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ISSN 1517-3135

Dezembro, 2007 53
Métodos e Técnicas de
Diagnóstico Participativo
em Sistemas de Uso da Terra

Apostila de Curso
32 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso ISSN 1517-3135
Dezembro, 2007
PINHEIRO, S. L. G. O enfoque sistêmico na pesquisa e extensão rural Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
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Diagnóstico Participativo
em Sistemas de Uso da Terra

Apostila de Curso

Rosângela dos Reis Guimarães


José Nestor de Paula Lourenço
Francisneide de Sousa Lourenço

Embrapa Amazônia Ocidental


Manaus, AM
2007
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 31

Embrapa Amazônia Ocidental


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Regina Caetano Quisen CHAMBERS, R. Rural appraisal: rapid, relaxed and participatory. London:
IDS, 1992. (Discussion Paper, 311).
Revisor de texto: Síglia Regina dos Santos Souza
Normalização bibliográfica: Maria Augusta Abtibol Brito CHAMBERS, R.; PACEY, A.; TRRUPP, L. A. (Ed). Farmer first: farmer
Diagramação: Doralice Campos Castro e Gleise Maria Teles de Oliveira innovation and agricultural research. London: Intermediate Technology
Arte: Gleise Maria Teles de Oliveira
Publications, 1989.
Fotos da capa: Rosângela dos Reis Guimarães
1ª edição
1ª impressão (2007): 300 CONWAY, G. R. Diagrams for farmers. In: CHAMBERS, R.; PACEY, A.;
TRRUPP, L. A. (Ed.). Farmer first: farmer innovation and agricultural
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, research. London: Intermediate Technology, 1991. p.77-100.
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Cip-Brasil. Catalogação-na-publicação. GUIJT, I.; CORNWALL, A. Editorial: critical reflections on the practice of
Embrapa Amazônia Ocidental. PRA. London: IIDE, 1995. p. 2-7. (PRA Notes, 24).

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,


Guimarães, Rosângela dos Reis. poder. Petrópolis: Vozes, 2001. 254 p.
Métodos e técnicas de diagnóstico participativo em sistemas
de uso da terra - Apostila de curso / Rosângela dos Reis
Guimarães, José Nestor de Paula Lourenço, Francisneide de Sousa METTRICK, H. Development oriented research in agriculture.
Lourenço. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2007. Wageningen: ICRA, 1993. 228 p.
32 p. - (Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos; 53).
PANTOJA, M. C. A várzea do médio Amazonas e a sustentabilidade de
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1. Uso da terra. 2. Diagnóstico participativo. I. Lourenço, José dos Rios Amazonas e Solimões: perspectivas para o desenvolvimento da
Nestor de Paula. II. Lourenço, Francisneide de Sousa. III. Título. sustentabilidade. [s.l.]: IBAMA: ProVárzea, 2005. p. 157-206.
IV. Série.

CDD 630.2745

© Embrapa 2007
30 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso

Selecionar as ferramentas da pesquisa


Verificar os seguintes pontos:
Autores
! Que ferramentas correspondem às necessidades de informação?
! Que ferramentas preferem os participantes?
! Que ferramentas já existem em relatórios, mapas ou estudo?

Desenhar o processo do diagnóstico


Resolver primeiramente as seguintes questões:

! Quem fará parte da equipe do diagnóstico?


! Quando vai ser realizado o diagnóstico e quanto tempo vai durar?
! Onde será efetuada a pesquisa? Rosângela dos Reis Guimarães
Engenheira agrônoma, M.Sc. em Agroecossistemas,
! Que materiais serão utilizados para documentar a atividade?
pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus,
AM, rosangela.reis@cpaa.embrapa.br
O diagnóstico dos sistemas de produção tem como objetivo verificar se
a propriedade escolhida responde bem aos objetivos fixados no projeto.
Esse é o momento para o técnico firmar um primeiro acordo formal com
o produtor, garantindo uma assessoria mais estreita à propriedade em
José Nestor de Paula Lourenço
troca do ônus dos registros solicitados para acompanhamento e difusão
Engenheiro agrônomo, M.Sc. em Ciências Biológicas,
das informações.
pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus,
AM, nestor.lourenco@cpaa.embrapa.br

Francisneide de Sousa Lourenço


Engenheira agrônoma, Especialização em Produção de
Animais Não Ruminantes, Manaus, AM,
francisneide.lourenco@igcombr
Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 29

! As informações serão para construção de um projeto, ou análise de


um projeto já existente?
! É um diagnóstico geral ou enfoca alguns aspectos particulares, como
uma zona, sistema de produção, questões de saúde, ou outra coisa?

Selecionar e preparar a equipe de trabalho


Selecionar e capacitar a equipe de trabalho é um dos pontos
fundamentais para atingir os objetivos propostos. Se for possível ter
pessoas de diferentes áreas participando melhor, pois se evita o
predomínio de enfoques técnicos, econômicos ou sociais.

