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CURSO PREPARATÓRIO

Concurso para
JUIZ FEDERAL
Prova escrita

Alexandre Rossato da S. Avila


2016
DIREITO AMBIENTAL
Prof. Gabriel Wedy
CONCEITO. OBJETO. O DIREITO
AMBIENTAL COMO DIREITO ECONÔMICO.
A NATUREZA ECONÔMICA DAS
NORMAS DE DIREITO AMBIENTAL.
Professor Gabriel Wedy
Doutorando e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul [Laude Acadêmico]. Estágio
Doutoral no Sabin Center for Climate Change Law da Columbia
Law School- New York (EUA)
Juiz Federal
Visiting Scholar pela Columbia Law School- New York (EUA)
Estágio Doutoral no Sabin Center for Climate Change Law da
Columbia Law School
Ex-Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil-
AJUFE
Autor, entre outros, do livro “O princípio constitucional da
precaução como instrumento de tutela da saúde pública e do
meio ambiente”.
CONTATOS E REDES SOCIAIS

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DIREITO AMBIENTAL.
CONCEITO. OBJETO.
Conceito

Direito ambiental é o conjunto de princípios, regras, normas e valores


que são relativos ao meio ambiente como bem de uso comum do povo.
Constitui-se de normas de direito internacional, constitucional e
infraconstitucional que regulam atividades potencialmente danosas ao
meio ambiente visando sempre a sua proteção. Ou como referido por
Michel Prieur é composto “ por um conjunto de regras jurídicas relativas
à proteção da natureza e à luta contra as poluições”.
PRIEUR, Michel. Droit de l’Environnment. Paris: Dalloz, 1984. p. 17.
A Constituição Federal adotou a teoria do antropocentrismo
alargado colocando o homem no centro das preocupações do
Constituinte Originário, afastando assim o ecocentrismo, que oferece
igual valia jurídica entre as vidas humanas e não humanas. De outro
lado, não ignorou a proteção aos animais ao vedar a crueldade contra
estes.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade. (Regulamento)
O meio ambiente é um bem coletivo de desfrute individual e geral ao
mesmo tempo. O direito ao meio ambiente é de cada pessoa, mas não só
dela, sendo ao mesmo tempo transindividual. Por isso o direito ao meio
ambiente entra na categoria de interesse difuso, não se esgotando numa só
pessoa, mas se espraiando para uma coletividade indeterminada. Enquadra-
se o direito ao meio ambiente na problemática dos novos direitos,
sobretudo a sua característica de direito de maior dimensão”.

LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental brasileiro. 13. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 116.
O Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado como um direito
fundamental. Neste diapasão, também, o meio ambiente foi
considerado como bem jurídico merecedor de tutela
constitucional nos autos do RE 134.297-8/SP. No MS 22.164/DF, a
Corte ampliou o reconhecimento de características especiais do
bem ambiental, à luz do art. 225 da Constituição Federal de 1988,
em que estão previstos também deveres fundamentais.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n
22164/SP. Relator: Ministro Celso de Mello. Acórdão publicado no
Diário da Justiça da União de 17 nov. 1995.
O meio ambiente, embora uno para fins conceituais, possui
aspectos distintos. Pode ser natural ou físico, como previsto no art.
225 caput e §1º, incisos I, III e VII, da CF/88. É composto pela
atmosfera, elementos da biosfera, águas, solo, subsolo, fauna e
flora.
Cultural, constituído pelo patrimônio histórico, artístico,
arqueológico, paisagístico, turístico, detentores de valores especiais.
Objeto

O objeto do direito ambiental brasileiro é o macrobem, bem


de natureza difusa e indivisível, não se trata de bem público ou
privado em sentido estrito. Este bem, terceiro gênero, que é
objeto de tutela e de regulação. São suas características a
extrapatrimonialidade, inalienabilidade, indisponibilidade e
essencialidade para as vidas humanas e não humanas.
O direito ambiental como direito econômico está relacionado ao
princípio do desenvolvimento sustentável. A deterioração ambiental foi
o principal foco do chamado Clube de Roma, na década de 1970. O
grupo, liderado por Dennis Meadows, elaborou um documento de
impacto na comunidade internacional chamado The limits of growth.
Em síntese, a conclusão do documento é de que a taxa de
crescimento demográfico, os padrões de consumo e a atividade
industrial são incompatíveis com os recursos naturais existentes. A
solução para esse impasse seria a estabilização econômica,
populacional e ecológica. O texto gerou grande polêmica e foi atacado
pelos setores defensores do desenvolvimento econômico tradicional.
O Direito Ambiental como Direito Econômico.
A natureza econômica das normas de Direito Ambiental.

