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OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E A

IMPORTÂNCIA DE SUA DIVULGAÇÃO PARA A SOCIEDADE

Marina Matos Sillmann1

Pode-se afirmar que a função precípua do Direito é garantir a pacificação social. Porém, ao
contrário do que muitos pensam, não é apenas através da justiça comum que se consegue
obter a paz social. Os meios alternativos de pacificação social são métodos eficientes de
resolução de conflitos, pois, além de colocarem um ponto final no problema, eles são mais
céleres, econômicos e menos desgastante para os envolvidos do que a justiça comum. O
grande porém é que eles ficam esquecidos, já que grande parte da população não tem
conhecimento sobre quais são e como funcionam os meios alternativos de resolução de
conflitos. O objetivo desta pesquisa é justamente este: ampliar a possibilidade de
conhecimento de quais são esses outros métodos de resolução de confrontos para a população
leiga em Direito. Como conseqüência, o trabalho deseja que o número de casos demandados
ao Judiciário seja reduzido e a paz social seja promovida. Justifica-se, portanto, a escolha
deste tema devido a importância de se promover os meios alternativos de pacificação social.
Como metodologia a pesquisa se vale de métodos basicamente teóricos, partindo de estudos
de posicionamentos a respeito do tema para se chegar às conclusões e objetivos propostos. O
trabalho ainda se encontra em fase inicial da pesquisa, portanto os resultados encontrados são
parciais. Entretanto, pode – se observar a necessidade da adoção e da inclusão de meios
alternativos de resolução de conflitos trazendo não só vantagens já mencionadas para o Poder
Judiciário, como para os conflitantes também.
Palavras-Chave: Meios alternativos de resolução de conflitos. Direito de Bairro. Pacificação
Social.

ALTERNATIVE MEANS OF DISPUTE RESOLUTION AND THE IMPORTANCE OF


HIS RELEASE TO SOCIETY

It can be argued that the primary function of law is to ensure social peace. However, contrary
to what many think, not only through the common justice it possible to achieve social peace.
The alternative means of social pacification are efficient methods of conflict resolution,
because in addition to putting an end to the problem, they are faster, economical and less
stressful for those involved than the regular courts. The big however is that they are forgotten,
since much of the population has no knowledge of what they are and how the alternative
means of conflict resolution. The objective of this research is precisely that increase the
possibility of knowledge of what these other methods of resolving clashes to lay people in
law. As a result, the work you want the number of cases ask the judiciary to be reduced and
social harmony is promoted. Justified, therefore, the choice of this theme due to the
importance of promoting alternative means of social pacification. The methodology draws on
the research methods largely theoretical, from studies on the subject positions to arrive at
1
Graduanda do 3o ano da Faculdade “Prof. Jacy de Assis”da Universidade Federal de Uberlândia – Bolsista
PEIC 2011 – PROEX pelo projeto: Utilize os meios alternativos de pacificação social.
marinasillmann@hotmail.com
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conclusions and goals. The work is still in early stages of research, so the results are partial.
However, it can - there is the need for adoption and inclusion of alternative dispute resolution
not only bring advantages already mentioned for the Judiciary, as well as for the conflict.

Keywords: Alternative means of conflict resolution. Right of Neighborhood. Social


Pacification.

1 INTRODUÇÃO

A função do Direito na sociedade é a de coordenar os interesses da vida social,


apaziguando, de acordo com os critérios do justo e do equitativo, os conflitos que surgirem. O
direito deve resolver esses problemas com a máxima realização dos valores sociais humanos,
mas com o mínimo de sacrifício e desgaste, para que assim o Estado realize o controle social.

Porém, esta área não é atendida pelo Estado com a eficiência que se espera. A
resolução de um conflito pelo Poder Judiciário, na maioria das vezes, é lenta, onerosa e
insatisfatória para as partes envolvidas. Este fato ocorre, principalmente, pela demanda
excessiva. Assim, a busca de soluções alternativas, que podem agilizar a resolução dos
conflitos e desafogar o Poder Judiciário, deve ser estimulada.

Além do mais uma lide julgada nem sempre é sinônimo de lide resolvida. Apesar do
Juiz de Direito ter determinado uma sentença e com isso colocado um ponto final ao processo,
para as partes a lembrança deste perdurará por um bom tempo: a angústia, o longo tempo de
espera, a raiva, isso sem falar que é muito provável que o relacionamento que uma parte
possuía com a outra, antes do confronto, nunca venha a se restabelecer.