Identificar os participantes
Verificar os grupos de interesse que se encontram representados na área
de estudo (familiar, religioso, social, etc).

Quem são os informantes ou líderes-chave da comunidade?

Identificar as expectativas dos participantes


Cada participante do diagnóstico espera beneficiar-se com alguma coisa.
Os membros da comunidade podem achar que a pesquisa vai acarretar
algum benefício para eles (como, estradas, escolas, agroindústria, etc.) e
o pessoal do projeto pode estar esperando que aumente a motivação e
participação dos comunitários para implementação das atividade do
projeto.

Lembrar que a realização de um diagnóstico sempre cria expectativas na


população, por mais que os técnicos responsáveis expliquem as
limitações e atribuições da atividade.

Discutir as necessidades de informação


Definidos bem os objetivos do diagnóstico verificar quais informações
são importantes para atender aos objetivos. Lembrar que toda
informação levantada deverá ser analisada. Pode-se iniciar o diagnóstico
por métodos informais, semi-estruturados e, após terem sido formuladas
as primeiras hipóteses, aprofunda-se apenas as questões mais
importantes, por meio de levantamentos mais detalhados.
28 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso

! Desejo de agradar o entrevistador, especialmente quando ele percebe


suas orientações ou posicionamentos;
! O agricultor não entender bem os objetivos da entrevista; Apresentação
! Alguns agricultores que fazem parte de organizações como
comunidades, sindicato, etc. percebem a entrevista como uma
armadilha para “fazê-los falar” sobre coisas ou pessoas, o que pode
comprometê-los;
! Os pesquisadores/técnicos são muitas vezes percebidos como
indivíduos sofisticados e de alta educação, o que pode criar uma
reação de defesa por parte dos entrevistados.

Observação: Dependendo do tipo de percepção, os entrevistados


podem recorrer a mecanismos de defesa, tais como:
A compreensão do modo pelo qual os agricultores estão efetivamente
! Colaboração aparente; manejando seus sistemas de produção não constitui mais um problema
de mera definição, mas sim uma necessidade da qual pesquisadores,
! Recusa em responder;
extensionistas e responsáveis diretos pelo desenvolvimento da
! Silêncios ostensivos; agricultura familiar não podem prescindir. A eficácia dos resultados
! Desvios no direcionamento da entrevista; produzidos pelo esforço da pesquisa e da extensão rural está
estreitamente associada à profundidade dessa compreensão. É
! “Esquecimento”; necessário então que o agricultor passe a ser visto não apenas como
! Ou mesmo preparando-se de antemão para a entrevista através de mero receptor de informações, mas seja incluído como parceiro ativo na
informações colhidas junto a outros entrevistados anteriormente. identificação e priorização dos fatores limitantes de seus sistemas
produtivos e na concepção, condução e validação das soluções
Preparação para um diagnóstico alternativas.

O diagnóstico é um instrumento que possibilita a identificação de


! Fixar o objetivo do diagnóstico;
restrições e oportunidades ao desenvolvimento dos sistemas de
! Selecionar e preparar a equipe de trabalho; produção. Dispõe-se atualmente de uma gama de técnicas de
! Identificar participantes; diagnóstico, cuja escolha está condicionada aos recursos humanos e
materiais disponíveis, às características socioeconômicas do público a
! Identificar as expectativas dos/as participantes no DRP; ser diagnosticado, aos objetivos do diagnóstico e a quem se destina a
! Discutir as necessidades de informação; informação (agricultores, serviços de assistência técnica e extensão
rural, agentes financiadores e outros). É fundamental conhecer a área de
! Selecionar as ferramentas de diagnóstico;
estudo antes de definir as técnicas a serem empregadas.
! Desenhar o processo do diagnóstico.

Fixar o objetivo do diagnóstico Maria do Rosário Lobato Rodrigues


Antes de iniciar qualquer diagnóstico é necessário se estabelecer o Chefe-Geral
objetivo da ação:
Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 27

! Esse tipo de entrevista é aparentemente informal, porém deve ser


cuidadosamente controlada e registrada. Utilizando roteiros, o
entrevistador formula questões abertas e aprofunda temas
considerados importantes.

Pontos-chave
! A entrevista deve começar com as formas tradicionais de
cumprimento e uma apresentação das pessoas que a realizam;
! Mostrar que não se trata de um interrogatório, deixar o entrevistado o
mais a vontade possível;
! Fazer comentários introdutórios banais, como em relação ao tempo,
sobre a comunidade, a propriedade, etc.

Pontos fundamentais a serem considerados para o


diagnóstico
! Expectativa criada junto aos agricultores;
! Deixar bem claro o propósito do questionário/entrevista;
! Buscar a médio e longo prazo os objetivos do agricultor;
! O diagnóstico deve proporcionar o conhecimento do conjunto da
propriedade (sistema de produção), seus pontos de estrangulamento e
suas potencialidades;
! Identificar e hierarquizar os problemas, propósitos e aspirações que
condicionam a tomada de decisão dos agricultores;
! Prognosticar as possíveis mudanças tecnológicas que poderão ser
oferecidas pela pesquisa de forma compatível com a realidade.