O conceito de direito ao desenvolvimento sustentável restou


moldado conjuntamente, entretanto, pela Declaração de Estocolmo
(1972), pela Estratégia Mundial de Conservação (1980), pela Carta
Mundial da Natureza (1982) e, finalmente, pelo Relatório Brundtland
(1987), em torno do conceito de sustentabilidade.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da A/RES/38/61, no
ano de 1983, constituiu uma Comissão para elaborar um relatório
sobre questões atinentes ao meio ambiente (Comissão Mundial sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente), incluindo o desenvolvimento sem
o comprometimento dos recursos naturais. Essa foi a origem do
Relatório Brundtland.
A Comissão Brundtland divulgou relatório denominado Nosso
Futuro Comum e conceituou a base do desenvolvimento sustentável
como sendo “[...] a capacidade de satisfazer as necessidades do
presente, sem comprometer os estoques ambientais para as futuras
gerações”. Daí se extraem dois elementos éticos que são essenciais
para a ideia de desenvolvimento sustentável: preocupação para com a
presente geração (justiça ou equidade intrageracional) e preocupação
com o futuro (justiça ou equidade intergeracional).

WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our


common future: brundtland report. Oxford; New York: Oxford University Press,
1987. p. 13.
No Brasil, extrai-se o princípio do desenvolvimento sustentável da
interpretação conjunta do Preâmbulo e dos artigos 3º, 170 e 225 da
Constituição Federal de 1988. Encontra lastro no § 2º do art. 5º da
Constituição brasileira, segundo o qual os direitos e as garantias ali
expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a
República Federativa do Brasil faça parte.
A ordem econômica brasileira - atenta ao princípio do
desenvolvimento sustentável nas suas dimensões econômica,
ambiental, de inclusão social e de governança - deve obedecer ao
princípio da defesa do meio ambiente por disposição constitucional
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação.
Princípios de direito ambiental
Princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização,
compatíveis com vários graus de concretização. Permitem o
balanceamento de valores e interesses [não obedecem, como as
regras, à lógica do tudo ou nada], consoante o seu peso e ponderação
de outros princípios eventualmente conflitantes.[J.J.CANOTILHO/
MORATO LEITE]
JURISPRUDÊNCIA DO STF
JURISPRUDÊNCIA DO STJ
Princípio do desenvolvimento sustentável

Art. 225.Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
Princípio do desenvolvimento sustentável

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
Desenvolvimento Sustentável

Esse conceito encontra sua mais ampla elaboração no art. 170


da CF, ainda que tenha o seu fundamento no art. 225. O gênero
humano tem perfeitamente os meios de assumir o desenvolvimento
sustentado, respondendo às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade para as gerações futuras de vir a
satisfazer as suas necessidades. [Paulo Afonso Leme Machado]
Jurisprudência STF
O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de
caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em
compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e
representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastavel, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais
significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio
ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a
ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. ).[STF. Rel.
Ministro Celso de Mello. ADI-MC 3540. Dje 05.05.2009].
O princípio da precaução
Princípio 15 da Conferência sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, a chamada Rio/92 que dispõe:

Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da


precaução deve ser amplamente observado pelos Estados,
de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça
de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta não será utilizada como razão para o
adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental.
Na Constituição Federal
Título VIII
Da Ordem Social
Capítulo VI
Do Meio Ambiente
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;
Previsão infraconstitucional
Decreto-Legislativo 1, de 03/03/1994 [Ratificou a RIO 92];
Decreto 99. 280/90 que promulgou a Convenção de Viena para a
Proteção da Camada de Ozônio e o Protocolo de Montreal sobre as
substâncias que destroem a camada de ozônio;
Decreto 2.519/98 que promulgou a Convenção sobre diversidade
biológica.
Art. 3º da Lei 12.187/2009 que regulamenta a Política Nacional
sobre Mudanças do Clima.
O art. 54, da Lei 9605/98 prevê como crime a violação de deveres de
precaução no seu parágrafo 3ºe, também, no art. 70, como infração
administrativa a violação de deveres de precaução.
Lei n° 12.187, de 29/12/2009, que institui a Política Nacional
sobre o Meio Ambiente e Mudanças Climáticas;

Lei n°. 11.934 de 2009, sobre exposição humana a campos


elétricos, magnéticos e eletromagnéticos;

Lei n° 12.305, de 02/08/2010 que institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos e altera a Lei n° 9.605,
O princípio da precaução e direitos
socio- ambientais: princípio da
proporcionalidade [vedação de
excesso e inoperância]

-Direito fundamental de terceira geração.


