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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS

LUCIANA AMORIM SANTANA

RELATÓRIO SOBRE O DOCUMENTÁRIO “CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE


AMOR”

São Cristóvão
2018
O documentário Capitalismo: uma história de amor (Capitalism: a love story) foi
lançado em 2009, escrito e dirigido por Michael Moore. Em aspectos gerais, o documentário é
uma crítica às grandes corporações americanas, ao domínio de Wall Street, seja direto, seja
indireto sobre toda a população norte-americana. A principal questão abordada na obra
cinematográfica é o mito dos Estados Unidos ser a maior democracia do mundo, pois, afinal,
em que democracia o 1% da população tem controle sobre os outros 99%?

Ao analisar o título do documentário, Capitalismo: uma história de amor, uma possível


interpretação é a ideia de que os Estados Unidos vive uma relação de constante felicidade com
esse sistema socioeconômico e a manutenção do sentimento de bem-estar diante desse modelo,
ou seja, a felicidade americana jamais estará desvinculada do capitalismo. Assim, o americano
vive uma história de amor com o sistema do Capital, porém esta história não possui um final
feliz, já que a maioria da população vive um amor jamais correspondido e essa não
correspondência acarretará danos irreparáveis ao povo estadunidense.

Logo no início do documentário há a exposição da conjuntura do Império Romano,


evidenciando o desenvolvimento mascarado pelo avanço nas costas de escravos, pela alta
concentração de renda e pelas políticas sociais alienatórias como a do pão e circo. Portanto,
conclui-se que a decadência social presente nos Estados Unidos caracterizada pela camuflagem
é uma herança e, mesmo em pleno século XXI, o povo é controlado, não mais com pão e circo,
mas com fast food e filmes hollywoodianos.

O capitalismo é um sistema que toma e dá, porém toma mais do que dá e ele cria um
conflito inato entre os que tem tudo e os que não tem nada. Portanto, ele é construído baseado
no individualismo, focado em tirar o que é alheio e na ganância infinita, provocando a satisfação
utópica. Diante disso, a soma de individualismo e ambição resulta em grandes desigualdades
econômicas e desajuste social entre os privilegiados e o povo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os países europeus e o Japão perderam o seu foco
produtivo, pois todo o seu investimento foi direcionado à indústria bélica. Assim, a indústria
norte-americana se sobrepõe e ganha grande destaque no setor automobilístico. O Estados
Unidos sai como um país vitorioso da guerra, porém a plena paz não foi alcançada pelos
americanos: a Rússia, em nome do sistema socialista, compete de forma incessante com os
americanos, originado a Guerra Fria. Já no final desta, houve o destaque do presidente
americano Ronald Regan, ele foi um político conservador e atuou em nome do Wall Street,

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agravando as desigualdades e as questões sociais no solo americano. O presidente, associado
ao banco Merrill Lynch, colocou o Estados Unidos no topo e o governou como uma corporação.

Durando o governo Regan, nos embalos do avanço industrial americano, houve um


grande aumento do trabalho operário, porém com os congelamentos de preços, os bens que a
classe operária visava adquirir só era possível através de empréstimos, tornando o povo
subordinado às grandes corporações bancárias. Diante disso, os ricos – donos de bancos e
empresários - se tornavam mais ricos, mediante o recebimento de juros e os pobres mais pobres,
graças ao pagamento deles.

Além dos grandes bancos, a empresa multinacional General Motors representa um dos
monopólios americanos que, mesmo mantendo altos lucros, demite os operários, a fim de
minimizar os gastos e entra em crise mercadológica, pois os carros japoneses e alemães, após a
recuperação das suas industrias no pós-guerra, entram no mercado, atendendo os novos
interesses do consumidor. Graças a isso, inicialmente, o alto índice de demissão segura o
prejuízo da crise, porém ao se agravar, a necessidade de empréstimo do tesouro se torna vital.

Apesar da inúmera sordidez americana no contexto social e econômico, a imoralidade


contamina o poder judiciário, exemplificado pelo juiz Mark Ciavarella. Este incentivou a
mudança do centro de detenção para menores infratores do capital público para o capital
privado, desviando milhões de dólares na construção de PA child care. Além do desvio durante
a construção, o juiz condenava diversos menores infratores, seja por ter brigado com um colega
na escola, seja por assassinato, para aumentar a população dentro do centro de detenção. Os
julgamentos duravam cerca de minutos, comprovando que para o juiz tempo é dinheiro, já que
quanto mais menores infratores ele condenasse em menos tempo, mais dinheiro ele teria. Diante
disso, evidencia-se a generalização da individualidade e da extrema ganância americana
contaminando esferas além de Wall Street.

Perante a análise do exposto, os EUA constroem-se como um país que permite tudo em
nome da manutenção do seu caso de amor e felicidade com o capitalismo. No entanto, essa
felicidade não é realidade quando o trabalho do cidadão americano é ser piloto. As companhias
aéreas privadas exploraram os pilotos com jornadas de trabalho excessivas e com baixos
salários, obrigando, muitas vezes, o piloto a ter um emprego extra para possibilitar o sustento.
Além da exploração dos pilotos, muitas empresas exploram os seus funcionários, mesmo após
a sua morte, lucrando com ela através do contrato da apólice do seguro de vida, mais conhecido
como ‘seguro do camponês morto’, um exemplo dessas empresas exploradoras é o Walmart.
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Portanto, quanto será que vale a força de trabalho para o capitalismo? E a vida? Será que é mais
viável a vida do povo americano ou a manutenção da boa relação no caso de amor com o
capitalismo? Para os grandes capitalistas, a resposta é evidente e, contanto que eles aumentem
o lucro, a manutenção da boa qualidade de vida para o povo é um luxo e, já para o capital
privado, a vida, ou até mesmo a morte, é um lucro.