Aspectos que podem interferir na qualidade dos


dados por parte do informante
! Motivos ulteriores, ou seja, quando ele pensa que suas respostas
podem influenciar positivamente sua situação futura (participar de um
programa/projeto);
! Quebra de espontaneidade, como a presença de outras pessoas por
ocasião da entrevista ou inibições ocasionadas por certas
características do entrevistador, como sexo, raça, educação ou classe
social (fatores reativos);
26 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso

Exemplo de pergunta indutiva:

! Por que o senhor não adotou o espaçamento recomendado?


Sumário
O mesmo tema pode ser explorado em maior profundidade, e sem
indução, perguntando-se:

! Quais as vantagens que o senhor vê em usar este espaçamento em


particular?

A finalidade das perguntas é estimular o diálogo, de modo a reconstruir


as trajetórias dos agricultores, seu saber, a origem deste saber e a
lógica que o orienta. Estas entrevistas podem ser divididas por blocos
de assuntos que vão sendo completados ao longo do diálogo, e
envolvem caminhadas pela propriedade. Nas entrevistas, deve haver Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas
confiança para se nivelar informações a respeito dos seguintes temas: de Uso da Terra - Apostila de Curso....................................9
! o indivíduo e seu grupo familiar: entender os principais eventos Diagnósticos formais......................................................9
percebidos pelo entrevistado na sua história individual e coletiva;
! o Sistema de Uso da Terra (SUT): as mudanças percebidas ao longo Cuidados que se deve levar em consideração...........................9
do tempo, e nele detalhes de área disponível, fatores de zoneamento
de espécies e plantios, espécies e consórcios utilizados, função das
Recomendações..............................................................10
espécies, origem da renda;
Participação................................................................11
! os “temas-chave” para o entrevistado: dentro da propriedade, as
situações concretas no tempo (ao longo do ciclo anual) e no espaço Pertencimento.................................................................11
(da propriedade e da comunidade) a partir das quais são tomadas
decisões importantes; Níveis de Participação.......................................................12
! os saberes existentes: aqueles que permitem a geração, manutenção
e reprodução do seu SUT atualmente adotado, e como os saberes Diagnóstico Rural Rápido...............................................13
que o mantém foram obtidos;
! finalmente, qual a projeção de futuro que o entrevistado percebe para Diagnóstico Rural Participativo.......................................14
seu SUT.
Recomendação................................................................15
Características Técnicas.....................................................................17
! Valoriza a presença do investigador;
! Parte de certos questionamentos básicos; Diagramas......................................................................18
! Oferece amplo campo de interrogativas a partir das respostas dos Mapas e croquis...............................................................19
informantes;
Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 25

Calendários sazonais.......................................................21 É importante, no uso dessa técnica, que as causas sejam identificadas
com base em evidências reais, para evitar discussões puramente
Diagrama de VENN......................................................22 acadêmicas.

Árvore de Problemas
Ranking ....................................................................23

Animais tem
Árvore de problemas e causas.......................................24 pouca água
Famílias tem
pouca água
Entrevistas semi-estruturadas.......................................25 para beber
Diminuição da
área irrigada Efeitos
Diminuição da
Pontos Fundamentais a serem considerados para o produção
diagnóstico................................................................27

Aspectos que podem interferir na qualidade dos dados por Redução da Problemas
quantidade de
parte do informante.....................................................27 água

Preparação para um diagnóstico....................................28


Causas

Fixar o objetivo do diagnóstico..........................................28

Selecionar e preparar a equipe de trabalho...........................29

Identificar os participantes................................................29

Identificar as expectativas dos participantes........................29

Discutir as necessidades de informação..............................29 Fig. 7. Árvore de problemas e causas. Adaptado de Verdejo (2006).

Selecionar as ferramentas da pesquisa................................30


Entrevistas semi-estruturadas
Desenhar o processo do diagnóstico...................................30
São entrevistas orientadas por roteiros, nas quais apenas alguns temas
Referências................................................................31 são pré-determinados. Outras questões emergem durante a entrevista.
Cria-se um diálogo investigativo, mas nunca indutor. Em outras palavras,
neste tipo de entrevista, induzir o agricultor a uma determinada resposta
é o melhor caminho para o fracasso.
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Tabela 2. Exemplo de ranking elaborado por comunitários, para avaliação do projeto


TANRE, lago do Ariauzinho, Iranduba-AM. Métodos e Técnicas de
Parâmetros
Acompanhamento Participação da Aquisição de Organização da Qualidade
Diagnóstico Participativo
Produtores Técnico Comunidade insumos Comunidade da água em Sistemas de Uso da Terra
Auxiliadora 5 4 3 1 2
Manoel 2 1 3 4 5
Odete
Terezinha
3 2 5 1 4 Apostila de Curso
4 2 5 1 3
Raimundo 3 2 1 4 5
Valter
Rosângela dos Reis Guimarães
4 2 3 1 5 José Nestor de Paula Lourenço
Nilza 1 4 5 2 3
Joana
Francisneide de Sousa Lourenço
5 3 4 2 1
Dinaldo 5 4 2 1 3