-A aplicação do princípio da precaução deve
observar o princípio da proporcionalidade.
- A responsabilidade do Estado em virtude da
vedação do excesso e da insuficiência do
princípio.
Elementos do princípio da precaução

Incerteza científica

Risco de dano

Inversão do ônus da prova


Jurisprudência: Precaução e
inversão do ônus da prova
DIREITO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE USINA HIDRELÉTRICA.
REDUÇÃO DA PRODUÇÃO PESQUEIRA. NEXO CAUSAL. PRINCÍPIO
DA PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO.
PRECEDENTES... 4. O princípio da precaução, aplicável à hipótese,
pressupõe a inversão do ônus probatório, transferindo para a
concessionária o encargo de provar que sua conduta não ensejou
riscos para o meio ambiente e, por consequência, aos pescadores da
região. [ STJ. 3ª Turma. Relator Ministro Ricardo Villas Boas Cueva.
AGARESP – 206748. DJE 27.03.2013]
Precaução e ruído
POLUIÇÃO SONORA. LEI MUNICIPAL. LIMITES. RESOLUÇÃO DO CONAMA. PROVA.
REDUÇÃO DE RUÍDO. AR-CONDICIONADO. 1. A norma municipal fixa limites máximos
que, na realidade, são superiores aos limites máximos fixados na resolução pelo órgão
ambiental federal competente (Resolução nº 01/90 do Conama e NBR 10.152), devendo
a última se sobrepor à norma local. 2. A perícia judicial comprovou que, no período da
noite, a emissão de ruído decorrente do acionamento do aparelho de ar-condicionado
do réu, ultrapassa o nível permitido para o período noturno. Assim, devem ser tomadas
medidas para evitar tal efeito, por dizer respeito ao princípio da precaução, vigente no
direito ambiental. 5. Não há lucros cessantes quando não há comprovação cabal de
que o faturamento do autor restou consideravelmente diminuído por causa do ruído
causado pelo ar-condicionado do réu. [STF. 1ª Turma. Relator Ministro Luiz Fux. AGR
781547. DJE 13.02.2012].
Precaução e importação de
pneus
Aplicação do princípio da precaução, acolhido constitucionalmente,
harmonizado com os demais princípios da ordem social e econômica

Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação


de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e
do meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu
parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil). 10. Arguição de
Descumprimento de preceito Fundamental julgada parcialmente procedente.

[STF. Relatora Ministra Carmen Lúcia. ADPF 101. Plenário 04.06.2009].


Princípio da prevenção

Consiste no dever jurídico de evitar o dano ao meio ambiente ante


a sua certeza.

Preâmbulo da Convenção da Basiléia sobre o Controle de


Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos;

Preâmbulo da Convenção da Diversidade Biológica- é vital prever,


prevenir e combater na origem as causas da sensível redução ou
perda da diversidade biológica.
Base Constitucional
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
OBRIGATORIEDADE DO ESTUDO
PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL
A exigência do EPIA não pode sofrer exceções. A Constituição
Federal impõe a adoção do EPIA. Não se trata de mera faculdade,
pois, como já decidiu o STF: “a CF/88 no art. 225, parágrafo 1º, inc.
IV, exigiu o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, chamado EIA-
RIMA, como norma absoluta. Não pode a Constituição Estadual,
por conseguinte, excetuar ou dispensar, nessa regra, ainda que,
dentro de sua competência supletiva, pudesse criar formars mais
rígidas de controle.[STF, ADI 1087/7-SC, DJ 10.08.2001. Rel. Min.
Sepúlveda Pertence]
Distinção entre o princípio da precaução
e o princípio da prevenção

-Princípio da precaução: evitar [1] o risco de dano ante uma [2]


incerteza científica.
Ex: impedir a comercialização de medicamento.