Ao analisar o aspecto religioso, o capitalismo é visto como um pecado, pois é injusto e


contrário às pregações de Jesus. Além disso, o ideal sistema socioeconômico americano é fruto
do marketing, este é fielmente representado pela série americana Mad Men1 . E, sem dúvidas,
Jesus jamais adotaria Wall Street como seu lugar sagrado, pois a individualidade, a ganância e
a exploração jamais estariam presentes num ambiente puro e virtuoso. Portanto, o Estados
Unidos é construído pela ilusão e detrás dos outdoors e das propagandas, só resta a corrupção
e a desigualdade, e a utopia de maior democracia do mundo é um sonho hollywoodiano que o
mundo todo acredita, exceto as vítimas americanas do capitalismo selvagem.

A Constituição Americana assinada em 1787 tem por finalidade a justiça, o bem-estar


social, a tranquilidade doméstica e a defesa comum, visando a formação de uma unidade
perfeita entre os americanos. No entanto, a realidade norte-americana destoa dos princípios
constitucionais. Caso ocorresse a prática desses princípios no ambiente de trabalho, todos os
funcionários seriam amigos, pois todos seriam iguais, receberiam salários equivalentes e a
ganância seria drasticamente reduzida ou, até mesmo, erradicada porque seria ilógico o aumento
do seu salário para diminuir o de um amigo. A partir disso, a justiça no trabalho seria efetivada
e os americanos poderiam até sonhar com uma democracia firme, generalizada e concreta.

Dentre as 10 melhores faculdades do mundo, cinco são norte-americanas2,


comprovando a formação superior de excelência americana. Assim, diversos estudantes geniais
são encontrados diariamente nas universidades norte-americanas. Porém, a quem serve o
conhecimento? No mundo do feroz capitalismo americano, o conhecimento dos estudantes
americanos, sem dúvidas, serve à Wall Street e aos bancos. Ao sair da faculdade, os americanos
visam a compra de uma casa própria, porém como os preços são altos, o financiamento torna-
se mais viável, então para quê trabalhar para a comunidade, se você pode trabalhar para o banco
que deve? A partir disso, a formação profissional estadunidense é direcionada aos negócios e

1
Sinopse disponível em: http://www.minhaserie.com.br/serie/223-mad-men
2
Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/melhores-faculdades/ranking-elege-as-10-
melhores-universidades-do-mundo/ Acesso em: 10 de Junho de 2018
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não a comunidade. Os grandes matemáticos optam por desenvolverem derivadas complexas
para a previsão de apostas na bolsa de valores a desenvolver projetos que favoreçam a
comunidade como, por exemplo, a democratização da educação financeira.

A crise do capitalismo de 2008 representou a autodestruição do sistema com queda das


ações e a falência de inúmeras empresas. Assim, para reparar a imensa perda de Wall Street e
manter os ricos, um acordo no Congresso foi votado para retirar 700 milhões do tesouro
americano e dá-los aos empresários de Wall Street. Porém, apesar de legalmente o Congresso
representar o povo americano, na prática os ricos dominam grande parte dos votos, assim, uma
votação que permitiria o fim de parte da corrupção no solo estadunidense, os bancos a
transformaram em uma votação a seu favor, aprovando a doação e negando o interesse do povo
americano.

Portanto, o povo americano incentivado a hipotecar seus imóveis, durante a crise foram
vítimas dos bancos, pois, diante do contexto de crise, há constante queda no consumo, logo, há
queda dos lucros, assim, para manter o rendimento da empresa o corte de gastos é inevitável e
o período de demissões inicia-se, desencadeando o ciclo perverso da crise capitalista. Diante
disso, o pagamento de juros dos empréstimos ao banco torna-se impossível e os americanos são
obrigados a deixarem suas casas. Graças a isso, o sentimento de revolta domina o povo
americano e a mudança vê-se necessária e esse transformação possui nome: Obama. A luta por
um direito que constitucionalmente já era do povo americano não fazia mais sentido, a ruptura
com o antigo ordenamento social e econômico era mais que essencial.

Em 2008, Obama é eleito e é dado adeus ao Estados Unidos velho, pois, a partir de
agora, a satisfação econômica do povo, será a dos ricos também. Antes, o povo era renegado,
apenas Wall Street recebia o apoio do governo Bush, Obama rompe com essa lógica americana
e os americanos, finalmente, são reconhecidos e representados pelo seu governo.

Durante o governo de Roosevelt, os direitos à casa, saúde, proteção contra a insegurança


econômica na velhice, educação e inúmeros direitos fundamentais foram constitucionalizados,
pois, para ele, para haver paz no mundo deveria haver paz em casa, ou seja, nos Estados Unidos.
Após a segunda guerra mundial, os países derrotados desenvolveram o Estado de bem-estar
social, este garantia o direito de igualdade para as mulheres, de sindicatos e, também, a livre
intervenção do Estado para a união do bem-estar geral. No entanto, nos países europeus e no
Japão esse Estado foi efetivado, já no solo estadunidense o único bem-estar que têm prevalecido

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é o dos ricos. Assim, com a eleição de Obama, o Estado de bem-estar social pode ser finalmente
concretizado no solo norte-americano.

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