Total 32 24 31 17 31

Classificação 1 o
3o
2 o
4 o
2o Diagnósticos formais
No início dos trabalhos em sistemas de produção, o diagnóstico formal
era o mais utilizado. Atualmente tem havido uma tendência crescente do
Árvore de problemas e causas emprego dos diagnósticos rápidos e participativos, uma vez que os
formais são mais demorados e não estimulam o envolvimento do
Trata-se de analisar a relação causa-efeito de vários aspectos de um agricultor na análise de seus problemas.
problema determinado pela comunidade. Esta técnica possibilita
identificar as possíveis soluções para o problema determinado (Fig. 7). O diagnóstico formal é baseado em um questionário estruturado,
aplicado em uma amostra representativa da área de estudo.
É necessário fazer à análise sistemática das relações causais, pois em
muitos casos a falta de cuidado na definição das causas dos entraves São indicados:
limita as chances de sucesso na formulação de alternativas de soluções
! em situações onde se precisa de quantificação, como no
efetivas.
aprofundamento da análise de propriedades e/ou culturas/criações;
É comum, no uso dessa técnica, que as práticas dos agricultores sejam ! em trabalhos de monitoramento e avaliação do impacto de projetos de
identificadas como causas dos problemas, sem que se explore o que desenvolvimento;
está por trás de determinada prática. Por exemplo, perdas na ! para agentes financiadores, por possibilitarem a quantificação.
produtividade do milho podem ser atribuídas ao fato de o agricultor
realizar a colheita muito tarde, expondo a cultura ao ataque de
carunchos e roedores. Entretanto é necessário saber o porquê desse Cuidados que se deve levar em consideração
atraso. Ele pode se dar, por exemplo, pela falta de mão-de-obra ! Número excessivo de entrevistas;
(competição com outra atividade) ou a inexistência de local para o ! Levantamento de muitas informações;
armazenamento. Se o técnico não explora a fundo as causas, soluções
simplistas como colher o milho mais cedo podem ser propostas e ! Reduzido espaço para a análise das informações;
certamente não serão adotadas. ! Qualidade da informação obtida;
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! Duração da entrevista; Ranking


! Levantamento de informações secundárias;
! Teste do questionário. Instrumento de comparação e priorização o qual, combinado com a
utilização da árvore de problemas e causas, permite a priorização dos
problemas e a identificação das relações causais.
Recomendações
! As perguntas devem ser formuladas em uma seqüência lógica (no O emprego da técnica de Ranking é muito amplo: além de diagnósticos,
caso de roteiro técnico das culturas, iniciar pelo preparo do solo e é útil também em avaliações de opções tecnológicas.
finalizar com a comercialização) e devem estar organizadas em
blocos (produção vegetal, produção animal, mão-de-obra); Pode ser utilizada tanto para discussões com grupos de agricultores,
! A estrutura deve ser organizada de forma que as respostas possam como para análise de diagnósticos formais (questionários estruturados).
ser preenchidas rapidamente e lidas facilmente durante a tabulação;
O ranking apresentado na Tabela 2 foi construído com o objetivo de se
! Itens correlatos devem ser arranjados mais convenientemente em
identificar quais fatores seriam mais importantes para continuidade das
blocos ou tabelas. Por exemplo, informações relativas a culturas
ações de um projeto de criação de peixes em tanque rede, denominado
(variedades, arranjos, tratos culturais, etc.) podem ser resumidas em
projeto TANRE, desenvolvido numa comunidade rural do município de
um quadro que ocupe metade de uma página, facilitando assim sua
Iranduba - AM. Também pretendia-se verificar quais os impactos
tabulação;
sociais, econômicos, ambientais e culturais que o projeto promoveu.
! O roteiro deve conter apenas informações que não possam ser Considerando o envolvimento de mulheres e crianças, e se possível as
obtidas em outras fontes (órgãos de extensão rural, Incra, Secretaria interações resultantes das mudanças nas relações sociais, econômicas e
Municipal de Agricultura, etc.) a rentabilidade dos sistemas introduzidos, buscou-se avaliar as
! As questões devem ser formuladas do modo mais simples possível. É contribuições na adaptação e difusão da tecnologia e de conhecimentos,
importante assegurar que todos os entrevistadores formulem as e verificar se as tecnologias foram adequadas e como estão sendo
questões e anotem as respostas da mesma forma; adotadas.

