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Na antropologia, existem três grandes concepções filosóficas de ser

humano, são elas : a essencialista, a naturalista e a histórico-social.

O conceito essencialista afirma a presença de uma essência humana, um


modelo a ser atingido com a educação. Nessa perspectiva, o educador define de
antemão o que constitui a essência humana, para saber que tipo de adulto se
quer formar.

A concepção naturalista sustenta que o ser humano está sujeito às forças


da natureza, tornando-se incapaz de gerir seu próprio destino. Trata-se de uma
concepção determinista e mecanicista do homem. O ser humano aparece aqui
como sujeito passivo e receptivo das determinações postas pelo mundo. O
trabalho pedagógico está fundamentado numa rigorosa programação dos
passos para adquirir conhecimentos. Todo o processo pedagógico é
minuciosamente pensado para atingir objetivos previamente determinados.

A concepção histórico-social, por fim, rejeita a noção de essência


humana. Como diz Marx em sua sexta tese sobre Feuerbach (1804 – 1872), “a
essência do homem não é uma abstração inerente ao indivíduo isolado. Na sua
realidade, ela é o conjunto das relações sociais”, ou seja, o homem se constrói
em suas relações dialéticas com e no mundo: “Se o homem é formado pelas
circunstâncias, será necessário formar as circunstâncias humanamente”
(MARX, 2003, p.150) ou ainda “as circunstâncias fazem os homens tanto quanto
os homens fazem as circunstâncias.” (MARX, 1998, p.36).

A prática pedagógica é condicionada por determinações econômicas,


políticas, culturais e sociais, mas também é capaz de agir sobre elas. Em outras
palavras, a educação sofre a influência do mundo, mas também é capaz de
intervir no mundo. É um movimento contínuo de mão dupla. Passemos agora ao
estudo da epistemologia.

Em seu livro Filosofia da Educação, Maria Lúcia de Arruda Aranha elenca


três questões importantes sobre o conhecimento: “O que é conhecimento? Como
conhecemos? Qual a origem do conhecimento?” Podemos começar
respondendo estas perguntas lembrando o que foi dito na aula de Pesquisa
Educacional I: conhecer é tornar um objeto presente aos sentidos ou à
inteligência. Ainda nesta aula, sustentei a tese de que todas as manifestações
ou graus do conhecer (observar, perceber, determinar, interpretar, discutir, negar
e afirmar) pressupõem a relação do homem (sujeito) com o mundo (objeto) e só
são possíveis com base nessa relação.

Na aula de hoje, veremos que existem três concepções distintas com


relação à compreensão da relação homem (sujeito) – mundo (objeto) e
conhecimento. A primeira afirma que as idéias nascem com o ser humano
(inatismo). A segunda sustenta que o conhecimento só começa após a
experiência sensível (empirista). E por fim, uma terceira concepção que
estabelece uma relação intrínseca entre sujeito e objeto (Dialética,
Fenomenologia, Gestalt). Antes de detalhar estas concepções, gostaria de fazer
algumas observações gerais sobre o conhecimento.

Antes de mais nada, deve-se fixar a noção de que o conhecimento


é prático, social e histórico (LEFBREVE, 1995).

O conhecimento é prático. Antes de ser teórico (pensamento), todo


conhecimento começa pela experiência, pela prática. É através da prática que o
indivíduo entra em contato com as realidades objetivas. Por exemplo: uma
criança conhece o seu mundo engatinhando, andando ou percorrendo com os
olhos a realidade ao seu redor. Manipula objetos, lambe, morde, balança, aperta,
ouve. Nessas práticas, a criança incorpora, transforma esses objetos em
imagens e idéias que passam a constituir sua consciência.

O conhecimento é social. No mundo social, os indivíduos agem uns sobre


os outros, de modo dinâmico e complexo. O indivíduo constrói sua
individualidade dentro da dinâmica social. Em outras palavras, o indivíduo se
constitui, como tal, a partir do outro. Nas trocas sociais, o saber vai sendo
transmitido.