Os meios alternativos de pacificação de conflitos, se executados na linguagem


adequada, podem, além de solucionar o conflito, restaurar o relacionamento deturpado pela
discórdia. Estes meios trabalham com a reconstrução do diálogo e por isso apresentam uma
eficiente solução para o confronto com um desgaste bem menor do que a solução via Poder
Judiciário.

Em outras palavras, a utilização dos meios alternativos de pacificação social finaliza


de forma definitiva o problema, pois acabam com este de acordo com o pensamento das
partes e não apenas com a aplicação da Lei conforme o pensamento do Juiz. E pode-se dizer
também que se trata de uma maneira mais humana de resolução de conflitos.
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2 O CONFLITO

O conflito é um fenômeno próprio da convivência humana e pode ser iniciado por


diversos motivos, tais como, pensamentos divergentes, insatisfação de uma necessidade,
acordos descumpridos, entre outros. Quando tratado de forma pacífica, o conflito pode ser
aproveitado para a solução do problema inicial. Porém, quando as pessoas não estão
preparadas para lidarem com o conflito ou lidam de uma forma inadequada, ele se transforma
em um violento confronto. (SOUZA, 2009, p. 2)

O conflito pode ser dividido em três elementos: a pessoa, que consiste no ser humano
com seus sentimentos e crenças; o problema, que são as necessidades e interesses contrariados
e o processo, ou seja, as formas e procedimentos adotados para a resolução do conflito.
Durante a resolução de um conflito todos esses elementos devem ser analisados e ponderados
para que a melhor solução possível possa ser encontrada. (SOUZA, 2009, p.2),

Geralmente analisa-se o conflito de forma negativa, atribuindo a este palavras como


agressão, insulto, tristeza, problema, etc. Estes pensamentos levam também a reações
negativas, exemplificando: raiva, insônia, hostilidade, linguagem verbal agressiva, dentre
outros. Se agregar comunicação ao conflito ao invés de reprimi-lo ou lidar com ele de maneira
bruta, pode-se ter a análise deste de uma forma positiva e utilizá-lo como forma de
amadurecimento, aproximação das partes conflitantes, autoconhecimento, compreensão e
harmonização de interesses. (TJMG, 2011, p. 10)

Muitas pessoas acreditam que um confronto só pode ser solucionado por meio de um
processo judicial. O processo judicial pode ser definido como o método de compor a lide em
juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público (THEODORO JUNIOR,
2010, p. 55). Esta crença se mostra verdadeira quando o problema versar sobre direito
indisponível, que são os direitos tutelados pelo Estado e quanto aos quais não há possibilidade
de declínio. Isto também traz um problema para o Poder Judiciário. A quantidade excessiva
de demandas torna os processos lentos e por causa disso o Estado não pode cumprir de forma
eficaz sua missão pacificadora.

Porém, quando a ação versa sobre direitos disponíveis (geralmente relacionados a


direitos patrimoniais) existem outros métodos para a resolução do problema. Como o conceito
de jurisdição engloba meios nãos estatais de resolução de conflitos, uma solução que se
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mostra bastante satisfatória para resolver os confrontos são os meios alternativos de resolução
da lide.

Neste sentido, o entendimento de Suelen Agum dos Reis:

Em certas áreas ou espécies de litígios, a solução normal – o tradicional


processo litigioso em juízo - pode não ser o melhor caminho para ensejar a
vindicação efetiva de direitos, assim, a sociedade moderna possui razões
para buscar essas alternativas que fazem parte da essência do movimento de
acesso à justiça, qual seja o processo judicial acessível a toda a população,
ou que pelo menos deveria ser, com solução dos conflitos até mesmo fora do
sistema formal. (REIS, 2007, p. 13)

3 OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Os meios alternativos são formas extrajudiciais de resolução do processo e possuem,


se executados da forma correta, a mesma validade perante terceiros e inter partes, que o
procedimento judicial. Inclusive, a decisão tomada terá poder coercitivo, sendo passível, se
não cumprida, de execução por via judicial.

