, às quais devemos estar atentos, procurando estabelecer uma relação de familiaridade
e, consequentemente, colocando-as em prática ao nos referirmos à linguagem escrita.
À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a prática de redigir, automaticamente aprimoramos essas
competências, e tão logo nos adequamos à forma padrão.
Em se tratando do referido assunto, devemos nos ater à questão das Novas Regras Ortográficas da Língua
Portuguesa, as quais entraram em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2009. E como toda mudança implica em
adequação, o ideal é que façamos uso das mesmas o quanto antes.
O estudo exposto a seguir visa aprofundar nossos conhecimentos no que se refere à maneira correta de grafamos as
palavras, levando em consideração as regras de acentuação por elas utilizadas. Lembrando que as mesmas já estão
voltadas para o novo acordo ortográfico.
A acentuação tônica implica na intensidade como são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de forma
mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica.
As demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são denominadas de átonas.
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a última sílaba.
Como podemos observar, mediante todos os exemplos mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas
em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente, são os chamados monossílabos, que, quando
pronunciados, há certa diferenciação quanto à intensidade.
Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos em uma dada sequência de palavras. Como podemos
observar o exemplo a seguir:
Os monossílabos ora em destaque, classificam-se como tônicos, os demais, como átonos (que, em, de).
Os acentos
# acento agudo (´) – Colocado sobre as letras a, i, u e sobre o e do grupo “em” indica que estas letras representam as
vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns. Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade,
timbre aberto.
# acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e “o”, indica além da tonicidade, timbre fechado:
# acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com artigos e pronomes.
# O trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi totalmente abolido das palavras. Apenas há uma exceção: Somente é
utilizado em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros.
Ex: mülleriano (de Müller)
# O til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais nasais.
Regras fundamentais:
Palavras oxítonas:
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: a, e, o, em, seguidas ou não do plural(s)
Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s)
Ex: pá – pé – dó – crê – há
Paroxítonas:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is
- l, n, r, x, ps
Regras especiais:
#Os ditongos de pronúncia aberta ei, oi, que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com a nova regra.
Ex:
Antes Agora
assembléia assembleia
idéia ideia
geléia geleia
jibóia jiboia
apóia (verbo apoiar) apoia
paranóico paranoico
Observação importante – O acento das palavras herói, anéis, fiéis ainda permanece.
# Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados ou não de s, haverá acento
Observação importante:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato quando vierem depois de ditongo:
Ex:
Antes Agora
bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
Sauípe
# O acento pertencente aos hiatos “oo” e “ee” que antes existia, agora foi abolido.
Ex:
Antes Agora
crêem creem
lêem leem
vôo voo
enjôo enjoo
ra-i-nha, vem-to-i-nha.
xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
No entanto, se tratar de palavra proparoxítona haverá o acento, já que a regra de acentuação das proparoxítonas
prevalece sobre a dos hiatos:
fri-ís-si-mo, se-ri-ís-si-mo
# As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com (u) tônico precedido de (g) ou (q) e seguido de (e) ou (i)
não serão mais acentuadas.
Ex:
Antes Depois
apazigúe (apaziguar) apazigue
averigúe (averiguar) averigue
argúi (arguir) argui
# A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter, deter, abster.
ele contém – eles contêm
ele obtém – eles obtêm
ele retém – eles retêm
ele convém – eles convêm
# Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes eram acentuadas para diferenciar de outras semelhantes.
Apenas em algumas exceções como:
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua sendo
acentuada para diferenciar-se de pode (terceira pessoa do singular do presente do indicativo).
Palavras homógrafas
OUTROS EXEMPLOS.
O pronome aquele (e variações, podem receber acento no a inicial, desde que haja um verbo
ou um nome relativo que peça a preposição a.
Exemplo.
Não fui a aquela farmácia
= Não fui àquela farmácia.
Repare.: Quem vai, vai a algum lugar -> Quem faz referência, faz a alguma coisa.
Antes de pronome possessivo é facultativo o uso do artigo, dessa forma, podemos usar.:
Exemplo.:
Refiro-me a (ou à) sua colega e não a (ou à) minha.
Faço referência a | à tua prima e não a | à tua avó.
Só acentuamos o a antes de nomes de pessoas quando se trata de indivíduos que façam parte
do nosso círculo de amizades, indivíduos aos quais tratamos intimamente.
Exemplo.:
Refiro-me à Luisa e não à Dani
Refiro-me a Laura e não a Marta.
Em expressões com sentido: à semelhança de, à moda de, à maneira, usarmos o acento.
Exemplo.:
Ele produziu um texto à Rui Barbosa.
Não se usa acento no a que antecede a palavra uma.Exceto se for hora ou conjutamente.
Exemplos.:
Os visitantes ficaram a uma distância de dois metros.
Os visitantes chegaram à uma hora.
Eles gritaram à uma: Bravo!
EXERCÍCIOS
1. Indique o existência da crase, usando o acento grave no A, quando conviver:
A.Você vai a aula hoje?
à
B. Fui a Santos ontem, estou cansado e não vou a aula.
a,a
C. Não vou a Brasília, vou a Bahia
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D.Obedeça a sinalização, é o que dizem as placas
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E. Nunca desobedeça a nenhuma pessoa
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F. Telefonei a ela, depois a você e a todas as nossas amigas
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G. Fui a velha Londres
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H. Vendo a vista e a prazo, ou seja, a dinheiro e a prestação
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I. Vesti-me as pressas e saí a procura de meus amigos
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J. Estudamos a tarde e trabalhamos a noite
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L. O avião pousou a zero hora e não a uma hora
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M. Mantenha-se a direita e não a esquerda
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N. Nesta lavanderia não há maquinas, só se lava a mão
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O. Tenho um carro a álcool e um a gasolina
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P. Passearemos a pé e não a cavalo
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Q. Foi um baile a caráter, a fantasia mesmo
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R. Comi um bife a milanesa
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