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RESUMO:
Ainda na presente data, existem muitas comunidades em vários países que ainda não
estão conectadas à Internet devido a falta de uma infraestrutura própria de
telecomunicações. Este cenário ainda prevalece na região Amazônica, principalmente
nas comunidades que habitam nas beiras dos rios, conhecidas como comunidades
ribeirinhas. Soluções baseadas em comunicações via satélite são extremamente caras, de
forma que os custos mensais da mesma são equiparados com os custos para se manter
uma pequena escola nestas regiões. Devido à baixa densidade populacional, as grandes
empresas de telecomunicações não estão interessadas em investir na região. Uma forma
que apresentamos neste artigo para resolver o problema é utilizar NasHs (Navios de
Assistência Hospitalar) da Marinha do Brasil como um meio de transportar informações
e assim fornecer para essas comunidades ribeirinhas um meio de acesso a quaisquer
tipos de dados que necessitem da Internet, através de um tipo específico de rede, chamado
de DTN (Delay Tolerant Network), que possui como grande características suportar
grandes períodos de atraso e funcionar em ambientes com conectividade intermitente que
são característicos da região Amazônica.
INTRODUÇÃO
1
Aluno do Curso de Aperfeiçoamento em Eletrônica/2019. Turma: CA-HE. Trabalho de Conclusão de
Curso. Orientador: Professor Julio Ho, Centro de Instrução Almirante Wandenkolk.
como redes sem fios, popularmente conhecidas como Wi-Fi 2, redes cabeadas, entre outros
meios de acesso.
2
ALLIANCE, Wi-fi. Who we are. Disponível em: <https://www.wi-fi.org/who-we-are>. Acesso em: 15
mar. 2019.
3
Disponível em: < https://www.cps.fgv.br/cps/telefonica/>. Acesso em: 15 mar. 2019.
De acordo com Machado (2016), na região amazônica, existem cerca de 37 mil
comunidades indígenas, ribeirinhas e remanescentes, que vivem em condições precárias
onde o acesso terrestre é arriscado e diversas vezes impossível, restando apenas como
alternativa o transporte por meio de barcos ou por via aérea.
Dentro dos mais dos 22 mil quilômetros de vias navegáveis da região, Nogueira
(2016) nos diz que o acesso à serviços básicos, como por exemplo o acesso à hospitais
públicos, é praticamente inexistente. Tal ausência de apoio do poder público sobre a
região trouxe para a MB (Marinha do Brasil) a tarefa de prestar auxílio para os seus
habitantes. A MB delegou a responsabilidade sob essa tarefa para o ComFlotAM
(Comando da Flotilha do Amazonas), OM (Organização Militar) que tem como OM
subordinadas os meios navais que realizam Patrulha Naval e Assistência Hospitalar na
área de jurisdição do 9º Distrito Naval, localizado em Manaus no estado do Amazonas
(NOGUEIRA, 2016).
4
Amazônia Banda Larga. Disponível em: < http://www.bandalarga.net/planos/>. Acesso em: 15 mar.
2019.
O objetivo deste artigo é mostrar como que através de Redes DTN podemos
utilizar navios da MB para auxiliar no transporte de dados e assim, prover acesso à
Internet para comunidades ribeirinhas em áreas remotas da Bacia Amazônica, fato este
que pode trazer diversos benefícios para a saúde pública, segurança e bem-estar dos
habitantes da região.
Sem o TCP, grande parte das aplicações da Internet que usamos no nosso dia a
dia, como por exemplo websites, e-mail, streaming de música, seriam impossíveis. O TCP
e o IP complementam um ao outro, porém diferente do IP, segundo Forouzan (2009), o
TCP é orientado a conexão, o que significa que requer o estabelecimento de uma conexão
entre os hosts antes dos dados serem entregues. A característica positiva do TCP é a
confiança na entrega, pois a conexão garante que os dados serão enviados e recebidos em
uma ordem pré-definida. A característica negativa, entretanto, é que grande parte das
aplicações que confiam nessa transmissão ordenada de dados, não funcionam em uma
situação em que não é possível estabelecer uma conexão entre transmissor e receptor no
momento da transmissão. O TCP foi projetado para funcionar independentemente da
infra-estrutura utilizada, podendo se comunicar por meio de diversos meios, como por
exemplo: fibra ótica, cabo coaxial, entre outros em que o protocolo IP opera.
Como mostrado na figura 2, podemos dividir a operação do TCP em três fases: o
estabelecimento da conexão, transferência de dados e desconexão. Primeiramente para
estabelecermos uma conexão deve ocorrer a troca de três mensagens (three-way
handshake) (FOROUZAN, 2009). A seguir, a transferência de dados se inicia, onde a boa
taxa de recepção de dados pelo destino é sinalizada por reconhecimentos positivos que de
acordo com Forouzan (2009) são os acknowledgments, representados por ACK na Figura
2. O encerramento de uma conexão TCP ocorre com a troca de quatro mensagens. Vendo
o funcionamento de toda a estrutura, fica evidente que para que o TCP opere normalmente
é necessário que exista um caminho ponta-a-ponta entre a fonte e o destino durante todo
o período correspondente à sessão de comunicação, além de uma baixa taxa de erros e
atrasos relativamente pequenos (FALL, 2003).
