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260
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Aula
gna Magna
dução Arqueologia como tradução
esente do passado no presente

FABÍOLA ANDRÉA SILVA


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Brasil

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Silva, F.A.

A Arqueologia pode traçar sua tra- chamar de uma tensão paradigmática


jetória intelectual desde os séculos XV no âmbito da disciplina – que persiste
e XVI, no contexto do Antiquarismo até hoje. A Arqueologia que desde o
e do Classicismo, passando pelo Ilu- seu nascimento já dialogava com dife-
minismo no século XVIII, para então rentes disciplinas tornou-se definitiva-
emergir como disciplina científica no mente pluralista, com muitos pontos
século XIX. Para alguns historiadores de vista, todos igualmente válidos. Ou
da ciência, a vocação inicial da Arqueo- em outras palavras, diferentes teorias e
logia, no século XIX, era a construção métodos são usados para responder os
de uma história da origem e evolução problemas de pesquisa.
humana no passado ou, em outras pa- “A Arqueologia começa a parecer
lavras, da pré-história da humanidade, menos como uma disciplina bem
tendo como base os vestígios materiais. definida com claras fronteiras e
No século XX a Arqueologia consoli- mais como um tipo fluido de in-
terações negociadas. Menos como
dou-se como campo científico e, es-
uma coisa e mais como um pro-
pecialmente na segunda metade, seu cesso” (Hodder 1999:19)
desenvolvimento levou a criação de
paradigmas teóricos que expandiram No Brasil, a Arqueologia iniciou no
suas abordagem e capacidade explica- período imperial, sob a influência do
tiva, sempre na direção da multidis- pensamento europeu e norte-america-
ciplinaridade. Se, inicialmente, havia no, tanto na prática, quanto na estrutu-
uma ênfase na história cultural, a etapa ração das instituições (Ferreira 2010).
seguinte foi marcada pela diversifi- Ao longo desses séculos, passou por di-
cação temática e pela compreensão versas etapas de produção científica, na
dos processos culturais. Após os anos maioria das vezes dentro de instituições
1960, a preservação e o gerenciamento do (museus e institutos históricos no século
patrimônio arqueológico, ocuparam seu XIX, universidades no século XX e as
lugar na pauta de discussões de forma empresas privadas e ONGs no século
mais sistemática, fazendo a Arqueo- XXI). Até a década de 1950 a abor-
logia sair dos museus e universidades, dagem arqueológica sempre esteve
atingindo o poder legislativo, os órgãos próxima da Etnologia Indígena, da
públicos, as organizações não-gover- História, da Geologia e da Bioantropo-
namentais, a iniciativa privada e as co- logia, praticada, até aquele momento,
munidades locais. Mais recentemente, por poucos indivíduos com diferentes
especialmente a partir dos anos oi- formações acadêmicas. A ampliação da
tenta, a abordagem interpretativa, con- comunidade dos arqueólogos começa
textual e simbólica dos vestígios arque- na década de 1950, a partir da consoli-
ológicos também entrou na agenda de dação da perspectiva da proteção do
pesquisas. Esse desenvolvimento foi patrimônio arqueológico que ganhou
marcado por diferentes escolas teóri- espaço a partir da década de 1930 e
cas que produziram o que se poderia se consolidou em 1961 com a lei de
proteção do patrimônio arqueológico

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(Lei 3294/61) (Rodrigues 2006). Nesta consciência da necessidade de projetos


