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A vida do “caboclo”

Apesar de uma reduzida quantidade, ainda há homens que vivem de modo simples,
onde sua maior riqueza é a terra, estes levam como herança a mão calejada do árduo
trabalho da roça. Levam consigo todo um conhecimento popular, informações as vezes
muito mais preciosas que lições de escola. Talvez no mundo de hoje isso seja
considerado precário mas dentre tantos que andam de terno e palito, quase sempre
estressados, verdadeiros prisioneiros do dinheiro não sabem que a riqueza está no que
vem da terra na ligação homem-natureza.

Um "dedo de prosa"
Nas casas simples, pintadas em azul celeste, rosa, amarelinho, decoradas com fuxicos,
toalhas de crochê e colchas de retalho, todos têm direito a um "dedo de prosa" para
ouvir um "causo", passar as horas na janela, sentar na soleira da porta, pitar um cigarro
de palha, feito com fumo de rolo picado.

O "Caboclo"

Aspecto de homem rude, olhar amargo, sempre cabisbaixo, pele toda enrugada, onde
algumas rugas demonstram que os anos já lhe pesam. Tem os antebraços queimados
pelo Sol. As suas mãos são escuras, de um encardido feito pelo amanho da terra cujas
unhas estão pretas por a terra teimar em não sair delas. Algumas partidas, por causa dos
dedos andarem sempre a mexer na terra escura. Quando as outras teimam em crescer
usa logo o canivete para as cortar. Dos seus pés, um odor horrível. Não por falta de
higiene, mas porque tanto no Inverno como no Verão usa botins de borracha que
protegem a base do corpo do frio e da lama; que lhe faz companhia quando cava a terra
que ele alimenta, mas cuja terra lhe serve de sustento; durante a época quente esconde-
lhe os pés do pó da terra e das espetadelas de caules secos e bicudos ou da lama que
teima em agarrar-se aos pés quando rega a terra que reclama por água quando está
ressequida.
O domingo é o único dia que apenas avista a sua terra de longe, que lhe sente o cheiro,
que ouve o seu chamamento mas que não lhe responde. É neste dia que de manhã vai ao
templo falar com quem acredita e lhe deixa ver o nascer do Sol ou que lhe diz que em
cada dia que vê o Pôr-do-sol é mais um curto passo que dá para a morte. De tarde vai à
taberna da esquina jogar algumas partidas de dominó para ao mesmo tempo saber do
que aconteceu na região.
Cultura
O caipira formou sua cultura com uma mistura indígena e européia. Herdou a
religiosidade dos portugueses, a familiaridade com o mato, a arte das ervas e o ritmo do
bate-pé com os índios. Mas sempre se podem encontrar alguns elementos africanos nos
mitos e nos ritos do homem do interior.

A autêntica música caipira, a "moda de viola", na voz dos violeiros, retratava a vida do
homem no campo, a lida na roça, o contato com a natureza, a melancolia e a solidão do
caboclo. Mais tarde, com a influência da guarânia paraguaia e do bolero mexicano,
começou a ser transformar e hoje, misturado ao estilo "country" norte-americano, a
chamada música sertaneja guarda pouco de suas origens. Inesita Barroso é uma cantora
e estudiosa da música sertaneja original, que ela e outros estudiosos e músicos preferem
chamar de música de raiz.

Globalização
A “Globalização” em si, muito mal tem feito a cultura “caipira”. Até pelo Interior mais
interior e pelos recantos mais recônditos; até pelos confins mais esquecidos e pelas
terrinhas mais modestas – se está a perder a cultura rural, no sentido do positivo apego à
terra, dos valores e saberes mais ancestrais, passados de geração em geração; do sentido
mais prático do quotidiano e da sua realização, que a vida em maior contacto com o
campo e as culturas propícia.
De fato, até onde menos se esperaria, os novos modelos e as culturas mais urbanas,
sobrepõem-se e estão a dominar maciçamente as novas gerações. Até pelo campo fora!
Nada de mal quanto a isso, no que de positivo trazem e de bom promovem e
transmitem; mas quando se apodera e ocupa o lugar, do que de mais positivo havia nos
valores mais rurais, tradicionais, campestres, puros e sadios – será toda uma cultura, que
se está a condenar a uma morte mais que rápida.

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