Por meio dessa explicação, podemos ver que a Internet com os protocolos que
utilizamos encontraria grande dificuldade para funcionar em ambientes característicos da
região amazônica, com grandes atrasos nas transferências de pacotes, além da dificuldade
de conectividade devido as características propícias do ambiente, como por exemplo as
grandes distâncias, florestas densas, rios, entre outros. Logo, tendo como objetivo a
criação de uma rede que pudesse suportar essas características é que surgiram as Redes
DTN.
Segundo Zhang (2006), Redes DTN são redes sem fio onde desconexões são tão
frequentes que na maioria do tempo não existe um caminho completo entre uma origem
e um destino. Entre as principais razões citadas para as desconexões, temos a mobilidade
dos nodos e a operação em ambientes hostis. Assim como as redes Internet, as redes DTN
também tem seus protocolos específicos de roteamento para enviar dados através de uma
rede cujos componentes estão constantemente perdendo a conexão um com o outro
(WARTHMAN, 2003). A principal diferença que podemos observar entre as duas redes
é o fato de redes DTN utilizarem um componente de memória, de tal forma que os nós de
rede são capazes de armazenar dados por uma quantidade aleatória de tempo, podendo
ser da ordem de horas ou até dias, enquanto os nós da Internet apenas retransmitem os
dados, sendo todos os recursos de armazenamento dos mesmo concentrados nos pontos
finais de conexão.
A DTN, utiliza dos nós para a transmissão de dados, pode-se definir um nó como
uma unidade capaz de receber, armazenar e enviar o pacote, o modelo de envio dos nós é
denominado store-and-forward como explicado por Warthman (2003), sendo um
protocolo que garante a entrega das mensagens e mantem a comunicação. Desta maneira
diferente das redes IP onde a operação “store-and-foward”, espera-se que o “store” dure
apenas um breve período, nas redes DTN o nó é capaz de armazenar (discos rídigos,
memória flash, etc.) por um tempo determinado os dados, permitindo a integridade da
mensagem mesmo que o sistema caia ou reinicie, como ilustrado na Figura 3.
Como muitas das vezes os únicos acessos para essas comunidades carentes são
pelo meio fluvial, para a realização das ACISO e das ASSHOP são utilizados Navios de
Assistência Hospitalar (NAsH), que segundo Machado (2016), é um tipo de navio
operado pela MB que pode ser especialmente projetado, construído ou eventualmente
adaptado para as funções de hospital flutuante. Entre os navios que estão subordinados
ao ComFlotAM que operam na área do 9º Distrito Naval, temos os NAsH Oswaldo Cruz
(U18) e Carlos Chagas (U19) foram construídos com recursos do Ministério da Saúde.
Os NAsH Dr. Montenegro (U16) e Soares Meirelles (U21), antes de serem adquiridos
pela MB, tinham emprego civil em atividades de turismo e pesca amadora. Todos
desenvolvem atividades médicas, odontológicas e sanitárias por meio da Assistência
Hospitalar à População Ribeirinha, desde o final da década de 1970 (MACHADO, 2016).
5
Relatório de Gestão do Exercício do Ano de 2017. Disponível em:
<https://www.marinha.mil.br/sites/default/files/relatoriogestao2017.pdf >. Acesso em: 15 mar. 2019.
NAsH AUXILIANDO NO TRANSPORTE DE DADOS
Data Mule que é um caso especial de redes DTN, é um acrônimo para (Mobile
Ubiquitous LAN Extension) de acordo com Shah, Roy e Jain (2003). Este termo tem sido
bastante utilizado em DTNs e os autores assumiram o termo “mula de dados” para indicar
a sua tradução. Seu conceito está relacionado a veículos que carregam, fisicamente, um
computador com um dispositivo de armazenamento e um módulo de telecomunicações
limitado (normalmente Wi-fi) entre áreas remotas com o objetivo de criar um enlace de
comunicação de dados eficiente (SHAH; ROY; JAIN, 2003).
Figura 4 - NAsH Oswaldo Cruz (U-18) transmitindo dados para comunidades ribeirinhas.
A First Mile Solutions, como podemos ver em FMS (2007), também trabalho com
o objetivo de prover acesso à Internet em áreas remotas não atendidas pelo serviço de
Internet. As mulas de dados, aqui chamadas de pontos de acesso móveis, são ônibus,
motos ou barcos que são responsáveis pelo transporte físico dos dados entre quiosques
das vilas e os grandes centros.