! Deve-se utilizar convenções e terminologias locais, incluindo pesos e Os critérios adotados (escolhidos pelos produtores) foram o
medidas. Conversões para unidades padrão podem ser realizadas acompanhamento técnico, participação da comunidade, aquisição de
posteriormente no escritório; insumos, organização da comunidade e qualidade da água. Após
! Se as questões se referem às atividades que ocorreram ao longo do definição dos critérios, os agricultores elegeram a ordem de prioridade
tempo, deve-se especificar o período de referência. Exemplo: “o Sr. dos mesmos, numa escala de 1 a 5, onde 1 significava o menos
aplicou adubo na mandioca no ano passado?” ao invés de: “O Sr. importante e 5 o mais. Para estabelecer a classificação final, fez-se a
aplica adubo na mandioca?” somatória das opiniões individuais. Na percepção dos agricultores o
acompanhamento técnico é critério fundamental para o desenvolvimento
Os diagnósticos formais podem contribuir bastante quando utilizados da atividade.
em conjunto com os diagnósticos participativos, no dimensionamento
quantitativo das constatações melhor definidas por meio de técnicas Os resultados obtidos pelo emprego desta técnica podem ser fruto do
participativas. consenso do grupo ou conseqüência da somatória das opiniões (Tabela
2). O segundo procedimento tem a vantagem de eliminar possíveis
influências que determinados agricultores possam ter sobre os demais, o
que é observado com freqüência.
22 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 11

Diagrama de VENN Participação


O Diagrama de VENN é um instrumento de comparação bastante As crescentes críticas ao modelo produtivista da chamada “Revolução
apropriado para a análise da atuação das instituições em uma Verde” e dos modelos de geração, transferência e difusão de
comunidade, ou do relacionamento desta com as instituições. Essa tecnologias, principalmente quando se trata de pequenos agricultores,
técnica permite conhecer, do ponto de vista de um grupo ou indivíduo, impulsionaram o surgimento de abordagens alternativas, que conclamam
a importância e efetiva atuação institucional. a participação do agricultor como essencial ao sucesso dos programas
de desenvolvimento rural.
Como é feito:
Reunir um grupo de homens e mulheres que tenham experiência em O que significa participação?
relação aos grupos e às instituições vinculados à comunidade. Em Participação pode ser entendida como a habilidade de analisar, ter
seguida, recortar ou desenhar diversos tamanhos de círculos e confidência, controlar, tomar decisões e agir. Na visão positivista, para
identificar os grupos ou organizações que tenham relação com a estimular a participação é necessário transferir poder (dos mais
comunidade. O tamanho dos círculos é definido pela importância da poderosos para os menos favorecidos). Entretanto, este processo é
instituição (segundo a visão da comunidade). Solicitar aos participantes controlado por agentes externos (algumas vezes chamados
que localizem os grupos e/ou organizações no entorno do círculo que facilitadores), os quais ainda concentram o poder, decidem quando deve
representa a comunidade, conforme a atuação dos mesmos (quanto ser transferido e determinam as circunstâncias em que a transferência
mais próximo, mais atende às necessidades da comunidade). Portanto pode ser realizada. Em síntese, o poder é induzido e controlado de fora,
uma instituição pode ser importante, mas não ter efetiva atuação na e usualmente assume uma característica tecnológica.
comunidade. A aplicação desta técnica por um representante de uma
instituição pode intimidar o grupo e mascarar o resultado (Fig. 6) Em contraste, na visão construtivista, poder é entendido não como
alguma coisa que alguém tem (isto é, algo externo às pessoas), mas
como alguma coisa que aparece em uma relação quando alguém
concede poder para outra pessoa obedecendo a um estímulo (ex. uma
K ordem ou um convite). Esta percepção evidencia que os seres humanos
I são autores de suas próprias ações e que desenvolvimento é
B primeiramente um processo de aprendizado, requerendo diálogo e
D
F consciência crítica. Um grupo não pode desenvolver outro. O único tipo
M possível de desenvolvimento é o auto-desenvolvimento. A menos que as
Comunidades pessoas entendam e construam suas próprias situações, elas
E N
encontrarão dificuldades para agir e tomar decisões, continuando
H dependentes de outros (Pinheiro, 1995).
J
A L
Pertencimento
C Pertencimento tem profunda relação com o termo “participativo”, o qual
G se está cada vez mais ansiando e utilizando (metodologias participativas,
gestão participativa, orçamento participativo), pois se acredita que tudo
o que for construído de forma participativa por um grupo, a este grupo
Fig. 6. Importância e atuação de grupos e/ou instituições na visão da pertence e ao mesmo tempo contém um pouco de cada um do grupo. E
comunidade. como participação não inclui apenas o elaborar,
12 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 21

