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COMPETÊNCIAS INTRÍNSECAS AO TUTOR DE EAD SEGUNDO A LITERATURA

ESPECIALIZADA
INTRINSIC COMPETENCES OF THE DISTANCE LEARNING TUTOR ACCORDING TO SPECIALIZED
LITERATURE

Igor Leite Sousa (igorllsousa@gmail.com)


SME - SP
Grupo Temático 1.
Subgrupo 1.2

Resumo:
Este artigo tem como objetivo elencar quais são as competências intrínsecas ao
tutor de Educação a Distância (EaD) segundo a literatura especializada. Também
se propõe a promover uma breve discussão sobre o histórico da Educação a
Distância, o avanço da EaD no Brasil, e sobre quais são as diferenças entre a
atuação do tutor e a do professor, visto que ambas são frequentemente
confundidas. Para tanto, recorreu-se a Macedo (2005), Brasil (2007), Konrath et
al (2009), Schlosser (2010), Brasileiro e Brasileiro (2019), entre outros. Ao final da
pesquisa, foi possível concluir que, apesar do profissional tutor situar-se num
contexto tecnológico muito recente, e, portanto, ainda em desenvolvimento,
teóricos são unânimes ao afirmar que o domínio do conteúdo específico, das
mídias de comunicação, e de fundamentos da EaD, são essenciais para o
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, e que a autonomia da
organização de cada polo de educação à distância reflete nos papeis
desempenhados por professores e tutores.
Palavras-chave: tutoria, ensino-aprendizagem, competências.

Abstract:
This article aims to list what are the intrinsic competences of the distance
learning tutor according to the specialized literature. I also propose a brief
discussion on the history of Distance Education, the evolution of distance
education in Brazil, and on what are the differences between the role of the tutor
and the role of the teacher, since both are frequently confused. To do that, I
relied Macedo (2005), Brasil (2007), Konrath et al (2009), Schlosser (2010),
Brasileiro e Brasileiro (2019), among others. At the end of the research, it was
possible to conclude that, in spite of the professional tutor being situated in a
very recent technological context, and, therefore, still in development, theorists 1
are unanimous in affirming that the appropriation of the specific content, the
communication media, and the fundamentals of distance learning are essential
for the development of the teaching-learning process, and that the autonomy of
the organization of each distance learning pole reflects in the roles played by
teachers and tutors.
Keywords: tutoring, teaching-learning, competences.
1. Introdução
O debate sobre o que vem a ser competência já é bastante comum no cenário
educacional brasileiro. Basicamente, podemos entender competência como a capacidade de
executar uma tarefa com determinado grau de complexibilidade. Dirigir, por exemplo, é uma
competência que exige a habilidade de manusear o volante, os pedais, conhecer as regras de
trânsito, se atentar aos pedestres, aos outros carros etc. Porém, conforme aponta Macedo
(2005), é errôneo associar o termo competência a um compilado de habilidades, pois
habilidades são conjuntos de possibilidades, repertórios que expressam nossas múltiplas,
desejadas e esperadas conquistas. Competência é o modo como fazemos convergir nossas
necessidades e articulamos nossas habilidades em favor de um objetivo ou solução de um
problema, que se expressa num desafio, não redutível às habilidades, nem às contingências
em que uma certa competência é requerida. (MACEDO, p. 11, 2005).
Para o professor livre-docente pela Universidade de São Paulo, ser competente é ser
capaz de solucionar problemas que representam necessidades no espaço social. Para Mary
Lúcia Konrath, Liane Margarida Tarouco e Patrícia Behar, pesquisadoras da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e que também escreveram sobre competências do tutor no
cenário EaD, em 2009, ser competente significa ser apto a “julgar, avaliar e ponderar para
solucionar problemas ou decidir entre opções” (p.6). Nesse sentido, é preciso pensar em
como se constroem as competências do tutor EaD num cenário de vasta expansão em
quantidade, mas não em qualidade. Quais são as competências que caracterizam este
profissional?
As próximas páginas, redigidas a partir de uma perspectiva qualitativa e ancorada em
referências bibliográficas da área de educação, se dedicam à tentativa de responder à
pergunta acima. Assim, o desenvolvimento desta pesquisa é organizado em três partes: na
primeira, o foco recai sobre o contexto histórico da EaD e o seu estado no Brasil; na segunda,
apresenta-se uma breve diferenciação entre o papel do tutor e o do professor, e, adiante,
procurou-se elencar as competências intrínsecas aos membros da tutoria.