-Princípio da prevenção: evitar o [1] dano ante [2]uma certeza


científica.
Ex: impedir o tabagismo em locais públicos e de CO2 em virtude
do efeito estufa.
Princípio do direito à sadia qualidade de vida
Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente- Declaração de
Estocolmo 1972- O homem tem o direito fundamental a adequadas
condições de vida, em um meio ambiente de qualidade.
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento [Rio 92]- Os seres humanos tem o direito a uma
vida saudável[Princípio 1].
Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos,
prevê: 1.Toda pessoa tem direito de viver em meio ambiente sadio e
a dispor de serviços públicos básicos.2. Os Estados Partes
promoverão a proteção, preservação e melhoramento do meio
ambiente. Decreto 3.321/99.
STJ/Qualidade da Soja
O meio ambiente equilibrado - elemento essencial à dignidade da pessoa humana -,
como "bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida" (art. 225 da
CF), integra o rol dos direitos fundamentais. Nesse aspecto, por sua própria natureza,
tem o meio ambiente tutela jurídica respaldada por princípios específicos que lhe
asseguram especial proteção. Deve prevalecer, no presente caso, a precaução da
administração pública em liberar o plantio e comercialização de qualquer produto que
não seja comprovadamente nocivo ao meio ambiente. E, nesse sentido, o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA tem tomado as providências e
estudos de ordem técnico-científica para a solução da questão, não se mostrando
inerte, como afirmado pela impetrante na inicial. 6. Não se vislumbra direito líquido e
certo da empresa impetrante em plantar e comercializar suas cultivares, até que haja
o deslinde da questão técnico-científica relativa à ocorrência de variação na cor do
hilo das cultivares. 7. Mandado de segurança denegado.[STJ. Relator Ministro
Arnaldo Esteves. MS 16074. .Primeira Seção. DJE 21.06.2012].
Princípio da Reparação
Declaração do Rio de Janeiro [RIO/92]:Os Estados deverão
desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à
indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais.
Os Estados deverão cooperar de maneira rápida e mais decidida,
na elaboração de normas internacionais sobre responsabilidade
e indenização por efeitos adversos advindos dos danos
ambientais causados por atividades realizadas dentro de sua
jurisdição ou seu controle, em zonas fora de sua jurisdição.
[Princípio 13].
A responsabilização civil por danos ambientais
O dano ambiental e a sua reparação são reguladas pelo art. 927 do
Código Civil e art. 14, §1°, Lei n° 6938/81.
Neste diapasão o legislador infraconstitucional previu a
responsabilidade objetiva em matéria de danos causados ao meio
ambiente nos seguintes termos:
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
União terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil
por danos causados ao meio ambiente (art. 14,§1°,Lei n° 6938/81).
Princípios do usuário-pagador
e do poluidor-pagador
Lei 6.938/81 [art. 4, VII]- A Política Nacional do Meio Ambiente visará
“a imposição, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos
ambientais com fins econômicos” e “à imposição ao poluidor e ao
predador” da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
causados”.
Princípio do usuário-pagador
Princípio do usuário-pagador: O princípio usuário-pagador não é
uma punição, pois mesmo não existindo qualquer ilicitude no
comportamento do pagador ele pode ser implementado. Assim,
para tornar obrigatório o pagamento pelo uso do recurso ou pela
sua poluição não há necessidade de ser provado que o usuário e
o poluidor estão cometendo faltas ou infrações...
A existência de autorização administrativa para poluir, segundo
as normas de emissão regularmente fixadas, não isenta o
poluidor de pagar pela poluição por ele efetuada.
(Paulo Affonso Leme Machado)
O princípio do poluidor-pagador e a demolição de um hotel
11. Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei
6.938/1981, o degradador, em decorrência do princípio do poluidor-pagador,
previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às
suas expensas - todos os danos que cause ao meio ambiente e a terceiros
afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento
subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé
para fins de acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de
restauração do status quo ante ecológico e de indenização.

14. Recurso Especial de Mauro Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais
da União e do Ministério Público Federal providos.
(REsp 769753/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 08/09/2009, DJe 10/06/2011)
Princípio de acesso equitativo aos recursos naturais
Os bens que integram o meio ambiente planetário como água, ar e
solo, devem satisfazer a todos os habitantes da terra. É adequado
pensar-se o meio ambiente como “bem de uso comum do povo”.
[Paulo Affonso Leme Machado]
Princípio 1 da Rio/92: Os seres humanos constituem o centro das
preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Tem
direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza.
Declaração de Estocolmo/72: Princípio 5- “Os recursos não
renováveis do Globo devem ser explorados de tal modo que não
haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas de sua
utilização sejam partilhadas por toda a humanidade”.
- A Declaração do Rio 92- O melhor modo de tratar as questões do
meio ambiente é assegurando a participação de todos os cidadãos
interessados, no nível pertinente. [art. 10]
- No nível nacional, cada pessoa deve ter a possibilidade de participar
no processo de tomada de decisões [administrativas, judiciais].
-Decisões administrativas- A Lei 7802/89 permite que associações de
defesa do meio ambiente e do consumidor possam impugnar o
registro de pesticidas ou pedir o cancelamento do registro já efetuado.
- Decisões judiciais – Os EUA começaram a abertura do acesso
popular para a defesa do ambiente. Entre outros países, na América
do Sul, o Brasil, com a ação civil pública, e a Colômbia tem registrado
um avanço no acesso aos tribunais.
Pressupostos:
O princípio da participação assenta-se sobre dois pressupostos
inafastáveis:
a- informação;
b – educação ambiental. “Furlan e Fracalossi”
Incumbe ao Poder Público: Art. 225, inc. VI- promover a
educação ambiental em todos os níveis e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.
STJ/Princípio da Participação
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DANO AMBIENTAL. CONDENAÇÃO.
ART. 3º DA LEI 7.347/85. CUMULATIVIDADE. POSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO DE
FAZER OU NÃO FAZER COM INDENIZAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. ...
3. Tem o meio ambiente tutela jurídica respaldada por princípios específicos
que lhe asseguram especial proteção.
4. O direito ambiental atua de forma a considerar, em primeiro plano, a prevenção,
seguida da recuperação e, por fim, o ressarcimento.
5. Os instrumentos de tutela ambiental - extrajudicial e judicial - são orientados
por seus princípios basilares, quais sejam, Princípio da Solidariedade
Intergeracional, da Prevenção, da Precaução, do Poluidor-Pagador, da
Informação, da Participação Comunitária, dentre outros, tendo aplicação em
todas as ordens de trabalho (prevenção, reparação e ressarcimento).
[STJ. Rel. Ministro Arnaldo Esteves. Resp 1115555. DJE 23.02.2011].
Princípio da intervenção do Poder Público
Declaração de Estocolmo/72:

Deve ser confiada às instituições nacionais competentes a


tarefa de planificar, administrar e controlar a utilização dos
recursos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a
qualidade do meio ambiente.
A Declaração do Rio de Janeiro/92: Os Estados deverão
promulgar leis eficazes sobre o meio ambiente. [Princípio 11]
Novas ideias de gestão ambiental: eficiência, democracia e
prestação de contas.
Doutrina
“A gestão do meio ambiente não é matéria que diga respeito somente à
sociedade civil, ou uma relação entre poluidores e vítimas da poluição.
Os países, tanto no direito interno como no direito internacional, tem que
intervir e atuar”. [Paulo Affonso Leme Machado]
Função gestora: “O Poder Público passa a figurar não como proprietário
dos bens ambientais – águas, ar e solo, fauna e florestas, patrimônio
histórico- mas como um gestor ou gerente que administra bens que não
são dele e, por isso, deve explicar convincentemente a sua gestão. A
aceitação dessa concepção jurídica vai conduzir o Poder Público a ter
que prestar contas sobre a utilização dos “bens de uso comum do povo”.
[Paulo Affonso Leme Machado]
AÇÕES JUDICIAIS DE
PROTEÇÃO AO MEIO
AMBIENTE
Meio ambiente ecologicamente equilibrado
como direito e dever fundamental

Todos possuem o direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, nos termos da Constituição Federal, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
[art. 225, caput].
O meio ambiente, como consta no voto, é um direito de terceira geração:
...que assiste de modo subjetivamente indeterminado a todo o gênero
humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação que
incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê-lo e preservá-lo
em benefício das presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo,
que irrompam no seio da comunhão social, os graves conflitos
intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade na
proteção desse bem essencial de uso comum de todos quantos compõe o
grupo social.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n 22164/SP. Relator: Ministro Celso de Mello. Acórdão
publicado no Diário da Justiça da União de 17 nov. 1995. Disponível em: http://www.stf.jus.br. Acesso em:
02nov.2014.
Neste sentido, como referido pelo Ministro Celso de Mello: o direito à
integridade do meio ambiente constitui prerrogativa jurídica de
titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos
direitos humanos, expressão significativa de um poder atribuído, não
ao indivíduo em sua singularidade, mas num sentido mais
abrangente, à própria coletividade social...o meio ambiente constitui
patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido
pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando-
se como encargo que se impõe – sempre em benefício das presentes
e das futuras gerações – tanto do Poder Público como à coletividade
em si mesmo considerada...
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n 22164/SP. Relator: Ministro Celso de Mello. Acórdão
publicado no Diário da Justiça da União de 17 nov. 1995. Disponível em: http://www.stf.jus.br. Acesso em: 02nov.2014.
O Supremo Tribunal Federal, para além da perspectiva,
caracterizada pelo antropocentrismo alargado pelo qual optou,
sem dúvida, o Constituinte de 1988, deu passos relevantes em
direção ao ecocentrismo em algumas de suas decisões quando,
superando a autonomia kantiana, reconheceu o direito ao
respeito e à dignidade de vidas não humanas como nos casos
dos cruéis espetáculos da “farra do boi”, da “briga de galo” e da
”vaquejada” reconhecidas como inconstitucionais.
No caso da farra do boi, o Supremo Tribunal Federal declarou
inconstitucional lei estadual do Estado de Santa Catarina
autorizadora de tal prática oriunda da cultura lusitana medieval. Após
realizar a ponderação entre o direito de pretensa manifestação
cultural do povo do Estado de Santa Catarina, consistente na
perseguição coletiva pelas ruas das cidades de um boi e posterior
sacrifício do animal e o direito à integridade física e a proteção dos
bovinos, entendeu por dar prioridade aos valores e a dignidade do
animal não humano
STF.RE 53.531-8-SC.Rel Ministro Carlos Velloso.1997
No caso da briga de galo, o Supremo Tribunal Federal declarou
inconstitucional lei aprovada no Estado do Rio de Janeiro que
regulamentava referida prática. A base normativa constitucional
para a anulação da legislação estatal foi o previsto no art. 225, §6º,
inc. VII, da Constituição Federal de 1988, que dispõe ser um “dever
do Estado proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade”.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou
procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4983,
ajuizada pelo procurador-geral da República contra a Lei
15.299/2013, do Estado do Ceará, que regulamenta a
vaquejada como prática desportiva e cultural no estado. A
maioria dos ministros acompanhou o voto do relator, ministro
Marco Aurélio, que considerou haver “crueldade intrínseca”
aplicada aos animais na vaquejada.
É de se verificar que à inviolabilidade do direito à vida [art. 5º,
caput], previsto como direito fundamental, atinge uma
dimensão ampla, no sentido do respeito à vida humana e,
também, não humana, se interpretado em conjunto com o art.
225 da Constituição Federal que prevê o dever fundamental de
proteção ao meio ambiente aì compreendidos todos os seres
vivos como integrantes deste.
Instrumentos processuais de tutela do
meio ambiente como bem autônomo
LEME MACHADO elenca como instrumentos processuais para a
defesa ambiental, a ação popular e a ação civil pública. MILARÉ a
estes acrescenta a ação direta de inconstitucionalidade ambiental,
de lei ou ato normativo; a ação popular ambiental; o mandado de
segurança coletivo ambiental e o mandado de injunção ambiental.
FERREIRA, adiciona, ainda, a ação direta de constitucionalidade por
omissão e a ação de arguição de descumprimento de preceito
fundamental em matéria ambiental. LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito ambiental
brasileiro. 13ª ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2005, p. 357-368.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 4ª. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2005.p.984-995.
FERREIRA, Heline Sivini. Os instrumentos jurisdicionais ambientais na Constituição Brasileira, in CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; MORATO LEITE, José Rubens [org.]. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro.5ª ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012. p. 352-400.
Imprescritibilidade da ação por dano ambiental
Todas as questões suscitadas pela parte foram apreciadas pelo
acórdão recorrido que concluiu pela inexistência de
autorização ambiental para a construção do restaurante em área
de preservação permanente, bem como que seriam inócuas as
alegações de que à época da construção do restaurante, há mais
de 25 anos, já inexistia vegetação natural, o que não caracteriza a
suposta contrariedade ao artigo 535 do CPC. 2. O aresto
impugnado perfilha o mesmo entendimento desta Corte, o qual
considera que as infrações ao meio ambiente são de caráter
continuado e que as ações de pretensão de cessação de danos
ambientais é imprescritível. 4. Recurso especial conhecido em
parte e não provido[STJ. 2ª Turma. Relator Ministro Castro Meira.
RESP 201002176431. DJE. 04.02.2013].
Ação Civil Pública Ambiental