mas também o pôr em prática, fica mais fácil extrair daí, um Outra forma de mapa é o desenho de toposseqüências (transectos), que
compromisso. Tendo, portanto, uma outra implicação que é a de CO- ilustram características agroecológicas e de ocupação do solo, segundo
RESPONSABILIDADE. Pois se construímos juntos e se nos pertence, a posição na paisagem. Esses diagramas são obtidos pelo
somos todos responsáveis por ela (Leff, 2001). caminhamento, com o agricultor, de um ponto mais alto (pode iniciar na
área de floresta), até o ponto mais baixo (áreas alagadas/encharcadas)
Devemos, no entanto, estar atentos às armadilhas que o processo da área de estudo da propriedade, sendo também possível investigar o
esconde, pois não se pode permitir que ilusões de participação sejam uso do solo ao longo do tempo (toposseqüências históricas).
criadas fazendo com que nos sintamos falsamente participando de um
processo quando na verdade só referendamos uma proposta formulada Calendários sazonais
e construída que fatalmente não reflete os reais anseios da São diagramas que ilustram tendências e comportamentos sazonais
comunidade. Ou seja, uma proposta que “não lhes pertence”. como variação de preço, produção das culturas ao longo do ano,
calendário de atividades, alocação e disponibilidade de mão-de-obra e
Níveis de participação outros (Fig. 5).
Segundo Pretty (1994) são sete os tipos de participação do agricultor
MESES
(Fig. 1). CULTURA
A S O N D J F M A M J J
Automobilização
MILHO Pr/A
Participação interativa
Ci/A/M C/M

Participação funcional Pr/A

Participação por incentivos materiais Pr/A


FEIJÃO
Ci//A+M
Consulta

Fontes de informação C/M

Legenda: Ci: Controle invasoras A: Tração animal Homem


Passiva Pr: Preparo do solo C: Colheita M: Manual
Pl: Plantio
Mulher

Fig. 5. Calendário de mão-de-obra para as culturas de milho e feijão.


Fig. 1. Escada de participação (Adaptado de Verdejo, 2006).
Esse diagrama torna possível a compreensão da dinâmica da mão-de-
Passiva: As pessoas participam sendo informadas do que vai acontecer obra na propriedade, identificando-se:
ou aconteceu. É uma decisão unilateral sem qualquer tipo de consulta
! épocas de início e término de cada operação (por cultura e atividade);
ou diálogo.
! fontes de potência utilizadas nas operações
Fontes de informação: As pessoas participam respondendo a perguntas (humana/animal/mecânica);
formuladas através de questionários fechados. Os métodos não são ! as épocas de maior e menor demanda de mão-de-obra.
discutidos e não há retorno de dados ou de resultados.
20 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 13

Consultiva: As pessoas participam sendo consultadas por agentes


externos, os quais definem problemas e propõem soluções com base na
consulta, mas sem dividir a tomada de decisão.

Participação por incentivos materiais: As pessoas participam fornecendo


recursos como mão-de-obra e terra em troca de dinheiro, equipamentos,
sementes ou outra forma de incentivo. A maioria dos experimentos em
propriedades agrícolas se encaixam neste tipo. Quando a ajuda é
retirada, o entusiasmo termina.

Participação funcional: As pessoas participam formando grupos para


atender objetivos pré-determinados de projetos definidos por agentes
externos. Estes grupos em geral dependem dos facilitadores, mas às
vezes, tornam-se independentes.

Fig. 3. Agricultores apresentando e discutindo mapa das comunidades no Participação interativa: As pessoas participam de forma cooperativa,
Município de Benjamin Constant-AM. interagindo via planos de ação e análise conjunta, os quais podem dar
origem a novas organizações ou reforçar as já existentes. Estes grupos
têm o controle sobre as decisões locais, a ênfase é dada em processos
interdisciplinares e sistemas de aprendizado envolvendo, múltiplas
perspectivas.

Automobilização: As pessoas participam tomando iniciativas para mudar


os sistemas, independentemente de instituições externas.

Diagnóstico Rural Rápido


A abordagem de sistemas nas ações de Pesquisa e Extensão Rural
emergiu em uma era pós-revolução verde, em conseqüência das
crescentes críticas e questionamentos em relação à eficiência do modelo
disciplinar, reducionista e produtivista na geração e difusão de
tecnologias para os agricultores familiares (Pinheiro, 1995).

A filosofia e métodos conhecidos por Diagnóstico Rural Rápido (DRR)


emergiram no final da década de 70, como conseqüência da insatisfação
com os vieses do “turismo rural”1 e da desilusão com o processo e
resultados dos diagnósticos formais considerados longos, cansativos,
trabalhosos e não tão confiáveis.
Fig. 4. Croqui de uma propriedade desenhado pelo agricultor (comunidade
Puraquequara, Manaus-AM). 1
Visitas breves às comunidades rurais próximas às cidades.
14 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 19