2. Breve Histórico da EaD e Seu Avanço no Brasil


É impressionante observar como a tecnologia está sempre aproximando as pessoas,
de várias maneiras... temos os dispositivos de áudio e vídeo que são capazes de conectar
países que sequer existiam a um século atrás; no que diz respeito ao transporte, atravessar
continentes em poucas horas seria algo inimaginável durante a época da revolução
industrial. Até a gastronomia vem sendo verdadeiramente revolucionada com o advento de
aparelhos e aquecem e resfriam alimentos em tempo recorde. E na educação, o uso de
tecnologia e mídias diversas vem se estabelecendo como uma realidade cada vez mais
frequente, apesar das problemáticas de acesso e de desigualdades entre as regiões. 2
Atualmente, é muito comum encontrar iniciativas de educação a distância espalhadas
pelo Brasil. Conhecida popularmente como EaD, sua origem e desenvolvimento já fora
investigada por vários pesquisadores e pesquisadoras, dentre as quais indico Ana Amélia
Brasileiro e Cristiane Brasileiro, professoras da Universidade Federal Fluminense, que, num
curso de extensão sobre Tutoria em EaD, que cursei em meados de 2019, explicaram que a
linha histórica da educação a distância pode ser dividida em cinco gerações, cujos aspectos
pretendeu-se resumir no quadro abaixo:
Ordem Período histórico Características
numérica
Os primeiros registros datam 1728, Marcada pelo ensino por
1ª na cidade de Boston (EUA). O correspondência, com textos impressos
geração aprendizado dos alunos era enviados pelos correios às casas das
autoavaliado. pessoas.
Estima-se que ocorreu no início do Marcada pelo surgimento e
século XX, pois é difícil precisar popularização do rádio e da televisão.
2ª historicamente. Foi muito comum na Primeira geração multimídia,
geração Europa e no Estados Unidos, onde a caracterizou-se pela pouca interação
televisão era de fácil acesso. entre professores e alunos, exceto por
raros contatos telefônicos ou por
correspondência.
Aproximadamente 1969, com a Conhecida como geração das
British Open University, na universidades abertas, nasceu a partir da
Inglaterra. Alemanha e Espanha necessidade de países europeus
também assumiram posição de industrializados capacitarem suas massas
3ª liderança, já que o governo operárias. Contou com recursos como
geração precisava qualificar muita mão de audiotapes gravados, transmissão por
obra em pouco tempo. rádio e televisão, kits de estudo
entregues em casa e conferências por
telefone.

