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NOTA EXPLICATIVA:
A caligrafia de Gago Coutinho, apesar de contemporânea não é de muito fácil
leitura. Deparámo-nos com algumas dúvidas aquando da leitura dos seus manuscritos.
Há dificuldades na distinção entre o s e o z.
Há dúvidas na palavra “ano” (âno ou añno).
Há dúvidas no (~) e (^).
Uniformizámos algumas regras/símbolos na sua transcrição:
Mantivemos a pontuação.
Não actualizámos a ortografia.
Utilizámos o ________ para palavras que não conseguimos ler.
Utilizámos o (?) para acompanhar a palavra por nós transcrita mas da qual
temos algumas dúvidas.
Utilizámos os parênteses [ ] para lacunas, no texto, do próprio autor.
Sempre que uma palavra aparece, no texto, com borrão, escrevemos no texto
(borrão).
Colocámos palavras entre [ ] quando por borrão, papel rasgado, etc estas
não eram perceptíveis, mas que fazem sentido no texto.
O texto rasurado vem assinalado com (texto rasurado).
Doc.1
Gago Coutinho enquanto Director do Mercado de Luanda solicita dispensa para se
ausentar ir a termas em Portugal e bilhete pago para o efeito
José Viegas Gago Coutinho antigo Director da cadeia civil e Director do mercado da
loanda aponta, tendo de se ausentar para a metrópole afim de tratar da sua saúde,
vem muito respeitosamente, requerer à Exma Câmara se digne conceder-lhe uma
passagem em 2ª classe.
Motivo termas
1
Pede deferimento
Doc.2
2
=7º= Terá sempre muito em vista a defesa dos interesses portugueses na região de
que se trata. ______________________________________________________________
Em 13 de Abril de 1926. ____________________________________________________
O Ministro (a) Ernesto Maria Vieira da Rocha. __________________________________
Está conforme Comissão de Cartografia, em 19 de Abril de 1926
O Presidente
Gago Coutinho
C.Almirante
Doc.3
Lisbôa - 22 – Novembro 26
Meu caro amigo, e antigo condiscípulo, muito lhe agradeço a amabilidade da sua
carta, e as informações a respeito de meu pai. Mas parece-me que o não (buraco) um
homem (buraco) teimoso, e (buraco) sempre o que êle quiser, como o tem feito toda
a sua vida desde os 15 años. He, no fundo, o predel-o e contando dar-lh-ia tão grande
desgosto, que me parece que é melhor deixal-o viver poucos años em liberddade do
que muitos subjugado. Este criterio não e original meu e li-o algyres.
Soubre o nosso jantar, sou eu quem tera grande prazer em me sentar à mesa com a
sua família. Faremos isso lá para meiados de desembro.
Mais uma vez muito obrigado pelo que me dizia acerca de meu Pai, e queria _____
d’este seu antigo amigo
Gago Coutinho
Doc.4
Colombo descobriu a América fiado em uma ficção: ser curta a passagem da Europa
para a Ásia. he um erro.
Magalhães procurou a passagem pelo sul da América para passar para a Asia: não se
tratava de ficção, mas de uma operação privada com bases sientificas: realisou-a (?)
é a travessia do Atlantico que levou 5 semanas a Colombo, é brincadeira ao lado da
travessia do Pacifico, que a Magalhães levou 3 meses!
Assim chegou à Asia, coisa que Colombo não fez nem poderia faser: no fim de um
mês já os seus marinheiros espanhóis estavam a reclamar: no fim de outro
__________ vencido e voltado para trás
Magalhães não ia só realisar uma viagem sientifica, privada em naus velhas (?) teve
também que vencer a oposição geral dos espanhóis, incluindo capitães que o
acompanhavam: de modo que ha a focar em Magalhães tres pontos:
A parte sientifica;
3
A energia indomavel com que venceu a opinião dos companheiros, tendo que mandar
matar alguns, apesar de não ser espanhol;
E emfim, quando foi morto, em combate com os indígenas, nas ________, a viajem
de circumnavegação estava completa: a ahi para o cabo da Boa Esperança e Europa,
já era caminho conhecido e navegado por outros
1930-maio-10
Gago Coutinho
Doc.5
Doc.6
Carta a Carlos Cudell Goetz (representante em Portugal da casa Plath de Hamburgo
fabricante do seu sextante) e referências à reportagem realizada aquando da sua
viagem no hidroavião Do X.
4
portuguesas cabo Verde Guiné, não me poderia obter um exemplar para o mesmo
ministro?