etapa a formação profissional ocorreu multidisciplinares. Isso, inclusive, gera
dentro de missões científicas (france- uma diversificação na percepção, por
sas e norte-americanas) patrocinadas parte dos pesquisadores, do que seja a
por órgãos e universidades públicas, episteme da Arqueologia.
com cursos de extensão e especializa-
Cada vez mais a vocação multidisci-
ção com disciplinas teóricas e práticas,
plinar confere para a Arqueologia uma
centradas na perspectiva arqueológi-
identidade própria – como apontam
ca, tangenciada por outras discipli-
alguns de seus profissionais (p. ex.: Ly-
nas como a Antropologia, a História,
man 2007). Isso, porém, não significa
a Geologia, a Biologia, etc. A partir
que a Arqueologia não tenha uma re-
dos anos 1970 começaram a surgir os
lação profunda com a Antropologia
primeiros pesquisadores com douto-
(Social e Cultural), pois as histórias
rado e o primeiro curso de graduação
intelectuais de ambas se aproximam e,
em Arqueologia. Na década seguinte,
em vários momentos se confundem. O
consolidou-se a formação em nível de
que se pode assinalar é que a Arqueo-
pós-graduação em Arqueologia, pri-
logia trata de algumas problemáticas e
meiramente, vinculada aos Programas
pode revelar aspectos não contempla-
de História e Antropologia e, a partir
dos pela Antropologia. O importante,
da virada do milênio, com o estabe-
no entanto, é que apesar das particu-
lecimento de programas específicos de
laridades do campo arqueológico, o
Arqueologia – tendência que tem se in-
diálogo entre a Arqueologia e a Antro-
tensificado nos últimos anos.
pologia é fundamental e profícuo para
Ao longo dessa trajetória intelectual – ambas, como vem sendo demonstrado
tanto no Brasil como em outros países desde o século XIX.
– a Arqueologia estabeleceu um
Um dos aspectos, a meu ver, extrema-
profícuo diálogo com as diferentes
mente interessante neste diálogo, na atu-
Ciências Naturais, Ciências da Terra
alidade, diz respeito à problemática da
e Ciências Humanas. Nos últimos anos,
preservação e significação do patrimônio
com a crescente utilização de um instru-
arqueológico por parte de diferentes co-
mental tecnológico cada vez mais sofisti-
letivos humanos. Há hoje um enorme
cado, a Arqueologia também ampliou a
interesse na preservação dos bens
sua interação com as Ciências Exatas e
culturais do passado e isto tem várias
Ciências da Computação.
razões: sociais, econômicas, políticas,
No século XXI temos o crescimento identitárias, etc. Para alguns pensadores,
do número de pesquisadores e dos da- a pós-modernidade e a suposta fluidez e
dos e problemas arqueológicos, analisa- instabilidade que ela trouxe, nos diferen-
dos e interpretados de forma cada vez tes domínios de nossa existência faz com
mais focada e especializada. Em outras que, muitas vezes, os homens busquem
palavras, o que vemos é a crescente no passado uma possível alternativa às
especialização dos pesquisadores e da inconstâncias do dia-a-dia (Hodder

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Silva, F.A.

1999). Povos no mundo todo se valem ção agricultora com uma dieta bastante
da Arqueologia para ajudar a manter diversificada que combina os recursos
a particularidade de seus passados em da roça (p.ex. milho, mandioca, batata,
face à globalização e a dominação oci- feijão, banana, etc) com os produtos
dental, como uma estratégia para driblar da pesca, caça e coleta. Em termos
a monotonia cultural. sociais, eles têm no grupo doméstico
a sua unidade social mais importante
Neste contexto, os arqueólogos são chama-
que tem, também, importância política
dos para fora dos seus laboratórios, gabine-
e econômica. A sua vida ritual é divi-
tes, salas de aula e escavações. Eles são
dida em dois complexos rituais funda-
peças-chave nos debates sobre gerenci-
mentais: O maraka - complexo ritual
amento dos bens culturais, preservação
terapêutico e propiciatório – e o turé
do meio ambiente, identificação de ter-
– complexo ritual em que se realizam
ritórios imemoriais. Enfim, são chama-
os ritos associados à guerra, morte e
dos a opinar na definição de diferentes
iniciação dos jovens. Com relação à
políticas públicas. Assim, o arqueólogo
produção da cultura material, na qual
se torna – como escreveu Hodder
homens e mulheres dedicam grande
(1992) – um intérprete entre o passado
parte do seu tempo, os Asurini são re-
e o presente e entre diferentes perspec-
conhecidos pela maestria artesanal e
tivas sobre o passado.
por um apurado senso estético.
Recentemente, vivenciei mais uma ex-
Esta população indígena foi contatada
periência interessante junto à popu-
em 1971 pelo Pe. Anton Luckesh e,
lação Asurini do Xingu, com quem
em 1972, pela FUNAI. No período do
convivo desde 1996 e que me levou
contato, os Asurini estavam distribuí-
a refletir sobre este novo contexto da
dos em pequenos acampamentos,
pesquisa arqueológica e da importân-
próximos às margens do Igarapé Ipia-
cia de expandir suas fronteiras teóricas,
çava e na aldeia Taiuviaka. Após o con-
metodológicas e temáticas. Não apenas
tato, esta aldeia e acampamentos foram
em termos do diálogo com outras dis-
sendo aos poucos abandonados e eles
ciplinas científicas, mas também, com
instalaram novas aldeias (Akapepungui e
outros coletivos e modos de saber.
Kuatinemu). Em 1982 eles foram trans-
Os Asurini do Xingu, um grupo in- feridos para a aldeia atual, na margem
dígena Tupi, falante de uma língua direita do rio Xingu, também chamada
pertencente à família linguística Tupi- de Kuatinemu. Segundo os Asurini, o
Guarani, ocupa uma Terra Indígena lo- contato com os brancos (FUNAI) foi
calizada no estado do Pará, delimitada uma necessidade de sobrevivência di-
pelos municípios de Altamira e Senador ante do que eles acreditavam ser o fim
José Porfírio. Sua aldeia está localizada à eminente de seu povo. Este motivado
margem direita do rio Xingu, junto ao pelos ataques que eles sofriam há anos
P.I. Kuatinemu, que é auxiliado pela de outros indígenas (p.ex. Kayapó e
unidade da FUNAI localizada em Al- Araweté) e pelas doenças transmitidas
tamira, Pará. Trata-se de uma popula-