Além do mais, os meios alternativos de resolução de conflitos trazem para as partes


um ganho que muitas sentenças não conseguem: o sentimento de que o conflito acabou de
uma forma justa. Segundo Taís Schilling Ferraz:

A vida forense diária ensina que a melhor sentença não tem maior valor que
o mais singelo dos acordos. A jurisdição, enquanto atividade meramente
substitutiva, dirime o litígio, do ponto de vista dos seus efeitos jurídicos, mas
na imensa maioria das vezes, ao contrário de eliminar o conflito subjetivo
entre as partes, o incrementa, gerando maior animosidade e, em grande
escala, transferência de responsabilidades pela derrota judicial: a parte
vencida dificilmente reconhece que seu direito não era melhor que o da
outra, e, não raro, credita ao Poder Judiciário a responsabilidade pelo revés
em suas expectativas. O vencido dificilmente é convencido pela sentença e o
ressentimento, decorrente do julgamento, fomenta novas lides, em um
círculo vicioso. (FERRAZ, 2006, p.1)

Essas formas alternativas de pacificação social são divididas em três grandes grupos:
autotutela, heterocomposição e autocomposição.

A primeira forma consiste em uma das partes impor sua vontade à outra, sem
negociação, em outras palavras, seria o “direito feito com as próprias mãos”. Atualmente a
autotutela é vedada no Direito Brasileiro, salvo nos casos previstos em lei, como a legítima
defesa. (COMINI, 2010, p.4)
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Na segunda forma, o confronto é solucionado com a ajuda de um terceiro, são


exemplos a mediação, a arbitragem e a conciliação. Na mediação o papel do terceiro é o de
conduzir o debate para que as partes escolham qual é a melhor solução para o conflito, ou
seja, colaborar na reconstrução da conversa (o mediador auxilia na transformação da
linguagem negativa para a positiva).

Na arbitragem, o terceiro assume o papel de árbitro e é ele quem decide o conflito. A


decisão do árbitro equivale à decisão de um juiz togado. Por fim, na conciliação, o papel do
terceiro também é de facilitador do diálogo, porém com a diferença de objetivos em relação à
mediação: enquanto o objetivo do primeiro é a obtenção de um acordo, o do segundo é a
restauração do diálogo.

A terceira forma, a autocomposição, é semelhante à autotutela, porém o conflito é


resolvido de modo bilateral, ou seja, as partes chegam a um consenso juntas, sem o auxílio de
um terceiro estranho ao conflito. Um exemplo dessa forma de resolução de conflito é a
negociação. (COMINI, 2010, p.5)

3.1 A Arbitragem

A arbitragem é regida no Brasil pela Lei 9.307/96 e, ao contrário da mediação não são
as partes que conduzem o processo, mas sim o árbitro que é quem define o procedimento a ser
utilizado, quem é o possuidor do direito posto em pauta e qual será a melhor solução para o
conflito. As partes escolhem o árbitro e qual é o prazo máximo para que o confronto seja
resolvido, caso não desejem usar o prazo legal de seis meses. (COMINI, 2010, p.7)

O árbitro deve ser capaz, possuir uma reputação ilibada e ter certo conhecimento sobre
o tema do conflito, e embora não seja uma exigência o bacharelado em Direito, é aconselhável
que possua conhecimento jurídico. O Estado confere alguns poderes ao árbitro como o de
outorgar às decisões arbitrais a força de coisa julgada, sem necessidade de homologação pelos
tribunais. Inclusive a sentença arbitral pode ser executada judicialmente caso não seja
cumprida de forma espontânea.

A lei supra mencionada apresenta os requisitos obrigatórios da sentença arbitral e os


casos em que a sentença é nula:

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:


I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;
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II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e


de direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por
eqüidade;
III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem
submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o
caso; e
IV - a data e o lugar em que foi proferida. (BRASIL, 1996)

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:


I - for nulo o compromisso;
II - emanou de quem não podia ser árbitro;
III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;
VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção
passiva;
VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III,
desta Lei; e
VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta
Lei.
Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos
os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou
alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal
fato.

Caso as partes não cumpram espontaneamente a sentença arbitral é possível o


cumprimento forçado da sentença através da via jurisdicional comum. Nas palavras de
Leandro Comini “a possibilidade de execução judicial é inequívoca no caso de arbitragem,
inclusive das sentenças arbitrais estrangeiras, a que a lei 9307 dedica um capítulo inteiro”.
(2010, p. 10)

A arbitragem é o meio de resolução extrajudicial de conflitos que mais se aproxima de


um juízo possuindo vantagens tais como economia, flexibilização e celeridade e desvantagens
entendidas como a possibilidade de o árbitro ser parcial, a necessidade de execução judicial da
sentença e o risco de anulação do procedimento. Cabe aos conflitantes analisarem e decidirem
qual será o melhor meio para a solução do conflito.