Sem mais, sou, com toda a consideração, amigo grato
Gago Coutinho
Doc.7
Gago Coutinho
Doc.8
Grande Hotel OK
RUA SALVADOR DANTAS, 34 Rio – 1954 – Abril - 28
RIO DE JANEIRO – BRASIL
Muito me comoveu Vossa lembrança da menina que, em Junho de 1922, nos entregou
a salva de prata, com o pão e o sal da hospitalidade desta cidade. É lembrança que
conservo lá em Lisbôa, em cima da minha mesa.
Certo, gostarei de a tornar a ver, já escrevi-lhe. Mas, de momento ando muito
preocupado com trabalhos sociais, e só o poderei fazer la para princípios de Maio, de
sorte que é favor V Exª deixar-me os dias da semana em que costumo estar em casa,
e as horas mais convenientes para eu ir vê-la à Rua Moraes e Silva, que sei muito bem
onde é, pois
Doc.9
5
Ao meu Exmo e bom amigo, senhor Dr. João de Barros
De acordo com vosso telefonema desta tarde, lá estarei na proxima quinta feira, 28
do corrente, Rest. Alvalade, Campo Grande, ao pé do lago.
Muito lhe agradeço a sua pronta aquiescencia ao meu pedido. Assim terei ocasião de
lhe expor as minhas razões, sem pretender de maneira insistir na minha proposta.
De resto, como lhe disse, lá fasem o que a gente pedir. Creia-me antigo admirador e
amigo grato
Gago Coutinho
V.S.F.F.
P.S. No caso de o dia não lhe convier ou houver outro impedimento, em qualquer
ocasião, ou mesmo na 5ª feira até às 11 horas da manhã, é tempo de se desfaser a
combinação, ou adiar para depois do Carnaval! Agradeço
G.C.
Doc.10
Apontamentos sobre os descobrimentos enviados a João de Barros
- DESCOBRIMENTO DO ATLÂNTICO –
- APONTAMENTOS –
Doc.11
6
Opiniões e conselhos manifestados por Gago Coutinho a João de Barros relativos aos
descobrimentos
Doc.12
7
Carta a João de Barros sobre o Roteiro de Vasco da Gama e combinação de encontro
Grande Hotel O.K.
RUA SENADOR DANTAS, 24 Rio – 1958 – junho - 8
RIO DE JANEIRO – BRASIL
Gago Coutinho
Doc.13
8
Reflexões Marítimas
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Pois a História, humana, é bem diferente. Tudo começou por o Infante D. Pedro – o
“Regente” – que vivera no Oriente, onde conhecera as viagens das “Indias” para
Veneza e Génova, ter sugerido a seu Irmão, o Infante D. Henrique, o “Plano da
Índia”. Tornara-se novidade, por não ter sido realizado em fins do século de 1200
pelos “Vivaldi”, cujas “duas gallees nunca mais tornarom”.
Foi constituída a “Escola de Sagres”, de cujos “colóquios” entre Mareantes e
“Doutores” surgiu a chamada “Caravela portuguesa”, barco maneiro, já munido do
Astrolábio nautico”. O qual facilitava os reconhecimentos de alto-mar, que praticava
sem risco de lá se perderem.
Começado em 1431 o Descobrimento dos Açores, tornou-se conhecido o “Mar de
Sargaço” – ou “de baga” – do Atlântico-central, por onde se praticavam as viagens de
regresso da costa africana, que eram traçadas em arco, a contornar os ventos entre
N e NE, dominantes na costa. Passado, em 1434 - o C. Bojador, foi-se à Guiné em
1445, e à Mina em 1469. Tinha-se já descoberto que, no Atl. – central, dominavam
ventos de leste na altura dos Trópicos, e os Oeste na altura dos Açores.
Com tais ventos, tornara-se intuitivo – o ovo de Colombo” – ir pelo sul, àquelas terras
donde ventos e correntes traziam aos Açores restos vegetais, como troncos de
pinheiros. E, portanto, o regresso era seguro pelos Açores. Tanto a ida como a volta
eram, pois, favorecidos
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za que ja o infante mandou. Andando “n’esta negociação, ja o infante morreo”. E
“ElRey mandou levar mao de onra” até achar outro homem para o descobrimento que
tanto desejava fazer.
Falecido D. João II em 1495, D. Manuel mandou chamar a Beja “um judeu que era
grande estrolico chamado Çacuto”, a quem pediu conselho sobre a possibilidade do
Descobrimento da Índia. Mais tarde ele informou D. Manuel de que, apesar de a Índia
ficar “alongada por longos mares e terras, toda de gentes pretas, os naturaes”, havia
grandes vantagens em lá se ir buscar riquezas e mercadorias. Concluiu informando
que achava “que a India descobrirão dous irmãos vossos maturaes”. Então, D.