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pelos brancos (p.ex. gateiros, castanhei- Foram doze dias intensos de viagem
ros, etc) invasores de seu território. A pelo Ipiaçava durante os quais localiza-
história dos Asurini é repleta de belico- mos três antigos assentamentos Asurini,
sidade, baixas populacionais e de deslo- todos sobre antigos sítios arqueológi-
camentos e perdas territoriais. Mesmo cos. Um total de 55 pessoas (homens,
depois do contato, eles continuaram a mulheres e crianças) seguiram nesta
sofrer com as doenças transmitidas pe- jornada (re)visitando locais abando-
los brancos. Isto gerou um desequilí- nados pelos Asurini há pelo menos
brio na sua pirâmide etária, com graves quarenta anos. Um verdadeiro retorno
consequências culturais. ao passado e uma experiência sobre a
memória e significado dos lugares.
Em maio de 2010 realizei mais uma
pesquisa arqueológica e etnoarqueológi- “Eu e Tukura ficamos sentados
ca na T.I. Kuatinemu, como parte das na capoeira próxima da aldeia Tai-
atividades do projeto intitulado Território uviaka e ficamos conversando sobre
e História dos Asurini do Xingu: um estudo como teria sido a vida dos velhos ali
naquele lugar, o que eles teriam pas-
bibliográfico, documental, arqueológico e etnoar-
sado, como deve ter sido difícil para
queológico sobre a trajetória histórica dos Asur- eles ficar fugindo dos outros índios
ini do Xingu (século XIX até os dias atuais), … quase dava para a gente sentir o
coordenado por mim e financiado pela que eles tinham passado ali” (De-
Fundação de Amparo à Pesquisa do poimento de Ajé Asurini, um dos
Estado de São Paulo (FAPESP). Este jovens líderes Asurini e presidente
projeto foi elaborado com o objetivo de da Associação Indígena Awaeté).
contar uma parte desta história e con-
No que se refere à pesquisa arque-
tribuir para a preservação da memória
ológica o aprendizado em campo foi
Asurini e sobre sua trajetória, como le-
imenso, pois a articulação do ponto de
gado às novas gerações.
vista ocidental com o ponto de vista
O projeto de pesquisa foi desenvolvido indígena sobre a arqueologia da área
contemplando vários aspectos e estra- me fez refletir sobre a minha prática
tégias metodológicas da arqueologia co- como cientista e, especialmente, sobre
laborativa: 1) os Asurini participaram na o meu trabalho de quatorze anos com
elaboração da proposta e na definição os Asurini do Xingu.
da logística do projeto; 2) foram os guias
Durante todo o trabalho debati com
na expedição pelo igarapé Ipiaçava, de-
os meus colaboradores índios sobre
finindo os locais de acampamento e in-
temas como a origem e expansão dos
dicando a localização dos sítios a serem
povos Tupi, o surgimento dos Asurini
pesquisados; 3) foram contratados como
do Xingu como população indígena,
auxiliares no levantamento do potencial
a natureza e a autoria dos vestígios
arqueológico da área e na logística da ex-
arqueológicos. Todas as reflexões
pedição pelo Ipiaçava; 4) foram respon-
Asurini foram pautadas em sua filoso-
sáveis pela elaboração de parte do mate-
fia ameríndia sobre a relação entre os
rial audiovisual.
humanos, a natureza e a sobrenature-

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Silva, F.A.