O DRR é uma atividade sistemática, semi-estruturada, conduzida em Conway (1991), destaca as seguintes vantagens dos diagramas:
campo por uma equipe multidisciplinar e planejada para a obtenção ! As perguntas e respostas são abertas. As questões gerais podem ser
rápida de informações sobre o meio rural (Mettrick, 1993), e foi preestabelecidas, porém os detalhes são complementados pelos
desenvolvido, principalmente, para aprendizado dos agentes externos, agricultores, enfatizando-se suas prioridades e percepções acerca dos
pois permite que estes obtenham informações e compreendam a problemas;
população e as condições locais. Esta informação é um apoio
! Diagramas podem captar e apresentar informações que, se fossem
importante para o seu próprio planejamento, para que possam
expressas por palavras, seriam menos precisas, claras e sucintas;
responder mais eficazmente às necessidades e prioridades da população
a que devem servir. Quanto maior a compreensão da realidade local por ! As informações, compartilhadas entre o entrevistador e o
parte dos formuladores de decisões e políticas, mais subsídios terão entrevistado, podem ser checadas, discutidas e aperfeiçoadas. O
para elaboração de propostas condizentes com a realidade e os anseios agricultor pode ainda, examinar o que foi registrado com base em
das comunidades. Os métodos participativos, como, por exemplo, a suas informações.
elaboração conjunta de mapas, pode fazer parte de um DRR. No
entanto, a ênfase do exercício de DRR está na coleta de informações Os diagramas são apropriados para a compreensão da dinâmica dos
locais. A análise é realizada pelo agente externo, mais tarde, longe da sistemas de produção, para o levantamento de informações qualitativas
área de estudo. e para investigar relações causais. Por possibilitar o compartilhamento
das informações, os diagramas permitem o envolvimento de todos os
Em síntese, o DRR possibilita a obtenção de informações e a reflexão membros da família nas entrevistas. Qualquer técnica que envolva a
sobre o meio rural de forma rápida e eficiente, mas mantém, ainda que representação gráfica de informações pode ser considerada como
em menor grau que os métodos formais, a característica de ser diagrama.
extrativo, ou seja: “O agricultor atua apenas como fornecedor de
informações a serem analisadas pelo técnico“ Os diagramas são menos formais e monótonos que as entrevistas e
questionários e os agricultores apreciam muito elaborá-los.
Diagnóstico Rural Participativo
Mapas e croquis
Em meados da década de 80, os termos participação e participativo Os mapas servem para o planejamento, a discussão e a análise da
foram incluídos no DRR, de modo a estimular a consciência crítica da informação visualizada. Podem ser elaborados sobre papel ou mesmo
população rural, cabendo aos técnicos o papel de catalisadores do sobre o solo, utilizando-se diversos materiais (paus, pedras, sementes,
processo. etc).

Com o desenvolvimento das técnicas que possibilitam a participação Podemos ter mapas de solos, fotografias aéreas e croquis da propriedade
dos agricultores não apenas como informantes, mas também na análise, (Fig. 3 e 4). Os mapas permitem a participação de todos os agricultores
elaboração de soluções e ação, consolidou-se o Diagnóstico Rural da comunidade, possibilitando:
Participativo (DRP). ! identificar a percepção dos agricultores quanto aos diferentes tipos de
solos e seus atributos, restrições e aptidão de uso e manejo;
Além do objetivo de impulsionar a auto-análise e a autodeterminação de
! levantar o histórico e tendências de ocupação do solo;
grupos comunitários, o propósito do DRP é a obtenção direta de
informação primária ou de “campo”, ou seja, na própria comunidade. ! complementar as informações obtidas nos levantamentos de recursos
naturais;
! auxiliar no planejamento do uso da propriedade com os agricultores.
18 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 15

do pesquisador, do extensionista e do agente transformador, na forma Recomendação


de encarar o agricultor. Este comportamento exige dos técnicos um Mais importante que o conjunto de técnicas utilizadas no DRP, é
preparo especial, para que passem a ver no agricultor um parceiro imprescindível a mudança de comportamento e atitudes dos técnicos
capaz de contribuir na análise da realidade. que o utilizam.

Conforme destacam Guijt e Cornwall (1995): Pesquisadores, médicos, professores, extensionistas e outros têm
acreditado na superioridade de seu conhecimento e na inferioridade do
“É necessária uma mudança de postura do técnico/pesquisador na conhecimento dos agricultores. O argumento padrão, segundo Chambers
forma de encarar o agricultor”. et al. (1989), é de que os cientistas têm o conhecimento relevante,
produtores “ignorantes” não têm. Só os técnicos sabem o que está
“Aprender o uso das técnicas é a parte fácil. Adquirir a habilidade de “certo” e portanto eles devem ensinar os produtores.
comunicação e facilitação para aplicar junto aos agricultores é o mais
difícil”.
Do que se conclui:
! Tratados como incapazes, os agricultores têm se comportado como
Diagramas tal, escondendo sua capacidade de nós, e mesmo deles próprios.
São ferramentas utilizadas nos diagnósticos participativos,
possibilitando ao agricultor e ao técnico a visualização das informações ! Nós, profissionais, não temos sido capazes de habilitá-los a expressar
(Fig. 2). Os diagramas podem simplificar informações complexas, e compartilhar seu conhecimento.
facilitando a comunicação agricultor-técnico e posterior análise. ! As famílias e/ou comunidades devem também aprender a partir dos
diagnósticos, não só os técnicos, extensionistas e pesquisadores.