Anos 70, 80, 90. O padrão mais Primeira geração que fez uso da internet,
individualista das correspondências caracterizou-se pelo uso de
foi totalmente superado por meio teleconferências por meio de
4ª da internet, que ainda não estava computadores e recursos de áudio e
geração tão desenvolvida e acessível como vídeo. As correções dos professores se
está agora. davam de modo síncrono (em tempo
real) ou posteriormente.
Contemporaneidade. Apesar de Aulas virtuais online na internet.
5ª popular, sofre preconceito oriundo Interatividade sem precedentes, com
geração de pessoas que não conhecem a amplo acesso geográfico e custos cada
fundo outros modelos além do vez mais otimizados.
presencial.
Fonte: autoria própria, com base em Brasileiro e Brasileiro, 2019, p. 5 - 8.
3
Obviamente, o Brasil também é palco dessa verdadeira revolução tecnológica a
serviço da educação a distância. Em dias hodiernos, diversos alunos e alunas realizam o
sonho do diploma universitário por meio do estudo com computadores e recursos afins.
Ainda de acordo com as autoras anteriormente citadas:
para termos a dimensão mais detalhada da expansão da EaD no Brasil,
entre os anos de 2003 a 2013, o número de alunos ingressantes no ensino
superior (nas modalidades presencial e a distância) passou de cerca de 1,5
milhões de alunos em 2003, para aproximadamente 3,11 milhões em 2014,
segundo dados INEP. Nessa curva de crescimento geral dos ingressantes no
ensino superior, para ingressantes na modalidade a distância, havia um
número próximo de zero em 2003. Em 2014, no entanto, os ingressantes no
ensino superior a distância já somou 727.738 alunos, 23,4% dos
ingressantes totais no ensino superior daquele ano (3.110.848 alunos). Ou
seja, de 10 alunos que entraram numa graduação em 2014, 2,3 optaram
pelo ensino a distância. (BRASILEIRO e BRASILEIRO, 2019, p. 10).
É também propício comentar como a EaD, além de gerar empregos e movimentar o
capital da iniciativa privada, foi incorporada a políticas governamentais para a expansão do
ensino superior, especialmente no governo Lula, com a criação da UAB - Universidade
Aberta do Brasil. Trata-se de um sistema de educação superior que oferece cursos de
graduação e pós lato-sensu na modalidade a distância, com polos presenciais em
universidades públicas e em prédios públicos, como no caso dos CÉUs1 da prefeitura de São
Paulo.
Sendo pública ou privada, não é possível negar o crescimento das instituições de
educação superior a distância no país. Isto posto, pesquisar como se dão os processos
formativos em tais espaços pode ajudar para que o crescimento físico também seja
acompanhado pelo crescimento da qualidade. Para tanto, este artigo foca na figura no tutor,
sem antes diferenciá-lo de outro profissional muito importante: o professor.

3. Tutor X Professor
Para quem está começando a conhecer as características estruturais da educação a
distância, deve ser complicado entender qual é o papel do tutor sem vê-lo como um
sinônimo de professor, uma vez que é muito mais fácil encontrar semelhanças do que
diferenças entre o trabalho de ambos. Tanto o tutor quanto o professor, expressam
comprometimento com a aprendizagem dos alunos e, dentro do contexto EaD, assumem
funções que objetivam o amparo do discente. Contudo, a empreitada de demarcar o que
cada um faz cada um não é nova. Diversos autores já se debruçaram sobre a questão, cuja
resposta pode, inclusive, ser encontrada num documento oficial, como é caso dos
Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (RQESD).
Elaborado em 2007 pelo Ministério da Educação (MEC), e nascido a partir de
resultados dos procedimentos avaliativos realizados pelo mesmo órgão em múltiplos
programas de educação a distância em andamento no país, trata-se de um texto que,
embora não tenha força de lei, serve para "subsidiar atos legais do poder público no que se
referem aos processos específicos de regulação, supervisão e avaliação da EaD" (BRASIL,
2007, p. 2). 4
No que diz respeito às atribuições dos docentes, os RQESD apresentam a
obrigatoriedade de estabelecer os fundamentos teóricos das disciplinas, preparar o

