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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO -1-

Secretaria-Geral de Controle Externo


Secretaria-Adjunta de Supervisão e Suporte

Documento de Orientação - Adsup 3/2012 (DO - Adsup 3/2012)

CLASSIFICAÇÃO ABC

O que é
1. É um método destinado a identificar amostra de itens de maior importância ou impacto,
segundo uma variável predefinida, os quais merecerão tratamento diferenciado. Baseia-se na hipótese
de que os itens de uma determinada população podem apresentar importância relativa variada, devendo
a análise recair sobre aqueles mais significativos em relação à variável escolhida.

Em quais situações se aplica


2. É relativamente frequente que o auditor se defronte com uma população com grande número
de itens, que pode atingir centenas e até milhares. A tarefa de analisá-los em sua totalidade seria
complexa e demandaria prazo e investimento incompatíveis com o trabalho. Nesse caso, a utilização da
classificação ABC possibilita ao auditor focar a análise nos itens de maior relevância, por meio da
seleção de amostra de maior importância da população.
3. Por exemplo, considerando os itens do orçamento de uma obra, a experiência mostra que
esses podem ser agrupados em três faixas. Os itens mais importantes (Faixa “A”) representam de 10 a
20% do número total de itens, mas respondem por cerca de 80% do valor total do orçamento. Já a Faixa
“B” abrange cerca de 30% dos itens, que correspondem a cerca de 15% do valor total (itens de
importância intermediária). A Faixa “C”, que inclui aproximadamente 50% dos itens, contém apenas
cerca de 5% do valor total orçado (itens menos importantes).
4. Essa distribuição pode ser representada graficamente pela curva ABC. Nesse gráfico, os
itens são organizados em ordem decrescente de valor e a curva mostra o crescimento do percentual
acumulado do valor dos itens (em relação ao valor total).
5. A seguir a curva ABC é exemplificada para uma obra com duzentos itens no orçamento
(Figura 1). Os primeiros quarenta itens (aqueles de maior valor) correspondem a 20% do total de itens e
compõem a Faixa “A”. O valor dessa faixa representa aproximadamente 70% do montante do orçamento.
A Faixa “B” inclui os sessenta itens seguintes (30% do total de itens). Juntas, as Faixas “A” e “B”
abarcam 50% dos itens (cem itens) e aproximadamente 90% do orçamento total.
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Figura 1. Percentual acumulado de valor dos itens por número de itens

6. Portanto, a Faixa “A” inclui os itens mais significativos do orçamento, aos quais deve ser
dado tratamento especial. A Faixa “B” contém os itens de valor intermediário e a Faixa “C”, os
componentes de menor importância relativa, que podem receber atenção circunstancial.

7. A curva ABC pode apresentar-se de


diferentes formas dependendo da população em
análise e da variável predefinida (Figura 2). Se a
relação valor/item for constante, ou seja, se
todos os itens possuírem o mesmo valor e
consequentemente a mesma participação no
valor total (nenhuma concentração), o gráfico
resulta em uma reta. Se um número
relativamente pequeno de itens concentra os
valores mais elevados, caracterizando forte
concentração, o gráfico mostra trecho de
acentuado crescimento para os primeiros itens
(aqueles de maior valor), seguido de trecho de
crescimento relativamente muito menor Figura 2 Percentual acumulado de valor dos itens por número de
(relacionado aos itens de menor valor). itens, para situações com diferentes graus de concentração do
valor/item.
Situações intermediárias são representadas pelas
curvas indicadas como de Média Concentração
e Fraca Concentração.
8. Esse método será tanto mais útil quanto maior for a concentração verificada na relação
valor/item, já que a verificação focada em número relativamente pequeno de itens de maior valor
corresponde à verificação de percentuais significativos em relação ao valor total dos itens.
9. Em geral, a classificação ABC aplica-se aos mais variados tipos de análise em que haja
necessidade de selecionar, em um universo de itens, amostra com os itens de maior valor em relação a
uma variável predefinida. Nesse sentido, pode ser empregada em auditoria contábil, financeira, de obras
públicas, entre outras, auxiliando na obtenção de amostra representativa.
Como elaborar
10. Para ilustrar as etapas de confecção de uma classificação e curva ABC, apresenta-se abaixo
um caso simplificado.
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11. Em uma auditoria de obras públicas, a equipe identificou os insumos concernentes à


determinada obra (total de 22 itens) e os respectivos quantitativos. Após lançá-los em uma planilha e
ordená-los em ordem decrescente de acordo com o valor total de cada item (quantidade x preço unitário)
(Tabela 1, coluna “Preço Total”), deve-se incluir uma coluna para representar o percentual de valor total
de cada item em relação ao valor total da obra, e outra coluna para indicar o percentual acumulado.
12. O Excel possibilita a elaboração desses cálculos por meio da inserção de fórmulas de cálculo
do valor percentual de cada item e dos percentuais acumulados. No caso do percentual de cada item, o
cálculo é feito por meio da divisão do valor total do item (quantidade x preço unitário) pelo somatório
de valores totais. O percentual acumulado é calculado somando-se o percentual de participação do item
com o percentual acumulado dos itens imediatamente anteriores.