Pelas características do ambiente, neste tipo de rede DTN os nós não possuem
nenhuma informação sobre o estado da rede, o que impossibilita o cálculo das melhores
rotas. Nesse caso, o algoritmo mais simples é replicar para todos os vizinhos a mensagem,
confiando na mobilidade dos nós para disseminar as mensagens em direção ao
destinatário. Para realizar essas transferências de dados, os navios irão utilizar a bordo
equipamentos que estejam configurados com os protocolos de roteamento das redes DTN,
que são dos mais diversos tipos, sendo um deles o roteamento epidêmico (LE;
SCHOLTEN; HAVINGA, 2012).
Ele é chamado desta forma pois o modo que as mensagens se propagam são como
em doenças transmissíveis que de acordo com Le, Scholten e Havinga (2012), funcionará
da seguinte forma: Quando o navio entrar no alcance dos roteadores instalados nas
comunidades, eles enviarão um sumário ao roteador do navio que identifica quais
arquivos eles contém. O roteador do navio então envia para os roteadores das
comunidades quaisquer pacotes de informação que ele tenha e que os das comunidades
não tenha. Isso acontece em ambas as direções sempre que os navios entrarem no alcance
dos roteadores instalados nas comunidades ribeirinhas (CHRISTIAN; MOH; OEY,
2013).
Através desse protocolo podemos ter uma garantia de entrega de mensagem até
mesmo quando não existe um caminho totalmente conectado entre a fonte e o destino.
Assim, esse protocolo pressupões que um nó fonte não conhece onde o nó de destino está
localizado e nem mesmo sabe qual a melhor rota para alcança-lo. A ideia é que a
mobilidade dos nós na rede possibilite que eles entrem no alcance da transmissão uns dos
outros periodicamente e, o mais importante, de maneira aleatória. Logo, a mobilidade dos
nós, sendo no caso deste estudo o nó móvel um NAsH trafegando no rio, é utilizada como
solução para entrega de mensagens, ao invés de ser tratada como um problema que precisa
ser superado na rede (CHRISTIAN; MOH; OEY, 2013).
Para que redes DTN possam ser usadas por meios da MB, no nosso caso utilizando
NAsH como mula de dados, primeiramente é necessário que haja uma homologação pelo
órgão de TI (Tecnologia da Informação) encarregado, que no caso da MB é a DCTIM
(Diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha). Segundo a
publicação que trata a respeito da Doutrina da Tecnologia da Informação da Marinha, a
EMA-416, podemos definir homologação como sendo:
Após essa homologação pelo órgão responsável, devemos ter em mente que a MB
exige que todas as suas comunicações sigam requisitos básicos de SID (Segurança da
Informação Digital), que segundo a DGMM-540 são eles:
a) sigilo: capacidade da informação digital somente ser acessada por alguém
autorizado;
b) autenticidade: capacidade da origem da informação digital ser aquela
identificada;
c) integridade: capacidade da informação digital somente ser modificada por
alguém autorizado; e
d) disponibilidade: capacidade da informação digital estar disponível para
alguém autorizado a acessá-la no momento próprio. (DGMM-540 REV1, p.8-
1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como explicitado no artigo, usar NAsHs como mula de dados pode ser uma
alternativa barata de se estabelecer comunicações em áreas pobres, que são difíceis de
alcançar com uma estrutura de rede convencional, como é o caso das comunidades
ribeirinhas na região amazônica. Essa solução não depende de empresas de
telecomunicações e tem um amplo número de potenciais usos. A forma de enviar os dados
que foi descrita neste artigo tem propósitos gerais: e-mail, multimídia, dados simples,
além de outras informações que podem ser transmitidas.
REFERÊNCIAS
CERF, Vinton G.; KAHN, Robert E.. A Protocol for Packet Network
Intercommunication. In: AL-DHAHIR, Naofal. IEEE Transactions on
Communications. Texas: Naofal Al-dhahir, 1974. p. 637-648. Disponível em:
<https://www.cs.princeton.edu/courses/archive/fall06/cos561/papers/cerf74.pdf>.
Acesso em: 15 mar. 2019.
CHRISTIAN, Ivan; MOH, Sangman; OEY, Christian H. W.. A Simple Temporal Node
Mobility Model for Performance Analysis in Delay Tolerant Networks. 2013.
Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/276011243_A_Simple_Temporal_Node_Mo
bility_Model_for_Performance_Analysis_in_Delay_Tolerant_Networks>. Acesso em:
15 mar. 2019.
COURIER, Wizzy Digital. Projeto Wizzy Digital Courier. 2007. Disponível em:
<http://www.wizzy.org.za>. Acesso em: 15 mar. 2019.
FOROUZAN, Behrouz A.. Protocolo Tcp/ip. Porto Alegre: Amgh Editora, 2009.
SHAH, R.c.; ROY, S.; JAIN, S.. Data MULEs: modeling a three-tier architecture for
sparse sensor networks. 2003. Disponível em:
<https://ieeexplore.ieee.org/document/1203354/authors>. Acesso em: 15 mar. 2019.