1
Centro Escolar Unificado. Conglomerado educacional público e gratuito administrado pela
Prefeitura de São Paulo. Comporta alunos da educação infantil ao ensino fundamental nível I e II,
além de desenvolver diversos projetos artísticos e esportivos.
conteúdo, definir a bibliografia, os objetivos, o material didático, bem como realizar a gestão
acadêmica do processo de ensino-aprendizagem e avaliar a si próprio continuamente
enquanto profissional. Para o tutor, por outro lado, o que compete é:
o esclarecimento de dúvidas através fóruns de discussão pela internet, pelo
telefone, participação em videoconferências, entre outros, de acordo com o
projeto pedagógico. [...] Também tem também a responsabilidade de
promover espaços de construção coletiva de conhecimento, selecionar
material de apoio e sustentação teórica aos conteúdos e, frequentemente,
faz parte de suas atribuições participar dos processos avaliativos de ensino-
aprendizagem, junto com os docentes. (BRASIL, 2007, p. 21).
Vale comentar que as funções citadas acima são intercambiáveis entre professor e
tutor, dependendo de como está estruturado o programa de educação a distância de cada
instituição. Programa este que, apesar de ter como foco a educação virtual, deve também
contar com um tutor presencial, responsável por orientar os estudantes nos polos em
horários pré-estabelecidos, além de conhecer todo o projeto pedagógico e o conteúdo
específico de sua área, agindo como um facilitador da aprendizagem, tal como o professor.
A pesquisadora Rejane Leal Schlosser, da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, escreveu, em 2010, um artigo intitulado A atuação dos tutores nos cursos de
educação a distância, tendo como objetivo ressaltar a importância das incumbências
exercidas pelos membros da tutoria, investigando também a proximidade das funções dos
tutores com as desempenhadas por um professor. Nas considerações finais do trabalho dela,
é possível ler que:
o fato que os difere concentra-se no contexto em que estão inseridos. Na
modalidade a distância, o tutor cumpre um importante papel que dialoga
entre o que o curso e o professor propõem e, como isso se procede na
formação do aluno, também as conquistas e os resultados positivos e
negativos do aluno advêm da participação ativa do tutor. Também
compreendemos, a partir das reflexões de diversos autores, que as funções
de um tutor se enquadram no papel de um orientador acadêmico.
(SCHLOSSER, 2010, p. 9).
Assim, é realmente incontestável a proximidade do professor e do tutor em termos
práticos. Todavia, autores como Brasileiro e Brasileiro (2019), explicam que ambos não se
situam na mesma posição de prestígio, pois o tutor está em desvantagem. No Brasil, a
profissão não consta na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, e não há “uma
associação ou sindicato de tutores, e nem uma legislação trabalhista dedicada a proteger
seus interesses profissionais específicos” (p. 15). Portanto, é comum que as pessoas vejam o
exercício da tutoria apenas como um “bico”, ou seja, uma oportunidade de aumentar o
orçamento sem assumir grande compromisso. Assim, visando impedir que o tutor se torne
uma espécie de quebra-galhos dentro da EaD, é urgente atrair à atenção da sociedade para 5
a importância do profissional tutor, garantindo-lhe o devido respeito.

4. Competências Intrínsecas ao Tutor


Em livros didáticos para professores ou em documentos oficiais de educação, é
comum encontrar listas de competências a serem desenvolvidas pelos alunos durante o
período letivo. Estas competências estão sempre redigidas a partir um verbo no modo
infinitivo, ou seja, terminado em "r", indicando uma ação. Ao pesquisar "competências" no
dicionário Houaiss, uma das definições encontradas é "conjunto de habilidades, saberes,
conhecimentos: entrou na faculdade por competência própria" (HOUAISS, 2020, n.p).
Tal definição dialoga com o que foi apresentado por Macedo (2005) na introdução.
Logo, pensar num conjunto de competências que sejam intrínsecas ao tutor EaD parece
importante para o aprimoramento das condutas de tutoria, tanto que outras pessoas já se
dedicaram a esta proposta. Oliveira et al. (2004, p. 25), ancorado em sólida pesquisa
bibliográfica, aponta seis requisitos como essenciais:
1) possuir clara concepção de aprendizagem;
2) estabelecer relações empáticas com os seus interlocutores;
3) sentir o alternativo;
4) partilhar sentidos;
5) construir uma forte instância de personalização, embora a distância;
6) facilitar a construção do conhecimento.
Para os pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, é preciso também
acompanhar, retroalimentar e avaliar "a constituição da memória do processo de
aprendizagem, a liderança e a mediação de reuniões grupais, e o estabelecimento de redes
de comunicação e informação" (p. 25). É interessante perceber como tais visões se
enquadram dentro de uma perspectiva construtivista de aprendizagem, visto que os
sentidos são valorizados e compartilhados (requisitos 3 e 4), ao invés de simplesmente
transmitidos; Já o conhecimento, é visto como algo construído coletivamente (requisito 6), e
não passado do professor para o aluno, como na educação bancária que Paulo Freire tanto
rejeitava.
Num outro levantando executado por Brasileiro e Brasileiro (2019), ainda mais
características apareceram, das quais, ressaltam-se: estar em contato permanente com os
estudantes, oferecer suportes afetivos e motivacionais, dominar os conteúdos das
disciplinas, dissolver ruídos na comunicação, favorecer discussões entre diferentes pontos
de vista, definir e gerenciar prazos de confecção das tarefas, avaliar, corrigir e valorizar
produções discentes, além de agir como porto seguro do alunado, no sentido de fazê-lo
perceber que as experiências compartidas ao longo do curso resultarão no alcance dos
objetivos de aprendizagem.
As já citadas Konrath et al. (2009), num artigo intitulado Competências: desafios para
alunos, tutores e professores da EaD, deliberam como necessárias todas as competências
elucidadas até aqui, porém, inovam ao propor um esquema de organização capaz de dividi-
las em cinco eixos, os quais apresento a seguir: 6
Eixo cognitivo: Dominar o conteúdo. Saber indicar referências complementares.
Ficar atento às novas literaturas que surgem sobre o assunto abordado.