A Lei 7.347/85 previu a ação civil pública, como instrumento


processual, com o objetivo de tutela dos interesses metaindividuais
que, a partir da Lei 8078/90, receberam classificação legal de
direitos coletivos, difusos e individuais homogêneos. É a referida
legislação um marco na superação da tutela individual de direitos
para a busca da tutela processual de direitos não individuais em
sentido estrito.
Direitos Difusos
Os direitos e interesses difusos são aqueles que tem como titulares
pessoas indeterminadas e ligadas a uma circuntância de fato. Como
afirmado por BENJAMIN, constituem-se em “uma espécie de comunhão,
tipificada pelo fato de que a satisfação de um só implica a satisfação de
todos, assim como a lesão de um só, constitui a lesão inteira da
coletividade”. Induvidoso que é cabível ação civil pública para prevenir
e reparar danos decorrentes da poluição dos oceanos, do solo, do ar
atmosférico e também os decorrentes dos efeitos das mudanças
climáticas ou do depleamento da camada de ozônio.
BENJAMIN, Antônio Herman V. A insurreição da aldeia global versus o processo civil clássico. In: Textos:
ambiente e consumidor. Lisboa: Centro de Estudos Judiciários, 1996, v. 1,p. 94.
Direitos Coletivos
Os direitos coletivos, por sua vez, possuem titularidade
determinada, estão reunidos por uma relação jurídica base, que
deve ser de constituição anterior a lesão ou ameaça de lesão
ambiental. Clássico exemplo são funcionários de uma fábrica
de energia nuclear contaminados, com o passar dos anos, pela
radiação que é nociva ao meio ambiente e, também, à saúde
humana.
Direitos e interesses individuais homogêneos
Os direitos e interesses individuais homogêneos foram misturados,
aleatóriamente, entre os metaindividuais pela Lei 8078/90, que os
define como decorrentes “de origem comum”. Na realidade são de
natureza individual, como no caso de pescadores que sofrem
prejuízo na sua pesca pela construção de usina hidrelétrica ou pelo
vazamento de nafta no mar, após a colisão de navios, como já
decidiu o Superior Tribunal de Justiça. Exemplos claros do
reconhecimento do dano ambiental reflexo, ou ricochete.
Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma. Relator Ministro Ricardo Villas Boas
Cueva. AGARESP – 206748. DJE 27.03.2013].Superior Tribunal de Justiça. 2ª.
Turma. Rel. Sidnei Beneti. REsp 1114398. DJU 16.02.2012]
Possuem legitimidade ativa para propor ação civil pública para
tutela do meio ambiente o Ministério Público, a União, os
Estados, os Municípios, o Distrito Federal, as autarquias, as
empresas públicas, as fundações e as sociedades de
economia mista, assim como as associações que estejam
constituídas há pelo menos um ano e, incluam, entre as suas
finalidades, a proteção do meio ambiente ex vi do art 5º da Lei
7.347/85 e art. 82 da Lei 8078/90.
Importante grifar que é possível, também, que seja pleiteado o
dano moral ambiental em sede de ação civil pública, com base
no art. 1º da LACP. Como referido por MORATO LEITE “trata-
se de um dano extrapatrimonial de caráter objetivo, em que o
agente estará sujeito a indenizar a lesão por risco da atividade.
O valor pecuniário desta indenização será recolhido ao fundo
para recuperação dos bens lesados de caráter coletivo”.