É também o meio alternativo de resolução de conflitos mais formal, dando desta forma
menos liberdade de escolha para as partes conflitantes.
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3.2 A Negociação

A negociação é o meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes


conflitantes, sem o auxílio de um terceiro estranho ao conflito, buscam a solução do
confronto.

É um processo bem natural, pois as pessoas passam boa parte de suas vidas
negociando, por exemplo, qual o preço a ser pago, o local em que ficará a mesa do trabalho,
datas de entrega de compromissos, lugares para passear, entre outros. (TJMG, 2011, p. 15)

No dizer de Lília Maia de Morais Sales,

O cumprimento das decisões apresentadas através da negociação não é


obrigatório. As partes são livres para cumpri-las ou não. É certo que, tendo
as partes negociado conscientemente, a conseqüência natural é a do
cumprimento da decisão. Há de se ressaltar que, quando a negociação é
atribuída à validade jurídica, como um contrato, o cumprimento torna-se
obrigatório. (2004, p.37).

E a autora completa:

Para a negociação apresentar-se eficaz, impõe-se a existência da vontade das


partes envolvidas para a solução do problema, dependendo exclusivamente
das suas habilidades a superação das desconfianças e a dissipação das
animosidades, criando vínculos cooperativos entre elas. (2004, p.37).

3.3 A Mediação

A maior dificuldade na resolução de um conflito é devido à perda da comunicação


eficaz entre os conflitantes. A função do mediador é justamente restaurar essa capacidade de
comunicação através de técnicas de linguagem (abordadas em item posterior) e regras
decididas entre conflitantes e mediador. O mediador não decide o conflito, mas sim
encaminha as partes a chegarem a um acordo justo. (TJMG, 2011, p.16)

Nas palavras de Lília Maia de Morais Sales:

A mediação, como um meio para facilitar a solução de controvérsias, deve


ser entendida, em todo o seu procedimento como prevenção, já que evita a
má administração do problema e procura o tratamento dos conflitos, ou seja,
durante o processo de mediação, o mediador, com sua visão de terceiro
imparcial, deve aprofundar-se no problema exposto, possibilitando o
encontro e a solução real do conflito. (2004, p.30)
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Ainda, conforme a autora:

Fala-se em ‘solução real’ porque o fato de dar ganho de causa a uma parte
não significa obrigatoriamente que o conflito esteja resolvido. Muitas vezes
resolve-se uma querela judicial e outras dezenas aparecem como
conseqüência. Isso se dá comumente porque o impasse revelado, exposto,
não é o real. Pouco adianta resolver o problema aparente, pois o real
continuará a existir. No momento em que o mediador ajuda a solucionar
efetivamente a controvérsia, ele faz ligações entre as pessoas, cria vínculos
que não existiam. Dessa forma, alcança o impasse real e daí passa a prevenir
a má administração de outros futuros.

Em relação à figura do mediador, este não precisa ter a formação acadêmica em


Direito, mas deve ser uma pessoa capaz, em pelo exercício das atividades civis, com certo
conhecimento jurídico sobre o assunto versado e com capacidade de dialogar.

Quanto ao objetivo da mediação entendemos que é “a responsabilização dos


protagonistas, capazes de elaborar, eles mesmos, acordos duráveis através da restauração do
diálogo e da comunicação, alcançando a pacificação duradoura.” (REIS, 2007, p.14).

O resultado da mediação equivale a um acordo judicial, ou seja, os conflitantes, junto


com o mediador e duas testemunhas, assinam um documento em que se propõe a cumprirem o
que foi prometido. Caso ajam de má-fé, cabe a parte que se sentiu prejudicada ingressar na
justiça comum com um processo de execução para garantir seus direitos. É utilizado o
processo de execução porque o acordo é um titulo executivo extrajudicial, ou seja, não existe
mais a necessidade de se conhecer quem possui o direito posto em conflito, mas sim a
necessidade de forçar seu cumprimento. (THEODORO JUNIOR, 2010, p.333).

A mediação possui quatro objetivos: resolução imediata do conflito, prevenção de


novos conflitos, inclusão social e restauração da paz social. Cabe ressaltar que além dos
baixos custos e da celeridade, a mediação é um processo sigiloso, exceto quando versar sobre
interesse público ou se as partes assim quiserem. (SOUZA, 2009, p.10).