Eixo técnico: Conhecer as ferramentas utilizadas pelo curso com certo grau de
profundidade. Ter disposição para acompanhar o desenvolvimento de
novos softwares.

Eixo Acompanhar o trabalho pedagógico, dar explicações conforme as dúvidas


pedagógico: forem aparecendo, e incentivar os alunos a não desistir do curso.

Eixo Estabelecer o diálogo entre alunos e alunos e entre alunos e


comunicativo: professores. Incentivar a interação em fóruns e em ambientes afins.

Eixo social: Avaliar os efeitos sociais da comunicação verbal e não verbal na


sala de aula virtual, no sentido de pensar mecanismos que aprimorem a
interação.

Fonte: autoria própria, com base em Konrath et al, p.7, 2009.


Desta forma, as obrigações do tutor são muitas e podem variar significativamente
dependendo da universidade onde ele atua. Contudo, é válido dizer que, independente do
programa, a centralidade estará sempre no desenvolvimento acadêmico do aluno e na
construção coletiva de novos conhecimentos. Para tanto, o tutor dispõe de várias
ferramentas interativas, e, ao usá-las, conforme aponta os autores Allan Degásperi e Lucas
Degásperi, da Universidade Metropolitana de Santos: "deve ser claro, objetivo e preciso em
suas mensagens, porém sem perder a simpatia e demonstrar afeição" (2013, p. 9).
Diante de tantas atribuições, é presumível que o tutor ou o professor se sinta
incapaz. Por isso, é importante que o Projeto Político Pedagógico (PPP) conte com um
quadro amplo de profissionais dispostos a proceder de modo colaborativo, para que uma só
pessoa não assuma demandas em excesso. Desse modo, o tutor/professor consegue dedicar
mais tempo à orientação de alunos, mantendo assim um alto padrão de qualidade no
atendimento.
Infelizmente, a visão mercadológica de foco no lucro acaba fazendo com que diversos
tutores sejam responsáveis por uma quantidade demasiada de estudantes, tanto no âmbito
privado, quanto no público, em que professores são obrigados a acumular bolsas-auxílio de
tutoria com outras ocupações profissionais, para constituir renda ao final do mês. Por
conseguinte, é possível pensar que para que o tutor corresponda as competências que lhe
são esperadas, é necessário também garantir condições para tal.