Preço Participação Participação Faixa


Especificação Unidade Quantidade Unitário Preço Total (%) Acumulada (%)
1- Concreto m³ 35,7 23.135,00 825.919,50 22,51 22,51 A
2- Servente H 2721 237,00 644.877,00 17,58 40,09 A
3- Cimento SC 555 1.083,00 601.065,00 16,38 56,47 A
4- Pedreiro H 1330 381,00 506.730,00 13,81 70,29 A
5- Pedra nº 2 m³ 25 4.950,00 123.750,00 3,37 73,66 B
6- Caixa de corr. m² 4,4 27.600,00 121.440,00 3,31 76,97 B
7- Carpinteiro H 330 351,00 115.830,00 3,16 80,13 B
8- Areia lavada m³ 36 3.150,00 113.400,00 3,09 83,22 B
9- Ajud. de carpinteiro H 330 227,00 74.910,00 2,04 85,26 B
10- Tábua 1" X 12" m² 81 738,00 59.778,00 1,63 86,89 B
11- Pontalete 3" X 3" M 346 171,00 59.166,00 1,61 88,50 B
12-Poceiro H 162 351,00 56.862,00 1,55 90,05 B
13- Madeira (Peroba) m³ 1,14 47.200,00 53.808,00 1,47 91,52 C
14- Pedra nº 1 m³ 11 4.800,00 52.800,00 1,44 92,96 C
15- Chapa 54 959,00 51.786,00 1,41 94,37 C
compensado m²
16- Telha paulista Unid. 1115 38,00 42.370,00 1,15 95,52 C
17- Tijolo comum Unid. 3200 11,00 35.200,00 0,96 96,48 C
18- Laje pré-fabricada m² 26 1.150,00 29.900,00 0,82 97,30 C
19- Pintor H 86 358,00 30.788,00 0,84 98,14 C
20- Mistura para 2 13.200,00 26.400,00 0,72 98,86 C
Lavat. Unid.
21- Sarrafo 1" X 4" M 210 102,00 21.420,00 0,58 99,44 C
22- Lavatório colorido Unid. 2 10.250,00 20.500,00 0,56 100,00 C
Total 3.668.699,50 100,00
Tabela 1

13. Com base nos dados apurados, pode-se efetuar a classificação ABC, entendida como a
definição dos limites das faixas e a indicação dos itens que compõem cada faixa. As porcentagens que
identificam as faixas podem variar de acordo com as diferentes necessidades e/ou objetivos da auditoria.
14. Em regra, a Faixa “A” contempla itens que representam de 70 a 80% do valor total da
população. A Faixa “B” agrega itens que somam de 15 a 20% desse valor, e a Faixa “C”, itens que
somam de 5 a 10% do valor total. É importante ressaltar que os percentuais acima são os mais comuns
e pode haver variação de acordo com o caso concreto. A tabela a seguir indica os percentuais acumulados
em cada faixa para três exemplos.

Faixa A Faixa B Faixa C


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70% 20% 10%


70% 15% 15%
80% 10% 10%
15. Finalizada a classificação, a equipe analisará os itens mais relevantes, que integram a Faixa
“A” e correspondem à maior parcela em valor auditado. Além disso, pode-se adotar, por exemplo,
amostragem aleatória para selecionar itens das Faixas “B” e “C”, caso se considere que essas faixas
também merecem ser analisadas.
16. Alternativamente, o auditor pode apenas definir um ponto de corte no percentual acumulado
e selecionar, dessa forma, a amostra sobre a qual recairão os procedimentos de auditoria. Nesse caso, a
divisão em Faixas “B” e “C” não é necessária, já que apenas a faixa A será objeto de análise.
17. Importante destacar que, na descrição da metodologia do trabalho, seja relatório de auditoria
ou instrução, a equipe deve indicar, sucintamente, a utilização da curva ABC ou de outro método
estatístico, como mecanismo de escolha de itens para análise, caso a verificação não seja aplicada ao
universo de itens.
18. No caso da curva ABC, a descrição da metodologia no relatório deve incluir o percentual de
valor associado a cada faixa em que o universo ou população foi segmentado, os valores abrangidos em
cada faixa, bem como o número e o valor total de itens analisados em cada faixa.
19. Nas situações em que for utilizada amostragem probabilística ou amostragem por julgamento
profissional, para seleção de itens das Faixas “B” e “C”, cabe descrever os critérios adotados para definir
essas amostras. Assim, caso se utilize amostragem probabilística, deve-se indicar o tipo de amostragem
e o número de itens analisados. Na hipótese de amostragem por julgamento profissional da equipe,
devem ser apontados o número de itens analisados e os critérios de seleção utilizados (valores mais
elevados, datas mais antigas, fatos ocorridos em um determinado período, etc.).

Referências bibliográficas:
DIAS, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: uma abordagem logística. São Paulo: Atlas, 1993.
Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, Portaria-Segecex 38, de 8 de novembro de 2011.
Auditoria de Obras Públicas, Módulo 2- Auditoria do Orçamento de Obras, Aula 1- Curva ABC de
Serviços e de Insumos (Maio, 2011) - Instituto Serzedello Corrêa.

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