Em suma, a mediação é uma atividade em que o “eu” busca entender o “outro” e se


fazer entendido pelo “outro” com o auxílio de um estranho ao conflito. A mediação bem
sucedida leva à restauração do diálogo e consequentemente diminui o desgaste emocional
entre os envolvidos. (TJMG, 2011, p.16).
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3.4 A Conciliação

A conciliação é o meio alternativo de resolução de conflitos em que um terceiro neutro


auxilia as partes a chegarem a um consenso sobre a questão em conflito, obtendo assim um
acordo.

Bem similar à mediação, a conciliação apresenta os mesmos requisitos de validade do


acordo e em relação a figura do conciliador. Conforme explicado anteriormente, a diferença
entre a conciliação e a mediação está na finalidade buscada por elas: para o primeiro a
obtenção do acordo e para a segunda a restauração da comunicação rompida pelo conflito.
Pode-se dizer ainda que andem de mãos dadas na resolução do confronto, já que é muito tênue
a linha de separação.

Sobre a conciliação, as palavras da Juíza Taís Schilling Ferraz:

Na conciliação, diferentemente, não existem vencedores nem perdedores.


São as partes que constroem a solução para os próprios problemas, tornando-
se responsáveis pelos compromissos que assumem, resgatando, tanto quanto
possível, a capacidade de relacionamento. Nesse mecanismo, o papel do juiz
não é menos importante, pois é aqui que ele cumpre sua missão de pacificar
verdadeiramente o conflito. (FERRAZ, 2006, p.1).

4 A LINGUAGEM DO CONFLITO E A LINGUAGEM DA SOLUÇÃO:


TÉCNICAS DE CONVERSA

Talvez mais importante que escolher o meio alternativo mais adequado para a
resolução do conflito que está sendo analisado é possuir o conhecimento de técnicas de
linguagem fundamentais para a percepção, análise e resolução do confronto.
Estas técnicas são extraídas da ciência da programação neurolinguística, que pode ser
definida como o estudo da modelagem do comportamento humano a partir de técnicas de
linguagem que criam estruturas comportamentais. Um exemplo prático da aplicação da
programação neurolinguística é quando se elogia uma pessoa para depois criticá-la. Este gesto
simples cria na mente da pessoa uma possibilidade de aceitação maior da crítica do que se
esta for feita de modo direto. (DILTS, 2011, p.1).
São as mesmas aplicáveis principalmente na mediação e na conciliação, já que é
fundamental para estes dois meios a transformação da percepção negativa do conflito em
positiva.
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O que torna o conflito negativo é a reação que se tem a ele. Caso se passe a perceber o
conflito como uma oportunidade de aprendizado, pode-se encontrar de forma mais tranqüila a
sua solução. Para tornar o conflito um instrumento de aprendizagem é fundamental mostrar
para os conflitantes que o fato que ocasionou o confronto, apesar de ter causado um mal estar,
deve ficar no passado, para que assim se possa procurar entendê-lo e com isso encontrar uma
solução que atenda aos interesses de ambos. (TJMG, 2011, p.11).
Outro fator fundamental na busca de um acordo é procurar entender os motivos que
levam a pessoa a ter a posição apresentada, para se chegar a um acordo satisfatório, calculado
não em uma posição, mas nas razões apresentadas pela parte. O porquê disso é que é mais
fácil negociar com base nos motivos do que com base em uma posição. (TJMG, 2011, p.12).
Em nível esquemático pode-se apresentar os quesitos elaborados por Robert Dilts para
se solucionar um conflito:

1. Identifique claramente as questões essenciais envolvidas no conflito.


Essas questões serão representadas tanto como opostas ou polaridades.
Determine em que nível lógico o conflito está mais focado. Por exemplo:
investir ou gastar dinheiro versus economizar o dinheiro = um conflito no
nível de comportamento.
2. Estabeleça uma ‘metaposição’ imparcial e claramente distinta dos dois
grupos em conflito.
3. Descubra uma intenção ou propósito positivo por trás das questões de
cada grupo. A intenção positiva estará necessariamente num nível mais
elevado do que as questões que criaram o conflito. ("Você não pode resolver
um problema no mesmo nível do pensamento que está criando o problema.")
Tipicamente as intenções positivas não serão opostas ou polaridades. Elas
são muitas vezes complementares, e sistematicamente benéficas embora
opostas individualmente. Por exemplo: gastar dinheiro = "desenvolvimento";
economizar dinheiro = "segurança"
4. Certifique-se de que cada grupo reconhece e admite a intenção positiva do
outro. Isso não significa que qualquer um dos dois grupos têm que aceitar o
método que o outro está adotando para satisfazer a intenção positiva, nem
isso significa que qualquer um dos grupos têm de transigir a sua posição.
5. A partir da ‘metaposição,’ continue ‘segmentando para cima’ até ser
identificada uma intenção comum num nível mais elevado em que os dois
grupos compartilhem. Por exemplo: otimização de recursos.
6. Explore outras alternativas para alcançar a intenção compartilhada pelos
dois que estão produzindo o conflito. Isso pode incluir a mistura das duas
escolhas existentes, mas deve incluir pelo menos uma alternativa que é
completamente distinta das duas em conflito. (por exemplo: Investir algum
dinheiro e economizar algum dinheiro, emprestar dinheiro, criar uma
alternativa para produção de renda, achar um parceiro investidor, reduzir
alguns gastos para esse dinheiro ser investido em outras áreas, etc.)
7. Identifique que escolha ou combinação de escolhas serão as mais efetivas
e ecologicamente satisfaça, de maneira sistemática, a intenção comum e as
intenções positivas individuais com o máximo impacto positivo. (DILTS,
p.1, 2011)
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de conhecimento de todos que o Poder Judiciário não está cumprindo de forma


eficaz sua função pacificadora. Os motivos são vários como a falta de juízos, servidores da
justiça, os inúmeros recursos, as brechas na lei para se conseguir tempo e uma quantidade
enorme de processos tramitando na justiça.

Uma solução bastante simples para diminuir a lentidão da justiça é o incentivo ao uso
dos meios alternativos de resolução da lide. As vantagens destes meios não se resumem à
celeridade, incluindo aí o baixo custo, o sigilo, o menor desgaste emocional, a restauração do
diálogo rompido, entre outras. Deve se mostrar à população a eficácia destes meios e seu
funcionamento, pois muitos não acreditam que as formas alternativas possuem a mesma
validade que uma sentença dada por um juiz togado.

Além do mais, o acesso à justiça não é apenas o acesso ao judiciário. O principal


acesso a justiça é a certeza de que o conflito foi solucionado de maneira justa e ninguém
melhor do que os próprios conflitantes para encontrar a melhor solução, pois somente eles
sabem o que levou ao confronto e somente eles sabem qual será a melhor forma de colocar
um fim a ele.

Para isto, muitas vezes é necessária a ajuda de um condutor da conversa, já que os


conflitantes podem estar cegados pelo conflito e com o auxílio deste condutor romper as
barreiras e encontrar a tão sonhada solução.

A falta de conhecimento não deve ser um empecilho para que as formas alternativas de
pacificação social sejam expandidas. Afinal promover a paz social é responsabilidade de
todos e não apenas dos operadores do Direito.

6 REFERÊNCIAS

BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apostila do curso de conciliação. Belo


Horizonte: TJMG, 2011.

COMINI, Leandro Vito. A jurisdição estatal e as alternativas para a solução dos conflitos.
Conteúdo Jurídico, Brasilia: DF: 09 jul. 2010. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.27520>. Acesso em: 05 ago. 2010.
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DILTS, Robert. Resolvendo conflitos com a PNL. Disponível em:


<http://www.golfinho.com.br/artpnl/artigodomes200607.htm>. Acesso em: 12 abr. 2011

FERRAZ, Taís Schilling. A conciliação e sua efetividade na solução dos conflitos.


Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/acesso-a-
justica/conciliacao/historico>. Acesso em 14 ago. 2011

REIS, Suelen Agum dos. Meios alternativos de solução de conflito. Revista eletrônica da
Faculdade de Direito de Campos, RJ: Campos dos Goytacazes, v. 2, n. 2, p. 1-22, abr. 2007.
Disponível em: <http://www.fdc.br/Arquivos/Revista/24/01.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2011.

SALES, Lília Maia de Morais Sales. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del
Rey, 2004.

SOUZA, Fábio Araujo de Holanda. As formas alternativas de resolução de conflitos e a


mediação familiar. Conteúdo jurídico, 17 jun. 2009. Disponível em:
<http://www.artigonal.com/divorcio-artigos/as-formas-alternativas-de-resolucao-de-conflitos-
e-a-mediacao-familiar-976048.html> Acesso em: 8/04/2011

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I. 51. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2010.

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