7
Considerações Finais
Perante o que foi investigado, fica claro que eclosão da EaD no Brasil e no mundo é
um processo ainda em vigência, e que acompanha o desenvolvimento de recursos
audiovisuais que podem e devem ser utilizados para facilitar os processos de ensino-
aprendizagem. Nesse sentido, é imprescindível que o tutor saiba dominar as ferramentas
que faz uso e que também esteja dedicado a conhecer novas tecnologias conforme elas
forem surgindo.
Porém, apesar da grande relação entre educação a distância e modernidade, não se
pode pensar que para ser moderno basta simplesmente usar as Tecnologias da Informação e
da Comunicação (TICs), e nem que todo professor adepto da tradicional sala de aula seja
obsoleto. Fugir deste binarismo é crucial, uma vez que tudo depende da maneira como as
tecnologias são aproveitadas. Portanto, a preocupação com a forma é o que precisa orientar
o trabalho do tutor, pois, segundo Brasileiro e Brasileiro (2019):
como os alunos são apresentados aos conteúdos, como são estimulados à
análise, à problematização e à reflexão pelo material pedagógico produzido
pelo professor-autor e, sobretudo, pela ação do tutor, [é] o que mais
poderosamente conta para a realização do processo de aprendizagem (p.
19).
Este momento histórico de pandemia por COVID-19, por exemplo, está trazendo
desafios significativos a professores e alunos de todo o Brasil, que agora precisam conhecer
a alternativa do trabalho remoto. Ao pensar nas vantagens da EaD, neste contexto, ressalta-
se a gama de recursos que a internet disponibiliza. É possível criar formulários, anexar
arquivos, exibir vídeos... enfim, pode-se até elaborar games educacionais com o auxílio de
softwares especializados. Contudo, tal diversidade implica no desafio do professor estar
disposto a conhecer as inovações que diariamente surgem e de se engajar em formações
virtuais. Com o trabalho presencial, por outro lado, fica mais fácil acompanhar a
aprendizagem dos alunos, já que todos se situam no mesmo espaço e em momento
síncrono. Sabendo que habitamos uma país de profundas desigualdades, o trabalho
presencial em sala de aula acaba atingindo um número maior de estudantes, e, portanto,
acaba sendo preterido, uma vez que muitos alunos não têm acesso à internet.
Apesar dos numerosos esforços de instituições públicas e privadas, o reconhecimento
da EaD como uma alternativa de formação viável ainda não é consensual. Muitos
questionam a qualidade e a aceitação do diploma pelo mercado de trabalho. Ademais, há
dois empecilhos: a baixa disponibilidade de equipamento e de internet em regiões mais
vulneráveis, e a existência das pessoas que são analfabetas virtuais. Para muitos, a
tecnologia ainda é vista como pertencente apenas às gerações mais novas, que aparentam já
nascer com os conhecimentos necessários para utilizá-la. De fato, hoje em dia, as crianças
chegam na educação infantil com aprofundados conhecimentos referentes ao uso de
celulares, tablets e objetos do tipo. Porém, é preciso desmistificar a ideia de que a
tecnologia só é inteligível pelos jovens, para que todos aproveitemos as suas propriedades
com o intuito de melhorar a vida social. Desse modo, assim como o tutor deve sempre
estimular o aluno, é fundamental haver a contrapartida da sociedade, no sentido de
apoiarmos educadores a ingressar na área da tutoria, por meio de salários dignos, boas
8
condições de trabalho e oportunidades de formação continuada. Ademais, é preciso dar
autonomia ao tutor. Se o trabalho dele for pré-formatado e mecânico, sem a espaço para a
reflexão, inviabilizaremos um verdadeiro processo de construção do conhecimento -
processo este fundamental à efetivação da qualidade acadêmica.
Referências Bibliográficas

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire? Coleção Pequenos


Passos, 20º ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.
BRASIL. Ministério da educação. Referenciais de qualidade para educação superior a
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<http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>. Acesso em: 03 abr.
2020.
BRASILEIRO, Ana Amélia; BRASILEIRO, Cristiane. Aula 1: Contextualizando a figura do
tutor EAD no Brasil. Curso de Extensão em Tutoria EAD – Teorias & Práticas. Instituto de
Matemática, Universidade Federal Fluminense, 2019.
BRASILEIRO, Ana Amélia; BRASILEIRO, Cristiane. Aula 2 - Profissional em construção -
entre o imaginário e a realidade. Curso de Extensão em Tutoria EAD – Teorias & Práticas.
Instituto de Matemática, Universidade Federal Fluminense, 2019.
DEGÁSPERI, Allan; DEGÁSPERI, Lucas. Tutor EAD: A Peça-chave da
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Disponível em: <https://houaiss.uol.com.br/>. Acesso em: 03 abr. 2020.
KONRATH, Mary Lúcia Pedroso; TAROUCO, Liane Margarida R.; BEHAR, Patricia
Alejandra. Competências: desafios para alunos, tutores e professores da EaD. RENOTE-
Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 7, n. 1, 2009.
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SCHLOSSER, Rejane Leal. A atuação dos tutores nos cursos de educação a
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