za. Os mitos de Ajaré, Tauvuma, Maíra Particularmente, como profissional da


foram o substrato para as explicações arqueologia, acredito que nossa prática
Asurini sobre a sua trajetória e de seus e interpretação sobre o passado devam
antepassados (Silva 2002). levar em consideração as múltiplas
vozes interpretativas sobre a trajetória
Numa noite antes da viagem ao Igarapé
humana no passado. Nós não somos
Ipiaçava e depois de uma longa conver-
os donos do passado, mas talvez, seja-
sa com alguns jovens sobre estes temas
mos um profissional cuja responsabi-
e de explanar com relativo detalhe as ex-
lidade está em possibilitar esta tradução
plicações linguísticas, antropológicas e
multivocal do passado no presente. É preciso
arqueológicas que situam a origem dos
descolonizar a construção do conheci-
povos Tupi no sudoeste da Amazônia
mento arqueológico.
tive minha explicação questionada por
um Asurini: Este movimento de “descolonização” da
“Sabe Fabíola, esta explicação pode arqueologia, no entanto, não é uma tarefa
estar certa para os outros índios, fácil, tanto pelas populações indígenas
mas não para os Asurini. Eu con- como a comunidade científica e demais
fio na nossa explicação. Eu acredito agentes envolvidos com demandas em
que nós nascemos de Uirá e Ajaré... territórios indígenas. Inúmeras reflexões
e as panelas que a gente encontra têm sido feitas sobre os problemas e as
são de Anumai. Eu acredito nesta possibilidades de se trabalhar com esta
história porque ela vem de muito perspectiva alternativa, dialógica e reflexi-
tempo... contada de pai para filho... va de produção do conhecimento arque-
não se perde... não se esquece... por
ológico sobre estes povos.
isso que ela é a mais certa prá mim”
(Kwain Asurini, jovem liderança in- Alguns dos aspectos mais relevantes e,
dígena, vice-presidente da Associa- também, mais difíceis de serem levados
ção Indígena Awaeté). a cabo neste movimento pela descolo-
Quando retornamos à aldeia, na noite nização da prática arqueológica em
anterior a minha volta para Altamira, territórios indígenas dizem respeito à
Kwain me disse que talvez eu estivesse interpretação e construção do conheci-
parcialmente certa e que nem todo o mento sobre o patrimônio arqueológi-
material cerâmico encontrado fosse co e à sua divulgação e disseminação a
de Anumai... talvez os que estivessem partir de uma perspectiva intercultural.
abaixo fossem de outros índios. Normalmente, os arqueólogos não
estabelecem parcerias com os povos
Diante desta experiência e da inter- indígenas para a interpretação ou di-
locução com os Asurini eu me fiz uma vulgação dos dados pesquisados. Isto
pergunta: Qual é o papel do arqueólo- acontece, principalmente, porque os
go? Produzir e disseminar o conheci- modos de conhecer dos arqueólogos
mento arqueológico sobre o passado? e indígenas não são os mesmos e isto
Facilitar o envolvimento do passado dificulta uma compreensão consensual
em um presente multicultural? sobre os fenômenos observados. Neste

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sentido, a construção intercultural do M. C. de Souza; R. L. Bastos e H. Gallo. São


conhecimento e a parceria no processo Paulo. pp. 233-240. Instituto do Patrimônio
de divulgação deste conhecimento só Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
podem ser realizadas a partir de uma Silva, F. A. 2002. Mito e Arqueologia. A
perspectiva multivocal (p. ex. Isaacson interpretação dos Asurini do Xingu sobre
& Ford 2005). Por fim, resta concordar os vestígios arqueológicos encontrados no
com Jackson e Smith (2005:346): parque indígena Kuatinemu – Pará. Hori-
zontes Antropológicos. Arqueologia e socie-
“A descolonização da arqueologia dades tradicionais. 8(18): 175-187.
indígena na prática envolve uma
redefinição dos papéis, direitos e
responsabilidades tanto dos ar- Recebido em 20/07/2011.
queólogos como dos povos indí-
genas... tem de envolver uma mu- Aprovado em 02/09/2011.
dança nas relações de poder”.

REFERÊNCIAS
Ferreira, L. M. 2010. Território Primitivo: a
Institucionalização da Arqueologia no Brasil
(19870-1917). Porto Alegre: EDIPUCRS.
Hodder, I. 1992. Theory and Practice in Ar-
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Jackson, G. e C. Smith. 2005. Living and
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Archaeologies. Decolonizing theory and practice.
Editado por C. Smith e H. Martin Wobst.
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Rodrigues, J. E. R. 2006. Da proteção ju-
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atualizando o debate. Editado por V. H. Mori;

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