Manuel, fiado no Judeu, mandou logo que acabassem os “tres navios”, cuja
construção, iniciada por D. João II, seria “o mais fortes que se pudesse”. Pelo que os
navios foram concluídos, e postos a navegar.
Um dia, na sala, “assentado em despacho na Meza”, acertou atravessar a sala Vasco
da Gama, “cavaleiro de nobre geração”. “ElRei, pondo os olhos nelle, o chamou e lhe
disse “que fosse naquelles navios” onde elle o mandasse, e se “fizesse prestes”. Ele
falou nos três navios e disse-lhe para escolher um deles, para “levar sua bandeira”,
sendo “Capitão mor dos outros”.
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Escrito à mão
PS O Cap. Al. Villiers comandou agora a “Mayflower” II, na réplica da travessia da
M.I, em 1620. Êle é australiante, e começou a conhecer o Mar, sendo “Moço” de um
veleiro, da Austrália para “Falmouth”.
G.C.
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derrubando-lhe as “cancelas”. Porém, vem agora a propósito, explicar como o
fizemos na travessia do Atlantico-sul, a respeito do vento e das costas. É absurdo
supormos que o realizámos à aventura, com Dias ou Gama, este sem caravelas.
Tais foram em resumo, os Acontecimentos que – pelo menos para os Portugueses –
temos que recordar e ilucidar, como réplica a obras superficiais, como foi a de
Dominique François, 1953, com o título de “Vasco da Gama, vainqueur des Océans”.
Ora, seguindo as Lendas – a respeito da Viagem de V. Gama – a versão adequada para
Cinema, seria a criação de um “Gama- Pirata”, armado de “sabre de abordagem”,
com as clássicas, perna de pau e pala no olho, sufocando a Revolta das tripulações.
Mas ele, a deitar ao mar o “Astrolábio de pau”, de desembarque, terá de evitar que
o instrumento, flutuando, fosse pescado por outro navio que o seguisse…
temos o dever de procurar vulgarizar honestamente a nossa eficiente intervenção no
início dos Descobrimentos, em linguagem fàcilmente compreensível, destinada ao
“Povo e às Escolas”. Mas em obra de custo acessível…
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escrito à mão:
Oferecido ao Exmo senhor _____ João de Barros, meu bom amigo, por seu antigo
admirador
Gago Coutinho
Doc.14
"Rio, 25 de abril de 1958 - Tem esta por si, agradecer a boa companhia que ontem
me fêz na Panair. O que levava para ler, mencionando a ocasião, não aconteceu.
Deveria ter-me retirado a tempo, para evitar a faina de assinaturas, o que não levo a
mal. Cada um queria a sua e eu tinha que ceder para andar para diante. Os criados
se retiraram e nem pude comer alguma coisa. O guaraná também foi retirado a
tempo. Ofereço-vos o papel que deveria ler e que, antes de lá chegar, me pareceu a
propósito: Com os cumprimentos respeitosos, (assi.) Gago Coutinho"
Doc.15
11
A última carta pessoal enviada por Gago Coutinho a Elisa Ramalho Ortigão.
Este documento ainda foi publicado em fac-simile, mas apenas no Jornal Brasileiro
"Mundo Português" de 15 de junho de 1969
Lisboa – 1959 – Janeiro. 8 – À Exmaª Senhora D. Elisa Ramalho Ortigão – A Minha boa
amiga:- Ao contrário, eu não estou atacado da doença fatal de que me “atacam” os
jornais. Sòmente sofro de um mal: ter noventa anos de idade.
Por intermédio do Prof. Sr. Agostinho de Sousa. um brinde de prata – um punhal
reforçado – destinado, creio, àquela parte da Humanidade que pretende escravizar
outra metade que inclui todos os latinos e alguns que ainda não têm as mesmas
ideias. Muito lhe agradeço a vossa amável lembrança, aquela do bom acolhimento,
também de prata, mas de contrária significação. Reitero agradecimentos, pois as
duas ofertas, que ainda não esqueci, dormirão uma ao pé da outra. Até qualquer dia!
Com cumprimentos a sua Exma. Mãe, irmão e demais família, continuo vosso
admirador de há um têrço de século. (Ass.) Gago Coutinho. P.S. – Esquecia-me dizer
que desejo às três, um ano nôvo muito Merry, como dizem os inglêses e, também, os
americanos. G.C.
Doc.16
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