MORATO LEITE, José Rubens. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial.


2ª.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 316.
STJ- Risco integral
na responsabilidade
do Estado por
dano ambiental
•AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A PESCADORES
CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR VAZAMENTO DE NAFTA,
EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE
PARANAGUÁ Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro,
ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de culpa exclusiva de
terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade,
deve ser afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da
responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e
do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em
decorrência do princípio do poluidor-pagador. d) Configuração de dano
moral.- Patente o sofrimento intenso de pescador profissional artesanal,
causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do
dano ambiental, é também devida a indenização por dano moral, fixada,
por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. 3.- Recurso
Especial improvido.... [STJ. 2ª. Turma. Rel. Sidnei Beneti. REsp 1114398. DJU
16.02.2012]
Ação Popular Ambiental
O mais notável mecanismo processual de tutela do meio ambiente, no
entanto, é a ação popular ambiental. O texto constitucional determina no
seu art. 5º, inc. LXXIII, que “qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise anular ato lesivo...ao meio ambiente...ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência”. Há, no caso, um verdadeiro estímulo que emana da
Constituição Cidadã para que o cidadão participe da fiscalização dos riscos
de dano ambiental e, ainda, promova a reparação do bem ambiental.
Ver sobre o tema:WEDY, Gabriel. Ação Popular. RePro- Revista de Processo 154. ano 32. São Paulo: Revista dos
Tribunais. Dezembro, 2007. 37-62. E, mais especificamente, ver também: WEDY, Gabriel. Ação Popular Ambiental.
Revista da Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da Quarta Região. Ano 1. Número 1. Porto Alegre:
Tribunal Regional da Quarta Região. Outubro, 2014. Págs. 311-336.
A prova da cidadania para o ajuizamento da ação popular deve
ser feita com o título eleitoral ou documento equivalente [art.
1°, §3°, da LAP]. O maior de dezesseis anos e menor de
dezoito anos, o analfabeto e o maior de setenta anos, desde
que possuam o título eleitoral, podem ser autores da ação
popular ambiental. Não podem ajuizar ação popular os que
perderam a nacionalidade e os que perderam, ou tiveram
direitos políticos suspensos.
Existe discussão doutrinária sobre a necessidade da presença do
binômio lesividade- ilegalidade do ato para que uma ação popular
possa ser julgada procedente. Em sede de jurisprudência o
entendimento histórico do egrégio STF era de que a lesividade e
ilegalidade deveriam ser provadas uma e outra, de forma
independente, para que a ação popular pudesse ser julgada
procedente. Neste sentido leading case que teve o voto condutor
do Ministro Djaci Falcão.
Supremo Tribunal Federal. RE 77.679. DJU.13.09.74.
Todavia, nos dias atuais, em sede de jurisprudência, o egrégio
STF evoluiu e tem entendido que a lesividade do ato está implícita
no próprio conceito de ilegalidade.
Ação Popular – Procedência - Pressupostos. Na maioria das vezes, a lesividade ao erário
público decorre da própria ilegalidade do ato praticado. Assim o é quando dá-se a contratação,
por município, de serviços que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e
sem que o ato administrativo tenha sido precedido da necessária justificativa

[Supremo Tribunal Federal. Relator Ministro Marco Aurélio.RE 160381/SP.DJ.12.08.94].