Para compreender essa característica do conhecimento, pode-se pensar


numa imagem proposta por Alexis Leontiev (1978), em sua obra “O
desenvolvimento do psiquismo”. Neste texto, diz Leontiev (1978), imaginem uma
catástrofe no planeta que eliminasse todos os adultos e preservasse as crianças
pequenas: “Os tesouros da humanidade da cultura continuariam a existir
fisicamente, mas não existiria ninguém capaz de revelar às novas gerações o
seu uso. As máquinas deixariam de funcionar, os livros ficariam sem leitores, as
obras perderiam a sua função estética. A história da humanidade teria de
recomeçar”.

O conhecimento é histórico. Percorre-se um longo caminho da ignorância


ao conhecimento. Isso se aplica tanto ao indivíduo como à humanidade. A
verdade não está pronta a priori, não se revela integralmente; sua aquisição se
dá de modo metódico. Feitas estas observações iniciais, passemos ao
conteúdo específico da aula.

EPISTEMOLOGIA E GNOSIOLOGIA

Conforme apresentado por Aranha (2006), a epistemologia, também


conhecida como teoria do conhecimento, pode ser definida como “a parte da
filosofia que investiga as relações entre o sujeito cognoscente (o sujeito que
conhece) e o objeto conhecido no ato de conhecer”(2006, p.160). A
epistemologia indaga “como apreendemos o real, se essa apreensão deriva
principalmente de nossas sensações, ou se existem idéias anteriores a qualquer
experiência, se é possível ou não conhecer a realidade, o que é verdade e
falsidade etc”(Idem, ibidem, p.160).
Freqüentemente, a epistemologia é confundida com gnosiologia.
Ressalte-se, contudo, que existem diferenças. A epistemologia trabalha
especificamente com o estudo do trabalho científico. Tomando as ciências
como objeto de investigação, ela busca reagrupar:

a) a crítica do conhecimento científico (exame dos princípios, das


hipóteses e das conclusões das diferentes ciências, tendo em vista
determinar seu alcance e seu valor objetivo); b) a filosofia da ciências
(empirismo, racionalismo etc); c) a história das ciências. (JAPIASSÚ,
MARCONDES, 1996, p.84 – 85).

Já a gnosiologia abrange todo tipo de conhecimento, ou seja, estuda o


conhecimento em sentido mais genérico.

INATISMO E EMPIRISMO

“De onde vêm nossas idéias?” (ARANHA, 2006, p.160)

Conforme apresentado por Japiassú e Marcondes (1996, p.140), inatismo pode ser
definido como “concepção segundo a qual certas ideias, princípios ou estruturas do pensamento
são inatas em virtude de pertencerem à natureza humana – isto é, à mente ou ao espírito –
sendo, portanto, nesse sentido, universais”.

Esta concepção está bem representada no texto Menôn, ou Sobre a virtude, de Platão.
Ali, Sócrates leva um escravo ignorante a encontrar sozinho uma solução de geometria. Ou seja,
Sócrates tenta provar que o conhecimento e as ideias são inatas.

Como diz Aranha (1996, p.161), no inatismo “a realidade se encontra em primeiro lugar
no espírito, na razão, no sujeito e se apresenta na forma de ideias”. Diante do pólo sujeito –
objeto, o inatismo privilegia o primeiro.

O empirismo, por sua vez, é a “doutrina ou teoria do conhecimento segundo a qual todo
o conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da experiência sensível externa ou
interna. (...) O empirismo (...) demonstra que não há outra fonte de conhecimento senão a
experiência e a sensação” (JAPIASSÚ, MARCONDES, 1996, p.80). Nesta concepção, as ideias
não podem ser inatas.

Resumindo, enquanto o inatismo destaca o papel do sujeito, o empirismo destaca o papel


do objeto. Mas, adverte Aranha (1996, p.161), o empirismo não“despreze a razão, mas sim a
subordina ao trabalho anterior da experiência”.

PROPOSTA DE SUPERAÇÃO

Existe uma terceira concepção (representada pela dialética, fenomenologia e gestalt)


que afirma a relação recíproca e contínua entre o sujeito (o pensamento) e o objeto (aquilo que
é pensado, conhecido).

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