O DRP evoluiu de tal maneira que geralmente capacita a população local


para mudar sua própria condição e situação. A real participação
proporciona que a própria população local possa realizar sua própria
análise e, freqüentemente, planejar e realizar ações. Portanto, o DRP
significa mais do que um exercício único e breve no campo. Significa
transformar os antigos papéis de dependência e reconhecer os
camponeses - tantos os homens quanto as mulheres como analistas,
planejadores e organizadores ativos.

O exercício de DRP no campo não é só para gerar informações ou idéias,


mas também para análise e aprendizado por parte da população local;
implica dar forma ao processo de participação, discussão e
comunicação, e resolução dos conflitos. Isto significa que o processo
cresce e evolui com base nos elementos específicos do contexto local
(Souza, 2000).

Isto não quer dizer que os agentes externos não sejam importantes e
não participem dos debates durante um processo de DRP. Também são
Fig. 2. Agricultoras elaborando mapa da comunidade de São Raimundo, Maués- ativos e do mesmo modo que outros grupos de interesse, têm suas
AM.
opiniões e idéias. Mas os agentes externos têm um papel a
16 Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso Métodos e Técnicas de Diagnóstico Participativo em Sistemas de Uso da Terra - Apostila de Curso 17

desempenhar, sobretudo o de facilitar estas análises para os membros ! possuem enfoque interdisciplinar;
da comunidade. Para consegui-lo, precisam aprender a ouvir, estimular ! proporcionam aprendizado rápido e progressivo;
e fomentar a confiança e especialmente no início, restringir seu desejo ! não são apropriados para a coleta de dados quantitativos;
de mostrar suas próprias idéias. É uma questão sutil de poder educativo
e de incentivo ao desenvolvimento da análise e à tomada de decisões ! são apropriados para a exploração de relações causais;
de forma consciente em toda oportunidade possível. Isto significa que a ! não preconizam procedimento padrão - as técnicas irão depender dos
análise no trabalho baseado no DRP não focaliza somente os dados objetivos, condições locais, tempo disponível e habilidade dos
recolhidos, mas também uma reflexão sobre o processo. Os processos técnicos.
são tão importantes na realização de um plano de ação comunitária
quanto os dados. Os processos não têm princípio e fim durante um Algumas técnicas podem ser utilizadas em grupo, resultando em
exercício breve no campo e nem sempre são fáceis de entender. Este economia de tempo, recursos humanos e materiais.
entendimento se acumula a longo prazo. O próprio DRP faz parte do
processo de desenvolvimento do poder local. Aprender a ver este Tabela 1. Características do DRR e DRP.
processo como um dos produtos do DRP significa uma reorientação
para os trabalhadores do campo. DRR DRP
Principal período Final da década de 70 e Final da década de 80 e
Deste modo, os enfoques participativos não são produto de um diálogo de desenvolvimento década de 80 década de 90
de longo prazo e interação conhecida, mas uma parte deles. No Principais inovadores Universidades ONGs
entanto, ambos os organismos (agentes externos e atores sociais vinculados
locais) são inocentes quando supõem que um breve exercício Principais usuários Agências internacionais ONGs
participativo com um grupo de pessoas levará a mudanças positivas e Universidades
duradouras. Nenhum enfoque participativo oferece solução rápida para Recurso anteriormente Conhecimento da Capacidade da
problemas complexos. Não existe atalho. O primeiro encontro desprezado população local população local
participativo entre um organismo facilitador externo e uma comunidade
Principal inovação Métodos Comportamento
deve ser considerado como o início e não como o fim numa jornada
longa e complexa, mas de mútuos benefícios, como a análise conjunta, Modo predominante Extrativo Facilitador, participativo
a consciência autocrítica, o fortalecimento da capacidade e a Objetivo ideal Aprendizado dos Dar poder à população
mobilização de recursos. É um processo de aprendizagem que técnicos local
desenvolve e promove novos métodos e mudanças nas atitudes, Resultados de longo prazo Planos, projetos, Ação e instituições
condutas, normas, capacidades e procedimentos, tanto dentro do publicações locais sustentáveis
organismo como dentro da comunidade (Pantoja, 2005). Fonte: Chambers (1992)

Na Tabela 1, constam as principais diferenças entre o diagnóstico rural


rápido e o diagnóstico rápido participativo, de acordo com Chambers Técnicas
(1992).
São descritas, a seguir, as técnicas mais usuais em diagnósticos
Ambos possuem as seguintes características: participativos. Vale ressaltar que o simples uso de técnicas
! requerem maior experiência, criatividade, humildade e sensibilidade desenvolvidas a partir do enfoque participativo não garante, por si só, a
por parte do técnico; efetiva participação dos agricultores no processo de diagnóstico e
proposição de medidas para solução dos problemas diagnosticados.
! são exploratórios e altamente interativos; Como já enfatizado anteriormente é necessária uma mudança de postura

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