Mandado de Segurança Coletivo Ambiental
O Mandado de Segurança Coletivo está previsto no art. 5º, incisos,
LXIX e LXX, da Constituição Federal de 1988. Este remédio
constitucional é um instrumento para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público. São partes legítimas para impetrar mandado de
segurança coletivo ambiental as organizações sindicais, entidades de
classe ou associações legalmente constituídas e em funcionamento
há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros
ou associados. Nos termos da Lei 12.016/2009, os direitos protegidos
pelo mandado de segurança coletivo são os coletivos e, também,
individuais homogêneos.
Como adverte FIORILLO:
Todavia, ao exercermos o direito de ação de mandado de
segurança ambiental, a realização desses dois requisitos –
liquidez e certeza – estará adstrita à demonstração de que a
violação do direito impede o desfrute de um meio ambiente
sadio e equilibrado, a contento do que prevê a Constituição.
Verificada aludida situação, presentes estarão a liquidez e a
certeza do direito pleiteado em sede de mandado de
segurança.
FIORILLO. Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 5ª. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2012.p. 271.
São sujeitos passivos do mandado de segurança ambiental a
autoridade pública, ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público, que violarem o direito líquido e certo
ao meio ambiente equilibrado ou praticarem ilegalidade ou
procederem com abuso de poder contra o bem ambiental como, por
exemplo, no caso de licenciamento ambiental irregular para
construção de residências em uma área de preservação permanente.
Mandado de Injunção Ambiental
O mandado de injunção ambiental é cabível na ausência de
normas que regulamentem a proteção do meio ambiente. Muito
embora a norma constitucional que prevê o writ tenha por
objetivo possibilitar, na ausência de normas regulamentadoras, o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania, impossível é excluir o meio ambiente deste rol.
Refere MILARÉ que o mandado de injunção “trata-se de
instituto à disposição de qualquer pessoa, física ou jurídica,
nacional ou estrangeira, titular de um direito, de uma liberdade
ou de uma prerrogativa constante da Carta de Princípios” mas
que deve fazer “prova de não poder ver exercido esse direito,
essa liberdade ou essa prerrogativa, por falta de instrumento
regulamentador.

MILARÉ. Édis. Direito do Ambiente. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 996.
Ação Direta de
Inconstitucionalidade Ambiental
A ação direta de inconstitucionalidade, prevista no art. 103 da
Constituição de 1988, com a regulamentação da Lei 9688/99, é
mecanismo hábil para impugnar em um processo objetivo, sem
partes, normas que contrariem o art. 225 de nossa Carta Política,
no que tange a tutela do meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Podem propor ação direta de inconstitucionalidade
o Presidente da República; a Mesa do Senado Federal; a Mesa
da Câmara dos Deputados; a Mesa da Assembleia Legislativa; o
Governador do Estado; o Procurador-Geral da República; o
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido
político com representação no Congresso Nacional;
Confederação Sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional.
Observa-se que o Supremo Tribunal Federal no precedente que
declarou inconstitucional legislação estadual que
regulamentava a “rinha de galos”, entendeu, em ação direta de
inconstitucionalidade, nas palavras do prolator do voto
condutor, Ministro Carlos Veloso que”...conforme interpretação
do art. 225, §1º, VII, da CF, admissível é o deferimento de
cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, que suspende
a eficácia de lei estadual, que autoriza e disciplina a realização
de competições entre galos competentes por submeter tais
animais a tratamento cruel.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Sessão Plenária. Rel. Ministro Carlos Velloso. ADIn
1856/RJ,J.03.09.1998. DJU 22.09.2000.
O STF anulou norma proveniente da Constituição catarinense
que previa a dispensa de estudo de prévio impacto ambiental
em áreas de florestamento e reflorestamento para fins
empresariais. No sentido do exposto pelo voto vencedor no
leading case, de lavra do Ministro Ilmar Galvão: ”A norma
impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo prévio de
impacto ambiental no caso de áreas de florestamento ou
reflorestamento para fins empresariais, cria exceção
incompatível com o disposto no mencionado inc. IV do §1º do
art. 225 da CF”.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Sessão Plenária. Rel. Ministro Ilmar Galvão. ADI n 1086/SC.
DJU 10.08.2001.
ADIN AMBIENTAL POR OMISSÃO
No caso de ser reconhecida a omissão inconstitucional em matéria
ambiental, que pode ser invocada por todos os legitimados para
promover ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
[como elencado na Lei 9868/99], as consequencias são: a- em sendo
a omissão de um dos Poderes, ele será intimado para que
providencie suprir a omissão em matéria ambiental; b- caso seja uma
autoridade administrativa a responsável pela não-ação, ela será
intimada para que, em trinta dias, supra a omissão em matéria
ambiental.
A ação direta de inconstitucionalidade por omissão, assim como
por ação, não pode ser proposta para suprir omissão legislativa
ou normativa inconstitucional anterior à Constituição Federal de
1988. As Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente,
anteriores a 1988, no mesmo sentido, não podem ser objeto de
impugnação via controle concentrado de constitucionalidade,
mas apenas por arguição de descumprimento de preceito
fundamental em matéria ambiental.
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